Retornos & Reencontros escrita por Auto Proclamada Rainha do Sul


Capítulo 10
Capitulo 10




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Já fazia um mês que a comitiva de Porto Real andava por Ponta Tempestade. Arya sempre estava ao lado de Sansa ou de Gendry e o anão nunca conseguia encontra-la a sós. A Stark mais jovem já estava com cerca de 8 meses de gravidez e a dor nas costas e nas pernas já cobrava o seu preço e fazia com que ela passasse a maior parte do dia sentada ou deitada.

Ele a encontrou praticamente sozinha em um banco de pedra no jardim do castelo, era um dos poucos jardins de Ponta Tempestade, onde Sansa passava a maior parte do tempo com a irmã em conversas que nunca sairam daquele jardim.

Tyrion, com seu andar bamboleante, invadiu o espaço onde a assassina parecia tranquila, sentada em frente a uma fonte. A barriga proeminente ao ponto de explodir, era um momento tenso para todos, principalmente para o lorde da tempestade que passava todo o tempo livre garantindo que Aya estaria bem.

Ele e Sansa nunca chegavam a um consenso, enquanto a princesa desejava que a irmã ficasse quieta na cama como todas as mulheres em final de gravidez deveriam fazer, Gendry entendia que Arya nunca sobreviveria trancada em um quarto sendo paparicada o tempo todo. Por isso era sempre ele que a levava para dar uma volta no jardim.

Tyrion escalou o banco e se sentou ao seu lado. Tinha consigo um cantil cheio de vinho dornense, a adaga de aço valiriano em sua cintura como já havia ficado há muito tempo no passado, quando Catelyn Stark o carregou pelo Vale como se ele fosse um criminoso muito perigoso.

— Como você está essa tarde? — Tyrion não se lembrava da última vez que conversara com a Stark mais jovem, talvez isso tivesse sido nunca — Espero que tudo bem porque tenho um assunto sério para tratar com você.

A adaga de aço valiriano ocupou o espaço que havia entre eles, como uma força imensa e sufocante que não se deixaria ignorar. Os dedos da futura mãe se enroscaram no cabo e a ergueram sobre a barriga, passando a mão por toda a extensão da arma até como se estivesse tentando ter certeza de que aquela era realmente a lamina que usara para matar o Rei da Noite.

— Eu encontrei ela no corpo de Jaime — ele falou, bebendo um longo gole de vinho de seu cantil, nervoso por sua primeira conversa com a futura mãe fosse algo tão pesado como a acusação de “eu sei que você matou meu irmão” — O sangue ainda estava quente, eu limpei ela para você.

— Eu estou dando um tempo nessas coisas — respondeu simplesmente, acariciando a barriga saliente. Um pequeno relevo se apresentou na parte de cima da barriga. A criança estava chutando seu ventre, dessa vez com mais violência do que nunca.

— Pedido do seu marido? — perguntou o anão, ele não sabia que aquele bebê era um pobre bastardo concebido em uma noite escura e desesperada do longo inverno.

— Não — ela falou com simplicidade, não tinha qualquer vontade de entrar em detalhes e muito menos de ser vista como algo pertencente a outra pessoa — Decisão minha, eu matei muitas pessoas e isso é parte da minha vida, mas não precisa ser do meu filho.

— Uma decisão muito boa. — respondeu o duende, tomando outro gole longo de seu cantil — Você é uma menina muito inteligente, Arya.

O silencio se estendeu tão confortável quanto aquela adaga embainhada na cintura da futura mãe. Tyrion engoliu em seco antes de beber mais uma vez, precisava se convencer a seguir no assunto de qualquer forma, precisava de uma conclusão para Jaime e uma que o redimisse como o herói que ele lutou para ser, que sempre foi para o caçula Lannister.

— Posso fazer uma pergunta? — ele falou, em roupante de coragem que não teria novamente.

