Ascensão escrita por Alpheratz


Capítulo 4
Roubos e mentiras




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Dora deslizou o indicador pelo touch screeam do celular, o material era quente sob o toque, pequenos quadrinhos coloridos brilhavam. Aplicativos. Corrigiu-se ela. Então tomando todo o cuidado tocou num que parecia uma câmera. Trac. O vidro se espatifou sob o seu dedo, os cacos minúsculos brilhando suavemente na luz.

— Essa porcaria é mais frágil que o ego dos humanos de agora. — a mulher suspirou frustrada e esmagou o aparelho com a mão. Com sua mira perfeita jogou o aparelho no lixo — Ok. Preciso de outro.

— O quê? Dora, você não pode simplesmente pegar outro iPhone sem pagar. Precisa pagar. — Lyanna gesticulava muito enquanto falava, pontuando cada palavra com uma expressão diferente. — É errado.

A vampira revirou os olhos. Tudo agora era dinheiro, não que antes fosse diferente, mas agora era preciso ter sempre dinheiro consigo para conseguir as coisas. Isso era irritante. Aqueles pedaços de plástico abriam portas e ela não tinha um desses. Ela queria um, já estava farta de desperdiçar seus poderes com aqueles humanos irritantes. Na realidade ela apenas sorria e veja bem, ficar sorrindo como uma retardada não lá de seu feitio.

— Errado é vocês viverem online e simplesmente esquecerem que existe algo além dessas telas. Errado é meu cabelo não estar trançado do jeito que eu gosto. Errado é aquele babaca ali não perceber que seu cabelo está mais oleoso que um frango frito — enumerou a vampiresa pacientemente e um tanto orgulhosa da última referência. Estava se adaptando com extrema facilidade — Eu pegar outro iPhone sem pagar é completamente aceitável.

Lyanna estava agitada. Não conhecia muito da vampira, mas tinha certeza que ela era antiga. Algumas de suas palavras e seu jeito de se portar eram o que lhe denunciavam. Não que ela própria fosse uma recém criada, mas completara seu primeiro centenário a poucos anos atrás. Athenodora, digo Dora, por outro lado, tinha quase que 100% suas emoções sob controle. O fato de conversar com uma pessoa diferente lhe trouxera a calmaria que necessitava.

Adentrou na loja branca a sua frente e pouco mais de dois minutos depois saiu com um smartphone novinho em mãos. Agora, com mais delicadeza, começou a mexer no aparelho. Até criar um e-mail, um perfil e todas aquelas coisas passaram-se mais quinze minutos. Durante todo esse tempo sentia Lyanna pairando ao seu redor, como um gatinho ansioso e desconfiado. Aqueles grandes olhos vermelhos não piscavam.

— Fale de uma vez.

— Ah! Ahn… Eu queria saber se você é uma nômade. — a morena perguntou a primeira coisa que lhe veio à mente, mas que também queria saber.

— Agora sou. — a ancestral piscou aqueles olhos cor de rubi lentamente, neles havia uma malícia que até o padre mais devoto seria capaz de se entregar. — Então, para onde você quer ir?

Fora uma jogada arriscada, mas que dera certo. Aparentemente a indiana, Dora tinha certeza que ela era uma, estava tão sedenta de companhia quanto ela própria. Agora às duas mulheres estavam sentadas confortavelmente dentro do carro enquanto a mais nova dirigia. Numa inversão de papéis agora era a loira que observava atentamente os movimentos alheios. O veículo era cheio de pequeninos botões e tinha mil e uma funções.

— Gostou das novas roupas? — Lyanna perguntou tentando iniciar um bate-papo amigável. — Ainda bem que deixou eu pagasse para você.

— Gosto do tecido e da renda da lingerie. Você é de onde, tipo, originalmente? — a vampira ficou toda orgulhosa das gírias que estava começando a usar, mas não demonstrou.

— Londres.

— Você pode até ter sido transformada lá, mas não é onde nasceu. — Athenodora não tirou os olhos da estrada enquanto falava. Capturara a mentira no momento em que deixara os lábios da mulher. — Não vou te pressionar com as respostas Lyanna, mas saiba que não gosto de mentiras.

Um silêncio pesado reinou no carro durante um longo tempo. Lyanna pisou fundo no acelerador, o velocímetro estava na marca dos 250 km/h e subia. Não queria ceder logo de cara, até porque não gostou do modo como a outra lhe inquiriu a pergunta e simplesmente jogou na sua cara a mentira. Entretanto, a cada minuto que passava sentia uma incrível necessidade de falar. Sua língua, se pudesse, estaria coçando tamanha era a intensidade.

— Nagpur. É de lá que eu venho. — um longo suspiro escapou de seus lábios carnudos, havia anos que não falava aquele nome. Sua expressão ficou tensa logo após. Não queria lembrar. — Londres é o que eu tenho mais próximo de uma casa. Lá é de onde eu vim.

Athenodora deixou por isso mesmo. Não iria se meter na vida alheia, mas sorriu de canto ao receber a informação. Obviamente havia algo mau resolvido entre a vampira e sua terra natal e quando fosse a hora, ou não, ela lhe contaria. Outra coisa que lhe chamara a atenção fora a cidade que Lyanna falara, Nagpur, era uma cidade indiana — consequentemente a jovem era indiana. Indianos não tinham nomes como Lyanna…

— Ávila não fica muito longe de onde estamos, mais uma hora e chegaremos. — anunciou a indiana/inglesa. — Nunca estive lá, é uma cidade bonita?

— Sim, foi onde me casei. Uma vez.


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Notas finais do capítulo

Desculpa a demora :c Fico feliz em ver os comentários ♥ ♥ ♥



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