—O que acha que acontecera se perdêssemos a guerra? – dúvida e medo estavam presentes na voz dele, ela não precisou encarar seu rosto para saber que ele estava nervoso.

—Morreremos. – ela foi curta. –Mas eu acho que temos chances de ganhar.

Ele soltou uma risadinha fraca, e ela inconscientemente fez o mesmo.

A nudez dele era coberta por seu manto grosso de couro reforçado e pele, ele a puxou para mais perto pra que pudesse se esquentar, mesmo que ela não se incomodasse tanto com o frio, aceitou de bom grado.

—Se eu morrer essa noite saiba que morri sem deixar nenhuma pendência no mundo. – ele a encarou no exato momento que ela levantava seus olhos para fazer o mesmo. –Arya... Eu te...

—Não morra. – o cortou. –Se quer realmente completar essa frase, não morra, não quero perder mais ninguém, então seu touro estúpido, não morra.

Ele entrelaçou seus dedos com os dela para então levar aos lábios, onde depositou um beijo casto.

—Como a milady comandar. – foi tudo que ele falou antes do silêncio se fazer presente e o mesmo cair no sono em seguida.

۞

Ela estava cansada, a adaga que utilizou há poucos segundos no Rei da Noite estava jogado entre a pilha de gelo, tudo que restará do grande inimigo que eles estavam tentando destruir.

O corpo de Theon estava inerte próximo dela, e Arya podia fingir, mas bem no fundo, ela estava triste com sua morte, se lembrou de quando era pequena e ele adorava implicar com a mesma, e das brincadeiras idiotas que ele e Robb viviam fazendo com Bran e o pequeno Rickon, ele errou e deu a vida para poder consertar isso.

Talvez jamais admitisse, mas se não fosse por Melisandre, jamais seria capaz de derrotar o Rei da Noite e salvar a todos, ela fez o que era certo, não se considerava uma heroína, muito pelo contrário, ainda era uma assassina e mesmo não aceitando, deveria apenas se afastar das pessoas que ama para poder protegê-los.

—Ele era um homem bom. – ela escutou seu irmão murmurar e o encarou.

Sua expressão continuava neutra, porém seus olhos denunciavam uma dor que ela duvidaria ver novamente no futuro.

—Acabou. – seu sussurro foi baixo.

Bran nada disse, apenas encarou o represeiro ao seu lado.

—Ache-o. – ele mandou sem olhar para ela, porém Arya já sabia de quem se tratava.

Ela negou se aproximando do irmão e começou a empurrá-lo de volta para o castelo.

—Vou te deixar em segurança primeiro.

Corpos de soldados nortenhos, de dothrakis, imaculados e do exercito do Rei da Noite estavam espalhados por todo lugar, montanhas feitos de corpos se formavam por todos os lugres, tinha finalmente acabado.

Ela sentiu o coração de apertar ao perceber que estava ignorante ao as perdas que aconteciam ao seu redor, não tinha a menor ideia se Jon estava vivo, ou Sansa, ou ele.

Não conseguiria olhar para um corpo e reconhecer como alguém que ela ainda amava.

O primeiro rosto conhecido que chegou a ver foi de Jaime Lannister, e ela se controlou para não mata-lo naquele momento, ainda estava cansada e deixaria essa vingança para outro momento.

Ele tinha se tornado a carcaça do homem que chegou a ser um dia e talvez, essa fosse a maior vingança que ele poderia receber, viver lembrando-se de todos os seus erros para ficar com o monstro que era sua irmã.

Aos poucos foi reconhecendo alguns rostos, tanto de mortos quanto de vivos.

Soldados e cidadãos tentavam se ajudar, - famílias e amigos se reencontravam -, mas ela não conseguia achar quem realmente queria.

—Pode me deixar aqui. – Bran falou tirando Arya do seu transe. –Ele está lhe procurando.

—Preciso te deixar seguro. – rebateu.

—Arya. – uma voz soou chamando seu nome, mas não a reconheceu imediatamente.

—Preciso proteger você. – exclamou entre lágrimas. –Talvez sejamos os últimos Starks vivos, preciso proteger você.

