O Senador Rebelde escrita por André Tornado


Capítulo 9
Frente a frente




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Resolver a pendência com o milium era imprescindível. Haveria de se arrepender mil vezes se voltasse as costas ao problema, se fugisse de Ferth como se fosse ele o criminoso. Tentar resolvê-lo à distância só agudizaria a situação – e ele tinha o pressentimento de que nunca mais poderia voltar a ser quem ele era por causa do impostor que não tinha sido bem-sucedido na sua eliminação física. Um drama eterno que o iria consumir até à cova. Impensável e inédito!

Ao ter conseguido ludibriar o par de soldados e evitado morrer, o que lhe cabia por direito devido ao seu apurado sentido de sobrevivência, que existia em qualquer criatura naquele vasto Universo, também riscara para sempre a possibilidade de ser ele próprio.

Esse pensamento absurdo causava-lhe dor de cabeça.

Como ele nunca fora homem de voltar costas aos desafios, ainda que nos seus tempos de juventude tenha experimentado fugir das suas responsabilidades por simples afirmação de uma rebeldia normal nessa idade, ele iria enfrentar o causador da sua perturbação. Ambarine e Jotassete acompanhavam-no, mas ele sabia que teria de encontrar uma solução sozinho.

Como o fazer, era outro problema e enquanto caminhava pelas ruas menos movimentadas daquela cidade suja e decadente, para evitar as patrulhas de espiões imperiais que estavam em alerta para a sua presença – Ambarine tinha conferido no seu aparelho de comunicação que já existia uma recompensa para a sua captura que estava a ser cobiçada por alguns grupos de contrabandistas locais – enquanto andava, ele pensava no que teria de fazer. O seu plano de ação começara a tomar forma quando se decidira a regressar à cantina “Fogo Rápido”, onde esperava que o milium ainda se encontrasse a distribuir bebidas e a falar em seu nome, mas com cada passo que encurtava a distância até ao seu destino ele ia definindo melhor a estrutura e, verdade fosse dita, havia muitos espaços em branco e pedaços indefinidos nesse plano.

Segundo Jotassete, um milium roubava a identidade de alguém para sempre e viviam essa personalidade de forma intensa. Um milium não poderia existir sem ser uma personagem. Nunca desistiam, nem nunca eram desmascarados. Ora, ele iria apresentar um novo sofisma: confrontar o milium com o roubo.

Perguntara ao androide se ele possuía, na sua imensa base de dados, alguma indicação relativa a um milium que alguma vez tivesse sido acusado de falsidade pela pessoa ou criatura a quem assaltara. O androide respondera, categórico, que isso nunca acontecera, pois os milium asseguravam-se de que a pessoa ou criatura assinalada não sobrevivia à purga que lhe era movida. Ele assentira, pensativo e não se dirigira mais ao androide. Na altura apropriada iria pedir-lhe ajuda.

Quanto a Ambarine, seguia-o muda e contrariada e, por alguns breves instantes que lhe serviram de distração da aturada laboração mental com que se ocupava, ele achou que se sentia satisfeito por estar a fazer provar à mulher de Kodadde o que ela o fazia experimentar desde que os seus caminhos se tinham cruzado à saída de Coruscant. E por tal, sentiu-se também confiante e que iria conseguir resolver o que o opunha ao milium da melhor forma. Não seria pior que olhar Palpatine nos olhos. Ou mesmo o sinistro Darth Vader…

Entrou pela cantina “Fogo Rápido” adentro tempestuosamente, com passos duros e assertivos. Não chamou a atenção de ninguém, pois aquele era um antro de ébrios, onde a música tocava alta, onde se fumava despudoradamente, onde cada um tinha mais segredos do que aquele que estava ao seu lado, onde eram invisíveis e reconhecíveis, cultivando-se uma ambiguidade que dependia dos objetivos a atingir.

O milium não se encontrava ao balcão, pelo que a oferta generosa de bebidas teria terminado. Quantos créditos teriam sido gastos naquela brincadeira, ele iria descobrir em breve e preparou-se mentalmente para não se incomodar com a cifra. Era apenas dinheiro e ele tinha bastante. Iria desbaratar miseravelmente a fortuna, todavia, se deixasse o milium prosseguir com aquela mascarada.

