Minguante escrita por JennyMNZ


Capítulo 5
Nothing Goes Off Without A Hitch


Notas iniciais do capítulo

Como é que chamam mesmo? Transição?



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— Espero que você não esteja me evitando.

Baek Ah se encolhe por dentro. Aquela voz doce e melódica que o chama de longe – junto com o passo saltitante de sua portadora que se aproxima – não diminui o medo do que a mulher pode estar realmente pensando. A ameaça sutil também não passa despercebida pelo 13º Príncipe, que agora se esforça ao máximo para fingir que nada está acontecendo.

— Ora, por que eu faria isso? — Ele sorri e continua a passear pelo jardim com ela ao seu lado, como se nada estivesse errado. 

— Ah, eu não sei, — ela para de andar e cruza os braços, — Talvez porque você saiba que tentaria te impedir de ir embora?

Ele suspira e pausa o passeio também, virando-se para olhar receosamente para ela. Essa é uma discussão que ele vinha tentando evitar desde que decidiu deixar o palácio e Songak. O irmão dele foi contra à princípio, mas no fim sabia que era melhor do que forçá-lo a ficar. Hae Soo, no entanto, era uma história completamente diferente, e sua teimosia tornaria a partida dele muito mais difícil, senão praticamente impossível.

Depois de conferir que não há ninguém por perto para ouvir a conversa deles, e de se preparar para todos os argumentos, chantagens e jogos de culpa que ela tenha preparado, ele olha diretamente para ela. 

— E então?

Ela revira os olhos e deixa os braços caírem soltos ao lado do seu corpo. 

— Você está errado! — Ela quase grita de raiva, mas ele não deixa de notar a simpatia na voz dela, — Eu nem ia tentar!

— Mesmo? — A surpresa dele é realmente genuína, e isso parece incomodá-la, já que ela suspira e começa a se explicar. 

— Eu entendo como se sente, — a voz dela é baixa e seus olhos são mais cordiais do que de costume, — Eu também perdi pessoas que amava, mas para você deve ser bem mais difícil. — Ela parece ter mil anos de idade quando fala, e Baek Ah não pode deixar de perguntar. 

— Como pode saber isso? 

— Porque eu posso me colocar no seu lugar. Eu posso imaginar como me sentiria se eu perdesse ele, e o que eu faria, — ela respira fundo antes de falar com confiança, — E porque eu quase fui embora também.

Ele pisca, surpreso. Depois de tudo o que tinha acontecido, ele ainda não estava a par dos eventos no palácio, nem mesmo da vida de seu irmão e de sua melhor amiga. Ele estava ciente que eles não estavam nos melhores termos, mas jamais teria imaginado que a situação havia chegado ao ponto de Soo quase terminar tudo entre eles. Ele com certeza estava por fora dos motivos que os separaram e dos motivos que os ajudaram a fazer as pazes. 

— Então... você não quer mais ir embora? 

— De certa forma, eu quero. Mas eu não quero deixá-lo, e essa vontade é maior.

Ouvir sua confissão aberta e tocante e compará-la com seu pedido egoísta ao Rei faz seu estômago revirar, e ele nem consegue mais olhar para ela. 

— Eu devo ser um irmão terrível.

— Não diga isso, Wangjanim. Não tenha vergonha dos seus limites. Você está passando por um período difícil, precisa de tempo para se recuperar. — As palavras dela são genuínas e reconfortantes, bem diferentes dos olhares de pena e de piedade que ele vinha recebendo desde que Woo Hee morrera, e isso faz com que ele se sinta melhor. 

— Obrigado, Soo-yah.

— Dito isso, — o sorriso dela sobe e ela dá um tapa forte no seu ombro, — Por que não me contou que ia embora? E por que estava evitando? — A segunda pergunta é seguida por um tapa direto no peito.

Baek Ah não acredita que um ser tão pequeno deveria ser tão forte ou cheio de tanta violência. 

— Eu já disse que não estava te evitando! — Ele levanta os braços, se preparando para outro ataque.

— Então por que seus servos dizem que você não pode me ver sempre que eu vou atrás de você?

— Talvez porque eu não estava ficando nos meus aposentos, e, portanto, realmente não podia te ver?!

Aparentemente uma situação óbvia não é tão óbvia quando a teimosia de Hae Soo está envolvida. Mas sua defesa rápida pelo menos consegue fazê-la baixar os punhos. 

