Arya acordou ao amanhecer. Gendry ainda estava com o braço em torno dela e do bebê mantendo os dois juntos a ele de forma protetiva. Arya sempre soube cuidar de si e nunca desejou a responsabilidade de cuidar de outras pessoas, mas agora era um pouco tarde demais para pensar nisso.

Ela havia pensado em se livrar da criança quando descobriu, mas já fazia quase 3 meses e Sansa reprovou a ideia. Essa era outra coisa que Arya nunca pensara em fazer: levar em consideração as ideias de Sansa, mas tudo era tão diferente agora e o jeito sentimental e sensível de sua irmã mais velha eram um refugio, um poço de familiaridade depois da mudança de tudo, inclusive da própria lady do Norte.

Ela se virou de frente para o pai de seu bebê, encarando o rosto forte com os olhos fechados e os lábios grossos. Havia alguma coisa sobre Gendry que fazia impossível resistir, como uma força magnética que a puxava direto para ele. Queria acaricia-lo, mesmo que isso fosse acorda-lo.

Gendry se virou até ficar de costas na cama, a cabeça caída para o lado, como se sentisse o olhar da pequena mulher ao seu lado. Arya tentava não pensar quantas mulheres já passaram por aquela cama antes dela. Queria que Gendry voltasse a ser dela, mesmo sabendo que isso era um egoísmo já que não pretendia ficar, ao menos não muito depois do nascimento da criança.

Ela ainda estava pensando na proposta de Gendry. Quase não podia acreditar que realmente cogitava aceitar ficar ali por 3 meses, bancando a “lady” para os senhores da tempestade. Nunca ia querer isso para sua vida mesmo que fosse apenas por alguns meses.

Mas ele era tão perfeito, ela pensou, deixando de lado toda a restrição que tinha em passar a mão sobre o peito dele, desenhando os músculos sob a camisa de tecido grosseiro que os cobria, ainda lembrando de como brilhavam na luz dourada da forja. Ele se mexeu de novo e Arya tentou tirar os dedos, mas a mão dele segurou a dela.

Seria assim acordar todo dia ao lado de uma pessoa? Essa sensação de estar completa?

Gendry abriu os grandes olhos azuis e a olhou por um longo tempo, nenhum dos dois falou, sendo o único toque que compartilhavam aquela mão segurando a dela sobre o peito dele.

— Eu vou ficar — ela respondeu, se apoiando sobre o outro braço para poder olhar para ele, Gendry apenas se ajeitou na cama para ficar com o tronco elevado — Mas será só até o bebê nascer e com algumas condições.

Gendry sorriu, enroscando os dedos no cabelo, já um pouco maior de Arya e que agora caiam por sobre os ombros e se acumulavam em um pequeno montinho sobre o travesseiro.

— E quais são as condições? — ele perguntou, enquanto a encarava.

— Eu quero minha irmã por perto — ela falou com uma certeza, como se de alguma forma o rapaz pudesse se opor a um pedido tão simples — Ela tem sido muito importante desde que voltei a Westeros e me dado muito apoio com o bebê.

— Eu vou encaminhar uma carta para Lady Sansa assim que me levantar — concordou, passando o braço sob o corpo da jovem mãe — Posso chamar Jon e Bran se quiser também.

— A viagem seria muito dificil para Bran e Jon é muito justo para aceitar essa gravidez. Só Sansa deve bastar — ela fez uma pausa.

— Existem outras condições? — ele perguntou, observando o rosto pacífico da garota a sua frente, nunca pensara vê-la daquela forma.

— Sim — ela respondeu com simplicidade — Eu não quero ser vista por outros lordes enquanto estiver aqui. Quando for embora, você pode apresentar nosso filho com meu nome, mas ninguém pode saber que estive aqui.

Ele assentiu sem dizer nada. Acordar ao lado dela havia lhe trazido uma pequena esperança de estar com ela, de que ela estaria ao seu lado como sua Lady, mas depois daquela condição, ele tinha certeza absoluta que isso nunca iria acontecer.

— Eu não vou ser sua lady e nem lady de ninguém e nada irá mudar isso — ela falou, como se lesse os pensamentos dele, que fez uma pausa antes de retruca, passando a mão com delicadeza pelos fios castanhos e compridos.

— Eu não pedi para que fosse minha lady — ele respondeu, se levantando da cama finalmente.

Mesmo nascida no norte, Arya nunca sentiu tanto frio como naquele momento em que ele a largara sobre a cama sozinha, mesmo que coberta e o lugar mais gelado era onde antes havia estado sua mão.

— Eu vou mandar escrever a carta para sua irmã e enviar o mais breve possível — ele disse de costas para ela — Eu tenho um encontro com alguns lordes essa tarde, não acho que eles vão se afastar muito do grande salão, então fique a vontade o mais longe possível de lá e ninguém irá vê-la.

Arya assentiu minimamente enquanto observava ele passar pela porta e se afastar. O bebê em sua barriga voltou a se agitar com força total após a saída de Gendry, ele também sentia falta do pai. Arya passou a mão pela barriga, pela primeira vez se sentindo realmente conectada com aquela criança em seu ventre.

Ela mordeu os lábios antes de se levantar da cama com um pulo, estar grávida não era uma desculpa para se deixar enferrujar, na verdade era, mas já havia usado a gravidez como desculpa muitas vezes na noite anterior.