O Senador Rebelde escrita por André Tornado


Capítulo 3
Um grupo estranho




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Em toda a sua carreira como político, Heskey nunca estivera numa situação de perigo mortal. Tinha uma sensação de desconforto e de acossamento nas raras ocasiões em que estivera na mesma sala com o Imperador Palpatine, experimentava verdadeira repulsa nas ainda mais raras ocasiões em que partilhara o espaço com Darth Vader, mas nunca pensara que podia morrer, de um momento para o outro, se movesse um músculo ou se dissesse a palavra errada perante essas duas figuras tenebrosas que mandavam na galáxia. Por outras palavras, nunca percebera que a sua vida corria um risco extremo quando estivera com Palpatine ou com Vader.

A sua infância fora pacífica, pois nascera numa família rica e privilegiada de Corulag – o seu pai tinha sido um protegido de um senador da Antiga República e tivera ligações ao conselho Jedi, embora ele próprio não fosse senador – a sua juventude passara-se sem episódios assinaláveis e quando se tornara num jovem adulto, após concluir os seus estudos superiores, foi em viagem de descoberta pelos mundos do núcleo. Não se aventurara para muito longe, pois sempre abominara a falta de civilização. Vivera de uma forma desregrada, sem preocupações de monta, sorvendo dos prazeres da vida até ter dobrado os quarenta. Depois a sua banda musical, que era a sua família nesses anos libertinos, desmanchara-se e o seu pai adoecera, obrigando-o a regressar a casa, à sua família original. Era filho único, todas as responsabilidades inerentes a essa condição a esmagar-lhe os ombros e ele tivera de fazer uma escolha, enterrando o passado. Resolvera seguir a carreira política que, por qualquer razão que ele desconhecia, escapara ao progenitor. Nunca compreendera por que motivo o seu pai nunca assumira as suas lealdades republicanas e se mantivera confortavelmente à margem. Talvez para proteger a sua fortuna… Talvez para proteger a sua família rica e privilegiada… O certo fora que assim que o Império Galáctico se ergueu, os seus interesses não se encontravam beliscados, o que beneficiou a sua carreira, em última análise. Pois ele só se tornou senador do Senado Imperial, desconhecia a realidade anterior. As guerras pelo poder, as lealdades que implicavam acusações capitais, a violência das purgas.

Assim, não havia nenhuma situação que ele pudesse recordar em que temera pela sua integridade física. Nem mesmo quando vivia com outro nome, nas franjas selvagens dos mundos do núcleo. O que tinha contribuído para que ele se tornasse num homem destemido.

Na nave inimiga que o acabava de raptar Heskey também não chegava a sentir medo. Era mais uma contrariedade, um empecilho aos seus planos de descanso. Estava tudo tão maravilhosamente esquematizado, tudo tão encaixado na sua mente – viver em Corulag numa aprazível reforma – que tinha a impressão de que fora traído pelas circunstâncias, fossem elas quais fossem.

Olhou em volta, sem disfarçar a sua curiosidade, sem ocultar que estava a analisar os pormenores do lugar para construir um testemunho acusatório determinante quando aquilo fosse julgado num tribunal apropriado. Sim, porque iriam haver consequências daquela brincadeira! Por muito atraente que a mulher de Kodadde fosse, Ambarine seria acusada formalmente de rapto e ele haveria de se assegurar que ela iria cumprir uma pena de prisão para não repetir a graça.

A pirata espacial julgava-se impune e devia ter escapado muitas vezes à justiça. Provavelmente, e isso seria o mais correto, nunca fora apanhada pelas malhas da lei ou fora condenada pelos seus atos criminosos. Notava-se pela sua forma de agir dentro da nave, que seria o seu reino pessoal. A sua autoconfiança chegava a ser ofensiva. Mas existia sempre uma primeira vez e Heskey iria assegurar-se de que ela pagaria pelos seus crimes.

