A manhã se estendia calma e lentamente no castelo Hagewasser, provavelmente uma das residências bruxas mais ocultas e sigilosas de todo o mundo bruxo, o  castelo era um preciosíssimo patrimônio da família deixado pelos antepassados da família de Kalythea - atual proprietária do castelo - e ainda que esse fosse consideravelmente antigo, estava muito bem conservado e protegido a oeste de Cardiff no País de Gales. Apenas os membros da família Hagewasser tinham conhecimento de sua localização geográfica, caso contrário a única maneira de entrar no castelo seria através das redes de pó de flu que ainda possuíam, mas as lareiras encarregadas de trazer as pessoas para as dependências do castelo através deste método de transporte eram encantadas com um feitiço forte o suficiente para que nenhum desordeiro ou curioso adentrar o castelo sem a permissão de um bruxo residente; até mesmo relacionada às criaturas mágicas mensageiras havia um regimento interno onde apenas corujas específicas com permissões especiais - uma vez que nem todas conhecem o paradeiro do castelo -  podiam adentrar as dependências do castelo.

Kalythea Hagewasser estava sentada atrás de uma mesa de mogno em uma grande poltrona, seus não tão costumeiros óculos de leitura em seus rosto enquanto seus olhos estavam apostos nas papeladas espalhadas na mesa em seu escritório pessoal. Haviam muitos documentações de novos docentes que integraram o corpo de Hogwarts deste ano e também seus próprios documentos que mais tarde deveriam ser levados ao Ministério da Magia, para que ela fosse então a Diretora da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts de papel passado e com toda a burocracia necessária para que aquilo acontecesse. Em breve as aulas em Hogwarts teriam início e não queria que nada atrapalhasse o andamento delas tão cedo, já havia marcado uma reunião com os funcionários da escola e também uma especial com o corpo docente, também estava com data marcada para visitar a floreios e borrões para uma nova remessa de livros para Hogwarts sem contar a visita que teria que fazer a loja de artigos para quadribol para renovar as vassouras da escola visto que estavam velhas e os alunos já corriam riscos demais com vassouras boas.

Ouviu o barulho de sinos proveniente dos jardins e imediatamente levou seus olhos para a porta dupla bem à sua frente que se abriu diante da coruja-das-torres que a atravessou e vou direto para o poleiro acoplado a mesa do escritório. Kalythea afastou a poltrona para trás para ter mais mobilidade e com cuidado para não ser bicada pegou a carta que a coruja carregava. Abriu a primeira gaveta da mesa onde estava localizada uma pequena carteira bege estampada com a silhueta de corujas, pegou-a retirando um galeão e depositando na bolsinha que a coruja carregada, a ave logo pôs-se a voar novamente para fora dali. Kalythea notou que a carta estava endereçada para si e que vinha do Ministério da Magia, eles não estariam cobrando seus documentos quando ainda estava dentro do prazo de entrega, não é mesmo? Não, eles não fariam isso.

Ela então abre a carta.

“Prezada srta. Hagewasser.

Há um assunto que fora jogado nas mãos do Ministério da Magia Britânico e ele está dentro de seus interesses com Hogwarts, porém não é algo que eu consiga lhe explicar através de uma simples carta.

Estaria disponível para uma conversa após o almoço?

Atenciosamente

Mattew Odegaard

MINISTRO DA MAGIA BRITÂNICO”

Kalythea franziu o cenho e encarou a carta, o que exatamente estaria dentro de seus interesses naquele momento e por que o próprio Ministro da Magia lhe escreveria uma carta em plena manhã? Para Kalythea o homem não a agradava muito, Mattew também fora recentemente nomeado para comandar o Ministério da Magia uma vez que o antigo ministro havia sido pego com muito propina e intervindo em casos que deveriam ao menos pegar perpétua em Azkaban, desviando verbas do Hospital Saint Mungus - este que por sua vez agora lidava com o completo caos - entre muitos outros deslizes. Para falar a verdade, Kalythea não considerava Mattew apto para o cargo de Ministro da Magia e deixou isso bem claro em uma entrevista para o Profeta Diário quando aceitou a proposta de ser diretora em Hogwarts.

— Galahad! - Chamou Kalythea.

Galahad não demorou muito para aparecer, ele estava sem camisa e usava apenas um moletom de um pijama velho, ele coçava a cabeça confuso pois percebeu um tom diferente na voz de sua mãe e aquilo nunca costumava ser acompanhado de algo bom.

— Senhora? - Ele perguntou.

