O cérebro é o órgão mais impressionante e perfeito que existe dentro do corpo humano, ou de qualquer outro animal. São centenas de neurônios carregando informações e as transportando entre si incansavelmente, trabalhando noite e dia sem parar com o seu único intuito: Manter em perfeitas condições o corpo onde está alojado. Porém como qualquer máquina perfeita, o cérebro demora para ter os seus danos restaurados e, muitas vezes, chega a ser impossível regressar ao seu estado de perfeição anterior. 

Doze horas haviam passado desde o momento que a lança fora retirada de dentro da cabeça da agente Jude Phoenix. Por estar a vários anos sem experimentar o sabor da morte, sua recuperação estava sendo mais lenta do que o normal e a preocupação entre todos os agentes da SHIELD haviam aumentado. Sua recuperação estava sendo assistida e medidas extras de segurança foram tomadas.  

O diretor Nick Fury era o mais preocupado com a situação, não conseguia retirar o olho restante da maca onde ela estava desacordada e amarrada. Dentre todos os membros da SHIELD, ele era o que mais se preocupava com o regresso da terrível versão Assassina da sua agente querida, uma versão que a própria Jude evitava recordar e mencionar. 

― Ela poderá acordar a qualquer momento ― Disse o médico responsável pelo atendimento da agente após checar o prontuário em suas mãos ― Seus sinais vitais estão fortes, visualmente o cérebro está intacto e... 

O doutor parou de falar sobre a saúde de Jude ao ser surpreendido quando duas cadeiras de armar e outros elementos voaram pela sala, atingindo o vidro de segurança com o baque, assustando não apenas o médico, mas também Nick Fury e aqueles que assistiam sua recuperação. 

Com fúria nos olhos e levemente confusa, Jude se debatia na cama de metal enquanto tentava soltar as amarras que a prendiam no local, tinha a impressão que a cabeça iria explodir e aos poucos as memórias do passado começaram a aterrorizar. O primeiro local que pensou estar foi sobre as garras de Loki, acreditando que o mesmo tentaria trazer a velha Jude novamente para aumentar seu exército. 

― Acalme-se, Jude! Está em segurança ― Ordenou o diretor Fury pelo interfone, fazendo com que sua voz forte ressoasse dentro do quarto na enfermaria. 

― De quem foi a ideia estúpida de me amarrar nessa merda? ― Perguntou a morena com irritação, ela parou de se debater e olhou na direção do vidro com insulfilme. De onde estava não era possível ver quantas pessoas a assistiam naquela cena deplorável. ― Pensei que tivesse sido capturada novamente. Me tirem dessa bosta, AGORA! 

― Precisamos ter certeza de que... ― O diretor começou a falar, mas logo foi interrompido. 

― De que eu sou eu? Pelo amor de qualquer coisa no universo, diretor Fury. Não vou matar ninguém, a menos que me deixem aqui por mais cinco minutos ― Jude reclamou em alto e bom som ― Quer informação? Então vou te dar informação. Meu nome é Judith Ellen Phoenix, tenho noventa e dois anos, trabalhei obrigada para a HYDRA antes de me tornar agente da SHIELD. A cada minuto que permaneço aqui o meu MELHOR AMIGO tem um deus nórdico, filho da puta, controlando o cérebro dele. Tanto que foi aquele pau no cú que enfiou a flecha na minha cabeça, dessa vez não falo do Loki. 

― Estou apenas exercendo minha função ― Disse o diretor movendo as sobrancelhas para que o médico entrasse no recinto e a soltasse ― Agora, relaxe! Estão indo te soltar. 

A agente resmungou uma longa sequência de palavrões para si mesma enquanto aguardava a soltura. Seus poderes não estavam cem por cento equilibrados e controlados, fazendo com que sua cabeça fosse invadida por inúmeras vozes ao mesmo tempo enquanto latejava, dando impressão de estar na pior ressaca da sua vida. Ela respirou e expirou algumas vezes, tentando relaxar e voltar a ter o controle dos próprios poderes. Sentia-se mais viva que o habitual e com desejo intenso de estouras os miolos daquele que controlava o cérebro do melhor amigo. 

Um homem mirrado, calmo e com expressões assustadiças ingressou na sala. Não foi necessário ele se apresentar para que ela o reconhecesse como o médico que cuidava da sua saúde, pelo menos um deles. Tremendo da cabeça aos pés, ele aproximou da maca com passos vagarosos. Estava vísivel que havia escutado sobre a fama do passado da agente e temia tornar-se mais uma de suas vítimas fatais. Muitas orações ocupavam seus pensamentos naquele instante. 