A nave era um cargueiro do modelo WT-1500, fabricado pelos estaleiros de Kuat – à semelhança da esmagadora maioria das naves que cruzavam a galáxia – com algumas modificações que não disfarçavam a sua origem, daí que ele a tenha identificado facilmente. Esses cargueiros faziam transportes regulares nas rotas comerciais oficiais, mas eram também usados para contrabandear especiarias na Orla Exterior por grupos fora-da-lei que trabalhavam para mafiosos renomados. Era o caso daquela nave. Por serem cargueiros ocupados por bandidos, a sua manutenção era feita fora dos locais autorizados, por oficinas controladas pelos mesmos mafiosos e nem sempre havia peças disponíveis. Os remendos abundavam. Aquela nave, notou ele, tresandava a óleo e a circuitos queimados. Desconfiava que nem tudo estivesse operacional, pois entrevia luzes a piscar em painéis escondidos por fita adesiva e placas mal aparafusadas.

Ambarine seria a chefe daquele bando, composto por piratas de várias espécies. Desde o seu ponto de observação, junto à porta que abria para o exterior, Heskey reparou que a tripulação era composta por dez indivíduos, para além da própria Ambarine. Os dois nikto vermelhos, chamados Joyce e Royce, nomes ridiculamente semelhantes, que pertenciam à subespécie dos kajain’sa’nikto. Eram oriundos de Kintan, situado na Orla Exterior, e habitavam vastos desertos. Devido à sua natureza violenta eram amiúde contratados como mercenários por barões do crime. Aqueles dois exemplares guerreiros, feios e ameaçadores, tinham olhos negros, pele com escamas, cornos simétricos e espigões na cabeça.

Depois ele viu cinco gamorreanos, porcos-lagarto que eram ainda mais asquerosos que os nikto, com os seus focinhos de suíno húmidos, o seu bambolear desengonçado e o seu grunhir constante como forma primitiva de comunicação. Eram excelentes bestas de carga, pelo que supôs que estariam ali para carregar mercadorias e realizar todo o tipo de trabalho braçal. Se ele algum dia tivesse escravos seriam gamorreanos. Eram brutos, de uma forma menos polida do que os nikto e serviriam possivelmente como soldados de infantaria em caso de confronto com outros bandos rivais.

Os pilotos eram dois dresselianos, oriundos de Dressel, um mundo agradável composto por cordilheiras, florestas, planícies e oceanos ricos em vida marinha. Os habitantes desse planeta eram bastante cordiais e pacíficos, mas podia acontecer, como ele verificava naquele cargueiro, arranjarem problemas com a vida e embarcar numa existência dissoluta. Pela simples necessidade de aventura ou porque precisavam de escapar de um destino aziago. Os dois dresselianos eram um homem e uma mulher. Tinham a pele ligeiramente bronzeada, crânios alongados totalmente carecas, com as frontes enrugadas o que os tornava repulsivos e desagradáveis. Heskey tinha conhecido dresselianos, no Senado Imperial. A impressão que lhe ficara fora de que eram criaturas melancólicas, conhecidas por debater temas filosóficos complicados, muito enfadonhos, horas intermináveis de debates sem qualquer conclusão assinalável. Ele nunca se aproximara muito de tais reuniões, por não ser o seu estilo. Aquele casal de dresselianos, porém, era simplesmente calado e mal-encarado.

O último tripulante era um gotal macho, um humanoide peludo nativo da lua Antar Quatro que lhe rosnou quando passou por ele. No topo da sua cabeça cresciam dois cornos gémeos, que funcionavam como sensores eletromagnéticos bastante sensíveis que captavam emoções com muita clareza. O gotal de certeza que percebera o seu desdém e asco. Heskey ainda carregou mais no sentimento para o deixar incomodado. Resultou, pois o gotal travou os seus passos e deu meia-volta com uma segunda rosnadela. Os seus olhos amarelos faiscaram. Ele sorriu, provocando-o um pouco mais.

