Want U Back escrita por CarolFonseca


Capítulo 1
Capítulo Único




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I promise that you'll never find another like me

ME! - Taylor Swift

 

— Você tem que parar de encarar - Emmy fechou a porta do seu armário com um baque.

— Não sei do que você está falando - chupei mais um pouco do meu milk-shake, fazendo o barulhinho que minha amiga tanto odiava. Desviei o olhar de Apolo, que conversava com uma garota próximo a cantina, e me desencostei do armário, abrindo-o e jogando todos os meus livro lá dentro. - Só estou observando a paisagem - fiz questão de erguer um dos braços, mostrando o lado contrário de onde Apolo estava.

— Boa tentativa, mas a Cammy que eu conheço não observa o cardápio da cantina, quem dirá a paisagem. Por que você não admite logo que fez merda e corre atrás do prejuízo, hein? E aproveita e limpa esse armário. Tá podre – apontou pra um papel de bombom que eu coloquei ali sexta passada. Ou seria retrasada? Ah, que seja.

— Porque eu não fiz merda - afirmei o óbvio. - E me desculpe se o meu armário não é o exemplo da limpeza. Mas é como dizem, né? "Meu espaço, minhas regras".

— Primeiro, - ergueu um dedo. - ninguém diz isso, literalmente. E segundo: se terminar com o Apolo não foi merda, eu não sei o que foi.

— Já ouviu falar em livramento? Então, terminar com ele foi um.

Ela só continuou me encarando, impassível e julgadora. E o pior: ela sabia que eu odiava quando ela me dirigia aquele olhar.

— Emmy... - gemi, revirando os olhos.

— Cammy... - ela me imitou, de um jeito mais dramático. - Olha, eu já empurrei essa conversa por tempo demais, então agora você vai me ouvir. Eu não sei por que você terminou com o Apolo, e nem me interesso por isso, porque te conhecendo como eu conheço foi pelo motivo mais idiota possível. E não tenta brigar comigo, porque eu te conheço, então se quiser um conselho, é melhor pedir desculpas pra ele, comprar flores, cordas novas praquele violão irritante que ele vive tocando, chocolate ou o que for, porque na hora em que ele abrir os olhos e perceber que não vale mais a pena correr atrás de você, aí sim você vai perder. Quer você reconheça ou não, Cammy, o Apolo é uma das melhores pessoas dessa escola, se não da cidade, e olha que coisa: ele gostou de você! Então, querida, é melhor correr atrás do prejuízo, tipo agora, antes que a novata tome o seu lugar – apontou pra loira que estava perto demais do meu ex.

Voltando a encarar aquela cena, me pus a refletir. Apolo e eu brigávamos sempre, isso era um fato, mas era sempre por coisas bobas e que se resolviam rápido, como roubar a última batatinha frita do outro ou pegar a chave do carro de brincadeirinha. Pra falar a verdade, não sei bem quando as coisas começaram a mudar. Só sei que um dia estávamos lá, felizes, e no outro estávamos estranhos, distantes, quase não nos falávamos mais e quando nós víamos só dávamos um selinho e cada um seguia pro seu lado. Não saíamos mais, nem comíamos na mesma mesa na hora do almoço ou ao menos trocávamos mais mensagens com frequências. Claro, eu não seria machista a ponto de dizer que a culpa era só dele, mas a cada vez que ele desmarcava encontros comigo para se focar em seus amigos e no time, eu me sentia cada vez mais deixada de lado ("A época do campeonato tá chegando amor, e você sabe que eu preciso treinar").

Porém, ponderando os prós e os contras, percebi que Emmy tinha uma certa razão no final. E claro, eu poderia tentar entender o lado do Apolo e reatar, aproveitar que ele estava bem ali na minha frente, perto o bastante para eu alcança-lo em alguns passos rápidos...

Mas então eu vi o Apolo e a novata. Se beijando. 

De repente o ódio me subiu. E com um "pluc" o copo de milkshake estourou na minha mão.


***


— Talvez eu tenha feito uma burrada – encarei Emmy pelo reflexo do espelho do banheiro enquanto acabava de lavar minhas mãos. – E talvez esse "talvez" possa ser substituído por um "claramente" – bufei, baixando o olhar. – Que droga Emmy, o que eu faço agora? O único cara que despertou o mínimo de atenção em mim provavelmente tá pegando outra nesse exato momento porque eu sou uma otária com letra maiúscula. Serio, eu deveria vir com um aviso escrito na minha testa: "Favor, não se aproxime, risco de contaminação de escrotisse"!