— Ah. Então me desculpe pelo segundo tapa, — ela tem a decência de parecer culpada e se curvar levemente em arrependimento, mas logo está com raiva de novo, — Mas por que não me contou que ia embora? Eu tive que descobrir por Pyeha!

— Eu pedi que ele não te contasse...

— E ele conseguiu por um tempo. Mas depois que eu percebi que algo estava errado, eu não o deixei quieto até ele me contar.

— E como, se eu posso perguntar, você conseguiu arrancar a resposta dele? — Ele se lembra de praticamente implorar e do Rei praticamente jurar não contar nada para ninguém, inclusive Hae Soo – principalmente Hae Soo.

A carranca da mulher some rapidamente quando ele faz sua pergunta, um sorriso convencido ficando no seu lugar. 

— Jamais contarei.

Ele meio que ri, meio que arfa em pavor ao ver seu comportamento presunçoso.

— Nossa, você é uma mulher perigosa; tem o Rei enrolado no seu dedinho assim...

— Você ainda não respondeu a pergunta! 

Ele sabe que Soo nunca vai deixar o assunto quieto e suspira em frustração. 

— Eu ia te contar, — ele responde frustrado, — Eu só estava esperando a hora certa...

— E que hora seria essa?

— Hoje à noite. Eu saí mais cedo pra comprar uma coisa no mercado, — ele explica rapidamente antes que seus hábitos violentos retornem, — Era pra ser uma surpresa...

— E o que é? — A raiva dela some quase que imediatamente, os olhos se arregalando de curiosidade, e ele sorri. 

— Você vai ver.

 

 

Ficamos amigos enquanto bebíamos, então temos que beber para nos despedir.

Foi o que ele disse a ela quando serviu um copo do seu vinho favorito, esperando uma despedida agradável e tocante, cheia de nostalgia quando eles solenemente recriassem aquele primeiro dia da amizade deles. 

No entanto, o que ele não esperava era que ela acabasse recriando tudo, incluindo as cinco garrafas vazias e o fato de que ela está completamente bêbada. 

— Se eu ordenar que você pare de beber e vá dormir, — ele tenta mais uma vez, já preocupado com o estado dela, — Você vai me ouvir?

— Pfffffff! — Ela ri e enche mais um copo, — Sem chance.

Ele suspira, já arrependido de ter decidido chamá-la para beber com ele, e se pergunta por que esse cenário não havia passado por sua mente quando ele comprou a droga do vinho.

Por que eu comprei tantas garrafas mesmo?

— Você realmente ficou destemida depois que hyungnim subiu ao trono, — ele murmura um pouco desligado, insatisfeito com a sua petulância. 

— Eu sempre fui destemida! — Ela brada e bate na mesa, derramando álcool por toda parte, — Quando é que eu não fui destemida? Eu sou a mais destemidíssima de todas! Eu só fiquei mais cuidadosa antes de bater em príncipes e falar ideais revolucionários!

— Você não vai fazer isso agora, vai? — Ele se prepara para colocar uma mão na boca dela e impedir que ela seja ouvida, caso isso aconteça. 

— Ei, eu posso estar bêbada, mas tenho total controle sobre mim. — Ela demonstra isso ao derrubar, cheia de graça, a garrafa e ela ri baixinho, — Bem, talvez não total, mas posso controlar o que digo. E além do mais, eu não obedeceria suas ordens porque você é meu amigo e eu sei que você não me castigaria por te desobedecer.

— Então, se eu pedir com jeitinho...

— Não tente me separar da minha bebida! — Ela segura o copo dela possessivamente, — Você já vai embora, então deixe-me fazer dessa ocasião uma coisa divertida.

Ele começa a rir da expressão dela, mas as suas palavras parecem fazer a decisão dele pesar sobre ela. 

— Eu sinto muito por ter que ir, — ele fala suavemente, mais para o seu copo metade cheio do que para ela, mas ela percebe o que ele quer dizer e começa a dar um sermão. 

— Eu já disse para não se desculpar! E aliás, eu vou me sentir melhor sabendo que você está lá fora e não nesse lugar venenoso.

— Mas mesmo assim, amanhã vocês estarão sozinhos aqui.

Ela pisca algumas vezes, como se aquele cenário tivesse acabado de passar na mente dela. 

— É mesmo, — ela o imita e olha para seu copo metade vazio, — Isso é meio deprimente.

Ela leva o copo para seus lábios, rapidamente secando o vinho, e depois olha para as garrafas vazias à frente deles, um olhar distante nos seus olhos. 