— Senador, vamos conversar – pediu Ambarine.

Ele entendeu como um pedido. A voz da mulher era suave e persuasiva, chegando a ser quente. Olhou-a de alto a baixo e não percebeu qualquer sinal de intimidação. Era desconcertante. Se ele não soubesse que tinha acabado de ser retirado à força do seu vaivém, se ele não estivesse em tão péssima companhia, no meio daquelas criaturas horrorosas e de reputação duvidosa, era capaz de acreditar que tudo aquilo não passava de uma agradável viagem. Firmou-se no lugar onde estava.

— Não temos nada para conversar, minha querida. Levas-me ao teu contacto, terminas a missão e regresso a Corulag. Não precisamos de usar cosmética para tornar esta situação mais aceitável.

Ambarine aproximou-se, sorrindo.

— Senador Heskey, disseram-me que eras difícil, intratável, matreiro. Se julgas que me estás a surpreender, estás redondamente enganado. Os teus esquemas e modos de agir não me vão conseguir demover ou mudar o que quer que seja na nossa relação… profissional. Lamento contrariar-te, mas temos mesmo de conversar.

Ele abanou a mão direita, irritado.

— Leva-me para um compartimento onde possa descansar. Não irei fazer esta viagem de pé! Nem sei se levará muito ou pouco tempo…

— Dir-te-ei tudo o que precisas de saber.

— Não vamos ter esta conversa, minha querida.

— Vamos, claramente que vamos, senador! – exclamou ela, elevando o tom de voz.

Heskey agarrou nas abas da sua longa capa, passou o seu peso de uma perna para a outra. Voltou a olhá-la de cima a baixo.

— Exijo ser tratado de acordo com o meu estatuto. Sou um senador e tenho imunidade diplomática. Quero também que me levem aos aposentos que me forem designados nesta nave, isto se existir algum canto que possa ser classificado assim e mesmo que não exista, vais fazer por existir, minha querida… quero que me levem, dizia eu, uma bebida para me refrescar, comida porque estou com fome e alguns charutos cigarra. Preciso acalmar os meus nervos! Isto é completamente intolerável.

O gotal rondava-os, prevenindo qualquer ataque da parte dele. Rodeava-os, mantendo os olhos amarelados fixos nele, rosnando num registo baixo. Ridículo, considerou Heskey. Nunca atacaria a mulher e nem lhe apetecia sujar as suas mãos com qualquer das criaturas daquele maldito cargueiro. Seria indigno e perderia a razão. Ele teria de ser sempre a vítima, para poder apresentar o caso em tribunal e defender-se com a sua honra intacta.

— Senador, iremos entrar no hiperespaço dentro de minutos…

— Assim que deres a ordem aos teus pilotos dresselianos. Entretanto, viajamos em velocidade subluz. Eu percebo quem dá ordens aqui. – E olhou em volta, definindo assim o espaço a que se referia.

— Muito bem, senador. E não vais querer estar de pé quando a nave arrancar.

— Os meus aposentos, minha querida. E então, de certeza, estarei num lugar adequado para partirmos.

Os ombros de Ambarine descaíram.

— Segue-me, senador.

A mulher conduziu-o por uma passagem estreita situada à direita. Se de um lado havia painéis mal aparafusados com vestígios de oxidação, do outro acumulavam-se caixas metálicas de diferentes tamanhos, arrumadas de um jeito caótico. O corredor era tão estreito que ele passou por este encolhido, quase de lado, os ombros a roçar pelas paredes de painéis e de caixas. Passou para um recanto revelado após se ter aberto uma porta que deslizou para cima. Uma arrecadação. Um espaço minúsculo sem mobília, nem sequer algumas prateleiras para disfarçar o despojamento do espaço que era deplorável e desleixado. Ficou chocado.