— Pelo amor de Zeus, Cammy, também não é pra tanto, né?! – ela me deu um papel pra enxugar as mãos, enquanto eu arqueava as sobrancelhas. - Olha, faz o seguinte: se encontra com o Apolo e pede desculpas, okay? Fala que errou, que sente muito, que não pretende fazer isso de novo, enfim, toda essa coisa que tem em filmes românticos clichês e depois me conta como foi. Que tal?

Suspirei, me sentado na bancada da pia e dando o sorriso mais falso que consegui.

— Nossa Emmy, isso realmente e uma ideia maravilhosa e tem tudo pra dar certo, tirando o simples fato que o Apolo não sai de perto dos amigos dele pra nada e eu não sou uma donzela em perigo que usa qualquer merda como desculpa para se reconciliar. Além do mais, ele é tão culpado quanto eu pelo nosso término. Ele é quem deveria estar num banheiro agora, arrependido, não eu. - Passei a mão pelo rosto, sentindo uma incontrolável vontade de socar alguma coisa e começar a chorar ao mesmo tempo. Foi então que meu celular apitou, me informando que faltava menos de meia hora pro meu turno de trabalho começar. - Quer saber? Vou pensar nisso depois. Já tô com muita coisa na cabeça pra começar a me estressar com mais uma justamente agora – apoiei a bolsa no ombro. – Você vem comigo? Posso descolar um sorvete duplo sabor baunilha pra melhor amiga de todas, que por acaso escuta minhas lamúrias e continua não me abandonando mesmo eu sendo uma pé no saco! – dei um sorriso divertido.

— Bem, eu adoraria ir, rainha do drama, mas infelizmente tenho tutoria pra fazer. E que por acaso - tirou o celular do bolso, conferindo o mesmo - também já está em cima da hora.

Franzi a testa, abrindo a porta do banheiro e lhe dando passagem. 
— Ué, pensei que suas tutorias de física já tinham acabado essa semana. Elas só vão de segunda a quinta, certo?

— Sim, mas eu prometi ajudar o filho do amigo do meu pai que por acaso está com nota baixa em espanhol, então... obrigada, mas eu deixo o sorvete pra próxima. - Deu um beijo na minha bochecha. – Adiós cariño.

Acabei rindo. Por algum motivo que eu não conseguia compreender até hoje, sempre acabávamos nos cumprimentado ou nos despedindo nas nossas línguas nativas. Me virando, gritei por cima do ombro. 

— Au revoir cher.

E enquanto nos afastávamos e eu ia ficando sozinha, meus pensamentos se voltavam para o traste do Apolo. Eu não ia admitir em voz alta nem sob tortura, mas sentia uma saudade sufocante dele. O que me levava a pensar... como diabos vou conseguir resolver isso?!


***

Segunda de manhã. Os corredores da escola pela primeira vez me pareceram julgadores, assim como minhas amigas. Comecei a ter a nóia de que todo mundo pensava como elas, que todo mundo sabia que eu tinha sido a maior escrota com Apolo e por isso terminamos. Tentando me isolar um pouco e colocar meus pensamentos em ordem, entrei na primeira sala que apareceu na minha frente, que por acaso coincidiu de ser a sala de música.

— I remember the freckles on your back – ouvi alguém cantar. – And the way that I used to make you laugh. Cause you know every morning I wake up. Yeah I still... Cammy?

Apolo parou de cantar ao me ver ali, e seus amigos rapidamente formaram um meio círculo ao seu redor, me encarando. Quase rolei meus olhos pela proteção extrema, mas então me lembrei do contexto em que nos encontrávamos e tardiamente percebi: eu era uma intrusa ali.

— Desculpa – falei. – Não queria atrapalhar.

Logo que as palavras saíram da minha boca, me arrependi. Desde quando eu pedia desculpas aos amigos do Apolo? E pior, desde quando eu me sentia incomodada com os olhares dos mesmos?

— Não atrapalhou – ele deu um sorriso que não alcançava os olhos. – Já está mesmo na hora de irmos. Vamos, o treino começa em dez minutos e o treinador Tate vai ficar uma fera se nos atrasarmos.

