Minguante escrita por JennyMNZ


Capítulo 14
Time Is Old And Young


Notas iniciais do capítulo

Uma dose de fluff com um toque de angst lá no fundo. Do jeitinho que eu gosto.



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Liberdade é revigorante. E um longo banho quente para aliviar os músculos doloridos também é. A sensação revigorante de lavar completamente os cabelos e limpar a pele com os óleos adequados quase faz com que ela se sinta uma nobre mais uma vez.

Soo acabou de sair da banheira de água quente, e agora está vestida com seus robes de baixo. O vapor que continua no pequeno quarto é uma fonte de calor bem recebida na manhã fria de primavera, e quando ela começa a passar o pente nos cabelos as portas se abrem. O sorriso dela cresce por todo o seu rosto quando ela vê o Rei fechando a porta atrás de si e indo até ela, um sorriso plantado nos seus lábios.

— Me disseram que você estava tomando banho, — ele diz com um leve tom de derrota, quando vê a sua figura completamente vestida se virando para vê-lo melhor. Soo ri em voz alta, e ele chega ao lado dela antes que ela se levante para cumprimentá-lo.

— Por que você parece estar desapontado?

— Eu nunca fico desapontado em te ver.

O coração dela se derrete quando ele beija a sua testa, depois sua barriga e finalmente os seus lábios. Os olhos dele flutuam sobre ela carinhosamente, e Soo sente que sua alma saiu do corpo e que ela se dissolveu no vento.  

Ele se move e senta atrás dela, tomando o pente de suas mãos e uma toalha para secar o seu cabelo.

— Seja gentil, — ela o avisa enquanto ele se prepara para desembaraçar os nós do seu cabelo, já se encolhendo de antecipação, e ele ri.

— Eu não sou você, — So diz casualmente, ganhando um tapa no joelho pela provocação. Os dois sorriem quando ela inclina a cabeça para trás, fechando os olhos, e ela o deixa trabalhar em silêncio. Lá no palácio, no Damiwon, ela nunca teria deixado So fazer isso. Mas já que eles estão longe de olhos enxeridos, ela não vê a necessidade de ser cuidadosa.

— Você já pensou em mais nomes? — A voz dele a tira de seus pensamentos, e ela olha para trás e vê seus olhos fixos no seu cabelo assanhado.

Soo suspira e dá de ombros, seus olhos ficando pesados com o toque das mãos dele no seu couro cabeludo.

— Eu já te falei que a gente precisa escolher logo um, ao invés de ficar pensando em mais, — ela reclama um pouco com ele, — A essa altura nós teremos centenas de opções e o bebê vai ficar sem nome o resto da vida.

— Eu só pude ficar uma noite da última vez que vim, — ele se desculpa, fazendo bico depois da bronca dela, — A gente tem que se sentar e decidir isso com calma.

— Quanto tempo você vai ficar dessa vez, então?

— Também não muito, — ele respira fundo, seus olhos chispando de frustração, já que parece que eles nunca passam muito tempo juntos, — Há um número limitado de vezes que posso adiar reuniões e mandar avisar que estou doente.

—Você não iria querer que os ministros pensassem que está mal de saúde, — Soo concorda, — Como está o palácio, falando nisso?

— O ninho de cobras de sempre. Pessoas tentando me manipular, pessoas tentando me bajular. Alguns querem tentar me tirar do poder, mas a maioria ainda valoriza suas vidas.

So praticamente joga o pente na pequena mesa perto da parede, e acaba fazendo todos os outros utensílios sobre ela sacolejar. E embora Soo entenda sua exasperação, ela já decidiu que não vai deixar nenhuma negatividade pairar sobre eles, e usa o momento para provocá-lo.

— Oh, não! — Ela arfa, num medo fingido, — É o Gwangjong assustador!

— Não foi você quem disse que era melhor não se referir a mim como rei? — Soo só pode rir quando ele a encara firmemente, seu cenho franzido em irritação.

— Não foi você quem disse que não importava?

— Mas agora eu estou acostumado, — ele reclama, fazendo bico e cutucando o ombro dela, — A culpa é sua.

— Bem, então me perdoe, So-nim.