— Eu preciso ir ao Ministério da Magia agora, pode buscar Gaheris na escola? - Indagou a mulher soando mais como uma ordem.

— Sem problemas, mas por que precisa ir ao Ministério? - Questionou Galahad.

— É o que vou descobrir. - Articulou Kalythea levantando-se. - E vá tirar essa roupa de dormir garoto!

Kalythea subiu para o andar superior deixando os resmungos de Galahad para trás, rumou para a suíte de seu quarto até localizar seu closet. Não esperaria até o almoço para resolver esse assunto com o Ministro até porque a curiosidade já estava a matando por dentro. Paciência costuma sim ser uma de suas virtudes, mas odiava a todo custo estar nas mãos do Ministério da Magia, era só o que faltava ter alguma bomba na administração anterior e ela cair justamente em seu colo justo agora. Balançou a cabeça em negação, não seria isso, o Ministro faria questão de dizer na carta se alguma bomba estourasse em Hogwarts. Embora já estivesse vestida, sua roupa não era adequada para o ambiente do Ministério da Magia então optou para algo mais sério e formal, pegou um macacão longo de mangas curtas preto trabalhado com renda no colo do tórax e o vestiu, calçou sandálias de salto alto nude e dirigiu-se para a penteadeira para então finalizar com semi-jóias e uma maquiagem leve que destacasse seus olhos verdes levemente amarronzados e um batom rosado, seus cabelos lisos ondulado eram curtos na linha do queixo em um desgrenhado elegante e tão negros quanto o breu absoluto que destacavam uma pele caucasiana tão branca e bem cuidada como porcelana chinesa. A verdade é que Kalythea exalava elegância por onde passava e isso não era apenas dada a sua forma de se vestir - que também fazia jus ao título da mulher -, mas também por sua personalidade decidida e requintada, dificilmente se deixava levar pelas emoções a não ser quando estas envolviam diretamente sua família, neste caso unicamente seria capaz de perder as estribeiras.

Galahad apareceu no portal da porta e bateu no batente com os nós dos dedos.

— A senhora está muito bonita. - Ele a elogiou. - Tome cuidado com os colarinhos no Ministério. Eu não quero ter que fechar a porta na cara de ninguém.

Kalythea sorriu, seu filho era tão ciumento e protetor quanto o mais novo, só que este já entendia a malícia real do mundo adulto com seus quinze anos enquanto Gaheris apenas com cinco anos queria toda atenção da mãe para si e mais nada.

— Não se preocupe com isso, há apenas dois homens em minha vida. - Disse Kalythea se levantando e pegando sua varinha colocando-a no bolso da frente do macacão que usava. - Já estou indo, você cuida das coisas?

— Você sabe que sim.

— Não esqueça do seu irmão. - Ela o lembrou mais uma vez.

— Se eu esquecer, estarei assinando minha sentença de morte. - Articulou Galahad bem humorado.

Kalythea assentiu, o filho a conhecia tão bem. Agora rumando para seu escritório, tratou de buscar os documentos que tinha separado poupando mais uma viagem ao Ministério naquela semana. Logo depois usou a rede de flú para visitantes para o Ministério da Magia.

Surgiu em meio a chamas esmeraldas em uma lareira bem no meio do átrio do Ministério já tendo alguns olhares para si, muitas pessoas ainda a olhavam curiosidade é claro, não havia nem mesmo duas semanas que o Profeta Diário tinha estampado a primeira página de todos os seus exemplares com seu rosto e anunciando a mais nova Diretora de Hogwarts, uma matéria também fora publicada no Pasquim sobre como alguém mais jovial poderia trazer novos ares e propostas para Hogwarts, a expectativa para si estava grande, muitos pais de família apostaram na mulher.

Kalythea seguiu para os elevadores e rumou para o setor de administração do Ministério da Magia, onde estava localizado o gabinete do Ministro da Magia, avistou a recepção central daquele nível e então informou a recepcionista que tinha um horário marcado com o ministro, de primeiro momento recebeu um não curto e grosso, a jovem atrás do balcão nem se dera ao trabalho de ver com quem estava falando.

— Sabe, é falta de educação quando se fala com uma pessoa e nem se dá o trabalho de olhar para ela. - Kalythea respondeu em um tom baixo, mas que cortou mais que uma espada ninja.

A recepcionista quase deu um pulo da cadeira que estava sentada ao perceber quem era a mulher a sua frente, pedindo desculpas o tempo todo depois disso.

— Pode informá-lo que já cheguei? - Indagou.

