Solta o som escrita por Cínthia Zagatto


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Um dia atrasada, me desculpem. :( O ruim do Nyah é que não dá pra avisar quando isso acontece. Mas tenho notícias!

SÃO PAULO
Ainda não saiu oficialmente, mas eu estarei na FLIPOP! Como esse é meu último post antes do evento, fica o convite para vocês virem me ver por lá. Vou estar com a Rico Editora com todos os meus livros, inclusive o lançamento "Quem rabiscou aqui?".

LANÇAMENTO
Sobre ele, lembrando que está em pré-venda com autógrafos, brinde exclusivo e marca-páginas também só até a FLIPOP, que vai ser o lançamento oficial dele. O link vai estar aqui no balão do lado ->
Beijos!



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Link pra "Quem rabiscou aqui?"

Sentado na cama com um saco plástico cheio de gelo na parte interna da coxa, Caíque nunca havia imaginado o quanto uma distensão muscular poderia doer. Ou que sua ideia de ser alongado passava muito longe da realidade. Isso porque ninguém, até então, já tinha empurrado seu peito na direção das pernas. “Encosta a barriga, Caíque. Costas retas. Não é o ombro no chão, é o peito. Que corcunda horrível”, a professora gritara a aula toda. De cara no chão, nunca tinha sentido tanta vontade de desistir. Ele era uma piada perto do restante da turma. Escutava os burburinhos, as risadas. Nenhum outro nome chamado. E então o choque, metade de sua perna parecendo rasgar como trapos velhos.

Nem mesmo ursinhos de gelatina serviam de consolo agora. Ou Philipe, que, sentado ao seu lado, dava um por um em sua boca após escolher a sequência de cores. Talvez faltasse um pouco de açúcar para ajudá-lo com a mágoa. O saco de balas que saíra do meio das coisas do amigo era diet. Caíque nem sabia que era possível encontrá-las assim. De fato, o gosto não era diferente, mas o efeito do adoçante no organismo era muito.

— Talvez ela vá prestar atenção em todo mundo, um aluno de cada vez.

A tentativa do amigo era adorável, mas não funcionaria. Caíque chacoalhou a cabeça.

— Já é a segunda aula que ela chama minha atenção. Todo mundo já fez balé de verdade, eu só tive umas aulas perdidas nos últimos anos. Um garoto que aceitou me ensinar, mas ele era mais meu amigo do que meu professor. Eu tô milhões de anos atrás deles.

Abriu a boca para que Philipe colocasse mais um ursinho e, quando começou a mastigar, percebeu que estava de bico. A batida à porta o fez deixar de sentir pena de si mesmo por um segundo. Era um breve aviso de que Felipe estava entrando, daquele jeito sem muita cerimônia que costumava fazer. Ouviu uma ameaça de oi, seguida de um baque na porta e o garoto correndo em sua direção com um som animado.

— Isso é diet? E você tá dando pra ele?

Felipe arrancou o saco de balas da mão do irmão e experimentou a primeira. Caíque observou enquanto ele fechava os olhos em satisfação e recuava alguns passos até estar sentado na cama de Philipe.

— Foi uma emergência — o irmão se defendeu.

— Onde você encontrou?

— Tem uma Americanas aqui perto, mas não sabia se você ia gostar, só trouxe um.

— Desculpa — Caíque se intrometeu, uma mão coçando a cabeça. — Phil só queria me animar depois daquela aula horrível.

— O que aconteceu? Estão comentando por aí que tá mancando. — Felipe jogou mais uma bala em sua direção, e o reflexo o fez soltar a bolsa de gelo, que foi ao chão para revelar sua pele clara manchada em um tom forte de rosa causado pelo frio.

— Uau — Caíque comentou apenas e decidiu deixar tudo para lá, tanto o gelo no chão quanto o fato de as pessoas estarem comentando isso por suas costas. Era como se elas sempre soubessem mais do que ele. Todos sabiam seu apelido, todos sabiam que estava mancando, mas Caíque mesmo não conhecia ninguém. — Não sabia que vocês eram diabéticos. Você pode beber quando é diabético? — emendou a questão confusa enquanto se levantava para vestir as calças. Olhou de um para outro. Havia muitas outras perguntas vindo à sua cabeça. Philipe não havia comido um pedaço enorme de bolo de prestígio quando saíram para o café da manhã?