Observei enquanto eles se levantavam pra sair. Apolo demorou um pouquinho mais, porque tinha que guardar o violão. Me aproximei dele, e tive a inconveniência de perceber que seus amigos pararam na porta só pra ficar olhando, como se estivessem prestes a assistir um show. Apolo, ao contrário, pareceu me ignorar e continuou guardando o violão na capa.

— Preciso falar com você – falei, cruzando os braços e tentando não corar de vergonha.

— Não tenho nada pra falar com você.

Arregalei os olhos. Como ele podia ser tão frio? Havíamos terminado há apenas algumas semanas!

— É importante – falei um pouco irritada, e ele só me encarou, sério, um estado tão antinatural de sua personalidade que forcei mais duas palavras para fora com um suspiro: – Por favor.

Os cantos da boca dele se curvaram num sorriso orgulhoso. Ele olhou pros amigos, parados na porta. – Podem ir. Encontro vocês depois.

Mas nenhum deles se mexeu. Vendo que eles não iriam sair tão cedo, acabei completando: - Ou eu só posso chutar a bunda de vocês até a enfermaria. Mas a escolha é de vocês, claro. - falei com uma voz cínica.

Lentamente, eles foram saindo enquanto cochichavam. Então olhei para Apolo, indignada pelo seu tratamento.

— Precisava disso?

— Achei que o momento "por favor, Apolo" ia continuar. Me enganei. Se você só veio falar comigo pra brigar, saiba que vai brigar sozinha, porque eu já estou me mandando. Fui.

Ele deu um passo em direção à saída. Rapidamente segurei o seu braço.

— Espera – falei. – Não vou brigar. Tenho algo importante pra dizer.

— Então diga – ele cruzou os braços. – Estou ouvindo.

Suspirei. Ajudaria se ele não estivesse tão bonito, ou me olhando com tanta seriedade. Não estava acostumada com aquele tratamento. Pra falar a verdade, Apolo costumava me defender dos olhares tortos e fofocas ofensivas e não participar deles.

— Quero voltar – soltei.

— "Quero voltar?" – ele repetiu. – Só isso?

— Como assim só isso? Eu vim até aqui, enfrentei seus amigos, quebrei meu orgulho e...

Cammy – ele me interrompeu. – Você entrou aqui por engano e ameaçou meus amigos. - Passando a mão na testa, ele continuou: - Eu fiz tudo por você. Conheci seus amigos, te presenteei, te levei a encontros, me declarei... O mínimo que eu espero é mais do que um "quero voltar".

Como eu só fiquei olhando pra ele, perdida sem entender, ele suspirou.

— Eu quero uma prova de amor – explicou.

Franzi as sobrancelhas.

— Prova de amor? – repeti. – Você é quem tem que me dar uma prova de amor. Eu vi você beijando aquela menina na cantina semana passada.

Seu semblante mudou na hora: - Eu não quis beijar ela, ela roubou aquele beijo! – disse ofendido. – Se você quer mesmo saber, já estou cansado dela. Aquela menina é pior que chiclete! Eu admito sim, que fiquei com outras pessoas depois do nosso término, e não tem nada de errado nisso. Se ao menos eu tivesse, por um momento, conseguido esquecer você enquanto estava com elas, eu não estaria aqui ouvindo você me ofender mais uma vez.

— Então você não me esqueceu? – comecei a sorrir.

— Não, mas como eu queria! – ele bufou. – Você sabe, Camille, eu não preciso dizer. Infelizmente eu ainda amo você, mas isso vai mudar com o tempo. Eu me cansei de ficar correndo atrás de você, implorando por migalhas da sua atenção. Eu mereço mais do que isso.

— Eu sei que sim – falei, ficando desesperançada. – Prometo te dar mais atenção.

E achando que era o momento ideal, me aproximei e selei nossos lábios. Apolo retribuiu por um momento, mas de um modo muito relutante, se afastou.

— Essa estratégia não vai mais funcionar comigo – disse ele. – Se você me quer mesmo de volta, prove, Camille.

Então me deu as costas e foi embora.

 

***


Cheguei ao trabalho com uma cara tão feia que quando fui chamar a atenção de um garotinho que brincava de forma inadequada com os pôsteres de papelão, ele me olhou com medo e saiu correndo. Suspirei, guardando minha bolsa embaixo do balcão. Prova de amor... Prova de amor... aí já é demais pra mim. É melhor desistir. Talvez nunca tenha sido pra ser mesmo. Talvez fiquemos melhores separados. Talvez meu destino sempre tenha sido ser uma senhora que mora em uma casa preta com 90 gatos.

