How To Save a Vampire escrita por Airi


Capítulo 4
Mitos, Zumbis e muita confusão




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/77723/chapter/4

Acordei na cama da enfermaria, em prantos, tentando me levantar assim que abri os olhos, respirando rápido e balbuciando o nome de minha irmã. Mas eu estava fraca e não foi muito difícil para Charlie me segurar, sentada, na cama, enquanto tentava me acalmar.

– Lotty, você ainda está muito fraca, se acalme primeiro. – ela dizia com a voz tranquila.

Mas eu sabia que ela estava sentindo o mesmo que eu. Impotência, medo, desespero muito bem disfarçado, pelo que poderia ter acontecido com a pequena Alice. Aos poucos, ela conseguiu me convencer e empurrar até minhas costas estarem completamente no colchão duro.

– E meus pais? – perguntei ainda bem abalada – Tiveram noticias dela?

– Ainda não. – Charlie confirmou, preocupada – Eles estão com os policiais, indo de casa em casa, por todas as regiões, enquanto os da delegacia estão vendo o que podem fazer para saber quem foi pegar sua irmã na escola.

– Eles são uns irresponsáveis! – berrei, me levantando novamente – Como a professora deixou minha irmã, pequena daquele jeito, sair com um estranho?

– Lotty, não foi culpa deles, eu lhe garanto isso.

– Como consegue dizer com tanta convicção? – perguntei perplexa, já conseguindo me sentar. – Ela estava lá dentro Charlie!

– É estranho – ela começou, virando-se de costas para mim, indo até a janela. - todos que tiveram contato com ele, alegam não saberem de nada a respeito, nem de terem entregue a menina ao homem.

– Eles estão mentindo para se livrarem da culpa! – berrei.

Mas Charlie não me deu ouvidos. Era a primeira vez que eu a via assim, tão compenetrada em algo, com um semblante sério.

Parei alguns minutos para pôr as ideias no lugar, escondendo o rosto entre as mãos frias e tremulas, pensando no que tinha acontecido antes do desmaio, tentando decifrar meus pensamentos segundos antes. Eu tinha um nome em mente, porém algo em mim queria negar que aquele ser tinha algo a ver. Francis.

– Perai. – falei mais calma, levantando o rosto. – Você disse que essas pessoas não se lembram?

– É. – Charlie confirmou novamente. – algo do tipo. E, Lotty, mesmo não fazendo sentindo eu acredito neles. – após uma pausa, minha melhor amiga se aproximou de mim, suspirando diversas vezes. Parecia mesmo atordoada. – Acho que policiais não dão conta deste caso.

– Não. – respondi, novamente irritada, me afastando dela. – Não me venha com essas coisas do sobrenatural porque eu não acredito nisso!

Tá, talvez eu realmente não acreditasse na maioria das coisas, mas em vampiros eu tinha que admitir que agora acreditava. Mas não sabia de nada sobre a teoria de Charlie, e seja lá o que for, se tivesse algo a ver com vampiros eu teria que desmentir, pois meu segredo corre risco se alguém descobre tal coisa.

– Não está claro para você? – ela berrou de volta, me pegando pelos ombros. – São eles!

– Eles quem Charlie? – perguntei receosa, preparada para o pior.

– São os ET’s!

Lá estava eu. Com expressão de culpada, olhos fortemente fechados, esperando a palavra certa, mas Charlie sempre tinha uma maneira de me surpreender com suas teorias malucas. Demorou um pouco para o momento do choque passar, fiquei por poucos, mas incontáveis, segundos piscando os olhos sem parar, sem expressão no rosto, olhando para minha amiga, que ainda mantinha aquela expressão de que não está brincando, na face.

– Você só pode estar de brincadeira comigo, Charlie.

Foi à única coisa que consegui dizer, sem emoção, o que a deixou confusa, enquanto eu me soltava e ia calmamente até perto da cama que acordei. Calcei meus sapatos e peguei minha blusa de frio, me olhando no espelho alto que havia ali no ambulatório, e me preparei para sair.

– A onde pensa que vai?

Já estava na porta quando Charlie resolveu dar sinal de vida, mas já era tarde para ela me impedir. Só eu posso achar minha irmã. Não a respondi, apenas acenei, dando tchau e apertei o passo no corredor, deixando uma Charlie confusa para trás. Me surpreendi quando não ouvi passos atrás de mim, ela não estava me seguindo, ou mandando eu voltar.