Soo não faz ideia do que ela o faz sentir sempre que o chama pelo seu primeiro nome. Mas ele sempre cora tanto quanto corou na primeira vez que ela o chamou assim, e o sorriso dele sempre cobre metade do seu rosto, e Soo não acha que vai se cansar da vista.

— Aconteceu alguma coisa enquanto eu estava fora? — Ele limpa a garganta, tentando mudar o assunto para outra coisa.

Soo dá de ombros.

— Nada fora do extraordinário.

— Sentindo dor?

— Não agora.

— Está comendo direito?

— Seu filho não me deixa esquecer de comer, não se preocupe, — Soo esclarece, colocando uma mão sobre sua barriga agora grande demais, se perguntando quanto tempo mais ela vai caber naquelas roupas, — Eu tive que pedir que Baek Ah-nim me comprasse roupas ontem. Sempre ouvi histórias de mulheres que ficaram muito gordas, mas isso é ridículo.

— Não sei não, eu acho que sua barriga não está tão grande assim.

— Você não precisa me tranquilizar.

— E você não precisa culpar nosso bebê.

— Só acaba logo com meu cabelo.

Quando ela se estressa ele abaixa a toalha, suas mãos erguidas num gesto de rendição.

— Como você quer? — So pergunta quando começa a revirar as fitas na mesa, tentando escolher uma cor, pegando-a de surpresa.

— Hein? Só precisa pentear e secar. Não tem pra quê fazer um penteado.

— Vou fazer um simples, então, — ela dá de ombros e pega duas fitas amarelas, caminhando de volta para sua posição atrás dela, — Por que deixar o cabelo solto se você vai ficar com calor e toda incomodada mais tarde?

So não é muito versado nessas coisas, mas suas mãos se movem com facilidade quando ele parte o cabelo dela em duas partes, amarrando a de cima num rabo de cavalo, e então prendendo todo o cabelo dela na sua nuca com um único e simples nó. O penteado é de fato simples, mas ele também pega seus grampos de flores, e o decora com cuidado, como se estivesse pintando uma obra de arte.

— Não se sente como uma rainha? — Ele diz baixinho e ela sorri.

— Ainda tentando se casar comigo?

— Você me conhece bem demais.

— Eu acho que me sinto melhor do que uma rainha, — Soo diz reflexiva, olhando de volta para ele, e pegando uma de suas mãos para trazê-la para mais perto de seu rosto, — Eu me sinto a dona do mundo.

— Devo dá-lo para você, então?

— Talvez depois, — ela sorri e usa o braço dele como apoio para se levantar, seu estômago rugindo em protesto, — Seu filho exige ser alimentado.

— Eu falei pra parar de culpar o bebê.

 

 

O sono dela é interrompido pelo leve movimento de algo se sentando ao lado dela. Mas antes que Soo possa reclamar, a voz dele a acalma e seus braços a trazem de volta para o travesseiro.

— Perdão, — ele se desculpa suavemente, mas ela não se importa com a interrupção, — Eu não queria te acordar.

— So-nim? — Sua mente grogue tenta acompanhar o que está acontecendo, mas ela continua confusa, — O que está fazendo aqui?

— Estou com um pequeno grupo, indo para Silla, — So explica, deitando-se ao lado dela, acariciando seu cabelo de leve, — Estamos acampados aqui perto, então saí escondido pra vir te ver.

Soo sorri, mas murmura numa voz baixa no meio de seu sono.

— Você não consegue ficar longe, não é?

— Claro que não consigo, — ele sorri também, envolvendo seus braços nela, enquanto ela faz o mesmo, — Agora diga, está feliz em me ver?

— Claro que estou, — ela realmente está, mesmo que seu corpo exausto pareça dizer inteiramente o contrário, — Mas eu não consigo ficar acordada para te fazer companhia, estou cansada demais.

— Tudo bem. Você precisa descansar, — os lábios dele roçam no cabelo dela quando ele fala, — Eu só vou ficar aqui um tempo e vou embora antes de você acordar.

Soo suspira, trazendo-o para mais perto, e grunhe para sinalizar que entendeu. Não é como se ela quisesse que ele fosse embora, mas ela está bem ciente que não vale a pena reclamar e discutir. Mas antes que o sono venha, uma memória repentina se apodera e ela começa a falar, apesar do cansaço.