— Alguns anos atrás, — ele começa depois de um tempo em silêncio, — eu caminhava por esse lugar e encontrava vários rostos desconhecidos. Agora só vejo estranhos.

— E fantasmas. 

— E fantasmas.

Ela serve outro copo, e dessa vez ele sabe que ela está bebendo para se esquecer, assim como ele nas semanas que seguiram à tragédia. Então ele se censura por trazer todas as memórias ruins de volta, e por fazer a mais animada dos dois ficar toda melancólica.

Com medo de ter estragado o desejo dela de se divertir, ele tenta mudar de assunto. 

— Ele ainda está bem chateado, não está?

— Bem, o que você esperava? — A conversa ainda é um pouco triste, mas ele não pode deixar de notar o pequeno brilho nos olhos dela, que aparece sempre que ela fala sobre ele, — Você é a única família que ainda lhe resta. E mesmo que já estivesse fora da corte, ainda machuca.

— Nosso oitavo irmão e nono irmão ainda vão continuar em Songak.

Ela estala a língua e arqueia as sobrancelhas em indignação.

— Eu nem vou comentar sobre isso...

Os olhos dela estão desafiadores novamente, e ele se vê na presença da antiga e festiva Hae Soo. Cheia de risada e de luz, compaixão e afeições inocentes. 

— Ele sabe? Sobre Wook-hyungnim?

Baek Ah pensou que a pergunta a pegaria de surpresa e a deixaria encabulada. Mas, pelo contrário, ela suspira e afunda a cabeça nas suas mãos. 

— Ainda não, — ele consegue ouvir a tristeza e a frustração na sua voz, — Eu sempre quis contar pra ele, mas com tudo o que aconteceu recentemente, eu não pude... Não era a hora certa.

— Então encontre a hora certa logo! — Somente o relacionamento de Hae Soo com seu irmão consegue deixá-lo preocupado desse jeito, — Eu não sou o único que sabe sobre o seu passado, então alguém pode tentar separar vocês usando ele. Vocês já passaram por coisa demais e merecem a chance de serem felizes!

Ela ergue a cabeça, suas mãos apoiando seu queixo, e olha para ele. 

— Você também merece.

— Ei, estamos falando sobre você agora! — Ele cora um pouco, mas consegue ficar sério e arrancar o copo dela durante seu sermão, — Tem que ser você que vai contar para ele! E seja honesta! Eu odiaria voltar para o palácio e ver que vocês estão brigando de novo.

— Mas é difícil! — Ela deixa a cabeça cair na mesa enquanto reclama, e ele suspira, concordando mentalmente com seu irmão sobre as dificuldades de conversar com uma Hae Soo teimosa. 

Uma Hae Soo teimosa e bêbada.

— Está com medo que ele te deixe, ou te odeie ou algo do tipo?

— Eu acho que eu só quero ter mais nada a ver com o 8º Príncipe, — ela fala debilmente depois de alguns instantes, a voz dela abafada pela madeira, — E não é como se ele saber de quem eu gostava no passado fosse mudar alguma coisa. Então por que devo me dar ao trabalho?

— O que está dizendo? Ele não é importante para você? Ele não é alguém que você confia totalmente? Se ele tivesse gostado de outra mulher no passado, você não iria querer saber?

— Claro que não.

— Claro que iria! — Agora é a vez dele bater na mesa e forçá-la a erguer a cabeça, — Não tente se livrar dessa. Você vai fazer o certo para o meu quarto irmão e ser completamente sincera com ele. Você sabe que eu estou certo!

Ela está olhando para a mesa, um rosto tão triste que chega a ser engraçado, suas bochechas coradas por conta do álcool, e ele segura a risada. 

— Por que eu fui fazer aquilo? — Ela está falando consigo mesma, mas isso não impede de se intrometer na fala dela e lhe dar outra bronca. 

— Eu te disse para não buscar um relacionamento que não ia dar em nada. Foi um ótimo conselho, você só preferiu não o seguir, — ele a deixa pegar o copo de volta e bebe um gole do seu, — Boa sorte em contar tudo para o Rei agora.

Ele está prestes a comentar sobre o quão ridícula e infantil ela parece agora, com aquele bico bobo, quando ela comenta.

— Eu só queria ter me apaixonado por você e não por ele.

Dizer que ele está surpreso é um eufemismo. 