Ligando o intercomunicador de um painel próximo, Ambarine informou a carlinga que estavam em condições de partir. A voz do piloto indicou que tinha recebido a mensagem e a comunicação terminou.

Ele encarou a mulher e só pôde abrir a boca. Nenhuma palavra de protesto lhe saiu ao notar que ela tinha sacado da sua pistola laser DH-17 e que lhe apontava o cano com firmeza.

— Vamos conversar, senador? – Agora já não era um pedido, era uma exigência.

— O que pensas que estás a fazer?

— Comecei por te tratar como um convidado, mas provavelmente será mais ajuizado ter-te como prisioneiro.

— Isto é ultrajante!

— Caluda!

O grito dela sobressaltou-o. Encostou-se à parede dos fundos da arrecadação. Estava gelada e peganhenta, percebeu as fibras da sua capa a se arrepiarem quando se colou aí. Cruzou os braços. Corava de irritação e tinha o lábio inferior trémulo. Mas toda essa reação não causou qualquer mudança no estado de Ambarine, que prosseguiu:

— Está calado, estou farta de te escutar… Não quero nem mais um comentário, senador. Se persistires nessa atitude arrogante vou atordoar-te. Já me tinham avisado que eras uma pessoa difícil, mas nestes poucos minutos esgotaste-me a paciência. É uma pena! Estava disposta a tratar-te com alguma amabilidade, mas se é assim que preferes… é assim que será.

Ela calou-se por um instante. Respirou fundo, analisou-o. Ele não era estúpido e sabia que ganharia mais se alinhasse no jogo. Já tinha lidado com políticos bem mais difíceis do que aquela menina que brincava aos piratas espaciais. Por isso, aguardou, mantendo a máscara de despeito e de raiva, pois ele não iria admitir a derrota assim tão facilmente e quando as condições eram cada vez mais estranhas.

— Senador Heskey, por favor, não procures negar nada daquilo que eu irei dizer, porque as nossas fontes são muito seguras. Sei que não estás a gostar nada do que está a acontecer, mas acredita-me… eu também preferia estar a traficar especiarias ou a vender armas através da organização do Sol Negro do que estar aqui a aturar o teu péssimo feitio. Ganhava muito mais dinheiro! Enfim, por vezes escolhemos negócios que são pouco lucrativos no início, mas que depois se revelam uma excelente opção quando os tempos ficam mais complicados. Uma espécie… de garantia futura.

— Eu sou uma garantia futura.

— Sim, acredito que sim.

— Sou um senador que acabou de se retirar, um diplomata esgotado de um Senado que foi extinto por um decreto imperial. A democracia não vai ser instaurada na galáxia nos anos mais próximos e nada tenho para oferecer… e mesmo assim sou uma garantia futura.

Ambarine ignorou aquele discurso.

— Há poucos dias recebeste uma mensagem encriptada de Alderaan que te convocou para uma reunião com o senador Bail Organa. Presumo que soubesses do que trataria a reunião, pois aceitaste ir ao seu encontro. Compreendo que poderás invocar a tua longa amizade com Bail Organa, mas nos dias que correm qualquer amizade é útil para servir os propósitos de qualquer causa. E estamos a falar de causas, senador Heskey. Não nos enganemos neste ponto…

— Continua.

— Com a destruição de Alderaan, ocorrida recentemente, a reunião ficou naturalmente sem efeito. E o que decidiste fazer a seguir não causa espanto, seria o que qualquer um faria no teu lugar. Regressar a casa depois de dissolvida a grande assembleia de senadores… O assunto pendente que terias com Bail Organa desapareceu com a morte deste. No entanto…

— No entanto, o assunto é maior do que nós os dois. Maior do que eu e do que Bail Organa.

— Exatamente, senador. Estamos a falar da Aliança para a Restauração da República. Estamos a falar dos rebeldes que lutam contra o Império Galáctico e que esperam derrubá-lo para restaurar a liberdade à galáxia.