Os seus companheiros de jornada tinham também entrado na cantina.

— Jotassete, ficas comigo. Minha querida…

— Tratas o androide pelo nome e comigo usas o teu paternalismo irritante – cortou Ambarine mordendo as palavras. – Acaso sou menos que o teu amigo metálico?

— Tens razão – considerou ele, ligeiramente arrependido. Pela cara que ela lhe mostrava, a sua arrogância continuava a transparecer na sua atitude e na sua voz, misturando-se com uma espécie de ironia que ele não empregara, pelo menos, não de forma consciente. Continuou, esforçando-se por soar grave: – Tens razão, Ambarine. Por favor, podias aguardar lá fora e vigiar o movimento da rua? Tudo discretamente…

— Não te preocupes, senador. Também não quero chamar a atenção para a minha pessoa, depois dos estragos que andei a causar. Resolve o teu problema, apanhamos um transporte… Sim, depois desta cantina não quero perder tempo e vamos num transporte! Apanhamos um transporte, dizia eu, regressamos ao espaçoporto e a nossa próxima paragem é para a tua reunião de Estado… senador!

— Agradeço a tua colaboração… Ambarine.

Fez uma pequena mesura com a cabeça e ela fungou, desdenhando da cortesia que também lhe soou a falsidade.

Ele tinha ciência de que tudo aquilo seria uma loucura, mas era isso ou viver como um refugiado de si mesmo para sempre. Arrebitou uma sobrancelha com aquela classificação que lhe soou dramaticamente poética. Um refugiado de si mesmo… Daria para tema de um poema, de uma canção.

O grupo musical que o tinha encantado quando ali estivera a beber licor de gojyriana tinha sido substituído por uma cantora que mal se ouvia, num registo melancólico acompanhado por um tambor que era tocado dentro de um ritmo aleatório que parecia não condizer com a cantiga. Ele encolheu os ombros, desagradado com a falta de espírito do número musical.

E, então, encontrou o milium. Estava numa mesa, num local mais reservado da cantina, onde havia biombos a criar compartimentos usados por clientes endinheirados. Rodeava-se de um bando de fêmeas twi’lek, enrolando-se nos seus lekku, que lhe cobriam as pernas, os braços, que estavam à volta do seu pescoço afetuosamente, enquanto distribuía moedas douradas que colocava no decote de cada uma. Ele contou, pelo menos, seis. Haveriam mais, pois havia lekku por todo o lado. Heskey franziu a boca, agoniado com a cena. Gostava do elemento feminino, mas não assim, com aquela exposição e vulgaridade.

Respirou fundo e foi até à mesa. As mulheres olharam-no curiosas e interessadas quando ele murmurou um cumprimento e se inclinou para diante, como se fosse cair sobre o tampo. O milium, por seu turno, contemplou-o com indiferença. Reparou na unidade J7-21 e teve uma qualquer lembrança que foi tão profunda que lhe causou um espasmo que indicava dor física. Espremeu-se, contorceu-se, o rosto velou-se com uma cor indefinida entre o cinzento e o amarelo. Enxotou as mulheres com gestos brutos, desagradáveis, empurrando-as para afastá-las depressa de si. As twi’lek fugiram da sua fúria sem um queixume. Já tinham os seus proventos, iriam gravitar à volta de outro homem que demonstrasse riqueza, simpatia, fingido afeto.

Ao ficar a sós com ele, o milium acalmou-se e ficou apático. Uma postura petrificada e azeda que indicava que a conversa iria ser difícil. Heskey puxou um dos bancos e sentou-se frente a frente com o seu inimigo. Jotassete estacionou ao seu lado, as suas luzes a piscar suavemente.

Nem sequer eram fisicamente parecidos, ou moralmente equivalentes.

Espalmou na mesa o cartão que lhe daria acesso à pista de aterragem do espaçoporto. Pousou as mãos, de palmas voltadas para baixo, ao lado do cartão.

— Meu caro, preciso de usar isto e tu estás a impedi-lo.