— Sobre a morte de seus irmãos? — ela perguntou, sabendo tudo que se passava pela cabeça do duende desde que ele colocara a adaga entre os dois.

— Sim! — ele respondeu mais uma vez, encarando as águas límpidas que caiam naquela fonte em frente a ela — Eu preciso saber se você matou Jaime e Cersei.

— Eu matei Jaime — ela falou com uma frieza indescritível. Desde que chegara ele não notara muito diferente em Arya, não percebera o seu tom mais dócil em sua voz. Pelo menos não até aquele momento, a gravidez havia mudado a assassina, mas não tão profundamente — Mas quando cheguei sua irmã já estava morta.

— Então Jaime matou Cersei. — foi a conclusão do anão, engolindo de uma vez só uma grande golada de seu vinho dornense.

— Eu posso falar apenas sobre aquilo que eu vi com meus próprios olhos — ela começou a falar e então fez uma pausa longa, esperando uma resposta do anão, que ainda parecia muito encantado pela fonte a sua frente, ou apenas concentrado demais para não chorar.

— O que você viu? — ele perguntou, sem desviar os olhos.

— Eu encontrei os dois caídos no chão, Jaime agarrado ao pescoço de uma Cersei morta, eu ia mata-la naquele dia, mas ele chegou antes. — As paradas entre as palavras eram cada vez mais longas, permitindo mais ar e mais sentimento conforme se aproximavam ao apice da história — Ela matou e me disse que isso não a feria tanto quanto imaginava. Ele sabia o que eu tinha ido fazer e então se ajoelhou na minha frente e pediu que eu o matasse. Jaime confessou seus pecados, olhou fundo em meus olhos e eu soube que precisava fazer aquilo.

Ela fez outra pausa longa, esperando que o homem aleijado a interrompesse para alguma pergunta ou para brigar com ela, como Arya certamente faria por seus irmãos. Mas como Tyrion não deu sinal de nenhuma das coisas, ela continuou.

— Eu hesitei, nunca tinha feito isso antes, eu não tinha nada contra Jaime, ele havia me ajudado a salvar Winterfell — mais uma pausa se fez quando ela se virou para ele — Ele implorou para que eu o matasse, disse que nunca poderia ser feliz com tudo que fez, não depois de atirar Bran do topo da torre, de matar o rei Aerys e Cersei, o sangue do seu sangue e de perder Brienne.

Tyrion a olhou pela primeira vez desde o começo da conversa e então tomou mais um longo gole de seu vinho doce.

— Sabe? Meu pai dizia que o carrasco sempre deveria olhar o sentenciado nos olhos e se ele não conseguisse mata-lo, então aquela pessoa não merecia a morte.

— O honrável Eddard Stark — ele disse com um meio sorriso nos lábios — Meu irmão realmente merecia a morte. Você foi piedosa. — as mãos calejadas tocaram a barriga, Arya podia sentir a aspereza dos dedos tortos mesmo sob o tecido grosseiro. — Você será uma mãe tão boa quanto os seus foram.

Arya sorriu, em momento algum alguém havia dito aquilo para ela. Todos sempre assumiam que ela estava bem com a gravidez. Ninguém pensava que a futura mãe podia sentir medo de algo, que esse medo pudesse vir de falhar como mãe.

Naquele momento uma dor atravessou o corpo pequeno. Uma dor como ela nunca havia sentido antes, fazendo-a se contorcer e se Tyrion não estivesse ali para apoia-la, o corpo teria desabado no chão.

— Alguém! — chamou, não sabia a quem se dirigir naquele momento, só precisava que alguém estivesse ali e Gendry foi o primeiro a atender o seu chamado.

Segurando a pequena Arya em seus braços, ele a ergueu como se não houvesse peso e a carregou para fora do jardim a passos largos.


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Notas finais do capítulo

Hoje ta tendo um evento aqui em casa e tamo de correria. Respondo os comentários depois.



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