— Eu estava tendo um sonho, — ela diz numa voz baixa, seus dedos desenhando formas no seu peito, — Um sonho muito bom.

— Mesmo? — Ele pergunta e ela sorri, fazendo que sim com a cabeça.

— Você estava nele. O pequeno também, eu acho, — ela franze o cenho, tentando encontrar os detalhes do seu sonho que já começam a desaparecer, — Mas eu lembro que estava debaixo de uma árvore e você estava tentando dormir na sombra. O clima estava muito bom. Então eu fiquei te olhando em silêncio. Nós estávamos casados e tínhamos nossa própria casa. Não era tão grande quanto o palácio, mas era boa e confortável. — A verdade é que eles estavam no tempo original dela, numa casa moderna, vestindo roupas modernas, mas ela não podia dizer isso a ele, então ela foca nos outros aspectos do sonho, — Tinha um quintal bonito, cheio de árvores que você tinha plantado e de ervas para mim. As paredes eram altas e feitas de pedra, com plantas crescendo sobre elas, — ela suspira ao se lembrar da doce ilusão, — Eu não lembro de muita coisa, mas lembro de desejar de novo e de novo que não fosse só um sonho.

O Rei não diz nada nem faz nada por um tempo, mas então ele beija sua testa suavemente, melancolicamente.

— Parece ter sido maravilhoso, — ele sussurra e ela consegue ver o sorriso triste no seu rosto, — Desculpa ter te acordado.

— Não se desculpe, — ela beija seu peito com ternura, — O você verdadeiro é melhor que qualquer sonho.

 

 

— Eu estava sonhando, ou você realmente esteve aqui semana passada?

— Passei a noite. Você me contou sobre o seu sonho.

— Ah sim, o sonho.

— Nós devíamos construir uma casa como aquela, fugir e nos escondermos nela pelo resto de nossas vidas.

— Seria difícil. Não era uma casa muito convencional, sabe?

— Por quê? Era muito extravagante?

— Só era muito peculiar. Como se fosse de um mundo completamente diferente.

— Um mundo debaixo d’água, talvez?

— Um mundo acima d’água, na verdade.

— Sabe, eu sempre me perguntei uma coisa daquela história que você me contou.

— O quê?

— Por que a mulher caiu na água?

— Eu não disse que era pra você decidir isso sozinho?

— Eu diria que ela tentou salvar alguém que estava se afogando. Tenho a impressão que ela faria algo imprudente e altruísta desse tipo.

— Pena que nunca poderemos saber ao certo.

— Se um dia eu encontrar aquela mulher, eu com certeza vou perguntar.

— Ela é uma personagem de uma história, onde você poderia encontrá-la?

 

 

— O que o 14º Príncipe tinha? — Soo pergunta a Baek Ah durante uma refeição e ele se encolhe.

— Por que está perguntando isso agora? — A voz do 13º Príncipe é exasperada, como se ele tivesse se acostumado com esse tipo de comportamento da parte dela, — Eu pensei que já tivéssemos decidido não chamar ele.

Eles realmente tinham. Mas mesmo embora Soo agora esteja livre para ter seu bebê fora do palácio, existem outras preocupações infestando sua mente. Ela quer ter certeza de que tudo está pronto e preparado, caso o pior aconteça durante o parto.

— Podemos precisar da ajuda dele, — é tudo o que ela diz. Ele sabe o que ela quer dizer, e isso basta, — Temos que pensar em todas as opções.

— Eu já te disse. A saída que Jung tem não pode mais te ajudar. Temos que pensar em outra coisa.

— Ainda assim precisamos dele. Se não ele, quem?

Isso faz Baek Ah pausar. É em momentos assim que eles percebem o quão completamente sozinhos eles estão. Como tão poucos deles sobreviveram, e como tantos mudaram tanto. Ele pausa, tentando encontrar alguém, só uma pessoa que possa ajudá-los a escapar do plano insano de Soo mas ele acaba desistindo e suspirando longa e profundamente.

— Nós podemos ter que reformular parte do plano de Jung, — ele cede e começa a pensar com ela também, — Assim, tipo, a maior parte dele. E hyungnim pode não gostar.