— O q-O-O quê? — Ele consegue perguntar depois de se engasgar com o vinho, — Que besteira você está falando agora?

— O que é que tem? Pelo menos eu saberia que ele não te mataria.

Ele se pergunta se ela fala isso por conta do álcool ou se é realmente uma preocupação constante para ele, e não consegue deixar de, cuidadosamente, investigar. 

— Você acha que ele mataria nosso oitavo irmão?

Ela dá de ombros de leve, mas apesar de estar intoxicada, ainda consegue continuar séria e focada no assunto atual.

— Pyeha já detesta o 8º Príncipe há um tempo, — os olhos dela estão perdidos em memórias, e ele imagina que tipo de coisa ela já ouviu o Rei falar sobre o irmão deles, — Eu nunca tive coragem de perguntar o porquê, ele poderia questionar meus motivos.

Ele revira os olhos quando ela comenta, frustrado pelo jeito que seus dois melhores amigos cuidam do relacionamento deles. Às vezes ele queria poder dar uns coques nas cabeças deles, só pra ver se eles param com os problemas sem sentido. 

— Então conte tudo pra ele, — ele fala devagar, apontando o óbvio, — E depois pergunte porque ele odeia tanto Wook-hyungnim.

— Eu não quero brigar de novo...

— É sério isso?! — ele segura o grito de frustração, e foca em dar conselhos, — Vocês dois são teimosos e têm personalidades fortes, então é quase impossível que fiquem sem brigar. O problema é que vocês sempre acham um jeito de culpar a si mesmos por tudo, e nunca resolvem suas brigas de um jeito maduro. Pare de evitar os problemas, e trabalhe em usá-los para ficar mais fortes.

Ele espera que ela não esteja tão bêbada ao ponto de esquecer o que ele disse na manhã seguinte, e que quando ele voltar para o palácio não irá encontrá-los prestes a se separar de novo. 

— Você é bem inteligente, sabia disso? — Ela sorri gentilmente e ele sabe que ela guardou suas palavras no coração, — A gente vai sentir falta de você agindo como mediador.

— Vou sentir falta de dar conselhos amorosos.

Ela ri e ele não tem como não se juntar a ela, estranhando o som prístino de alegria dentro das paredes do palácio, mas sem se importar com isso pela primeira vez. 

— Quando você vai embora? — ela pergunta sorrindo, e ele está feliz que eles podem conversar sobre sua partida sem sentir o coração partindo.

— Cedo pela manhã, na primeira luz.

— Por quê? Pra ninguém te acompanhar na saída?

— Para Pyeha não me matar por te deixar beber demais, — ele retruca, imaginando se ser Sanggung aumenta a tolerância de álcool de alguém, — Você não tá nem perto de parar, está?

Ele tenta roubar a garrafa, mas ela é rápida em tirá-la do seu alcance.

— Isso é uma festa de despedida! — ela diz ultrajada, — Claro que não estou!

Ela enche o copo de novo, meio que sem jeito, e ele se impressiona com a determinação dela. 

— Quando você volta, Wangjanim?

— O quê? — ele replica, ainda sorrindo, — Você acha que vai precisar urgentemente de mim aqui?

— Acho.

A voz dela é solene e baixa, um contraste estranho com o tom feliz e brincalhão de alguns segundos atrás, e faz ele dar uma pausa. Ele pisca e olha para ela com cuidado, observando sua expressão séria e seu tom aflito, percebendo o desespero que se esconde nos seus olhos. 

Ele sente uma tragédia na postura dela, e ele sabe que não tem jeito de ele deixar que ela tome sua amiga. 

— Quando precisar de mim, peça que Pyeha me chame, e eu virei te ajudar.

Ela acena com a cabeça, ainda sem olhar na direção dele, e ele vê a antiga Hae Soo ser substituída pela nova e melancólica. 

— Farei isso. Estou falando sério. Então não reclame quando acontecer! — Ela tenta sorrir, mas ele não se engana. 

— O que é, Soo-yah?

— Nada importante por agora, — ela sacode a cabeça e antiga Soo está de volta, — O que importa agora é fazer um brinde para você.

Ele guarda todas as perguntas de preocupação e a imita, erguendo seu copo vazio, enquanto ela luta para encontrar palavras. 

— Wang Baek Ah-nim? Por favor, seja feliz.

Ele sorri e deseja que todos eles pudessem se encontrar de novo em uma vida muito melhor, e que o mundo não tentasse magoá-los e afastá-los uns dos outros. 