― Céus! Vai para a mera, puta que pariu. Me tira logo desse caralho ― Ordenou Jude sem conter a orla de palavrões enquanto puxava os punhos para cima. 

Quase que no mesmo instante que a desamarrou, ele deu um passo para trás e avaliou a mulher dos pés à cabeça. Sem aviso prévio, ela grudou o médico pelos colarinhos das vestes e o prensou contra a parede, erguendo deus pés alguns centímetros do chão. O doutor chiou, virando o rosto para o lado e fechando os olhos com desespero, enquanto lágrimas escorriam por sua face, sendo acompanhadas por um líquido quente e amarelado de suas calças. 

― Mas que... ― Jude o soltou com sutileza ao perceber o que havia acontecido ― Você se mijou! Não acredito nisso. ― Ela arqueou as sobrancelhas e arregalou os olhos ― Eu ia zoar com a sua cara, mas agora fiquei com pena. Puta merda! Você estava com medo real de mim, doutor... ―Ela baixou os olhos, lendo o nome do homem bordado em seu jaleco ― Elgort, Hans Elgort. Pronunciei certo? 

― Si-sim, a-agente ― Ele assentiu mantendo o olhar no chão. 

― Okay. Doutor Hans Elgort. Vá trocar de roupa e continue fazendo o seu trabalho ― Ela fez um joiá com a mão, dando um leve soco no ombro do médico que encolheu ― Parabéns, viu! 

Antes de deixar a sala e unir-se com Fury, Jude depositou um beijo tenro sobre a bochecha do doutor. 

― Você precisava assustar o pobre homem? ― Perguntou Fury enquanto a guiava pelos corredores. 

― Em minha defesa, não sabia que ele ia se mijar ― Ela moveu os ombros com desdém enquanto colocava a camiseta por dentro da calça ― Fiquei até com pena do pobre coitado, deveria ter mandado alguém mais corajoso. Tipo os guardas que estavam escondidos, ou acha que não sei? 

― Você faleceu, Jude ― Disse o diretor entregando para ela o smartwatch, as armas e o distintivo. ― A quanto tempo estava sem morrer? Anos? 

― Não teria morrido se tivessem me escutado ― Reclamou Jude prendendo os objetos em seus respectivos lugares no corpo ― Disse que investir no Tesseract era uma péssima ideia. 

― Precisamos saber com o que estamos lidando ― Rebateu Fury. 

― Estamos lidando com o homem da máscara agora, que é um completo louco assassino com complexo de rainha ― Jude ergueu levemente o tom de voz ― Espero que tenham notícias do meu amigo, não quero ter que dizer para os filhos dele que estão órfãos. 

― Não será necessário, até onde sabemos ele está vivo ― Disse o diretor com uma calma irritante na voz. 

― Como assim? Até onde sabemos? ― Ela estendeu o braço na frente do diretor, forçando sua parada ― Vocês não o capturaram de volta? 

― Não é algo simples, tivemos problemas no caminho. 

― Quando eu encontrar aquele deus nórdico filho da puta, vou enfiar minha arma na boca dele que a bala vai sair pelo cú ― Urrou Jude gesticulando irritadiça ― Além de que a arma vai entrar tão fundo, que quem conseguir tirar de dentro dele vai receber o título de próximo Rei Arthur. Puta que pariu, não acredito que deixaram o Clint com aquele arrombado. A Natasha sabe disso? 

― Coulson está entrando em contato com ela nesse momento ― Fury suspirou fazendo uma pausa breve ― Jude, estamos em nível sete. 

― Sabe que não entendo nada de códigos quando estou com dor de cabeça, diretor ― Reclamou a morena cruzando os braços sobre o peito. 

― Significa que estamos em guerra, Judith ― Respondeu o homem levemente irritado ― Você ouviu as palavras daquele homem, o que ele deseja. Suas palavras foram nocivas. 

― Tentaram falar com o cabeludo? Aquele irmão dele esquisito. Thorin? 

― Thor ― Corrigiu o diretor. 

― Isso, Thorin é o anão de o Hobbit ― Assentiu a mulher ― Mas falaram com o povo dele? Com o povo de Isengard? 

