0831 escrita por Shinoda Yuuka


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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— Estou atrasado!

Para quem conhece Abarai Renji, ouvi-lo dizer aquela frase não seria nenhuma novidade. Ele costumava se distrair muito antes de um compromisso, e isso sempre resultava no atraso do rapaz. Todo mundo já estava acostumado com isso. Contudo, até o próprio Renji se surpreendeu com o fato de estar atrasado para o jantar em que iria pedir Kuchiki Byakuya em casamento.

Estava planejando aquilo há meses, sem contar nada a ninguém. Conseguiu reservar uma mesa em um bom restaurante, tendo a sorte de poder escolher a data do seu aniversário para o jantar. O lugar não era barato, mas não importava; para aquela ocasião, boa comida era importante. Havia comprado uma roupa especialmente para aquela noite. Além disso, gastou quase o que não tinha para comprar o anel.

Podia parecer clichê e muito óbvio, mas tudo o que escolheu não foi aleatório, ou só por ser tudo muito caro. O restaurante, por exemplo, foi muito recomendado por seus colegas de trabalho, que eram cozinheiros talentosíssimos. Lá eles serviam os melhores vinhos, e Renji sabia o quão rigoroso Byakuya era quanto a isso. Escolheu um smoking como vestimenta, pois precisava estar apresentável em um momento tão importante. E Byakuya gostava de vê-lo em trajes sociais, mesmo que sempre trouxesse essas roupas para o seu estilo.

 E o anel... era especial. Era uma peça em ouro, discreta e delicada. Quando foi procurar por um anel de noivado, mil possibilidades e empecilhos apareceram em sua mente. Sua costumeira insegurança em relação ao seu namoro com aquele homem tão importante quase o fez desistir. Porém, ao ver aquele anel em uma loja, Renji sentiu seu coração bater mais forte. Passou a imaginar-se ao lado de Byakuya pelo resto da vida, esquecendo-se das diferenças que pairavam sobre eles.

O celular de Renji vibrou no bolso, acordando-o de seus devaneios. Céus, como se distraía fácil! Pegou o aparelho e viu que era uma mensagem de Byakuya, e o rapaz ruivo quis morrer assim que terminou de lê-la:

“Estou indo na frente por ter assuntos a resolver. Prometo estar no restaurante na hora marcada.”

— Merda! — exclamou, sentindo-se irritado. — A culpa é toda do Ichigo!

Apesar de ter gritado aquela frase, Renji não culpava o amigo realmente. Ichigo havia organizado um jogo de futebol durante a tarde, como quase sempre fazia nos fins de semana. Era quase um ritual sagrado do seu grupo de amigos se reunirem nos sábados ensolarados para jogar uma pelada. O Abarai quis recusar e focar nos preparativos para a noite, mas havia acordado muito desanimado naquele 31 de agosto.

O primeiro pensamento que veio à cabeça de Renji assim que abriu os olhos pela manhã foi o causador do seu mal-estar durante o dia: “E se ele disser ‘não’?” Apesar de todo o esforço que teve para preparar aquele pedido de casamento, o rapaz começou a repensar tudo naquele dia. Byakuya não estava passando por bons momentos em sua vida profissional. Sua empresa estava em um momento muito ruim, e o Kuchiki estava quase a todo o momento ocupado, procurando soluções para problemas grandiosos. Ele estava mais estressado do que o normal ultimamente, e por conta disso, Renji achou que era uma péssima ideia pedi-lo em casamento nessas condições.

Além disso, tinham os problemas mais óbvios. A aceitação do casamento entre dois homens em seu país, por exemplo. O status de Byakuya na sociedade, e o que ele representava, sempre assustaram o Abarai. Nunca tinha se apaixonado por alguém tão importante antes. E se o atrapalhasse?

Mais uma vez, o celular de Renji despertou-o. Desta vez, era uma ligação de Byakuya. O Abarai respirou fundo, tentando se acalmar. Céus, precisava parar com aqueles ataques de pânico! Atendeu o telefone, dizendo “Alô” o mais firme que pôde.

Espero não estar interrompendo — disse Byakuya do outro lado da linha. A voz impassível e bela soava como música para os ouvidos do Abarai. — Eu só estou ligando para dizer que irei me atrasar, talvez uns quinze minutos. Aconteceu mais um contra tempo.

“Isso!”, Renji comemorou em pensamento. Colocou um sorriso no rosto após suspirar aliviado.

— Tudo bem, Byakuya—san. Eu estarei esperando você lá.

Desculpe novamente. Até breve. — O tom de Byakuya foi mais doce dessa vez, como raramente acontecia. — Eu amo você. — E desligou.