No meio do caminho dei de cara com Loki, que se colou na parede ao ver alguém passar tão rapidamente por ele. Pude escutar algo ao longe “Lotty, a onde está indo?”, mas eu não tinha tempo para explicar, ter desmaiado já havia encurtado razoavelmente o tempo que talvez estivesse se esgotando para minha irmã. O que quer que eu tivesse feito de errado para ele raptar Alice, espero que me aceite em troca, porque ela, assim como todos os outros, não tinha nada a ver com isso.

Não pude ir pela entrada principal, pois os meninos da banda estavam todos lá, esperando por noticias. Que possivelmente Loki tinha ido buscar e já tinha trazido. Bem no momento em que eu desviava no corredor, pude ouvir a breve conversa.

– Ela está bem? – escutei a voz de Aaron.

– Bom, tecnicamente está. – Loki respondeu confuso.

– Como assim?

– Meninos! A Lotty saiu correndo da enfermaria, me ajudem a acha-la!

Confesso que desapertei o passo um pouco, para ouvir a conversa deles, mas quando ouvi a voz de Charlie, automaticamente voltei a correr que nem uma louca, saindo pela porta dos fundos e indo na direção do bosque. Um caminho alternativo para chegar em casa, que agora poderia ser um pouco perigoso.

Em poucos minutos estava em casa e, por sorte, meus pais não estavam lá, já haviam saído em busca da minha irmã. Subi as escadas com as ultimas forças que me restavam e abri a porta do quarto, ofegante, caindo no chão assim que parei, puxando todo o ar que estava a minha volta, como se não fosse o suficiente.

Lagrimas estavam caindo dos meus olhos, sem perceber elas começaram a formar uma cascata fina em meu rosto quente e provavelmente ruborizado e não demorou muito para eu me sentar no chão, cruzando minhas pernas e apoiando as mãos no chão. Deixei as emoções tomarem conta do meu ser, completamente humano. Me sentia traída, irritada, assustada, mas os pensamentos que me mantinham assim, era o sofrimento que minha irmã poderia estar sentindo, que deveriam ser dez vezes piores do que os meus, isso se ela não estivesse com nenhuma dor física. O que era a ideia que mais me apavorava.

Quando ia levantar, meus olhos pararam e se fixaram naqueles pares de sapatos impecáveis à minha frente, parados. Fui subindo aos poucos, encarando cada parte do corpo dele. Eu não o conhecia. O que um estranho estava fazendo na minha casa?

Aos poucos, cheguei ao rosto. Pálido e fino, com os olhos castanhos escuros, quase negros, me analisando.

– Quem é você? – perguntei preocupada, me afastando um pouco. – Como conseguiu entrar aqui?

– Calma. – o homem comentou, se aproximando de mim. – Eu entrei porque a porta estava aberta senhorita Charllote.

– Como sabe meu nome?

As perguntas não se acabavam em minha cabeça, e a cada passo que dava para trás, ele dava um jeito de ir para frente. Tava na cara que aquele sujeito esquisito estava querendo diminuir toda, e qualquer, distância entre nós. Inferno.

– Você pergunta demais. – ele disse, se abaixando e pegando meu rosto. – Isso me aborrece.

– O que? Mas você tá fincando louco é? Quem é você? Olha, eu não vou perguntar de novo hein cara!

Tentei intimida-lo, mas sem sucesso. Ele parecia ser muito do tipo excêntrico, com lá suas peculiaridades. Mas ele teve a ousadia de se aproximar ainda mais de mim, deixando que eu analisasse o local que eu tanto queria, sua boca. Minhas suspeitas foram confirmadas quando olhei diretamente para aqueles dois caninos pontiagudos e branquinhos se aproximando de mim a cada centímetro.

– Vampiro? – falei alto, afastando minha cabeça ao máximo.

Ele parou no mesmo momento em que me ouviu falar e se afastou um pouco, me deixando incrivelmente confortável com aquele espaço monstro que ele havia deixado, enquanto voltava a ficar de pé, indo de um lado para o outro. Parecia nervoso.

– Ele não me avisou nada! – berrou.

– Ele quem?

– Não me disse que você sabia do segredo!

– Mas que segredo? Que você é um vampiro? Isso não é novidade pra mim, vampiros não são, pelo menos. – comentei um pouco pensativa.

– Calada!

– Olha como fala comigo rapaz! – berrei de volta, me levantando.

