Deitado de barriga para cima sobre o chão gélido do pequeno apartamento de um dos prédios da SHIELD que chamava carinhosamente de lar, o agente Clint Barton admirava com seus belos olhos azuis um ponto fixo sobre o forro do quarto, enquanto seus pensamentos vagavam para os eventos da última missão e, principalmente, para sua companheira de serviço a agente Jude Phoenix. 

― Estou fodido! ― Enfatizou o agente juntando os cotovelos em frente ao rosto, enquanto permanecia com a cabeça apoiada sobre as palmas da mão. 

Aquela não fora a primeira missão que Clint e Jude cumpriram sem a presença da agente Natasha Romanoff, vulgarmente conhecida como Viúva Negra. Ambos já haviam sido enviados em outras missões, desde o momento que Jude deixou de ser uma ameaça e tornou uma agente da SHIELD, ela o acompanhava na maioria dos trabalhos. O que ajudou a transformar o desprazer mútuo que sentiam em uma bela amizade que só aumentou com o decorrer dos anos e perigo dos serviços. Porém, existia algo diferente dessa vez. 

A missão durou mais tempo do que foi programada a princípio, dando aos agentes tempo mais do que o suficiente para aprofundarem a pré amizade que possuíam. Conseguiram conversar nesse tempo sobre gostos pessoais, assuntos aleatórios e conhecerem todas as manias e costumes que faziam parte da personalidade de cada um. Nesse período Clint foi apresentado a um lado pessoal da agente Phoenix que apenas Natasha Romanoff e Coulson conheciam, um lado engraçado e divertido, uma parte que Jude não costuma mostrar para todos por deixa-la mais próxima de um ser humano do que uma máquina assassina. Um lado que a deixava extremamente encantadora aos seus olhos. 

― Merda! Não! ― Resmungou Clint chutando a perna do banquinho de metal próximo a escrivaninha. Mais uma vez ele estava pensando em como Jude era magnífica e a desejando profundamente. 

Aqueles resmungos faziam parte da sua mais recente descoberta. Não estava apenas a admirando através dos olhos de um amigo, mas apaixonado por sua colega de serviço. A revelação o fazia sentir-se idiota, mas tinha conhecimento de que negar o fato o transformava no próprio idiota. Querendo ou não, ele é um ser humano, haveria de se apaixonar em algum momento da vida por alguém. Entretanto o que estava o pegando de surpresa era QUEM, pois não esperava que de todas as pessoas da SHIELD, era por Judith Phoenix, a ex-soldado da HYDRA, que seu coração bateria mais forte. 

No decorrer dos anos, a agente Jude Phoenix, também conhecida pelo codinome de Dangerous, vem sendo considerada uma das melhores agentes da SHIELD. Devido ao seu histórico do passado como Soldado Fatale, uma das armas mais poderosas da HYDRA em uma época distante que a própria odeia relembrar. Ela vem ganhando destaque e missões tão importantes quanto as do Clint e Natasha. Na mente do agente Barton, apaixonar-se por Jude colocava toda sua carreira em risco, pois caso o relacionamento fracassasse ou não fosse correspondido na mesma intensidade, criando um clima estranho entre eles, todo o poder do “Golden trio”, como eram conhecidos quando os três melhores agentes se uniam, acabaria. 

―Droga! ― Urrou Clint entre os dentes enquanto acomodava sentado no chão com a coluna ereta. 

No mesmo instante que sentou, uma pequena joaninha ingressou no quarto através da janela semiaberta e voou em sua direção, pousando sutilmente sobre o joelho esquerdo do agente. Aquela obra do acaso o fez ficar ainda mais frustrado com a situação que encontrava, pois a joaninha é o inseto favorito de Jude.  

Ele suspirou fundo recordando da tatuagem de joaninha que a mulher possuía, quase imperceptível, atrás da orelha. Quando perguntou a ela sobre o significado daquele desenho, Jude soltou um riso divertido e falou que se tratava de uma piada interna relacionada com um dos seus melhores amigos do passado. No momento da resposta sentiu uma leve piada de ciúmes, não do seu passado, mas por não possuir piadas internas com ela, piadas que apenas eles conseguiriam compreender. 

― O que está olhando? ― Ele perguntou ao inseto e curvou o lábio. Obviamente a joaninha não respondeu sua pergunta. Clint tomou um pouco de fôlego antes de assoprar o inseto do seu colo, o qual sobrevoou alguns centímetros de distância de seu rosto, antes de voar para fora da janela ― Se ver a Jude diga que mandei lembranças. 

“Nossa! Estou falando com um inseto”. Pensou o agente ao notar o que havia acabado de fazer. Cansado de permanecer no chão, ele levantou e caminhou até sua cama, onde jogou-se de costas, mantendo a posição que estava no chão, voltando a refletir sobre sua lamentável existência enquanto admirava o forro branco do quarto. 

Em seus pensamentos negativos, a relação entre ele e a colega de serviço jamais funcionária. Primeiro que deveria ter algo no protocolo da SHIELD que não permitiria que o relacionamento fosse para a frente, segundo por ele não conhecer nenhuma maneira discreta de saber se Jude possuía sentimentos recíprocos. Caso tivesse uma chance de saber sobre suas chances, ele investiria sem hesitar. 

Perguntar para Jude diretamente estava fora de cogitação, por mais que fosse um homem adulto, não pretendia ser direto a esse ponto. Entre puxar a mulher para conversar e ser preso dentro de um armário cheio de cobras por ter tirado o tapa-olho do diretor Fury, ele ficaria com a segunda opção sem pensar duas vezes. 

Pela segunda vez Clint sentou com a coluna ereta, mas ao invés de deparar com uma joaninha sobrevoando em sua direção, o que ele viu foi algo muito melhor. O tablete da SHIELD que utilizava para aprofundar nas missões e as vezes para jogar Tetris estava jogado aos pés da cama, resultado de uma noite mal dormida e com poucos cuidados com seus objetos pessoais. Ao deparar com o eletrônico, uma ideia levemente idiota pairou sobre seus pensamentos. “Não custa tentar” pensou enquanto recolhia o aparelho. 

O agente precisou apertar apenas o botão lateral para que a tela do mesmo iluminasse. Meio hesitante, com medo de que a SHIELD pudesse invadir o tablete e descobrir a idiotice que estava prestes a fazer, ele abriu o navegador da web no modo anônimo e encarou a página do Google em silêncio por alguns segundos, estando pensativo sobre o que digitaria na barra de pesquisa. Após um tempo consideravelmente longo, tomou coragem e digitou as seguintes palavras: Como dizer a uma mulher que você está interessado nela sem ser direto. 

Mesmo sentindo que aquilo era a coisa mais idiota que fez em anos, não deixou passar em batido quando a pesquisa carregou. Ele ignorou os primeiros artigos, encontrando o que procurava quase próximo ao oitavo link da primeira página. O título do artigo era promissor e com um número consideravelmente grande de dicas que poderiam ajuda-lo com seu problema. 

― 21 Maneiras de demonstrar que a ama ― Ele leu o título em voz alta e clicou sobre o link.