O milium manteve-se mudo. Ele prosseguiu, adotando uma voz neutra, para não espantar o outro:

— Quero reaver… o que me pertence, meu amigo. Compreendo que para ti esta situação seja inédita. Eu não fui eliminado, estou aqui a conversar contigo, esta nossa interação é demasiado estranha para o teu conceito. Não me perguntes como podemos resolver isto, mas sei que iremos, de facto, resolver isto. Os dois. Eu e tu. Eu e a minha sombra. Tu e o teu modelo. Não estamos numa posição confortável. Admito que tudo o que se passou aqui, a partir do momento em que resolveste ser quem eu sou, me é totalmente repugnante. No entanto, não te considero como o meu inimigo, mesmo que voltasse costas a Ferth e resolvesse ignorar-te para o resto dos meus dias. Ou dos teus. Somos oponentes… concorrentes. A única forma de resolução, meu caro, é que terminemos, de mútuo acordo, esta competição. Preciso que me digas como fazê-lo.

E outra vez o milium manteve-se mudo. Ele já estava à espera da relutância e do espanto, da teimosia pura por receio ou por ignorância.

— Seria demasiado fácil escolher a via da destruição. Tu já não tens os teus guarda-costas contigo. O serviço deles terminou sem que tivessem cumprido os seus objetivos porque os meus guarda-costas foram mais rápidos e conseguiram intercetá-los com sucesso. Não me agradou ter de os remover deste tabuleiro onde jogamos, meu caro. Mas eram eles ou eu e a minha decisão foi óbvia. Lá fora tenho um dos meus operacionais. Posso chamá-lo e ordenar-lhe que te abata. Fim do meu problema… e quem sabe, do teu. Como te disse, porém, não quero escolher a via da destruição.

— É impossível o que me pedes – revelou o milium, rouco e zangado.

— Não, não é. Muda de identidade.

— Não posso. Tu estás vivo.

— Não existe uma impossibilidade física, nem uma limitação psicológica. Tu escolhes ser quem queres ser, sem que seja exigível um critério. Engano-me? É apenas por diversão, por desporto. Um parasita de personagens. Calhou-me a mim, como podia ter calhado a qualquer um que tivesse chegado a Ferth naquela janela de tempo em que eu aqui apareci. Foi apenas uma questão de sorte ou de azar.

— É impossível o que me pedes – insistiu o milium.

Heskey suspirou. Manteve a sua posição – costas direitas, o cartão de acesso entre as mãos sobre o tampo da mesa, os olhos fixos na criatura. Mudou a modulação do seu discurso e de neutral passou a ameaçador.

— Meu caro, dou-te dois minutos-padrão para escolheres outra personalidade e deixares de te apresentar como o senador Heskey de Corulag. Ao fim desse prazo espero ver-te levantar desta mesa e gritar bem alto, para que todos te oiçam dentro desta cantina, que vais oferecer uma ronda de bebida em nome de qualquer um, menos do meu. Ou então chama pelas tuas queridas twi’lek e oferece-lhes moedas de ouro e carinhos como se fosses quem vais ser ao fim dos dois minutos-padrão. Quero ver essa alteração. Exijo essa alteração!

Rasgou um sorriso irónico e continuou, inflamando-se:

— Ah, e como vais fazer isso? Muito fácil! Tenho aqui ao meu lado esta unidade armazenadora de dados, J7-21. Nos seus arquivos existem milhares, milhões, triliões de identidades de diversas personalidades, criaturas, pessoas, ilustres e anónimos. Basta aceitares a minha oferta e o androide entrega-te uma nova identidade para usares. Sem qualquer preço, ou chantagem. O único requisito é que deixes de usar a minha identidade.

O milium hesitou e ele esclareceu:

— Esta oferta não é negociável. Dois minutos-padrão. Ao fim desse tempo, saio de cena e entra na cantina o meu guarda-costas que te mata com um tiro na testa.

Um cronómetro, algarismos azuis em contagem regressiva, surgiu num dos cantos do topo do androide. Os olhos do milium abriram-se desmesuradamente. Começou a suar e a tremer. A garganta moveu-se devagar ao engolir em seco. Estava aterrorizado. Heskey apreciou tê-lo encurralado.

