Não havia ninguém para receber a comitiva real. Não que Jon esperasse ser recebido de alguma forma especifica, afinal não havia avisado de sua decisão prematura de deixar Porto Real para encontrar as irmãs. Ele também não pretendia que a viagem se estendesse, afinal havia deixado sua pequena Rhealla sozinha, com quase um milhão de criados da confiança de Sansa e a ama de leite, é claro, mas ainda assim sozinha.

Mesmo assim, ninguém ter se adiantado quando ele chegou sozinho com seu cavalo foi bastante estranho. Ele entrou no castelo de cabeça erguida e passos certeiros, perguntaria a primeira pessoa que encontrasse sobre Arya e a primeira pessoa que viu foi uma uma jovem mulher muito franzina carregando uma bacia de água que parecia muito maior do que ela e caminhava apresada, derrubando água pelas laterais do caldeirão conforme seus corpo bamboleava com o peso da carga.

— Você viu Arya Stark? — ele perguntou para a garota que parou o encarando de olhos esbugalhados, ela claramente sentia medo do rei de Westeros, mas Jon não entendia o motivo.

— Jon — ele conhecia bem aquela voz que ecoou pelo corredor, cortando o assunto dele com a menina. Logo os sapatos começaram a tictaquear em sua direção a jovem ruiva se virou para a garota da bacia — Por favor, leve essa água o mais breve possível, eu explico para o nosso rei o que está acontecendo.

Naquele momento um grito alto ecoou pelas paredes, um grito de sofrimento genuíno e de uma pessoa que nunca imaginariam gritar dessa forma: Arya. Aquilo deixou Jon ainda mais perturbado e se não fosse por Sansa segura-lo no lugar ele teria corrido em direção a porta de onde viera o grito.

— Vá rápido — a senhora falou para a garota que apenas alternou o olhar dela para Jon — A coisa parece estar bem feia por lá, por favor, ande logo.

A garota pareceu entender o dilema de Sansa e então caminhou mais rápido pelo corredor. Já havia sido avisada pelos burburinhos do castelo, só não contava ter que lidar com um nervoso Jon Snow no caminho.

— O que está acontecendo Sansa? — ele perguntou, mas quem respondera foi uma outra menina que apareceu ao lado da garota.

— Lady Sansa! — chamou ela com um tom contido — Sua irmã acaba de entrar em trabalho de parto e sua presença é solicitada.

— Obrigada — respondeu a Stark sem olhar para o rosto de seu primo que ficara branco como manto da guarda real — Eu estarei lá assim que possível, só preciso acalmar nosso rei antes.

A menina saiu para o lado oposto do quarto após aquela breve conversa e Sansa já tinha coisas demais para se preocupar ao invés de ir atrás de uma garota. Foi só naquele momento que encarou o rosto surpreso de seu irmão de criação que parecia ter virado pedra com os olhos esbugalhados e o corpo frio.

— Jon! — ela chamou, tentando tira-lo do transe, mas aquilo não parecia ter qualquer efeito real sobre ele — O que você está fazendo aqui? Eu disse que não precisava vir.

— Arya está grávida? — ele balbuciou mais para si do que para qualquer pessoa em especial.

Foi quando Gendry se aproximou com passos firmes, porém com a cabeça longe demais. Ele se apressou para alcançar a ruiva que estava parada em meio ao corredor com as duas mãos nos ombros de Jon. Ela não o viu, mas o rei sim.

O senhor da tempestade mal teve tempo de assimilar o que acontecia ali quando sentiu o punho de seu rei lhe atingir as faces com uma força inesperada. O grande touro sentiu o golpe em todo o seu corpo quando foi obrigado a fechar os olhos, mas o rei continuava vindo para cima.

Sansa se agarrava ao gibão dele, desesperada para que aquilo não se tornasse algo pior e Jon tinha garralonga embainhada, mostrando que tudo poderia fica muito pior de uma forma rápida até demais. Mesmo assim ela tentava segura-lo pelos braços e puxa-lo para trás

— Como você pode fazer isso? — ele perguntou ainda tentando acertar o senhor de Ponta Tempestade que apenas se esquivava, ele claramente não queria acertar rei, o que era uma decisão mais do que certa para alguém na posição dele — Ela é apenas uma criança.

Aquele argumento soara ridículo aos ouvidos de Sansa. Primeiro porque Arya nunca precisara de defesa ou explicação para fazer o que lhe desse na cabeça e segundo porque a menina já havia deixado, literalmente, uma trilha de corpos no caminho, algo que certamente não era trabalho de criança.

— Jon para! — ela falou ainda tentando puxa-lo para mais perto, mas sem muito sucesso — Jon olha para mim!

Nesse meio tempo, Gendry já havia se recuperado do susto e aproveitou a distração que Sansa causava para acertar um golpe forte no rosto de Jon. Aquilo deixou Sansa ainda mais alarmada, ela queria entender porque ninguém chegava para ajudar a separar os dois, mas então entendeu que a maior parte estava em função de Arya, que era um assunto muito mais urgente.

Outro grito da jovem loba, fez Gendry se distrair, tempo o suficiente para Jon acerta-lo outra vez. Gendry já estava perdendo a paciência com o seu rei e teria partido para uma luta armada se Sansa não tivesse se entreposto no meio deles, com os braços abertos, tentando evitar o confronto entre os dois.

— O que está acontecendo aqui? — a pergunta veio de uma das pontas do corredor. Era uma voz velha e conhecida que tanto Gendry quanto Jon eram obrigados a respeitar. Davos Seaworth se aproximou da briga, observando o rosto de todos os envolvidos com cuidado — Se vocês dois realmente amam Arya deveriam se unir e torcer por ela e não ficarem brigando no corredor, não piorem a situação dificil da garota.

Os dois se encararam com os orgulhos feridos doendo mais do que o hematoma nos olhos. Nenhum dos dois falou nada quando o cavaleiro das cebolas segurou o touro pelos ombros — Vamos, vocês precisam cuidar desses olhos e beber — aquilo parecia combinar mais com o Duende do que com o nobre Davos, mas ele logo completou — Nascimentos nunca fáceis e sempre bom preparar a alma para o pior.