— Você também, Hae Soo.

 

 

Ainda está um pouco escuro quando Baek Ah sai dos corredores do palácio, em direção à saída daquela jaula que agora consumia a todos. Seria mais seguro esperar o sol nascer antes de ir embora, mas ele não quer que ninguém assista sua partida, seja um de seus amigos, ou outra víbora, feliz por se livrar do último aliado político do Rei.

Ele está com pressa, mas não consegue andar mais rápido. Ele para nas escadas que levam ao último portão, e mais uma vez se pergunta se ele não vai se arrepender de sua decisão.

É nesse último momento de cogitação que ele é pego.

— Não imaginei que você nos deixaria tão cedo pela manhã.

A voz o assusta e ele quase grita de surpresa, especialmente porque a Rainha foi um dos principais motivos para ele ser cuidadoso e não deixar que pessoas desnecessárias soubessem dos preparativos da sua partida. No entanto, ele consegue soar indiferente quando fala.

— Sua presença aqui indica o contrário, Huanghu, — ele se curva educadamente e continua a andar, virando as costas para ela.

— Você não veio se despedir de mim, — a mulher atrás dele fala, o que o faz parar, — Mas se deu ao trabalho de ir visitá-la antes de ir embora. 

— É, eu fui. E por que não iria? — Ele se vira para encará-la, o rosto pálido dela contrastando com a escuridão em volta deles, — Por que eu iria ver você?

Ele não se surpreende que ela saiba que ele foi visitar Hae Soo na noite anterior. E nem deveria. Mas ter a confirmação direta da Rainha de que ela tem espiões em volta deles o inquieta novamente.

— Quanta frieza, Baek Ah-yah. Você é meu irm–

— Mas isso não importa para você, — ele interrompe o discurso de vítima dela, tentando se refrear de fazer algo que vai se arrepender depois, — Se eu me lembro bem, Eun-hyungnim também era seu irmão.

— Você também não, — Yeon Hwa implora e faz uma cara de tristeza que não o engana nem por um segundo, — Vai mesmo me culpar por aquilo? Você não pode me culpar pelo que...

— Eu posso. Eu culpo, — ele a interrompe mais uma vez, nenhum medo ou hesitação dentro dele agora que ele está partindo, — Mas depois de tudo o que você tinha feito, eu não devia ter ficado surpreso.

— O quê? — Ela tem a coragem de parecer chocada, e a raiva dele rapidamente suprime o desejo de uma partida quieta e sem surpresas.

— Você sempre desejou poder. No entanto, eu quis acreditar que, apesar do seu desejo de estabilizar seu clã, você amasse sua família.

— Claro que eu...

— Por favor, me explique, — ele pergunta mesmo que não queria ouvir a resposta, — O motivo pelo qual ofereceu seu irmão mais novo como sacrifício ao falecido rei, foi porque você não queria ser mandada embora, ou porque queria ter uma posição melhor? — Diante de sua expressão de ultraje ele se sente motivado a continuar, — E o motivo pelo qual abandonou seu irmão para apoiar Penha no trono, foi porque você estava desesperada para estabilizar seu clã, ou porque a ideia de se tornar Rainha ao se casar com nosso quarto irmão era irresistível demais pra você?

As palavras parecem atingi-la com força, mas ele não se arrepende delas, nem mesmo quando as pálpebras dela tremem e ela começa a fumegar, sua voz em um tom gélido.

— Parece que você tem andado muito com Hae Soo esses dias. Devo lembrá-lo que eu sou sua Rainha? E, portanto...

— Sim, você é Rainha. E como, Huanghu, você conseguiu obter uma posição tão alta e desejada? — Ele sorri amargamente, ansioso para arrancar a cabeça daquela serpente, — Não se faça de inocente comigo de novo, noonim. Já nos conhecemos há tempo demais pra isso. E agora não há absolutamente ninguém neste palácio que não vá se aproximar de você sem segundas intenções, nem mesmo Wook-hyungnim. Isso deve bastar para lhe mostrar o quão longe você foi.

Ele começa a se virar quando Daemok fala com uma voz falhada. 

— Eu fiz o que precisava para sobreviver. Não consegue ver isso? — E então a última porção de calma deixa o corpo dele com as palavras seguintes dela, — Aquela garota de Hubaekje era a mesma coisa. Eu e ela somos iguais. 