Restavam setenta e dois segundos-padrão quando o milium estendeu o braço e fez o pedido ao androide. De uma ranhura impercetível saiu um cartão transparente riscado por várias linhas cinzentas, unidas por pontos que compunham um padrão específico. O milium levantou-se da mesa, atrapalhado, tropeçando nas pernas, encalhando na mobília e quase caindo. Refugiou-se num canto, para não ser incomodado na sua ação clandestina. Do interior da gabardina que envergava retirou um leitor portátil, onde inseriu o cartão. O leitor devia ter apitado, mas não se ouviu por causa da música e da algazarra própria da cantina. No pequeno mostrador surgiu um rosto, informações básicas como nome, altura e peso, sistema de origem, ocupação.

Uma nova identidade.

O corpo do milium encurvou-se e a sua cabeça desapareceu atrás da corcunda que formou com as costas, ao mesmo tempo que elevava os ombros e encolhia os braços. Heskey observava-o apreensivo, curioso e um pouco impressionado.

No palco, a cantora terminava a sua prestação. Alguns aplausos tímidos e ele voltou a cabeça para ver quem é que estava a ver o espetáculo e que o tinha verdadeiramente apreciado, ao ponto de ter aplaudido. Era incompreensível que aquela cacofonia tivesse adeptos. Quando tornou a olhar para o milium teve um sobressalto e foi com alguma dificuldade que dominou a sua perplexidade.

O milium atravessava a cantina, com um trejeito feminino, na direção do balcão. As suas feições tinham-se suavizado, estavam menos afiladas, até o cabelo tinha desaparecido e tornara-se calvo, como se tivesse caído ou se tratasse de uma peruca. As roupas mantinham-se, mas o corpo que vestiam modificara-se, tinha adotado outra forma de andar, de se apresentar, de existir.

— O milium integrou a nova identidade no seu sistema interno e está a agir como tal. Uma fêmea. Uma escolha curiosa, senador.

— Ele pode escolher qualquer criatura, qualquer género ou raça?

— Sim. Qualquer uma, senador.

— Isso é… interessante, acho. – Levantou-se e esfregou as mãos uma na outra. – Bem, julgo que o nosso assunto aqui terminou. Vamos, Jotassete. Não percamos mais tempo. Ambarine deve estar preocupada com a nossa demora.

— A resolução foi a contento?

— Recuperei a minha identidade, não terei qualquer problema em deixar Ferth. Sim, a resolução foi a contento.

Perto do palco deserto, iluminado por um foco único que acentuava a solidão do espaço, havia uma mesa com um ocupante que fitava o vazio com todo o aspeto de estar a suspirar por algo perdido, num trejeito melancólico. O milium aproximou-se e sentou-se. O outro assustou-se. Os vários apêndices, como tentáculos que lhe saíam do tronco e que lhe serviam de braços, agitaram-se em espasmos, mas depois acalmou-se e envolveu o milium, puxando-o para si. Heskey voltou costas à cena. Não lhe interessava saber o que iria acontecer a seguir. Da sua parte, sentia-se mais livre, agora que o seu problema tinha terminado e era só isso com que se importava.

Ao chegar ao cargueiro foi refugiar-se na arrecadação, afastando todos de si com determinação. Queria estar sozinho e naquela fase não se importava com o confinamento naquele espaço exíguo que ele tanto detestara, da primeira vez que ali tinha estado. Chamou apenas o androide para lhe fazer companhia.

Nos primeiros minutos-padrão, longos minutos-padrão que passaram depois de saírem de Ferth, ele não falou. Precisava absolutamente daquele silêncio e de vazar a sua cabeça de ruídos, de memórias recentes, de impressões, de tudo o que ele colecionara e que era supérfluo desde que saíra de Coruscant. Estava ainda mais drenado do que quando se resolvera a ir beber um copo na cantina “Fogo Rápido”. Olhou para o androide e analisou-o minuciosamente, as suas pequenas luzes, as suas linhas aerodinâmicas, a chaparia negra, o modelo em si.