― É Asgard. Isengard também é de Senhor dos Anéis, Jude. ― Fury a corrigiu pela segunda vez ― O seu mundo está longe, não podemos contar com o seu povo. Precisamos de uma equipe de resposta diante dessa ameaça, nosso inimigo está pronto, precisamos estar também. Por isso vamos dar início a iniciativa Vingadores. 

― Me diga que estou apta para ingressar no clubinho ― Jude sorriu divertida com a ideia. 

― Mais do que apta. Mas preciso que convença um velho amigo a ingressar ― Fury retirou de dentro do bolso do seu sobretudo alguns prontuários impressos dentro de uma pasta amarela ― Fale com o Steve Rogers, convença o Capitão América a juntar-se conosco. 

― Nem fodendo. Quero o Stark ― Reclamou a mulher fazendo careta e hesitando em pegar os documentos ― Esqueceu do fiasco de Nova Iorque? Aquele porra começou a me bater antes de deixar explicar a situação.  

― Coulson ficara com o Stark ― Disse o diretor empurrando o prontuário. 

―Então eu fico com o grandão ― Insistiu Jude. 

― O Banner é da Natasha ― Fury encaixou a pasta no vão dos braços da mulher que estavam cruzados, relutando em cumprir a ordem direta ― Você e o Steve possuem muito em comum, se vão trabalhar juntos precisam aprender a conviver em sociedade. Pelo menos finja empatia. Isso é uma ordem, agente Phoenix. 

―Caralho, viu ― Reclamou a outra quase em um sussurro ― Tudo bem, falo com o queridinho da américa. Mas se ele ameaçar socar minha cara outra vez, não respondo por meus atos e o mato. Espero que estejamos entendidos. 

― Acredito que não será necessário. Agora está liberada. E, por favor, diminua a quantidade de palavrões, ainda sou seu superior ― Ordenou Fury apontando para a sala de controle. 

― Caguei! ―Retrucou Jude tomando a dianteira e dando com os ombros, sendo a primeira a ingressar no recinto. 

Não muito longe da porta de entrada o agente Phil Coulson ocupava posição. Da mesma maneira que Jude, ele carregava prontuários com informações da missão embaixo do braço e segurava contra a orelha o celular. Seu modo de falar e tom de voz indicavam que estava ameaçando alguém naquele instante, sorrateiramente a agente aproximou dele e o encarou com seriedade. 

― Olá, Jude! ― O homem abriu o seu melhor e mais simpático sorriso ― Preciso de você aqui. 

― É a Tasha? ― Perguntou Jude, o agente assentiu com a cabeça. Ela esticou a mão para poder pegar o telefone ― Me deixa falar com ela... 

― Isso é mais importante ― Disse Phil para Natasha do outro lado da linha. 

― Me da logo essa porra, caralho ― Sem pedir permissão, Jude tomou o telefone das mãos do Coulson e levou até sua orelha. A melhor amiga parecia irritada por ter sido atrapalhada em meio a uma missão importante ― Natasha, eles pegaram o Clint.  

― Jude, espera. O que? ― A voz da ruiva era de surpresa com a notícia. Por conhecer a melhor amiga como a palma da sua mão, sabia que Jude estava extremamente preocupada e que isso poderia render certos comportamentos impulsivos ― Fala devagar. 

― Clint, ele foi comprometido. Eles o levaram, Nat. ― Sem querer ser ouvida ou que os outros agentes vissem seus olhos lacrimejarem, ela se afastou. 

― Vou te deixar em espera. Não chora em público, ou todo mundo descobre que tem um coração. ― Natasha tentava parecer calma do outro lado da linha. A morena assentiu com a cabeça e sorriu sem humor. Durante alguns minutos, tudo o que conseguiu ouvir do telefone foi o barulho de luta, a qual Natasha com certeza estava ganhando ― O Barton está onde agora? 

― Esses merdas, não fazem a mínima ideia ― Jude mexeu nos cabelos, bagunçando mais os fios já bagunçados. 

― Mas ele está vivo? ― Perguntou Natasha preocupada. 

― Sim. Foi o que me contaram, espero que seja verdade ― Jude fez uma pausa breve, ficando irritada com a interrupção de Phil naquele momento. Porém o agente apenas gesticulou para que ela conversasse com a Natasha sobre os papéis. ―Escuta, Tasha. Coulson ta me mandando falar da missão. 

― Que missão? 