— Willow?

Minha colega de trabalho e filha da dona da sorveteira devolveu o troco a uma garota e olhou pra mim, também com um
vestígio de medo em seu olhar.

— Quero sua opinião em algo. – Antes que ela pudesse abrir a boca, continuei. - Confrontei meu ex hoje de manhã e ele disse que ainda me ama, mas que não sabe se eu sinto o mesmo por ele e que por isso não pode voltar comigo. E como se pedir uma prova dos meus sentimentos por ele não fosse o ápice da breguice, ele ainda disse que a biscate novata beijou ele a força quando eu estava vendo e que sim, ele até tentou ficar com ela pra se esquecer de mim, mas aí a garota virou uma stalker completa e agora segue ele pra todo o lado. - suspirei, terminando de limpar a bancada. - O que você acha?

— ...Você e o Apolo terminaram?

— Hã... sim. Há umas duas semanas. Eu te disse isso. Disse, não disse?

— Disse - Margot apareceu com uma lista de pedidos, entregando-os para Willow. - Prepara esses pra mim enquanto eu resolvo isso, Willy?

— Qualquer coisa pra não ter que responder isso. E eu já disse pra não me chamar de Willy, é ridículo.

— É lindo!

— É um apelido de baleia.

Margot a ignorou: - Então, onde estávamos?

— Apolo. Eu. Stalker - resumi. - O que você acha disso?

Ela pareceu ponderar.

— Bom, por mais que eu odeie os homens no geral, vou ter que acreditar nele dessa vez. Cá entre nós, essa menina tem cara de psicopata. Apareceu aqui uma vez com o Apolo, acho que era seu dia de folga, não sei, e depois começou a seguir ele pra tudo que é canto. O Apolo até pareceu incomodado com isso sábado passado, aparentemente ele marcou com os amigos dele de aparecer aqui e ela veio junto de brinde. Foi bizarro.

Então quer dizer que ele não estava mentindo no final... bom saber. - Humm... Obrigada.

Eu já estava me afastando quando ela soltou a seguinte pérola: 
— E acho que ele está certo sobre a outra coisa também.

— Que coisa?

Ela revirou os olhos: - Acho que o Apolo está completamente certo em exigir uma prova de amor Cammy. Cá entre nós, você parece não se importar às vezes. Por exemplo, nunca vi você convidando ele pra fazer algo que ele gosta, e aquela paleta que você deu pra ele de dia dos namorados não me convenceu muito. Eu sei, eu sei. Você tava com pouco dinheiro porque teve que fazer aquela porrada de exames, mas custava se esforçar um pouquinho e fazer alguma coisa realmente importante pra ele? Os canais de DIY tão aí pra isso. Enfim, pensa no que eu falei, ok? E enquanto faz isso, leva esse sorvete pra mesa dez.

 

***


No outro dia, Emmy chegou quase pulando de tão feliz que estava.

— Eu tive a ideia perfeita pra juntar você e o Apolo de vez dessa vez. Ih, até rimou.

Desinteressada, Willow ergueu o olhar do livro que estava lendo, enquanto Margot tratou rapidamente de se juntar ao grupo. Por ser quase sete da noite, a sorveteria estava praticamente vazia.

— Ok, está preparada? Como o Apolo tem dessa coisa de ser conectado com a música e tals, piriripororo, você vai cantar uma música pedindo uma nova chance. - Fez um gesto espalhafatoso com os braços. - Tcharã! O que acha?

— Eu acho que...

— Pode dar certo! - Margot me interrompeu. - Você é um gênio Emmy! Como nenhuma de nós pensou nisso antes?

— Porque tínhamos coisas mais importantes pra fazer - Willow revirou os olhos. - Sem ofensa, Cammy.

— Imagina, já me acostumei com o seu jeito... Willow de ser.

Depois de um breve momento de pausa, Marg quebrou o silêncio.

— Ok, agora só falta escolhermos a música. Alguma ideia?

— Girlfriend, da Avril Lavigne - Emmy disparou.

