— Por aqui — falou uma das parteiras contratadas por Sansa — Leve ela para o quarto o mais rápido possivel.

Gendry não tinha vontade de questionar, tudo que importava era que Arya e o bebê ficassem bem no fim de tudo. Ele levara um susto quando viu a mulher cair e não queria pensar no que aconteceria se Tyrion não estivesse ali.

As mulheres se acumularam sobre Arya como corvos sobre um cadaver quando ele a colocou sobre a cama. Elas remexiam nas roupas, desatando nós até que ela ficasse apenas de camisão. A parteira lider se virou para outra criada, uma menina claramente mais jovem e com menos experiencia.

— Gendry — Arya sussurrou esticando a mão para pegar a do pai de seu filho que a agarrou tentando faze-la se sentir mais segura.

Os dedos finos apertaram a mão grande e grossa com força, fazendo as pontas dos dedos do senhor da tempestade se esbranquiçarem com a força do aperto das mão pequenas e pela primeira vez o homem sentiu medo de perder aquela mulher a sua frente.

— Chame Sansa, por favor — falou a mais velha e principal parteira da região — Arya vai precisar de apoio e mande chamar o máximo de mulheres possivel. Isso vai ser dificil.

A mulher ergueu as mangas, sabia que possivelmente teria que enfiar os braços no sangue ou quem sabe até mais fundo. Ela trabalhava há anos antes daquilo e havia aprendido que quando o tempo vira bruscamente o parto vai ser dificil.

E naquele dia a bela tarde de primavera havia sido coberto por escuras nuvens negras antes mesmo que a princesa Stark começasse a sentir as primeiras contrações e dasabassem no colo de Lorde Tyrion Lannister. Agora, grossas gotas de chuva tamborilavam nas janelas de madeira enquanto relampagos e raios iluminavam o céu prematuramente escuro em minutos, uma pessoal menos acostumada se assustaria com as tempestades repentinas, mas não aquela senhora calejada.

Havia passado por muitos daqueles e raramente acabavam bem, se pudesse salvar o bebê já seria um beneficio, mas não diria isso ao seu lorde, não precisava acabar com as esperanças de um bom homem de primavera que ainda tinha muito o que viver e contava com a felicidade de ter o seu primeiro filho com a mulher que amava.

— M’Lorde! — Ela falou sobre os gritos de dor da garota que se retorcia, enquanto as assistentes tentavam prender ela na cama — Eu preciso que saia agora!

— Eu não posso abandonar Arya assim — ele disse, ainda preso aos dedos de sua amada, o único ponto de contato entre os dois.

— Nós vamos cuidar dela — retrucou a mulher — Eu sou a melhor no que faço e lhe garanto que terá o seu bebê em seus braços até o fim do dia de amanhã. — ela havia ocultado algumas coisas de proposito, a primeira de que não poderia garantir o mesmo para a jovem loba e nem de que ele certamente teria o filho nos braços, mas tudo poderia dar errado.

Ele apertou a mão da menina mais uma vez, olhando para ela com uma apreensão que não poderia ser calculada. A maioria dos senhores não olhava para suas esposas assim, na verdade até mesmo os aldeões eram mais frios com suas mulheres, fosse antes, depois ou durante os partos.

Os maridos costumavam se afastar para um beber em tabernas e se deitar com prostitutas baratas enquanto as mulheres eram partidas ao meio enquanto uma criança enorme passava por elas, muitas só tinha o apoio das mães ou irmãs, algumas nem isso e muitas realmente não sobreviviam ao processo do parto. No fim não recebiam nem o luto de seus parceiros que logo se casariam de novo e de novo.

Mas esse claramente não era o caso do senhor da tempestade — Se você não sair por bem, eu serei obrigada a chamar reforços para lhe expulsar — a mais velha falou novamente com um olhar aterrador que deixava claro que a presença do homem não seria aceita, fosse ele o senhor de Ponta Tempestade ou o Alto Septão.

Quando ele enfim saiu, as mulheres respiraram aliviadas. Nenhuma delas ficaria confortavel com a presença de um homem, ainda mais tendo que deixar a jovem senhora nua para a passagem da criança.

— Vamos lá — ela falou, abrindo as duas pernas da garota e observando a dilatação por onde a criança deveria passar — Vai ser um dia longo e dificil.

— Quando o tempo muda repentinamente o parto vai ser dificil — falou uma das garotas que trabalhavam a mais tempo com ela. Aquela pobre menina já havia visto dois partos como aquele e nenhum deles acabara bem, pelo menos não perfeitamente bem.

— Eu vou precisar de um infusão de ervas para a nossa pequena senhora, para aliviar a dor — ela falou, oservando enquanto uma das mais jovens garotas colocava uma grande panela de água sobre a lareira. — Você vai precisar fazer força, querida, mas apenas quando eu pedir.

A mulher podia ver as gotas grossas de suor na testa da jovem, a dor fazendo suas belas feições ficarem distorcidas. Aquela era a garota que havia passado por duas guerras, matado o grande Rei da Noite e sobrevivido a Queima de Porto Real e ainda assim, nada se comparava a dor que sentia naquele momento.

— Essa é a maior luta de sua vida, não é? — perguntou a mulher, recebendo um aceno de cabeça muito curto. Aquela conversa furada poderia parecer algum tipo de enrolação da mulher, mas a verdade é que ela precisava manter Arya consciente e centrada. — Eu sei, querida, mas vai dar tudo certo, eu prometo.

A garota do caldeirão de água quente, embanhou algumas toalhas, apenas o suficiente para o calor penetrar e formar uma compressa para a testa da mulher. Enquanto isso, a parteira apalpava a barriga, tentando sentir a posição da criança e a incentiva-la a descer.

— A boa noticia é que o bebê está em posição — ela falou em um tom baixo, isso já era melhor do que mais da metade das mulheres que ela atendera em condições semelhantes.

A porta do quarto se abriu de repente e a menina que havia ido chamar Lady Sansa entrou e se aproximou da mulher.

— Sansa avisou que não vai poder vir agora — ela sussurrou no ouvido da mulher — Parece que houve um problema lá embaixo.