Solta o som escrita por Cínthia Zagatto


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas cheguei, meus amores. Quase perto da próxima atualização, que também já está pronta e vai acontecer no dia 15 mesmo, como o esperado. Esse começo de mês tem sido maluco, mas não vou deixar que um atraso puxe outro.

Para quem quiser começar a conhecer a história do Cadu, eu postei o início do meu lançamento "Quem rabiscou aqui?" no Wattpad e vou deixar o link no começo do capítulo de hoje. Se alguém gostar, lá mesmo vocês encontram as informações de compra.

É uma pena que o Nyah não me deixe avisar a vocês sobre os atrasos, mas espero que me perdoem. E obrigada de monte pela paciência.



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Leia "Quem rabiscou aqui?"

Então aquilo era uma festa de corredor. Caíque havia visto alguns meninos pendurados em cadeiras giratórias roubadas das escrivaninhas durante a tarde. Eles instalavam caixas de som no teto de todo o prédio, desde a porta de entrada até os banheiros nos fundos, e não havia subido para checar o que acontecia no andar de cima, mas, dada a movimentação que escutava, acreditava que houvesse gente fazendo o mesmo por lá.

Foi apenas quando a música começou alta no início da noite, tirando-o da leitura de um roteiro para a primeira análise escrita solicitada por uma professora, que entendeu o que estava para acontecer. Ao colocar a cabeça para fora do quarto, com um Philipe curioso colado às suas costas, encontrou os primeiros alunos tomando cada canto da passagem. Alguns já encostados às paredes com bebidas na mão.

— Você vem?

O colega de quarto negou com um gesto firme de cabeça e, embora soasse interessado, retornou até a cama. Caíque mesmo ficou em dúvida se deveria sair. Não tinha uma bebida, mal tinha muitos conhecidos, mas acabou por fazer a coisa mais boba em que conseguiu pensar. E logo descobriu que não era o único calouro com a grande de ideia de passear por ali, como quem não queria nada, até cruzar com alguém que o apresentasse à situação.

De fato, isso demorou menos a acontecer consigo do que com a maior parte dos outros. Foi Ítalo quem o recebeu logo na primeira curva que fez, que o levaria para o lado ímpar do corredor ou para as escadas que davam ao andar superior. Também foi ali, do outro lado, que encontrou um primeiro isopor com bebidas geladas. E não soube de imediato por que não havia tido que pagar por elas, mas logo estava com uma lata de cerveja. De longe não era sua bebida preferida, mas imaginou que isso o faria se enturmar mais facilmente.

Bebidas, música alta e um som interessante, que ele não conseguia reconhecer. Era como se o prédio todo houvesse sido colocado dentro de um chocalho, que estalava levemente enquanto as pessoas andavam para lá e para cá, subindo e descendo as escadas. Ítalo e os garotos que o acompanhavam – e que, como todo o resto das pessoas, não haviam se apresentado formalmente a Caíque, embora tivessem apertado sua mão e o chamado pelo apelido – se embrenhavam em uma conversa tediosa sobre algum quadrinista que ele não conhecia.

Uma música excessivamente tocada da Miley Cyrus soava por todo canto, uma escolha bastante diferente das que as bandas haviam feito durante as boas-vindas, uma semana atrás. E, como se o DJ pudesse escutar seu pensamento, de modo que o fez morder o lábio para se certificar de que não havia feito aquela comparação em voz alta de modo muito mal-educado, o último verso de Wrecking Ball veio acompanhado das cornetas de uma música conhecida, mas que não arrancou dos outros o mesmo sorriso que criava em seu rosto.

A reação grupal foi um gemido alto, e ele teve certeza de que estava perdendo alguma piada interna quando um dos meninos resmungou junto com um rolar de olhos.

— Remo chegou.

E de repente Caíque soube exatamente para onde olhar enquanto via um par de tênis despontar no topo das escadas. Enquanto Rômulo aparecia em seu campo de visão e Aretha Franklin cantava Respect aos seus ouvidos, o assunto das HQs ficou para trás como se nunca houvesse feito parte da sua noite. Em um primeiro impulso, deu um passo para frente a fim de se encontrar com ele. Em seguida, ao perceber que estava pronto para se atirar no garoto, hesitou com outro passo para trás.

Então o sorriso dele em sua direção o fez criar coragem para vencer a distância que os separava. Aproximando-se da escada, que fazia Rômulo parecer ainda mais alto no último degrau que faltava para descer, Caíque apoiou-se no corrimão para ficar por ali mesmo.

— Oi — cumprimentou com um sorriso leve. A música era tão curta que aquela comoção toda já havia ficado para trás, e agora o ambiente era tomado por um grupo de rock que nunca havia escutado.

— Você veio — ele respondeu enquanto descia o último degrau e se apoiava do outro lado do corrimão. A largura de dez centímetros da madeira não dava muito espaço para que o corpo ficasse realmente distante do seu, e o calor dele misturado com o perfume conhecido fez Caíque se mover agitado do lado de lá.

— Você veio — corrigiu apenas para tentar manter o assunto, imerso naquela confusão esquisita que seu cérebro teimava em fazer sempre que estava perto dele. — Sou eu quem mora aqui, lembra?