— Só eu, ele não — Felipe respondeu enquanto lhe jogava mais uma bala, que Caíque colocou na boca de imediato. Distraído, já não sentia que ela o afundava ainda mais em vez de curá-lo; já não lhe remetia ao fato de que costumava comer aqueles ursinhos enquanto assistia a filmes com a melhor amiga durante a adolescência. A amiga que o havia enganado por tanto tempo e ido embora sem ao menos lhe dar tchau. Como se a culpa fosse dele, ou como se estivesse envergonhada demais com a própria desonestidade. — Eu bebo, tenho insulina e açúcar comigo o tempo todo.

Caíque olhou bem para ele, querendo perguntar onde, mas imaginou que não precisasse levar aquilo de maneira literal. Afinal, ele estava a apenas alguns passos do dormitório. Poderia correr até lá se precisasse de alguma daquelas coisas.

— E como foi ontem, então? Bebeu muito?

A risada de Felipe indicou que ele havia entendido exatamente sobre o que estava falando. O garoto se deitou na cama do irmão, que agora também estava com a atenção virada para ele, e deu de ombros enquanto começava a falar. O saco de ursinhos esvaziando em uma velocidade com a qual Caíque nem mesmo conseguiria competir.

— Ele é fofo.

A definição o pegou de surpresa. Do tamanho que Cauê era, poderia pensar em qualquer coisa. Legal, simpático, gentil, o que imaginava que ele fosse pelo pouco que haviam conversado, mas nunca fofo.

— Vocês ficaram? — cantarolou ao ver o sorriso no rosto dele, e a resposta do amigo veio com outra risadinha.

— Ah, aliás! — Felipe se virou de frente para os dois, apoiado no antebraço. Os olhos no irmão. — Ele adorou o lance da tinta azul, então eu meio que — e a voz diminuiu para um sussurro arteiro — aceitei ficar com o crédito.

Caíque não pôde evitar o arquear das sobrancelhas enquanto Philipe olhava para o teto com uma risada alta.

— Eu não conto se você não contar — ele concordou no meio do riso, mas com os olhos rolando para indicar que achava aquela uma forma muito boba de ganhar a atenção de um garoto.

— Obrigado.

Um ursinho lançado para Philipe foi o modo que ele pareceu encontrar de recompensá-lo. Caíque estava se inclinando para pegar a bolsa de gelo no chão e ir dar um jeito de levá-la para o banheiro do alojamento, antes que começasse a escorrer para todos os lados, quando uma batida à porta terminou de colocá-lo de pé. Mancou alguns passos até abri-la, mas logo conseguiu firmar a perna machucada. O que viu parado logo à frente, no corredor, foi o que fez seus joelhos tremerem.

— Oi, você tá bem? — Rômulo perguntou sem demora, com os olhos alternando entre os seus e os tênis que usava. — Estão dizendo por aí que...

— Foi só um mau jeito durante a aula — esclareceu sem o deixar concluir, mais uma vez incomodado com a ideia de ele se informar sobre sua vida por meio dos boatos que corriam por lá.

— E tá tudo bem?

— Uhum. — Caíque assentiu uma vez com a cabeça. Ergueu o saco cheio apenas de água e indicou a direção dos banheiros. — Vou jogar isso fora.

Rômulo deu espaço para que passasse e Caíque parou para esperá-lo. Ao contrário do que esperava quando se virou para olhá-lo, ele não estava fechando a porta e caminhando consigo. Estava com a mão na maçaneta enquanto olhava para dentro do quarto. A boca entreaberta e os olhos piscando devagar.

Um em cada cama, Caíque viu os gêmeos olharem para a porta e, naquela sincronia esquisita de sempre, acenarem para a visita.