A recepcionista chamou um estagiário que logo partiu em direção aos gabinetes e salas do nível administrativo, não demorou muito para que ele voltasse e pedisse que Kalythea a acompanhasse e ela o fez seguindo para o gabinete do ministro da magia.

Ela adentrou a sala, a pintura era um tanto fúnebre aquele cinza parecia já ter tido dias melhores, duas poltronas estavam posicionadas a frente da mesa principal e mais duas ao fundo da sala, uma longa cortina cobria por inteira uma janela semiaberta e estantes de livros acopladas a parede completavam o visual da sala.

— Srta. Hagewasser.  Chegou cedo. - Disse Mattew sentado a sua poltrona. - Sente-se por favor.

Kalythea se acomodou a poltrona ao lado esquerdo e entregou um envelope a ele.

— Tomei liberdade em trazer os documentos pendentes sobre minha admissão em Hogwarts.

— Muito bem, sempre adiantada não é mesmo?

— É um dom. - Afirmou Kalythea. - E então, o que seria do meu interesse?

Mattew separou alguns documentos entregou na mão de Kalythea, ela abriu a bolsa que carregava e tirou seus óculos de leitura pondo-os e olhando para ver do que se tratava. Era o registro bruxo de uma sangue puro chamada Illirys O’Halloran.

— A jovem Illirys O’Halloran é uma bruxa como nós, mas ainda vive em um orfanato para trouxas nos Estados Unidos. Ela tem quinze anos. - Iniciou Mattew. - O caso O’Halloran é bem complicado. A menina não tem nenhuma família e viveu em um orfanato trouxa a vida toda. Ilvermorny, Mahoutokoro, Beauxbatons… Todas as escolas de magia estão recusando sua entrada por dois motivos: Ela não tem um guardião legal que fique responsável por ela, e apenas cursou os três primeiros anos de estudo no Instituto Durmstrang, há todo um atraso na vida acadêmica dela.

— Isso é um absurdo! - Exclamou Kalythea horrorizada. - Eles simplesmente deixaram ela viver com os trouxas sem mais nem menos? Privada de aprender a magia que corre em suas veias? Um completo absurdo.

— Imaginei que fosse dizer isso, portanto, minha proposta é de trazê-la para Londres.

— A srta. O’Halloran tem uma vaga garantida em Hogwarts, eu não vou deixar que ela perca seus direitos como bruxa de estudar em uma escola de magia por algo tão fútil.

— Que ótimo, começamos bem. - Afirmou Mattew. - E onde ela ficaria, eu não consigo ver o Caldeirão Furado como uma moradia em tempo integral.

Kalythea pensou por alguns instantes, apesar de muitos anos o Caldeirão Furado ainda mantinha-se como pub e também dispunha-se de alguns quartos para bruxos sem um lugar para ficar, mas não era algo bom o suficiente para abrigar uma jovem de quinze anos.

— E a Estalagem Bowman-Wright? Eles não permitem a estadia de bruxos menores de idade, mas se a menina estiver sob jurisdição Ministério da Magia eles não tem o que questionar. - Kalythea anunciou a ideia.

— O Ministério Britânico com a guarda da O’Halloran? - Questionou Mattew.

— Ministro, sabe como tudo hoje em dia é burocrático demais. A menina não conseguirá nada se não tiver um guardião legal.

— Sim, sim. Eu compreendo. - Articulou o ministro.

— Então está decidido, ela estudará em Hogwarts e morará na Estalagem Bowman-Wright. Sua guarda temporária estará com o Ministério da Magia Britânico.

— É bom te ver empenhada assim, diretora Hagewasser. Finalmente o futuro dessa menina caiu nas mãos certas. - Ele sorriu.

Kalythea sorriu de canto, se acabasse tendo conhecimento do caso O’Halloran antes a menina nunca teria perdido anos de sua vida acadêmica. Mesmo assumindo a diretoria de Hogwarts agora, sua história com a escola já vinha acontecendo há alguns anos e por conta disso possuía alguma voz dentro da escola.

— Eu mesma irei buscar a garota nos Estados Unidos.

— Como quiser, senhorita.

A conversa então deu por encerrada, Mattew e Kalythea trocaram cumprimentos e ele a acompanhou até a saída de seu gabinete. A diretora de Hogwarts retornou ao Átrio do Ministério usando as redes de pó de flú para voltar para casa. Uma vez no Castelo Hagewasser a mulher fora direto para seu escritório onde sentou-se em sua poltrona e se afundou em seu trabalho mais uma vez.