A piada surtiu algum efeito. Rômulo riu e assentiu em concordância, depois apontou na direção do isopor de bebidas. Caíque não teve muita vontade de voltar para lá e de repente cair no meio da conversa de Ítalo de novo, mas o acompanhou. Ali perto, ouvindo a música e as passadas de Rômulo parecerem chacoalhar seu coração, soube que isso não tinha muito a ver com o nervosismo que vinha com a presença dele.

— Você tá fazendo barulho — comentou quando reconheceu o som de perto, e ele vinha das calças do garoto.

Remo parecia saber bem o que era. Levou a mão diretamente para o bolso da bermuda, que acabava perto de seu joelho, e chacoalhou o tecido para deixá-lo escutar o tilintar um pouco mais alto.

— Moedas.

— Moedas? — repetiu como se isso fosse fazer com que entendesse, mas ainda precisaria de uma explicação.

Rômulo se inclinou e também conseguiu uma bebida grátis, sem qualquer organizador da festa feito de fiscal para cuidar da entrega delas para os pagantes.

— Moedas. — Ele assentiu enquanto se erguia e abria a lata, com um som que deu sede em Caíque. Uma batida em sua cerveja o alertou de que deveria beber após o brinde. Um gole conjunto e o outro continuou. — Como você vai pedir músicas sem moedas?

— Ah! — A reação de olhos arregalados foi mais rápida do que pôde conter. Rômulo estava rindo no instante seguinte, provavelmente da expressão que havia feito. E, se havia ficado tão animado em entender a relação entre tudo que o vinha deixando com dúvidas, talvez isso houvesse transparecido de modo mais idiota do que gostaria. — Tipo uma jukebox?

Um segundo de silêncio o fez quase enxergar as reticências que pingavam ponto por ponto sobre a cabeça de Rômulo.

— Tipo um garoto que fica lá em cima com o computador? — Ele riu um pouco mais silencioso, de olhos estreitos ao corrigi-lo. E Caíque deveria ter imaginado que não haveria muito espaço para tecnologia antiga por ali. — Aqui — o outro emendou enquanto punha a mão no bolso e tirava uma moeda de um real. — Vai escolher alguma. É assim que pagamos as bebidas da próxima festa.

Caíque ameaçou negar a oferta, mas, enquanto via Rômulo abrir a boca para insistir ao mesmo tempo em que faria seu agradecimento esquivo, decidiu por arrancar a moeda da mão dele.

— Vou mesmo.

Escutou-o rir às suas costas enquanto subia as escadas e entendeu que o havia deixado para trás, mas não se preocupou muito. Foi fazer o pedido ao encontrar o aluno com o computador e, enquanto retornava, o par de pernas negras que havia deixado para trás estava acompanhado por um par de calças jeans. Ao que Caíque diminuía a velocidade com a qual vencia os degraus, porque notou que não eram jeans masculinos, sentiu o arrependimento de ter se afastado. Nenhuma piada com a música clichê que havia dançado nas audições para a bolsa de estudos valeria perder a atenção de Rômulo, como fez.

Ele ainda o olhou por cima da cabeça da garota agarrada ao pescoço dele. Mas, enquanto desviava os olhos e também os passos, Caíque não se sentiu na obrigação de acenar para ele e insinuar que estava tudo bem; que o fato de que, de repente, a conversa deles havia sido interrompida por sua namorada não o incomodava. Porque não estava tudo bem. Incomodava, sim.

Então ali estava Ítalo, encostado no mesmo cantinho. Com um amigo a menos no grupo, olhando em sua direção enquanto descia as escadas, dispensando discretamente o outro garoto, que saiu para qualquer outro lado com a ajuda de um impulso na parede. E Caíque aceitou andar até ele.

— Mais uma? — o garoto ofereceu enquanto apontava sua lata ainda quase cheia.

— Não, tudo bem. — Chacoalhou-a de leve para mostrar que ainda havia o que beber, não importasse se fosse ficar com apenas ela mesma esquentando pelo resto da noite.

— O que tá achando?

— Parece legal — respondeu apenas. A música que havia pedido começava logo em seguida. Ítalo não deu sinal de que suspeitava de que fosse um pedido seu. Ao seu lado, no entanto, de canto de olhos, conseguiu ver a cabeça de Rômulo virando em sua direção junto com a voz de Bill Medley. A piada já não lhe soava mais tão engraçada agora.

Ítalo cantou o primeiro verso com um tom de brincadeira. Nem mesmo assim Caíque deixou de pensar que a voz dele era horrorosa. Entre ficar escutando e fingindo que poderia dar risada de uma situação não muito divertida, preferiu calá-lo do jeito mais fácil que poderia tentar. O corpo encostado na parede se inclinando em sua direção, a boca tomando a dele devagar, o braço dele vindo envolver sua cintura e puxar seu peito para perto.

Durou apenas um minuto, menos da metade da música. Com um sorriso de canto, ele se afastou e trouxe a boca até seu ouvido.

— Quer subir?

Caíque não tinha muita experiência nisso. Havia sido convidado para algo do tipo apenas uma vez, dois meses antes, mas o sussurro não lhe deixou muitas dúvidas sobre o significado daquele convite. Assentiu em silêncio e, enquanto era guiado escadas acima para o quarto de alguém que ele não conhecia, já que Ítalo não morava por ali, deu uma última espiada em Rômulo. E ele não era o único a olhar enquanto acompanhava Ítalo, de mãos dadas. A garota que estava com ele fazia o mesmo, e também metade das pessoas ao redor.


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