O sorriso de Renji apenas aumentou após aquela ligação. Aquela voz tão bela o encorajou a terminar o que havia começado. Ora, nunca foi homem de deixar as coisas pela metade, então por que o faria agora? Sentia medo da resposta de Byakuya, mas por ora, iria enterrá-lo no fundo do seu coração. Por enquanto, iria focar-se em ficar impecável para o encontro.

 Primeiro de tudo: precisava tomar um banho. Havia acabado de chegar do jogo de futebol e estava todo suado. Suas roupas estavam cheias de grama, e seu cabelo estava um horror. Correu pro banheiro, despindo-se com afobação pelo caminho.

Depois de quinze minutos, Renji já estava de banho tomado, cabelo penteado e vestido apenas com uma cueca branca. Não queria exagerar no visual, pois além de não querer demorar, iria jantar em um lugar fino. Vestiu as calças, a camisa e o paletó, ajeitando o último do seu jeito: descartou a gravata prateada e ajeitou a gola, deixando o pescoço moreno o mais amostra possível. De frente ao espelho, o ruivo ainda achava que tinha algo errado com o traje que estava usando. Colocou os dedos longos na camisa e desabotoou os três primeiros botões, fazendo com que as tatuagens do peito estivessem parcialmente visíveis. Mordeu os lábios para o próprio reflexo.

 — Quem não iria casar com você, Abarai Renji?

Depois de ter calçado seu único par de sapatos sociais, Renji encontrou seu próximo desafio: como prender seu cabelo. Esse era sempre o maior dilema daquele rapaz quando o assunto era se arrumar para um encontro. Cogitou a ideia de trançar as madeixas vermelhas, afinal Byakuya adorava aquele penteado. Pensou também em ir com ele solto, mas estava calor demais para isso. Depois de muito pensar, resolveu fazer um rabo-de-cavalo simples, deixando a franja cair sobre um dos olhos. Borrifou um perfume forte que ganhou de Byakuya no ano passado e foi se olhar no espelho uma última vez: estava perfeito. Colocou a caixinha do anel no bolso do paletó, depois pegou as chaves, a carteira e o celular. Quando olhou as horas, quase caiu para trás: estava vinte minutos atrasado.

*

Não era todo o dia que se via um cara alto e ruivo vestido num smoking correndo pelas ruas. Não conseguia acreditar que, mais uma vez, estava atrasado. Mas como era burro! Quando chegou próximo ao restaurante, Renji sentiu-se ainda mais imbecil. Por que diabos não avisou ao Kuchiki que iria chegar tarde? Parou alguns metros do estabelecimento, recuperando o fôlego por alguns minutos. Respirou fundo uma última vez antes de entrar no lugar, avistando Byakuya assim que chegou. Seus olhos brilharam e a boca abriu diante da surpresa que lhe tomou conta.

Kuchiki Byakuya estava impecável, como costume. Seu terno cinza estava perfeitamente alinhado em seu corpo, e o diferencial da roupa era a ausência da gravata. Aquilo era tão incomum quanto os primeiros botões soltos da camisa branca. Os cabelos negros estavam presos como em muito tempo não acontecia. E na face tão bonita, se encontrava um sorriso.

Renji não teve tempo de se desculpar pelo atraso.  Logo quando se aproximou da mesa reservada, Byakuya se levantou da cadeira e foi em sua direção. Sem constrangimento por estar em um lugar público, sem medo de olhares reprovadores e sem nenhum sinal de frustração por ter esperado tanto, Byakuya colocou as duas mãos na gola do smoking do rapaz tatuado e puxou-o para um rápido, porém intenso beijo.

— Feliz aniversário, Renji. — Byakuya sorriu novamente após beijar seu namorado. — Tomei a liberdade de pedir um vinho antes de você chegar. Você não se importa, não é?

Renji estava tão... atordoado que mal conseguia formular uma frase decente. Apenas fez um sinal com a cabeça, não conseguindo desfazer sua cara de surpresa. O casal se sentou, um de frente para o outro. Ficaram em silêncio, se encarando; se admirando. Era algo que faziam bastante, e naquela noite tão especial, o hábito foi ainda mais frequente.

— Você está lindo. — Renji fez o comentário olhando dentro dos olhos cinzentos. Sentiu o rosto esquentar ao ver um sorriso tímido brotar na face do homem mais velho.

O jantar seguiu o mais agradável possível. A comida e o ambiente estavam excelentes. As conversas, os olhares, os elogios e flertes... Renji estava imensamente feliz. Tudo estava saindo melhor do que o esperado, principalmente por Byakuya não ter se mostrado incomodado com o fato de ter chegar muito atrasado. Era impossível que aquela noite não terminasse perfeita. Só faltava uma coisa...