Logo a história do clipe veio em minha cabeça. A garota santinha tem um namorado super cool que a bad girl tá afim. A partir daí, o clipe vai se desenvolvendo com uma música chiclete até o garoto perceber que a nerd não tem nada a oferecer pra ele e corre pra outra. O clipe também envolve roupas maneiras e danças em cima das mesas, e eu poderia usufruir disso em um futuro próximo, mas mesmo assim...

— Acho que não. A música é boa e tals mas ela não faz meu estilo. Não sou a garotinha do pop Emmy, você sabe disso, eu sei disso e o Apolo também.

— É... você tem razão. Alguma outra ideia?

— Bad Girlfriend, da Anne-Marie.

Rapidamente algumas partes da música vieram na minha cabeça. Algo sobre a namorada ser uma louca quebradeira de carros e partidora de corações. Descarto a música rapidamente.

— Obrigada, mas não Willow. Essa música totalmente não me representa.

Vendo seus olhares incrédulos, tratei de consertar: - Quer dizer, talvez um pouco, mas é só. Podemos ir pra próxima?

Margot suspirou: - Lembra sobre o que falamos ontem Cammy? Admitir os erros, tentar consertá-los...

Uma parte em especial da música pareceu brilhar em minha cabeça: "Você quer ficar comigo / eu parto seu coração".

— Não quero falar sobre isso. Não agora. Quer saber? Deixem que dessa parte cuido eu. - vendo que a morena estava prestes a discordar, resolvi mudar logo de assunto. - Vocês têm pelo menos alguma ideia de onde eu posso cantar? Porque nem a pau eu vou parar em frente ao Apolo igual uma retardada e começar a tocar um violão, dizendo o quanto eu o quero de volta.

— Não se preocupe. - Emmy abriu um sorrisinho maligno. - Porque a resposta da sua pergunta está bem... ali. - segurou meus ombros, me virando para o mural da sorveteria, onde um cartaz descansava e dizia, em letras garrafais: 
Merda...

 

***

 

Preciso da sua ajuda, e nem pense em fazer gracinhas. É urgente.[21:47]

Estou ouvindo. [21:56]

 

***

 

— Não. Nunca. Jamais! - exclamei enquanto apontava pro biquíni roxo que estava nas mãos de Emmy. - Isso já é sacanagem.

Margot suspirou. - Você já tá aqui Cammy, o que custa entrar no tema e se divertir?

— Não sabia que o tema tinha mudado pra prostitutas da Barra da Tijuca - pontuei. - E não é só porque vocês colocaram a Willow em um desses que vão fazer o mesmo comigo - apontei pra garota que parecia se sentir mais exposta do que nunca.

— E que tal isso? Willow está usando esse maiô porque ela trabalha aqui, sendo assim segue ordens, ordens que ordenam que ela entra no clima temático.

— Pera... ordens que ordenam, que?

— Você tem que estar no tema Cammy. Assim como eu e a Willy. Então pegue esse biquíni, que por acaso foi o maior que nos encontramos em tão pouco tempo e se vista, capiche?

— Capiche é italiano, não francês - mas mesmo assim me dirigi ao banheiro, guardando as minhas roupas na mochila e achando um short preto lá no processo. O que foi uma benção, considerando que nem morta eu iria sair dali praticamente nua.

— Aí Emmy, minha sorte foi que eu esqueci de tirar esse short da mochila quando eu dormi na sua casa...

— Eca, tu tá usando roupa suja?

Levantando a cabeça percebi que as meninas tinham desaparecido, e um loiro, tomado os seus lugares.

— Solace - soltei. - Cadê as minhas amigas?

— Quem? Ah sim, as três mosqueteiras -se fez de sonso. - Elas foram trabalhar. Algo sobre clientes pra atender e demora pra se trocar... Alguma ideia sobre o que elas se referiam?

Revirei os olhos.

— Corta essa William. Trouxe o que eu pedi?

Ele me entregou o pen drive, mas quando fui pega-lo ele não deixou.

— Não pense que isso é uma trégua, Dousseau. Eu ainda vou te filmar e postar no YouTube, pra você ainda sofrer essa humilhação por muito tempo.

— Bom, porque eu ainda vou quebrar todos os seus dentes quando eu sair daqui. E me dá essa blusa, - arranquei a de botões que ele estava usando - porque eu preciso dela mais do que você.

