Normalmente, Emi Uchiha não faria aquilo, mas era preciso. Ela estava correndo o mais rápido que podia por entre as outras crianças da Academia, lhes roubando pelo menos um item dos seus lanches, menos é claro, de seu irmão gêmeo, o qual ela estava passando o mais longe possível.

Como explicaria aquilo para ele?

Emi não devia nem ao menos estar perdendo seu tempo ajudando pessoas que ao menos conhecia. Mas ela simplesmente não conseguia se conter, aquilo era algo que vinha dentro de si desde quando ela era criança.

Sasuke não entenderia.

Sem nem ao menos se preocupar se as outras crianças haviam conseguido roubar comida assim como ela, Emi logo tratou de fazer seu caminho de volta para fora da Vila, pois quanto antes se livrasse daquela empatia com o garoto estranho, voltaria para seu treinamento e foco principal.

— Yota! – Emi gritou, assim que se aproximou da casa na árvore – Sou eu!

— Emi!

Yota apareceu, risonho. Ele pulou para fora da casa na arvore, conforme a garota de olhos ônix se aproximava dele, estendendo a comida que ela havia roubado por ele.

Aquilo não era comum na sua rotina.

Assim que o garoto pegou a comida, saiu correndo novamente para dentro da casa na árvore. Emi o seguiu de perto e subiu em sua casa na árvore, apenas para se sentar na beirada e balançar seus pés.

— Isso não foi tudo que conseguimos. – Emi comentou, olhando-o começar a comer o que ela havia trago – Fō e os outros ainda estão coletando comida. Tenho certeza de que conseguiremos bastante pra encher sua barriga, Yota.   

— Você não é tão má quanto o Ken diz, Emi. – Yota disse, de boca cheia

— Mas é claro que eu não sou má. – A Uchiha retrucou, cruzando os braços – Ele não me conhece, não deveria me julgar pelo que acha que sabe.

— YOTA! – A voz de Ino soou, num berro – SOMOS NÓS!

— Pra que você tá gritando, Ino? – Ken perguntou, parecendo irritado enquanto olhava para a garota dos olhos ônix sentada na beirada da casa na árvore, despreocupadamente – A Uchiha chegou primeiro. O Yota obviamente está com ela.

— Obviamente. – A voz de Emi soou, baixa e fria

A Uchiha observou o garoto estranho dar um pulo e engolir a comida, antes de sair correndo para o lado de fora da casa da árvore, com um grande sorriso nos lábios. Ela continuou ali, sentada, enquanto o garoto estranho ficava ao seu lado, acenando para os outros.

— Fō! – Yota o cumprimentou, risonho – Ken! Shikamaru! Ino! Chōji!

— É, somos nós. – Fō disse, levantando uma de suas mãos para cumprimenta-lo novamente, com um grande sorriso nos lábios

Yota apenas o ignorou, se inclinando levemente para frente enquanto olhava para algo além dos cinco, colocando as mãos em cima dos olhos, e então, ele gritou, apontando para algo.

— TESTA!

Os olhos ônix de Emi se moveram rapidamente para onde o garoto havia apontado, assim como os corpos dos seus cinco colegas de classe. A Uchiha se levantou, quando pode jurar que viu alguém cair no chão atrás de um arbusto próximo e então, pulou da casa da árvore e junto com os outros, caminhou depressa em direção ao arbusto.

— Eu não acredito que foram tão descuidados assim. – A voz nada doce da Uchiha soou, assim que trombou propositalmente seu ombro com o corpo de Ken, pois ele estava no seu caminho

— EI! – Ken berrou, perplexo – SUA...

Emi ignorou o garoto que agora estava sendo segurado por Fō e afastou bruscamente os arbustos, apenas para ver um tufo de cabelos rosados ali.

— É a Haruno. – A Uchiha anunciou, revirando os olhos

— Sakura? – Ino murmurou, surpresa

— Oh? – Chōji murmurou também, apontando para a garota de cabelos rosados que havia acabado de levantar, mostrando-se para eles – OH!

— TESTA! – A voz de Yota soou próxima e então, ele passou pulando pelos seis, apenas para se aproximar da garota de cabelos rosados

O garoto estranho gargalhava, enquanto a rodeava.

Parecia feliz.

Um pequeno floco de neve passou bem no meio dos olhos ônix de Emi e pousou bem na ponta do seu nariz, derretendo-se ao entrar em contato com sua pele quente. Ela levantou seu olhar para o céu ensolarado, que agora, de alguma forma, nevava.

— Neve? – A voz confusa de Sakura soou

— É neve. – Ken murmurou, parecendo menos irritado do que antes

— Mas está com sol... – Ino comentou, confusa, olhando para o céu

— Nunca vi neve enquanto tem sol. – Fō comentou logo em seguida, com os olhos âmbar presos ao céu ensolarado

— Testa! – Yota disse, entre risos, enquanto circulava a garota de cabelos rosados – Testa, testa, testa!

— Pare! – Sakura disse zangada, encarando-o – Não zombe de mim!