— Vamos conversar com ele. Ele vai entender.

Soo sorri, e termina o restante da refeição com uma mente clara e uma postura confiante. Eles teriam que esperar que So chegasse para decidir tudo, mas ela está certa de que ele vai concordar.

 

 

— Por que eu concordaria com uma ideia tão estúpida?

O grito indignado do Rei faz Baek Ah se encolher e olhar para ela como que dizendo eu avisei, mas Soo não se abala.

— Porque você ama esse bebê — ela retruca, igualmente lívida, — Porque você quer que nosso filho viva.

— Existem jeitos melhores...

— Então me diga um. — A boca dele se abre enquanto ele tenta pensar em alguma coisa, qualquer coisa, que possa mudar a cabeça dela, mas no fim ele não consegue, então ele grunhe em frustração, — So-nim, nós já conversamos sobre isso por muito tempo; se houvesse outro jeito, nós já teríamos encontrado.

— Eu não gosto disso.

— Eu também não. Mas é necessário.

So olha para ela desesperado, como se ela estivesse pedindo que ele parasse de respirar pelo resto de sua vida e tentasse viver assim. Talvez ela esteja.

— Nós ainda temos tempo, — ele diz debilmente, e Soo decide não o forçar além de seu limite.

— Tudo bem, — ela concede, colocando as duas mãos dos lados de seu rosto e fazendo-o olhar diretamente para ela, — Mas nós devíamos pelo menos estar preparados.

— Sim, devíamos.

 

 

— Eu realmente não deveria estar aqui, — Jung argumenta pela enésima vez, achando difícil largar o hábito que ele desenvolveu desde que eles deixaram sua residência em Chungju.

Cavalgando ao seu lado, Baek Ah ri sardonicamente antes de retrucar.

— Quando foi que isso te impediu? — Ele diz sem olhar para ele, — Estamos quase lá, então aguente mais um pouco.

Fiel a suas palavras, pouco tempo depois o 13º Príncipe diminui seu ritmo, tomando uma trilha à lateral escondida pelos arbustos e pelos galhos. 

— Onde estamos indo? — Jung grita para seu irmão, mas não consegue resposta, — Ei, hyungnim!

Só há o silêncio, então ele decide continuar até que eles cheguem onde quer que estejam indo, e ignorar que eles estão perto demais de Songak e do palácio. O destino deles, Jung logo descobre, é uma casa. Grande o bastante para não ser chamada de depósito, mas pequena o bastante para não chamar muita atenção. Mesmo embora seja a única residência na clareira que se abre na lateral da montanha.

— Por que estamos aqui? — Ele pergunta ao descer do seu cavalo, ansioso para entender o comportamento do irmão, mas falhando antes de tentar. 

— Entre, — é tudo o que Baek Ah diz, e Jung está curioso demais para não seguir seu comando. 

Ele caminha até as pequenas escadas que erguem a casa acima do chão, cuidadosamente tocando na porta que seu irmão indicou. Ele a abre e entra na construção antes que o vento apague as velas espalhadas pelo quarto. E então o terror preenche todo seu corpo quando ele vê o Rei sentado do lado oposto, vestido em roupas de plebeu, mas ainda agindo como o governante da nação.

— O que é isso? — Ele chia, incapaz de controlar sua ira contra seu irmão, — Você não já fez o bastante? O que mais poderia querer de mim?

O rosto de So não se incomoda, como se ele fosse indiferente a qualquer coisa que Jung diga. Ele fecha seus olhos e depois os abre, completamente à vontade e livre de preocupações.

— Peço que esqueça qualquer rancor que ainda guarde contra mim, — ele fala naquele tom frio, formal e distante que sempre irrita Jung, — Hae Soo precisa de você.

À menção de Soo, a raiva fria de Jung se torna numa ira fervente. A mente dele se enche com diferentes possibilidades do porquê ela precisaria dele, mesmo que seu amante fosse Rei, e todas parecem ter a mesma causa.

— O que foi? Você causou algum mal a ela de novo?

— Sente-se, — o comando do Rei ressoa firmemente, e ele evade sua pergunta, — E escute.

— Eu não quero te escutar, — Jung continua de pé, teimosamente, — Se realmente está pensando em Soo, devia deixá-la ir livremente, e não me trazer aqui escondido pra pedir um favor. Eu vou embora.