— Percebo que te sintas atraída pela guerra, Ambarine. Como líder de um grupo de mercenários terás bastante a ganhar, monetariamente falando, com um conflito. Não precisas de te aliar a um lado, lucras negociando com os dois. Império e rebeldes. Se fores suficientemente inteligente, juntas uma fortuna de créditos e desapareces, rica e famosa. Quanto a mim, deixa que te desengane. Não gosto de guerras e se puder evitar fazer parte desta guerra civil, fá-lo-ei sem qualquer remorso. Eu também quero desaparecer, minha querida, rico e famoso. Aliás, estava precisamente a fazer isso quando te cruzaste no meu caminho.

— O que desejas é impossível, senador – avisou a mulher com um sorriso condescendente. – Tu já estás envolvido na guerra civil através da tua amizade a Alderaan.

Ele deu um estalo com a língua, olhou-a com as pálpebras semicerradas.

— Escolhi regressar a Corulag e deixar de estar envolvido. E além disso, Alderaan explodiu e todas as lealdades desapareceram nessa explosão. A Aliança não vai desaparecer também? Já que nasceu em Alderaan, com o fim do planeta, deixa de ter uma base sólida para continuar.

— Enganas-te, senador. O quartel-general da Aliança não se situava em Alderaan e salvou-se. A guerra civil vai continuar. Os rebeldes encontram-se bem equipados e preparados para enfrentar o Império Galáctico.

— E o que tenho eu a ver com isso? Não sei o teor da minha reunião com Bail Organa, ele não mo quis revelar, só o faria quando estivéssemos frente a frente, pelo que não possuo informação relevante que possa ajudar a Aliança. Podia ter sido o último homem a conversar com Bail Organa, mas tal não ocorreu.

Ambarine fez um gesto largo com o braço esquerdo.

— Algures no espaço existe uma plataforma espacial bélica, identificada oficialmente como DS-1, com mais de cem quilómetros de diâmetro. A sua tripulação é gigantesca, composta pelo exército e pela marinha imperial, por batalhões imensos de stormtroopers e pessoal diverso, coordenados pelo Grand Moff Tarkin, auxiliado pelo agente especial do Imperador, Darth Vader. É uma pequena lua de aço, terrível e invencível, conhecida por Estrela da Morte. O seu poder de fogo é tal que é capaz de destruir, com um único disparo do seu super laser, um planeta de dimensões médias. Alderaan provou que os rumores estavam corretos. Existem ainda informações pouco credíveis que indicam que Jedha também foi destruída pela Estrela da Morte.

— Já ouvi essa história… – murmurou Heskey, com um arrepio.

— É uma arma invencível que, se não for neutralizada, determinará o futuro da galáxia nas próximas décadas, senador. O desequilíbrio de forças será demasiado grande para que possa existir uma luta justa contra o Império e, então, o Imperador Palpatine terá vencido, definitivamente. A esperança morrerá e, com esta, o sonho de liberdade. Acredito que não queiras viver, ainda que num retiro dourado de riqueza e fama, numa galáxia dominada pela escuridão de Palpatine. Eu não quero!

Heskey humedeceu os lábios.

— Temos indicações, pouco consistentes, mas a fonte é credível, de que a Aliança está na posse dos planos esquemáticos da Estrela da Morte, que permitirá, uma vez estes planos analisados, determinar um ponto fraco e desenhar um ataque bem-sucedido contra essa estação espacial. Os planos terão sido adquiridos pela Aliança em Scarif, desconhecemos de que modo. Neste momento o Império está numa caça desesperada para recuperar os planos e impedir que cheguem ao quartel-general dos rebeldes. Outra indicação que temos é que esses planos foram entregues à princesa Leia Organa de Alderaan.

— A princesa Leia? – Heskey revelou: – Ela será executada em breve, sob a acusação de ser uma traidora. Nesta altura, os planos dessa Estrela da Morte já devem ter sido recuperados pelo Império.