 

***


Já eram cinco horas da tarde, e as exatas meia hora eu conseguia sentir o olhar do Apolo queimando as minhas costas, me deixando extremamente desconfortável. O filho da mãe havia escolhido a mesa mais próxima do palco. Na verdade, várias mesas que seus amigos fizeram questão de juntar, fazendo uma bagunça que eu juntamente com as meninas teríamos que arrumar depois.

Como se isso já não fosse o suficiente, a sorveteria parecia encher mais a cada minuto, provavelmente pela mais recente fofoca do colégio (aparentemente haviam escutado a minha conversa com o Apolo na sala de música e espalhado pra geral, e agora todos pareciam me seguir enquanto esperavam pra ver a vergonha que eu iria passar). Eu já estava pronta pra soltar um grito, socar algum idiota e sair correndo quando a Willow me parou.

— Querem você na mesa dez.

Tentando manter a calma, abri o refrigerador, preparando um sorvete duas bolas de morango.

— A mesa dez é a sua área Willy – respondi o óbvio. - Eu cuido das ímpares, você das pares e a Margot fica com o andar de cima esqueceu?

— Não, e nem o seu ex, se não eu aposto que ele teria pego aquela mesa do canto que ele sempre fica - indicou a mesa dezessete com a cabeça.

Realmente, pensei comigo mesma. Embora popular, Apolo sempre preferiu se sentar mais isolado. Segundo ele, o falatório nos horários de pico contribuíam pro seu sorvete derreter mais rápido. Ele também dizia que tinha uma ótima visão da minha bunda daquela mesa. Aparentemente, não era só do meu rosto que ele havia se cansado.

— Então, será que tem como você ir lá pra mim? Aquele projeto de noiva do Chuck já ultrapassou o nível da minha paciência há muito tempo- ela continuou, me surpreendendo.Willow era a pessoa mais apática e zen que eu conhecia.

Pedindo a Deus, Buda, e quem mais estivesse no barco um pouco de paciência, concordei. - Claro, só preciso entregar esse pedido.

— Eu entrego, quanto mais cedo me livrar daquela escrota melhor - tomou o sorvete das minhas mãos, se dirigindo a mesa a qual eu acabara de sair.

Com passos pesados atravesso o próprio corredor da morte, parando em frente da mesa e olhando fixamente para o meu bloquinho.

— Olá meu nome é Cammy e eu irei atendê-los hoje. O que vão querer?

Isso Cammy, seja educada e distante, meu cérebro me aconselhou.

— Um milkshake de ovomaltine, por favor - a voz da garota era tão enjoativa que tive que olhar para a própria. Grande erro. Ela estava simplesmente acariciando o braço do Apolo, que, sentado na ponta da mesa, parecia ter perdido os movimentos do corpo, enquanto me mandava olhares de puro pavor e ajuda. Bom, pensei mentalmente, pelo menos isso. – E capricha. Quero que seja tão saboroso quanto o Apolo. Traz dois canudos também, vamos dividir. É tão romântico, não acha? - não me contive, lancei o meu melhor olhar debochado. - Não acha? - ela repetiu parecendo grasnar, enquanto tirava seus olhos do Apolo e os fixava em mim.

— Acho – anotei o pedido, batendo a caneta no bloco com um "pup". – que um Milkshake é a bebida certa. É gelado, e você parece estar precisando de algo assim pra apagar o seu fogo.

Pela visão periférica, pude ver alguns amigos do Apolo tentando disfarçar a risada.

—Como? - entornou a cabeça para o lado. – Peraí que eu vou pegar um lenço pra você chorar de inveja. Ah, ops, não tenho! Da próxima eu trago um!

Dando o meu melhor sorriso, bati a mão na mesa com um baque, começando a me inclinar em sua direção.

— Pega seu lenço e en... - antes que eu pudesse terminar senti um par de mãos na minha cintura, para logo após ouvir a voz de Emmy.

— Nossa, parece que o clima tá quente aqui né? Enfim... - se virou pra mim, arrumando meu cabelo. - Miga, sua linda, tá na hora, é a sua vez. Me dá isso aqui - pegou o bloquinho e a caneta da minha mão. - E vem comigo. Tchau gente!

— Você viu aquilo? - exclamei quando percebi que não seríamos ouvidas. - Ela tava dando em cima dele. Na minha cara!

— O que eu vi foi que ele só tinha olhos pra você Cammy. Talvez olhos que implorassem socorro? Talvez olhos que implorassem socorro. Mas definitivamente, ele estava foda-se pra ela. Agora sobe aí, reata com o gostoso do seu ex e depois briga com ele por quaisquer que sejam os motivos ok? - me empurrou pro palco. - Boa sorte!