Ele se vira, caminha para longe do seu irmão e em direção à porta, marchando enquanto decide se deveria gritar com Baek Ah ou só montar no cavalo e voltar para casa. No entanto, antes que ele toque na porta, So fala.

— Temo que isso não seja uma escolha.

Jung ainda não se vira, nem se olha para ele quando ele fala, impertinente.

— Então vai me matar também?

— Se é o que vai impedi-lo de ir, — a resposta de So apenas mostra o quão fácil é para ele matar alguém, — Eu estaria disposto a tentar.

Ele não está com a espada, então decide enfrentar o Rei só com seus punhos. Qualquer que seja a punição por isso vai valer a pena.

— Está mesmo confiante em... — Jung caminha de volta para o homem calmamente sentado no meio do quarto, mas antes que chegue perto dele, a porta do lado abre e ele congela.

— Olá, Wangjanim, — Hae Soo fala suavemente, sorrindo ao se curvar para cumprimentá-lo, — Quanto tempo.

Qualquer outro dia, Jung teria sorrido e cumprimentando-a de volta, ou pelo menos respondido a ela de um jeito apropriado. Ele teria dado algum sinal de que sua mente está presente e que sua cabeça não está prestes a entrar em combustão por causa do choque e da surpresa, e então eles conversariam sobre algo. Mas ao contrário de qualquer outro dia, tem algo diferente com Hae Soo dessa vez. Ela parece um pouco cansada, mas isso não é necessariamente uma coisa ruim. Seu rosto está levemente pálido, mas ele tem certeza que isso não é novidade para ela, já que ela não costuma sair. As roupas dela não são tão ricas e elegantes como as que ela vestia no palácio da última vez que a viu, mas isso não era preocupante.

O que deixou Jung chocado foi a clara e proeminente barriga que ela carregava. Um óbvio sinal de seu estado.

— Soo-yah... Você... — Ele tenta encontrar suas palavras enquanto ela se aproxima, cambaleando para equilibrar o peso de sua gravidez avançada, mas nenhuma vem até ele.

— Me desculpe por te chamar aqui desse jeito, — Soo fala, e ele sabe que ela está tentando não rir de sua reação, — Mas nós podemos conversar?

— Você... — Os olhos de Jung ainda estão fixos no seu estômago.

— Sim, você vai ser tio em breve, — ela ri, mas quando os olhos de Jung se voltam para os dela, estupefatos, o riso vira um sorriso de desculpas, — Me perdoe por te contar desse jeito.

Tio.

A palavra parece perder o sentido para ele. Ele só consegue notar os movimentos em volta dele, mas não consegue entender nada. 

Jung vê So ajudar Soo a se sentar, e quando percebe ele também está se sentando, ajoelhando bem à frente dela, observando-a tentar acomodar o corpo no pequeno travesseiro no piso.

— So-nim, por favor, — Soo fala olhando para seu irmão e ele faz que sim com a cabeça.

— Vou esperar lá fora.

Jung não o vê sair. Ele continua a olhar para a mulher à sua frente, e o único sinal de que eles estão à sós é o som da porta se fechando.

Há um momento de silêncio, enquanto ele tenta assimilar a revelação repentina. Mas ela interrompe seus pensamentos e tenta trazê-lo de volta para a conversa que ele estava tendo com So antes dela interromper.

— Você é o único em que podemos confiar, — ela diz, não mais sorrindo, mas ele ainda está tentando entender a realidade.

— Onde Baek Ah-hyungnim está?

— Provavelmente fazendo chá? Ele se esconde na cozinha sempre que tem muita tensão aqui.

Jung respira fundo, certo de que ir embora para a cozinha parece ser uma opção muito melhor nesse momento. Mas ele não se move de seu lugar.

— Há quanto tempo está aqui?

— Dois meses? Eu acho? Eu vivo perdendo a contagem do tempo. — O olhar de Soo é saudoso e o carinho que ela faz na barriga não passa despercebido por ele, — As coisas são quietas aqui, diferente do palácio.