É preciso cada gota de sua força de vontade para ele não pular em cima da mulher e estrangulá-la. Bater com força na cara dela, arrancar aqueles belos e caros grampos de cabelo da cabeça dela, e fazê-la retirar suas palavras. 

Ele precisa respirar fundo antes de virar o rosto para a mulher repugnante. Ele precisa cerrar os punhos com força e contar até dez para continuar no seu lugar.

— Woo Hee só queria proteger o seu povo, — ele consegue falar entre dentes, — Você só queria proteger o trono para a sua família.

— Eu só queria viver.

— Diga a si mesmo o que quiser para não se sentir uma pessoa horrenda. E antes que comece a chorar e se sentir miserável, lembre-se que foi você quem escolheu esse caminho, e é a única culpada de seus infortúnios. — Ele vira as costas para ela antes que faça algo que repercute no seu irmão e na sua amiga.

Baek Ah deixa o palácio então, sem nenhum arrependimento para trás.

 

 

Quando Hae Soo volta para o seu quarto depois de tomar café com o Rei, a expectativa de ficar sozinha o resto do dia faz algo pesar sobre ela. Dessa vez, no entanto, não é a melancolia fria que a deixa angustiada, mas um pedaço da conversa inocente que ela tivera com Baek Ah antes dele partir.

Na tarde passada ela tinha visitado o médico da corte mais uma vez, para ver se seu coração já moribundo tinha deteriorado ainda mais. E novamente implorou que ele não contasse nada ao Rei sobre sua curta vida restante. 

Ela achou que conseguiria contar. Quando Baek Ah foi embora, ela sentiu que devia contar. Quando o Rei foi para a corte, ela sentiu que devia contar. Ela até se lembra de quando se encontrou com Jung nas suas pedras de oração – quando ele lhe contou que tinha uma saída para ela – e de como ela resistiu a contar.

Ela pensa em todas as oportunidades que teve nos últimos meses, mas que decidiu ser egoísta.

E agora resta a culpa. Culpa por não deixar que eles saibam de sua doença que avança. Culpa por esconder uma informação tão crucial, que ela sabe que afetará todo mundo. Mas ela ainda não se sente capaz de ofuscar essa nova felicidade que eles encontraram depois de ficarem distantes por tanto tempo.

Depois que eu contar, tudo vai mudar.

Ela não é idiota. Ela sabe que vai ter que contar tudo muito em breve. Mas só de pensar em deixá-los tão cedo a faz querer chorar e soluçar, e ela sente que não vai conseguir viver além desta noite se ele não vir vê-la, quanto menos contar a verdade.

Ela abre uma folha de papel à sua frente, mistura a tinta lentamente e começa a escrever.

Quando a luz exterior se extingue, quando uma dama da corte entra para acender as velas e avisar que o Rei solicitou sua presença para jantar, Hae Soo já tem doze envelopes empilhados à sua frente, e algumas folhas de papel descartadas. Teria ainda mais se a tinta dela não tivesse acabado alguns momentos atrás, e ela estivesse muito absorta em seus pensamentos para trazer mais.

Ela força um sorriso para tranquilizar a garota ao seu lado e pega os envelopes. Ela os coloca com cuidado no baú em que ela guarda os poemas dele e a flecha quebrada, juntamente com outras cartas que escreveu nos últimos dias.

Quantas mais terei que escrever até que esteja pronta para contar para ele? Até que eu esteja pronta para me despedir?

Ela segura um dos envelopes com força, traçando com o dedo o lado que diz “14º Príncipe”, antes de colocá-lo com os demais, fechar o baú, e ir embora.

 

 

— Porquê pediu um baú novo?

— Você escreveu cópias demais daquele poema, agora não tenho onde guardar minhas coisas.

— Foi você quem pediu tantas cópias!

— Isso é irrelevante para essa conversa. O ponto é, eu preciso de um novo baú.

— Certo, eu mando um pra você.

— Não precisa. Eu vou ao mercado amanhã.

— Tem mais de mil baús vazios nesse lugar! Pegue o que gostar mais e fique comigo amanhã.


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Notas finais do capítulo

Gosto de criar tensão logo depois de resolver tensão

Agradeçam pela maravilhosa música de Yui (que por sinal, é abertura de Fullmetal Alchemist: Brotherhood assistam) que me deu o título do capítulo
link para os curiosos musicais -> https://youtu.be/6FtzYKL04KU

Opiniões são bem vindas.
Elogios sempre aceitos.
Críticas apreciadas.

:)



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