Faltava adicionar aquele detalhe à história. Uma vez que tinha colocado os acontecimentos a uma distância segura de si, após o necessário exercício de vazamento da mente, podia fazer a pergunta sacramental que escreveria o devido epílogo e então, sim, podia arrumar convenientemente o episódio.

De resto tinha de estar lúcido e na plena posse das suas capacidades, físicas e psicológicas, quando fosse ter a tal reunião com o dirigente da Aliança. Ele não queria ser vergado, influenciado, manipulado ou enganado. Se o pudesse evitar com recurso aos seus meios, melhor ficaria consigo próprio.

Perguntou:

— E tu, Jotassete? O que tens para me contar?

O androide disse, de imediato:

— Eu estava a proteger-te.

— E protegeste-me, de facto. Contudo, preciso de um esclarecimento crucial para não te entregar a um dos gamorreanos para que te abram a carcaça e te arranquem as peças para usar no navegador desta sucata. Se não foi Ambarine quem te enviou, se não foi nenhum destes infelizes com quem estamos a viajar… vieste por intermédio de quem?

— Foi o milium que comprou os meus préstimos.

A fadiga impediu-o de se indignar. Esfregou os olhos com os dedos da mão esquerda, sacudiu a direita pedindo que o androide prosseguisse com aquela revelação insana.

Ferth tinha sido um lugar que ele nunca mais visitaria, jurou. Detestara a estadia. Odiara a experiência. Perigos, enganos, cadáveres. Uma alegoria do que o aguardava naquela galáxia em que Palpatine reinava supremo, sem o entrave polido do Senado Imperial. Talvez a reunião com a Aliança fosse providencial. Desenharia um propósito, um objetivo… Não. Insistiu na negativa. Ele queria abandonar-se em Corulag e viver na ociosidade. Não, definitivamente.

E o androide prosseguiu:

— Os milium possuem uma dualidade intrínseca. Roubam uma identidade e precisam de se manter na personagem por uma questão de sobrevivência e de orgulho. Adotam, contudo, os dois caminhos e que prevaleça o mais forte. Um caminho da destruição e um caminho da salvação. Contratam milicianos para assassinar a criatura roubada e também contratam androides para proteger essa mesma criatura. Na maioria dos casos, o roubado acaba morto. Existem outros casos em que o roubado consegue salvar-se e usar a proteção do milium.

— Oh… compreendo. E consegui usar a minha proteção. Estava tudo programado.

— Afirmativo, senador. Tudo programado, desde o início. Ou morrias ou salvavas-te. A identidade seguinte do milium já estava previamente escolhida e inserida no meu sistema. Quando chegou a altura certa, foi só entregar o cartão ao milium.

— Foi tudo um teatro.

— Os milium são dramáticos.

— Bastante! Se eu morresse…

— Eu regressaria para o milium e entregar-lhe-ia o mesmo cartão. Nova identidade. Novo jogo.

— Tudo não passou de um jogo – suspirou.

Heskey encostou a cabeça à parede, pálpebras cerradas.

— O que devo fazer contigo, Jotassete?

— Ganhaste o direito de me ter na tua posse, senador. Poderás fazer o que quiseres comigo. Apagar a minha memória e reutilizar-me. A partir do momento em que me desliguei do milium, pertenço-te.

— É o que me apetece fazer… Apagar-te e desligar-te.

— Aceito o que determinares. Até me podes entregar desde já ao gamorreano para que as minhas peças sejam arrancadas e os meus circuitos desfeitos.

A sua garganta fez um ruído. Estalou a língua.

— Não o irei fazer. Acabaste por desempenhar bem a tua missão. Protegeste-me e eu salvei-me. Que motivos terei para ser cruel contigo? Só por puro rancor… e não me considero um homem rancoroso, ainda que muitos me possam apontar o defeito da arrogância e confundir os meus modos bruscos com ressentimento e despeito.

— Agradeço a tua consideração, senador.

— És uma base de dados, não é?

— Afirmativo, senador.

— Hum… Poderei encontrar algo de útil entre os teus arquivos.

— Como desejares, senador.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Chandrila.



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