― Estamos em nível sete, vamos fundar o clubinho. Bem... A SHIELD precisa que você fale com o gostosão ― Explicou Jude dando uma lida rápida sobre os papéis. 

― Ju, você sabe muito bem que o Tony Stark não confia em mim... 

― Ah, não é do Stark que estou falando! O Stark é do Coulson. Você está com o Shrek ― Jude entortou o lábio ― Até trocaria, mas o Fury me proibiu. “Isso é uma ordem. Agente Phoenix”. Ele me chamou de Judith. 

― Yebena mat'― Reclamou Natasha em russo. 

― É. Yebena mat’, bem Yebe mesmo ―Jude revirou os olhos imitando a amiga mesmo sem saber o que aquilo significava ao certo. 

― Agente Phoenix, seu avião estará pronto em cinco minutos ― Chamou um dos agentes responsáveis e de nível menor que a mulher. 

― Já vou, caralho. Tô no telefone, porra! ― Ela revirou os olhos com o chamado, não tinha a menor intenção de conversar com Steve Rogers. 

― Já estamos na fase dos palavrões ― Murmurou Natasha suspirando. 

― Tasha, me escuta! Tenho que ir agora, mas antes preciso dizer uma coisa. O Loki está controlando o cérebro do Clint, ele tocou nele com um cetro esquisito e PUM... Ele tocou na fraqueza do CLint e o tornou um tipo de zumbi seguidor de ordens. Ele atirou em mim, na minha cabeça. 

― O Loki atirou na sua cabeça? Espera, Jude... Você morreu? ― O tom de voz da Natasha era realmente preocupante, melhor do que qualquer outro agente da SHIELD, ela e Clint sabiam com o que teriam de lidar caso a velha Jude regressasse. Não que a tivessem enfrentado no passado, mas tiveram um gostinho do poder. 

― Eu estou bem, só com uma forte dor de cabeça e com os poderes telepatas levemente descontrolados ― Jude mordeu o lábio inferior e tentou disfarçar a voz de choro para dar a notícia que viria a seguir ― Quem atirou na minha cabeça foi o Clint, ele não era o mesmo. Quero meu amigo de volta. 

― Jude, nós vamos trazer o Clint de volta. Eu prometo. Mas por enquanto, faça o que tem que ser feito e não hesite em me ligar. ― Natasha ordenou tentando passar calma ― Quando eu voltar para Nova Iorque, nós vamos conversar, com calma. Apenas siga o protocolo e não faça nada estúpido. 

― Okay ― Assentiu Jude nervosa. 

― Okay! Irei desligar, está bem? As coisas voltarão ao normal em breve. 

Quando Natasha desligou o telefone, Jude o manteve colado na orelha por alguns segundos. Apesar de nenhum indicio do seu terrível comportamento do passado reaparecer, a agente Phoenix permanecia muito sensível com aquele tipo de situação. Durante anos os agentes da HYDRA haviam matado a maioria das pessoas que Jude era próxima, para que assim pudessem domínio sobre seu lado obscuro e que ela fosse completamente focada na causa. Mostrando que todos aqueles que ela amava sofreriam caso não acarretasse todas as ordens. Estando frequentemente sobre torturas físicas e psicológicas, além de lavagem cerebral. Mesmo que não fosse de sangue, Clint e Natasha eram a sua família, eles conheciam sua vida pessoal e frequentavam sua casa. Conhecendo todos os membros da sua família, tanto que uma das netas de Jude possui o nome da Natasha em homenagem a ruiva. E saber que um deles corre perigo, é como cutucar seu lado adormecido. 

― Jude, o telefone ―Pediu Coulson aproximando da colega de serviço. 

―Ah! Claro ― Assentiu entregando o aparelho celular. 

― Você está bem? 

― Fiz um homem se mijar, estou ótima ― Ela deu um sorriso irônico e moveu os ombros com desdém ― Agora vou pegar aquela merda de avião e ir para Nova Iorque. O Steve está precisando de um novo saco de pancadas pelo que parece. 

Após dizer isso, ela revirou os olhos e deixou a sala de operações. Levando consigo apenas os relatórios sobre o que teriam de enfrentar no futuro. Dentro daquela pasta amarela continha fichas sobre o tesseract, sobre a SHIELD, sobre a HYDRA, sobre as pessoas escolhidas para serem OS Vingadores e tudo mais que Fury julgava necessário. Esperava que Steve lesse sua ficha e compreendesse que ela não era a inimiga com quem deveria se preocupar.