— Se o tivessem sido, já se teria sabido disso. Não, os planos da Estrela da Morte encontram-se seguros, mas em lugar desconhecido.

Ele perguntou:

— Ambarine, pertences à Aliança para a Restauração da República?

Ela baixou a pistola laser, guardou-a no coldre.

— Neste momento, trabalho para a Aliança – respondeu com uma fingida indiferença. – Estão a pagar-me e eu faço sempre o que me pedem, desde que me paguem.

— Quem quer falar comigo?

Entreolharam-se. Os olhos da mulher estavam brilhantes, mas pouco revelavam. Os segredos dela estavam bem protegidos. Mesmo com toda a sua experiência, Heskey não os conseguiu pescar naquelas piscinas vermelhas.

— Não te posso revelar essa informação, senador. Vais encontrar-te com um membro do Alto Comando da Aliança, é só o que te posso contar por agora. Quando chegarmos ao nosso destino ficarás a conhecê-lo. Confiam em ti porque eras um amigo próximo de Bail Organa.

Um estremecer pronunciado da fuselagem e um solavanco indicou que o cargueiro entrava no hiperespaço. Heskey abriu os braços para se firmar com a ajuda das paredes, ou teria caído para diante e atropelado a mulher de Kodadde. A viagem para esse lugar secreto onde iria encontrar-se com algum rebelde importante havia, por fim, começado.

— Querem que eu colabore com a rebelião.

Atirou esse pensamento, sem lhe dar a entoação de uma pergunta. Ambarine encolheu os ombros.

— Não sei o que querem de ti, senador. Apenas sei, neste momento, que me pediram que te contasse o que acabei de dizer, porque avisaram-me que és uma pessoa desconfiada. Podias não colaborar totalmente se não soubesses o que se está a passar… Não te podia dizer isto no teu vaivém imperial, por isso te fiz a revelação na minha nave. Essa é a razão da nossa conversa. Não pretendo fazer amizade contigo.

— Isso é suposto atenuar o que quer que seja na nossa relação profissional, minha querida? Não começámos com o pé direito, pois não? Disseste que seria um convidado, trataste-me como um prisioneiro, apontaste-me uma arma e gritaste comigo. Vejo tudo isto como se fosse um sequestro… bonito.

Ela voltou a encolher os ombros. 

— Não tenho qualquer vantagem em estar a fazer este trabalho, a não ser ficar com os créditos suficientes para pagar à minha tripulação, que ficou bastante irritada quando perdemos as mercadorias no nosso último carregamento.

— Hum… Percebo. Estás a fazer isto como medida desesperada para evitar um motim.

— Dinheiro é dinheiro, em qualquer lado da galáxia.

Ambarine sorriu-lhe com essa afirmação. Continuava com um olhar cruel, mas Heskey arriscou:

— Uma bebida e um charuto para melhorar as minhas condições de alojamento seria pedir demais?

— Efetivamente, senador. Seria pedir demais. Contenta-te com o que tens. Estimativa para a nossa chegada, aproximadamente duas horas-padrão. Se ficares quietinho, o tempo vai passar depressa.

E deixou-o ali.


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Notas finais do capítulo

Ficámos a conhecer quem são os "raptores" do senador Heskey. E também vimos que Ambarine não está com muita paciência para aturar o seu mau feitio - será mau feitio, ou o senador está a jogar com a sua habilidade de confundir as pessoas para retirar vantagens?
Alguém da Aliança para a Restauração da República quer encontrar-se com Heskey. A missão é nobre, mas o senador não quer se preocupar, nesta fase, com o estado de saúde da política galáctica. Veremos o que se seguirá...

Todas as criaturas alienígenas mencionadas são cânone, à exceção da mulher de Kodadde. É um grupo estranho? Ou não?

Próximo capítulo:
Contratempo.



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