Ainda  não acreditava naquele caso e só conseguia imaginar como seria a condição da garota Illirys, ao menos a jovem bruxa teve sorte e não reprimiu sua magia a ponto de se tornar uma obscurial, isso sim seria doloroso demais e todo o mundo bruxo - principalmente os líderes políticos - teriam falhado com aquela garota. Enfim o caso O’Halloran fora descoberto por si e teria total atenção afinal, essa era Kalythea e quando se tratava de sua escola ou de seus alunos não existiria céus e montanhas que a mulher não pudesse mover.

— Mamãe! - A porta dupla se abriu de repente e tão rápido provocando um susto em Kalythea.

— Gaheris! - Ela exclamou em reprovação.

Ele correu até a mulher ignorando completamente o fato de batido a porta e ser repreendido por isso e pulou em seu pescoço. Gaheris, o filho mais novo de Kalythea, possuía apenas 5 anos de muita energia acumulada e nem mesmo a pré-escola era capaz de gastar a mínima parcela de vigor que ele tinha.

— Por que não me buscou hoje? - Ele a questionou.

— Trabalho, filho. - Ela o respondeu com sinceridade fechando os braços em um abraço apertado.

Kalythea fungou duas vezes e logo se arrependeu disso. Alguém cheirava a puro suor.

— Ainda não tomou banho?

— NÃO! - Gaheris gritou.

A criança imediatamente saiu correndo do escritório a toda velocidade, mas ele não tinha chance alguma. Kalythea sacou a varinha e a sacudiu com destreza. A magia rapidamente saiu da ponta da varinha e foi ao encontro de Leon que já estava nos Jardins gritando como um louco para não tomar banho e ao atingi-lo ergueu seu corpo no ar e o levou até a banheira que já se enchia de água quente. Não demorou muito para Kalythea ouvir um ‘splash’ proveniente do andar superior indicando que Gaheris já se encontrava dentro da banheira e por fim, a mulher sorriu vitoriosa.

Kalythea voltou sua atenção para a carta de Hogwarts que estava a finalizar no mesmo instante que Galahad invadiu o espaço do escritório.

— Mãe, podemos conversar?

— Claro filho, sente-se. - Disse ela indicando a cadeira em frente a mesa.

Ele logo o fez.

— Eu estive pensando que agora que a senhora está em Hogwarts, eu também queria ter novas experiências de estudo.

A mulher ouvia o filho atentamente e alternava olhares entre a carta que escrevia a próprio punho e a Galahad.

— Continue.

— Eu gostaria de ser transferido para Hogwarts. - Ele revelou.

Kalythea assinou a carta que estava escrevendo, colocou dentro de um envelope selou com o símbolo de Hogwarts em cera e entregou para Galahad com um sorriso de orelha a orelha. Seus dons especiais tornavam uma conversa surpresa impossíveis de acontecer.

Galahad pegou o envelope e observou atentamente arregalando os olhos ao perceber o que estava escrito na caligrafia de sua mãe:

“Sr. Galahad Edan Hagewasser

Castelo Hagewasser, Cardiff

PAÍS DE GALES”

ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA DE HOGWARTS

“Prezado Sr. Hagewasser,

Temos o prazer de informar que V. Sa. tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Estamos anexando uma lista de livros e equipamentos necessários para que possa ingressar na escola como quintanista:

Aguardamos sua coruja com o documento de transferência do Instituto Durmstrang até o dia 31 de Julho. As aulas terão início em 1 de Setembro, no mais tardar.

Atenciosamente,

Kalythea Hagewasser

DIRETORA DE HOGWARTS”.

— MÃE! - Ele exclamou completamente surpreso. - Às vezes eu me esqueço que a senhora é clarividente.

— Vamos, eu vou trocar seu irmão para irmos em Durmstrang buscar sua transferência e ir para o beco diagonal comprar seu material. - Disse Kalythea se levantando e caminhando até Galahad dando um beijo em sua cabeça.

Kalythea saiu do escritório decidida e Galahad decidira ficar ali mesmo, ainda não tinha absorvido o choque da surpresa que sua mãe havia armado e ficou se perguntando quando ele tivera a visão de sua decisão de troca de escolas, de qualquer forma o jovem estava feliz não só por sua mãe ter respeitado sua aquela escolha como algo tão natural e ainda tê-lo tratado como um aluno comum, ao contrário do que pensava em receber um simples sim ou até mesmo um não, recebera  um sim como qualquer aluno de Hogwarts ou seja, as coisas não seriam diferentes para ele pelo fato de ser filho da diretora e era isso o que importava para Galahad.