Yota apenas gargalhou ainda mais, a puxando pelas mãos, forçando-a a rodar junto com ele. Mas a garota rodou apenas umas duas vezes e se esquivou, ficando novamente parada com ele a rodeando.  

— Kon, kon, kon... – Yota cantarolou, entre as suas gargalhadas – Está nevando, kon.

— Parece que o Yota gosta de você, Sakura. – Fō comentou, risonho

— Da testa dela, né? – Ino acrescentou, segurando o riso

— Perfeito! – Yota disse bem alto, agarrando a garota de cabelos rosados pelos ombros  

— Escuta, você... – Sakura disse, empurrando-o para longe – O que foi isso?

Yota apenas gargalhou novamente e retornou a cantarolar.

— Kon, kon, kon! Kon, kon, kon!

— Kon, kon, kon? – Sakura repetiu, segurando o riso

[...]

Um riso alto e inesperado escapou pelos lábios da garota de olhos ônix assim que ela acertou em cheio o rosto de Ken com uma grande bola de neve. Fazia tempo que Emi Uchiha não experimentava aquela sensação de felicidade, ela quase havia esquecido de como era sorrir verdadeiramente. A garota Uchiha riu ainda mais quando sentiu uma bola de neve lhe acertar suas costas. Ela se virou, jogando-se no chão cheio de neve ao lado de Chōji e Shikamaru para se livrar dos ataques de Ino e Fō, sem contar Sakura e Yota que estavam protegidos num pequeno forte de neve próximo.

Quando todos se cansaram de brincar de guerra de bola de neve, Emi se juntou com os outros para construírem um iglu. A ultima vez que ela havia brincado de construir algo na neve fora com seu irmão gêmeo, anos atrás. E, depois de ter colocado muito esforço para construir o iglu, ela quase caiu para trás quando Shikamaru o destruiu com uma pá, derrubando o teto em cima de Fō, pois era a vez dele de arrumar lá dentro.

Mas a parte que Emi mais gostou, fora escorregar na neve com uma caixa.

Ela nunca havia feito aquilo.  

[...]

Ignorando as lamentações de Ino Yamanaka, a garota de olhos ônix se ocupou em somente balançar seus pés na beirada da casa na árvore. Ela olhou tristemente da chuva que estava caindo para a neve quase toda derretida no chão.

Ah, ela tinha adorado aquela tarde.

— Droga... – Ino choramingou – Eu queria dar para ele as flores que peguei na nossa floricultura, mas o Sasuke só ignorou e saiu.

A Uchiha poderia bem dizer que seu irmão as achava irritante, mas ficou quieta, pois sabia que aquilo deixaria Ino ainda mais triste e ela não estava querendo ouvir lamentações num dia tão bom como aquele.

— Que triste. – Yota comentou, choroso – Pobre Ino, pobre Ino.

— Yota... – Ino murmurou, olhando-o, antes de pegar uma de suas flores e colocá-la em meio ao seu cabelo e a touca que ele usava – Você é bonzinho, então vou te dar uma.

— Eu já disse pra você parar de perder seu tempo com o ignorante do Sasuke. – Ken disse para a garota de cabelos louros – É a mesma coisa que eu falo pros outros garotos quando vejo que estão interessados nessa aí, Uchiha nenhum presta. Se prestassem, estariam todos vivos.

Os olhos frios de Emi se moveram rapidamente para o rosto de Ken.

— Você não vale o ar que respira, Nakada. – Ela disse no mesmo instante, irritada, enquanto se levantava – E também não vale um segundo sequer do meu tempo. – E então, ela desviou o olhar para o garoto estranho – Foi bom te conhecer, Yota. Se cuida.

— Emi, você não precisa ir embora... – Fō disse assim que ela terminou de falar e ameaçou pular da casa na árvore – O Ken não pensa antes de falar, tenho certeza que...

— Não me importa. – A voz da Uchiha soou, ríspida, interrompendo-o

— Ei, Emi, não fala com o Fō assim! – Ino disse, defendendo o garoto – Ele sempre te defendeu e ficou do seu lado, ele...

O estomago de Emi Uchiha pareceu se revirar. Ino tinha razão, de todos ali, Fō Yamanaka era quem menos merecia a sua ira. Mas ela não podia evitar, estava tão zangada que era um milagre não ter movido um dedo sequer para bater em Ken. Emi apenas respirou fundo, antes de pular da casa da árvore.

E, sentindo a chuva molhar seu corpo, ela caminhou de volta para a Vila.

Tinha muito o que fazer.

[...]

Emburrada, Emi Uchiha ajeitou sua mochila em seu ombro, enquanto caminhava ao lado do seu irmão gêmeo em direção à pequena casa onde eles moravam. Ela deu mais uma pequena olhada em direção ao seu irmão, para as flores rosas que se encontravam presas em sua mochila. Sasuke havia brigado com ela, pois em sua mente, havia sido ela que tinha prendido aquelas flores ali e por mais que ela negasse, ele não acreditava.

Demorou alguns longos minutos para ela se dar conta de que já havia visto aquelas flores e, por pouco tempo, se preocupou com Yota.

Emi não podia perder mais tempo com aquilo.