 

***


— E com vocês, mas uma corajosa garota pronta pra soltar a voz. Aplausos para Camille Dousseau. - Uma onda deles foi ouvida. - E então Cammy, o que você pretende fazer?

Aparentemente havia um menino entrevistando todos os que arriscaram subir no palco. E comigo não foi diferente. Me segurando pra não revirar os olhos, soltei o óbvio.

— Cantar.

O garoto pareceu ficar constrangido o suficiente com as risadinhas que eu arranquei dos clientes, já que ele só falou mais algumas poucas palavras e colocou o pen-drive no computador.

Observei a plateia mais uma vez e encontrando o olhar do Apolo no meio da multidão e mandei soltar a música.

A base começou.

   Uhu-uum yeah,

La lalalala-aaaSoltei uma risadinha

Ei
Apontei pro Apolo

garoto, você nunca jogou muito bem
Fingi decepção

Achei que eu precisava melhorar
Apontei o dedo indicador pra cima

Então eu fui embora, embora, embora
Fiz o gesto com as mãos 

 

Agora, vejo que você esteve saindo

Com aquela outra garota pela cidade
Fingi desdenho, apontando para a própria

Parecendo um casal de palhaços, palhaços, palhaços

 

Lembra das coisas que eu e você fizemos primeiro?

E agora você está fazendo essas coisas com ela

Lembra das coisas que eu e você fizemos primeiro?

Você me ganhou, me ganhou assim
Joguei a minha cintura para a esquerda

E agora você a está levando a todos os restaurantes

E em todos os lugares que fomos, qual é?Indiquei o meu local de trabalho, indignada

E agora você a está levando a todos os restaurantes

Você me ganhou, me ganhou assim

Agora para a direita

 

Garoto, você pode dizer o que quiser

Eu não dou a mínima, ninguém mais pode ter você

Eu quero você de volta

Eu quero você de volta

Que-quero você, quero você de volta

Peguei o microfone do tripe

Rompi achando que você ficaria chorando

Fiz o caminho de uma lagrima com o indicador
Agora me sinto mal olhando você curtindo

Eu quero você de volta

Eu quero você de volta

Que-quero você, quero você de volta

Apontei pra frente e depois pra traz, assentindo com a cabeça


Por favor, isto não é ciúmes

Apontei o óbvio

Ela não se compara comigo

Desci do palco

Tentando impressionar com aqueles jeans feios

Bati na minha perna para ilustrar, arrancando algumas risadinhas 

 

Você claramente não pensou bem nisso

Se o que venho dizendo é verdade

Você viria rastejando de volta choramingando

Fingi o choro com gestos.


Lembra das coisas que eu e você fizemos primeiro?

E agora você está fazendo essas coisas com ela

Lembra das coisas que eu e você fizemos primeiro?

Você me ganhou, me ganhou assim

Fui andando ao redor, interagindo com alguns clientes.


E agora você a está levando a todos os restaurantes

E em todos os lugares que fomos, qual é?

E agora você a está levando a todos os restaurantes

Você me ganhou, me ganhou assim

Parei na frente da mesa do próprio

 

Garoto, você pode dizer o que quiser

Eu não dou a mínima, ninguém mais pode ter você

Eu quero você de volta

Eu quero você de volta

Que-quero você, quero você de volta

Balancei a cintura



Rompi achando que você ficaria chorando

Agora me sinto mal olhando você curtindo

Eu quero você de volta

Eu quero você de volta

Que-quero você, quero você de volta


A base começou a desacelerar, e eu me aproximei da mesa do Apolo
Uh, eu pensei que você ainda seria meu

Quando lhe dei o beijo de despedida uh oh uh uh

Pisei na ponta de uma cadeira, subindo em cima daquela passarela de mesas, me encaminhando na direção do Apolo


Uh, e você pode até estar com ela

Mas eu ainda tive você primeiro uh oh uh uh

Cheguei em sua frente, me abaixando para ficar de sua altura

 

Yo, lembra das coisas que eu e você fizemos primeiro?

Olhei em seus olhos

agora você está fazendo essas coisas com ela

Apontei pra garota

Lembra das coisas que eu e você fizemos primeiro?