Pela primeira vez em anos, Hae Soo parece livre. Que nem como ele sempre pensou que ela estaria no instante que saísse das muralhas daquela gaiola. Ela se parece mais com a garota que ele conheceu na casa de seu oitavo irmão, e ele está feliz. Mas uma parte dele também sente ciúmes, porque ela estava ali há dois meses, e nunca sequer tentou falar com ele.

— Se você queria ir embora, podia ter pedido minha ajuda. — Ele ainda não vai falar qual era a saída dele. Ele não queria que ela se sentisse pressionada pela ideia de se casar com ele e ficasse no palácio por simpatia ou medo.

— Eu não vou embora, — ela sacode a cabeça e fala como se estivesse conversando sobre o clima, — Vou voltar para o palácio quando o bebê nascer.

Jung pisca por conta do absurdo que ela fala, e sua voz se ergue de novo, antes que ele possa controlá-la.

— Por quê? Soo-yah, você odeia aquele lugar, por que vai voltar?

— Porque eu amo ele, — Soo diz simplesmente, e isso não deveria chocá-lo, nem deixá-lo surpreso, mas ele ainda se encolhe. Mesmo agora, anos depois, ainda dói vê-la falar daquele jeito sobre seu irmão, e ela sabe, — Desculpa.

— Está tudo bem. — E está mesmo. Dói, mas está tudo bem para ele, — Eu só estou preocupado com você.

— Desde que o bebê esteja bem, eu não posso pedir mais nada. Foi por isso que pedi que Baek Ah-nim te trouxesse aqui, — ela diz tudo de uma vez, o que mostra o quão desesperada ela está. Mas então Soo hesita e sua voz falha, — Eu sinto muito. Eu continuo te magoando, e ainda assim continuo a pedir favores.

O rosto dela mostra o quanto Soo precisa dele, então Jung põe toda sua amargura de lado. Ele ignora sua antipatia pelo seu quarto irmão, e sua reprovação pela sua escolha de voltar ao palácio. Ele esquece tudo sobre o mundo e foca apenas nela, não por causa de seus sentimentos, mas por quem Hae Soo é.

— Você é minha amiga, Soo-yah, — ele diz baixinho, mas num tom incentivador, — Você pode me contar ou me pedir qualquer coisa.

— Muito bem, então, — Soo respira fundo, suas mãos se encolhendo e seus dedos inquietos, e de repente sua guarda está de pé novamente, — Mas primeiro, eu preciso te contar uma coisa.

 

 

O tempo parece se arrastar para Wang So, enquanto ele espera seu irmão acabar de conversar com Hae Soo. Ele está longe o bastante do quarto que eles estão para não ouvir o que estão dizendo, mas ainda perto o bastante para entrar imediatamente se Hae Soo tiver outra crise.

Pelo menos, é isso o que ele diz a si mesmo. A verdade é que ele ainda sente ciúmes de Soo com seu décimo-quarto irmão. Ele ainda se lembra da noite que passou do lado de fora do quarto dela, louco para chutar a porta e invadir. Mas, que nem naquele dia, ele não faz nada. So apenas espera.

Depois do que parece ser uma eternidade, Jung finalmente sai. Ele para perto da porta quando vê So de pé ali perto, e então marcha para mais perto dele. Os olhos dele estão vermelhos e lacrimejantes, e ninguém precisa contar para So o que ele ouviu e o que ele decidiu. 

— Eu só vou ajudar por causa de Hae Soo, — a voz de Jung está trêmula, mas ainda mostra confiança, — Você não precisa me agradecer.

— Estou agradecido mesmo assim, — So diz sinceramente, — Quando eu voltar vamos decidir o que fazer.

Há problemas urgentes esperando por ele no palácio, então ele não pode ficar o resto da noite e ter um jantar agradável com sua família e seu irmão distante. Mas antes que possa voltar para seu cavalo, Jung fala, fazendo-o parar no seu caminho.

— Ainda não apoio sua ascensão ao trono.

— Mas isso não importa, né? — So retruca, se virando lentamente para vê-lo, — Se eu não for rei, quem vai ser? Você? Wook? Talvez Won ou Baek Ah?

A maioria das pessoas abandonaria a conversa depois do seu olhar intimidador e sua pergunta incisiva. Mas Jung era um general de trezentos mil homens e ele não recua facilmente.