Coragem.

O anel estava em seu bolso. Já haviam terminado o jantar. Nada, absolutamente nada havia dado errado. Então, por que diabos Renji estava hesitando? A mente do rapaz ruivo não colaborou com ele, e o coração muito menos. O medo que havia enterrado em seu âmago, resolveu dar as caras. Os pensamentos foram para um lugar no futuro em que Byakuya perdera seu status na sociedade por conta de Renji. Imaginou os piores cenários, apavorando-se a cada minuto. O que estava acontecendo consigo? Depois daquele momento maravilhoso, achava que a cereja do bolo seria o pedido de casamento, mas acabou sendo traído por seus devaneios. E aquela pergunta, que o assombrou assim que abriu os olhos de manhã, voltou a martelar sua cabeça: “E se ele disser ‘não’?”

— Esse jantar era exatamente o que eu estava precisando. — A voz do poderoso Kuchiki acordou Renji de seus devaneios. — Como sabe, as coisas estão difíceis na empresa. Depois de tanto trabalho, essa noite veio como um presente. Obrigado, Renji.

Renji sentiu as pernas e as mãos tremerem.

— Eu pensei que esse jantar iria te atrapalhar — desabafou, desviando o olhar. — Mas eu queria muito vê-lo hoje.

— Eu também queria muito vê-lo hoje. — Byakuya sorriu ao ter os olhos castanhos focados em si novamente, dessa vez cobertos de espanto. — Estar com você nunca será um incômodo. A sua presença me dá força nos momentos difíceis. Na dor, no desespero e no medo... você sempre está por perto, apoiando-me. Encorajando-me. Não consigo mais me imaginar em um mundo sem você.

Agora, foi a vez dos olhos de Renji tremerem. O corpo robusto ficou tenso quando viu Byakuya se levantar da cadeira e cair de joelhos em sua frente, sem nenhum receio. O Kuchiki continuou sua fala, ajoelhado, com uma das mãos dentro do terno cinza:

— Você me ensinou a não temer os grandes desafios. A enfrentá-los de peito aberto, sem medo das consequências. Você me fez forte. E hoje, transformo essa força em coragem para seguir em frente com minha vida, segundo meus próprios desejos.

As lágrimas correram rosto rapaz, que já estava inteiramente contorcido por conta do choro e da surpresa. Os lábios comprimiram e um tremor mais forte tomou conta de seus membros. Byakuya havia tirado de dentro do bolso uma caixa pequena da cor vermelha. Abriu-a, revelando um anel de ouro branco, coberto de pequenos diamantes, que brilhavam tanto quanto os olhos cinza, que continuavam a encarar o homem amado. A voz firme deixou a garganta do Kuchiki, encantando quem a ouvia:

 — Meu amado Abarai Renji, você aceita se casar comigo?

O mundo todo pareceu desaparecer naquele instante. Nada havia preparado Renji para aquele momento. Demorou alguns segundos antes de agir por impulso, como era de sua natureza: arrastou a cadeira com certa violência e ficou de joelhos, de frente para Byakuya. Ainda tomado pelo choro, o jovem colocou a mão dentro do próprio paletó e tirou de lá o anel que havia dado o sangue para comprar. Abriu a caixinha, assim como o namorado havia feito há pouco, finalmente tomando coragem para dizer o que queria desde o momento em que acordou naquele 31 de agosto:

— Kuchiki Byakuya, você aceitou o meu amor, retribuiu e me deu mais do que mereci. E eu nunca te agradeci por ser assim, por ser t-tão bom pra mim... Eu quero te fazer feliz pelo resto da vida, e pra isso... E-eu preciso que... que me responda... você quer casar comigo?

Após um “sim” dito em uníssono, os homens colocaram o anel na mão um do outro, com imensa dificuldade, e depois, se beijaram. A vergonha havia deixado aqueles dois, assim como a insegurança e medo. Naquele 31 de agosto, Renji e Byakuya iniciaram uma nova etapa de suas vidas.  No fim, só foi preciso um momento de coragem para que tudo aquilo fosse possível. Iriam oficializar o amor que cultivaram até então, acabando com todo o resquício de insegurança que sentiam. Iriam compartilhar uma vida juntos a partir daquele dia. Tinham certeza que seriam mais felizes a partir daquele 31 de agosto.

Porque se amavam, e aquele dia era apenas mais uma prova disso; o dia em que Renji e Byakuya foram corajosos.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler e até a próxima!