—Arya.

Ela soluçou e ficou de frente para o irmão, ela perdeu tudo que tinha, os pais, Robb, Rickon, talvez até Jon, Sansa, não podia perder Bran também, tinha que protege-lo.

—Vai ficar tudo bem. – foi à única frase que seu irmão disse, ela não sabia se ele estava a consolando, ou afirmando algo que ela não fazia ideia se conseguiria acreditar ou não.

—Arya.

Não era a voz de Bran, nem de Gendry, era dele, de Jon.

Seus olhos buscaram por ele, porém não foi difícil de acha-lo.

Ele parecia cansado, sua armadura estava destruída e cobertas de neve, também continha sangue em seu corpo, porém ela ignorou isso no momento que achou seus olhos, tão cinzas quanto os dela, idênticos os do pai deles.

Ela quis gritar, chorar, ou rir, mas nada disso foi possível naquele momento, pois a escuridão tomou conta de si.

۞

Filha do Lobo.

Filha do Lobo.

Loba selvagem.

Loba selvagem.

Criança do Verão.

Criança do Verão.

Quem é você?

Quem é você?

Ninguém.

Se a garota me disser o nome, ela receberá comida.

Se a garota me disser de onde veio, ela receberá um abrigo.

 - Risadas para todos os lados.-

A garota não tem nome.

A garota não tem casa.

A garota é ninguém.

Ela será linda.

Ela será linda.

Vários vão deseja-la.

Vários vão deseja-la.

Vários vão querê-la.

Vários vão querê-la.

Vários vão ama-la.

Vários vão ama-la.

Será o fantasma de uma loba.

Será o fantasma de uma loba.

Sangue inocente derramado.

Sangue inocente derramado.

Sangue contra sangue.

Sangue contra sangue.

A CRIANÇA DO INVERNO.

Arya sentou-se rapidamente tentando recuperar o fôlego que em algum momento perdeu.

Sua visão estava embaçada, seu coração acelerado, sua cabeça girava, sua boca estava seca, o lugar onde estava era silencioso, - água. Ela precisa de água.

A garota conseguiu enxergar novamente depois de alguns segundos, porém a tontura demorou um pouco para passar e ela recobrar todos os sentidos.

Estava em um quarto, não reconhecia de qual lugar ou de quem era.

Ao lado da cama em que ela repousava, continha uma jarra cheia de água e uma caneca, a garota não perdeu tempo e virou a jarra sentindo-se bem enquanto a água molhava sua garganta.

Respirou fundo colocando a jarra em seu lugar e retirou o lençol que a cobria até aquele momento, o frio passou pelo seu corpo fazendo Arya perceber que não estava com seu gibão, vestia um vestido não muito fino, porém o suficiente para fazê-la sentir frio.

Não estava mais acostumada a usar vestidos e a falta de suas calças a deixou desconfortável.

As janelas estavam abertas, lá fora o sol nascia lentamente a fazendo sorrir ao perceber que conseguiram por um fim na longa noite.

Lentamente se aproximou das mesmas e percebeu que lá fora, algumas pessoas tentavam consertar o que tinha sido destruído, ela reconheceu Brienne com Podrick ao seu alcanço levando madeira para algum lugar, ela não se importou em saber onde.

Tentou se distrair com algo que não a fizesse pensar no sonho que teve, naquelas vozes sussurrando no seu ouvido.

A porta foi aberta atrás de si fazendo a mesma se virar rapidamente, estava na defensiva, o que não era novidade para alguém que tinha acabado de sair da guerra.

—Minha princesa, você acordou. – uma serviçal faz uma reverência desajeitada deixando a garota confusa.

—Não sou uma princesa. – Arya respondeu piscando os olhos confusa. –Por que me chamas assim?

—Vossa Alteza não sabe? – a serviçal pensou alto e negou com a cabeça por alguns segundos. –Perdão, alteza acabou de acordar, realmente não deve ter ideia do que estou falando.

—Diga-me o que está acontecendo, que história é essa de princesa. – exclamou assustada.

—Sua irmã, alteza, ela será coroada Rainha do Norte.