— São dois — ele sussurrou enquanto se virava em sua direção, como se os garotos não estivessem ali para vê-lo falar deles daquela forma.

— São. São dois.

A reação de Rômulo ao descobrir que também tinham quase o mesmo nome não foi muito diferente da sua. Caíque o arrastou corredor abaixo, antes que ele continuasse a olhá-los como um projeto de ciências do oitavo ano. Depois de a surpresa inicial passar, veio o riso divertido.

— Cauê tá um nojo porque ficou com o menino difícil do Danilo. Não era o mesmo, era?

Caíque negou em silêncio, mas não deixou de rir enquanto jogava a sacola fora após esvaziá-la na pia. Quando se virou de frente para Rômulo, ele estava com uma mão apoiada na parede, ao seu lado, e o olhava de perto. Caíque não estava acostumado a encontrar pessoas muito mais altas do que ele, e talvez fosse por isso que a necessidade de olhar para cima para falar com ele sempre causasse uma coceira em seu estômago. Por ser uma experiência nova, talvez.

— Senti sua falta depois que foi embora.

E então uma coceira não era nada comparável ao que estava acontecendo em seu estômago agora. Enquanto segurava um riso no nariz ao se lembrar dele com as mãos nas pernas da garota, a boca na dela, desviou os passos até encontrar a porta do banheiro.

— Tinha bastante gente lá pra alguém conseguir sentir falta de outra pessoa. O que vocês veem naquele lugar, aliás? Parece horrível.

Rômulo vinha rindo atrás de suas costas até então. Com um som ofendido, parou de andar. Caíque não teve tempo de se virar para ver por que ele havia ficado para trás. Antes que conseguisse, Rômulo passou ao seu lado. Enganchou o braço no seu e o puxou para a entrada dos dormitórios.

— Não, você precisa conhecer o seu Dito.

E até que Rômulo não estava errado sobre isso. Com a porção de batatas fritas que pediram em uma das mãos, o chapeiro de avental sujo se aproximou e apontou um dedo livre para ele.

— Você é novo aqui.

Caíque assentiu com um sorriso curioso. O senhor era bastante observador, além de simpático. Ao pedirem as batatas com cerveja, havia perguntado o nome de Rômulo mais uma vez, como se o fizesse sempre que um estudante entrava para conversar com ele, sem que conseguisse memorizar todos.

— Do teatro, não é?

Caíque arqueou as sobrancelhas enquanto ouvia Rômulo batucar o balcão com as duas mãos abertas. Aproveitou o som que chamou sua atenção para também interrogar o garoto com os olhos. Não era possível que o cara da lanchonete também houvesse escutado falar sobre ele.

— Seu Dito nunca erra uma.

— Eu erro, mas esse garoto tem cara de ator.

— Você fala isso de todo mundo que acerta, seu Dito.

— Porque vocês escolhem sempre o curso que tem a cara de vocês.

Caíque chacoalhou a cabeça com um riso comprido. Distribuiu uma porção exagerada de sal sobre as batatas e pegou uma enquanto o homem se afastava. Estava pronto para a segunda quando a mão de Rômulo encostou na sua sobre o pote. Soube que não era um esbarrão acidental quando, com a boca ainda cheia, ergueu o rosto para olhá-lo e pedir desculpas. Rômulo não estava fazendo o mesmo, apenas esperava que lhe desse atenção.

— Os meninos estão combinando alguma coisa pro fim de semana. Agora você sai com a gente?

— Prometi pra minha vó que ia voltar.

Caíque já nem tinha certeza se fora assim mesmo que acontecera. Tudo que sabia era que, com a coxa latejando ao menor movimento, sentia falta de casa. A desculpa que dava a si próprio sobre não querer deixar a avó sozinha funcionava apenas para não sentir que era ele quem precisava da companhia dela.

— Então você vem pra festa de corredor, pelo menos? É na quinta.

Ele não conhecia mesmo ninguém, nem ficava sabendo de nada. Mas, mesmo que já houvesse escutado falar, não faria ideia do que se tratava.

— O que é uma festa de corredor?


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