Segurei o copo de milk-shake com uma mão 
Você me ganhou, me ganhou assim

E o derrubei em cima da vadia

 

Garoto, você pode dizer o que quiser

Eu não dou a mínima, ninguém mais pode ter você

Eu quero você de volta

Eu quero você de volta

Que-quero você, quero você de volta

Voltei fazendo o caminho inverso


Rompi achando que você ficaria chorando

Agora me sinto mal olhando você curtindo

Eu quero você de volta

Eu quero você de volta


Que-quero você, quero você de volta

Subi os degraus do palco rapidamente

Lalalalala

Eu quero você de volta

Eu quero você de volta

Que-quero você, quero você de volta

Andei um pouco pelo pequeno palco


Uh, eu quero você de volta

Eu quero você de volta

Que-quero você, quero você de volta

 

***


— E então? - estava com os braços cruzados, encarando o Apolo. - Você não vai me dizer nada?

Após a excitação do karaokê passar, fingi que tinha trabalho pra fazer e saí rapidamente dali enquanto cumprimentava alguns clientes que ainda aplaudiam e sorria para outras, usando o máximo de educação possível para não apressar o passo e acabar atropelando alguém. Já no depósito, eu pirei total. Aquilo havia sido uma loucura! E o pior, todo mundo tinha visto! O Solace já deveria ter postado o vídeo no YouTube, Facebook e todas as outras redes sociais existentes pelo amor de Deus! E o Apolo... embora ele parecesse ter curtido, eu não tinha conseguido decifrar o seu olhar. E se ele não tivesse gostado? E se eu tivesse pagado aquele micaço atoa? Pratiquei respiração cachorrinho me sentindo uma idiota até a minha respiração acalmar, e depois de alguns minutos, já mais calma, saí do meu recente esconderijo só pra encontrar o Apolo prestes a bater na porta.

O que nos levava para o agora.

— Ainda estou processando o fato de que fui chamado de palhaço. Isso era pra ser uma crítica ou elogio? - ele fingiu pensar.

— Apolo! Porra, se você não quer voltar e só dizer logo! Fala que eu fui a anta que pagou o maior mico da galáxia e sai daqui pra eu chorar em paz caral... - fui interrompida por um beijo.

Não, não um beijo. O beijo. O melhor que já recebi na vida. Só então me lembrei como era bom beijá-lo, e como eu gostava disso. Sua boca estava fria e tinha gosto de baunilha. Eu quis mais, mas ele afastou os lábios.

— Eu entendi Cammy - disse segurando meu rosto com as duas mãos, me encarando com aqueles maravilhosos olhos azuis que pareciam perfurar o fundo da minha alma. - A música foi sarcástica, debochada, e os outros com certeza devem estar confusos até agora. - Soltei um risinho, segurando o choro. - Mas eu entendi. Porque eu te conheço Cammy. Eu conheço o seu jeito turrão, protetor, e principalmente o jeito que você demonstra gostar das pessoas, o que também me faz perceber que você não foi a única errada na história Cammy. Eu me afastei, dei prioridade ao meu time e ignorei que você estava precisando de mim, mesmo que você queira negar. Tentei te esquecer com outras pessoas quando estava na cara que isso nunca iria acontecer e agi feito um idiota lá dentro ficando petrificado demais pra afastar aquele grude de perto de mim. Mas eu ainda te amo Cammy, e por isso quero saber - ele se ajoelhou, abrindo uma caixinha com as alianças de coco mais bregas já existentes. - Você aceita voltar comigo?

— Você sempre me impressionou com a sua capacidade de fazer as coisas pareceram tão fáceis. Mas sim, eu aceito Apolo. Pensei que já tivesse deixado bem claro na música que eu quero você. Só você.

 

***


— Apolo? - perguntei mais tarde, enquanto acariciava seu peito. Estávamos sentados no meio-dia de uma pracinha, e a lua parecia reluzir em cima de nós. - Onde você conseguiu essas alianças?

— Ah. Eu vi um vendedor ambulante vendendo um monte dessas quando tava indo pra sorveteria hoje. A Peggy ficou jogando um monte de indireta sobre como uma em formato de rosa era bonita e blá blá blá, que eu só comprei essa aqui pra ver se ela calava a boca. Mas até que são bonitas, não são?

Soltei uma risada: - Não são não. Mas eu gostei mesmo assim. - E me inclinei para mais um beijo.


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