— Quanto mais elevada a sua posição, mais você deve se importar com a justiça, não é mesmo?

So bufa, lembrando de quanto ele primeiro ouviu aquelas palavras de Hae Soo, e então quando ele as repetiu para Jung não muito tempo depois. Tanta coisa mudou desde aqueles dias, e ele se pergunta o que Soo diria agora depois do que aconteceu no passado.

Talvez se ele pudesse encontrar um reino debaixo d’água ele finalmente encontrasse a utopia que ela pregava. Mas por agora, desde que ele decidiu se sentar no trono, ele já desistiu de proteger uma lei corrompida.

— Não há justiça nesse mundo. Só a que nós criamos para julgar os homens, — ele explica, mas não espera que seu irmão o entenda, — Se as pessoas sofrem por causa dessa tal justiça, não deveríamos mudá-la com nossas mãos?

O seu irmão olha para ele como se ele tivesse ficado louco, e So se pergunta se ele realmente não ficou. Se a visão de Soo não foi só um relance fora de contexto, mas a profecia de um tirano brutal, implacável e impiedoso. Então ele se atém à parte dele que quer deixá-la orgulhosa, que quer fazer do mundo um lugar melhor para seu filho, e ele volta à sanidade.

— Depois que o bebê nascer e você voltar para o palácio, eu vou voltar para Chungju, — Jung diz firmemente, definindo sua posição antes de se afastar, — Não tenho vontade de ser parte de sua justiça.

 

 

— Eu nunca quis que nada disso acontecesse. — A voz de Soo o alcança quando ela está prestes a montar no seu cavalo, e ele se vira para vê-la uma última vez.

— Nenhum de nós quis, — ele diz, tentando tranquilizar suas preocupações, sorrindo para lhe dar confiança, — Nós só queríamos nos sentar debaixo das árvores e criar nossos filhos.

Ela mostra um sorriso, que logo desaparece quando a tristeza toma conta.

— Eu sinto muito, — ela sussurra, estendendo a mão para arrumar seu robe, usando sua roupa desalinhada como desculpa para tocar nele.

— Eu também, — ele sussurra de volta, colocando uma mão sobre a dela, — Jung está parcialmente certo, me perdoe.

— Jung-nim está completamente errado, ignore-o, — ela retruca e uma risadinha escapa de seu peito, — Ele ainda está com raiva por causa do que houve no passado. Mesmo antes do que aconteceu com sua mãe.

So sabe o que ela quer dizer, uma vez que o momento em que seu último laço com seu décimo-quarto irmão foi quebrado ainda está claro e vívido em sua mente. Ele não pode culpar Jung por isso.

— A culpa foi minha.

— Eu vou te bater se você disser isso de novo.

E porque os tapas de uma Hae Soo grávida doem de verdade, ele muda o assunto.

— Ele disse que vai voltar para Chungju depois que o bebê nascer.

— Talvez ele vá, nós ainda não decidimos.

— Mas ele precisa estar pronto. Caso a gente siga o seu plano. — O plano insano dela, mas que tem uma melhor chance de sucesso, — Ele pode não aceitar.

— Ele vai. Ele só precisa de tempo.

— Todos nós precisamos.

So está tentado a puxá-la para mais perto de seu peito e arrebatar seus lábios, mas ele sente Jung os observar a distância, e já que ele precisa que seu irmão fique de bom humor até Soo fazer seu próximo pedido a ele, ele se consola com um beijo leve no topo de sua cabeça, e um toque de leve na sua barriga.

— Vou tentar convencê-lo a não te desprezar tanto, — ela diz a ele quando ele está em cima do cavalo e ele ri em um tom sarcástico.

— Não se incomode.

— Eu te amo.

— Eu te amei primeiro.

— Não é uma competição, — ela grita indignada e ele não consegue parar de provocá-la.

— Claro que é.

So ri e cavalga para longe, seu coração pesado com preocupações e problemas.


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Notas finais do capítulo

This Is The Best Part de Gungor tem uma atmosfera tão deliciosa quanto a da nova casa de Hae Soo -> https://youtu.be/Gdd58BfC13M

Opiniões são bem vindas.
Elogios sempre aceitos.
Críticas apreciadas.

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