Estava prestes a me aproximar dele, quando, no nada, fora bruscamente arremessado escada abaixo, mostrando a figura de um outro vampiro. Este conhecido e bem aborrecido, por sinal.

– Francis!

– Eu mandei esse idiota vir te vigiar e não ficar de papo furado com você. – ele comentou emburrado, com os braços cruzados.

– Era com você mesmo que eu queria falar!

Disse igualmente irritada, dando de ombros para o que ele havia falado há pouco.

– Sim, o que é? – perguntou cordialmente, tendo sua atenção em mim agora.

– Porque fez isso com a minha irmã? Temos um trato e pelo que eu saiba ainda não descumpri ele! Noite passada você não tomou o meu sangue porque não quis, sabia disso? Eu não me lembro de ter recusado.

– O que? – ele retrucou, confuso – eu não fiz nada disso. Não sei do que está falando.

– Saber do que estou falando você sabe, ou não teria mandando ninguém aqui para me vigiar.

Francis ficou quieto por algum tempo, sem expressão nenhuma, até vira-se de costas para mim. Enquanto isso o homem que esteve comigo antes subia, se arrastando, pela escada.

– Eu não fiz isso com a sua irmã. E nem sabe o motivo pelo qual mandei ele vir te vigiar, quem pensa que está acusando?

– Tá, se não foi você, então quem foi esperteza? Porque, segundo os depoimentos dos professores, eles não se lembram disso, e você mesmo já me contou que os vampiros podem manipular suas vitimas ou pessoas envolvidas na situação, apagar a memoria delas e blá. Agora vai me dizer que estou inventando tudo isso também?

– Não. Eu não vou lhe contrariar, mas agora que me deu este detalhe, sei bem quem pode ter pego sua irmã. – ele comentou por fim. – Quer ir busca-la?

– Mas é claro que eu quero, que pergunta! A onde ela está?

– Não é tão simples assim pequena Lotty, vamos com calma. – ele respondeu divertido, com um sorriso sádico nos lábios. – Terei o maior prazer em lhe ajudar com esse proposito, mas sabe que irá me dever mais do que agora.. – após uma pequena pausa, enquanto ele alargava o sorriso, ele completou. - ..tem certeza?

– E por acaso eu tenho escolha? – respondi derrotada, sem pensar muito. – Vamos, você vai me explicando no caminho.

Respondi rapidamente e sai andando, indo até a escada onde o outro estava, já de pé. Se eu fosse rápido, ainda daria tempo de não processar a ideia de quase estar me tornando a escrava pessoal dele, ai eu não desistiria da ideia, e possivelmente quando cogitasse desistir, já seria tarde demais para isso e é minha irmã que está em jogo, não uma roupa nova de grife.

– Tola corajosa. – Francis comentou ao pé do meu ouvido, com uma das mãos nos meus ombros.

O vampiro chantagista passou por mim, ainda com o sorriso vívido em seu rosto e desceu as escadas na frente. Agora, porque eu ainda estava com um mau pressentimento sobre este sorriso mortal nos lábios dele?

– Vincent.

– Ahn? – perguntei distraída, voltando à atenção ao outro vampiro, ao meu lado.

– É o meu nome. – ele respondeu amavél.

Olhei para baixo, vendo a mão dele estendida e um pequeno sorriso amigável formado em seus lábios e enquanto esperava uma resposta. Fiquei a observar a figura que já tinha começado a se tornar conhecida e pude perceber que suas expressões estavam mais suaves, como a de alguém normal, e não um insano como parecia minutos atrás.

Demorei, mas levantei a mão e peguei a dele, apertando com toda a força que tinha, para não parecer uma fracote. O que não adiantou muito, a força dele era muito maior do que a minha e soltou rápido minha mão, para não me machucar acidentalmente.

– O meu você já sabe. Uma pena que fomos apresentados assim, de forma tão

– Estranha? - ele interrompeu.

– Isso! – berrei alegre.

– Isso o que? – Francis berrou lá debaixo – Você ficou me enchendo o saco até agora para irmos em busca da sua irmã o mais rápido possível e me deixou plantado aqui embaixo enquanto fala com o inútil do Vincent.

– Eu juro – comecei, apertando as mãos, enquanto olhava para Francis lá embaixo. –se eu tivesse o tanto de força que você tem, eu já tinha dado um murro na fuça desse infeliz.

Vincent se limitou a rir de modo reservado me seguindo escada abaixo. É obvio que os dois podiam me ouvir praguejar e falar todos os tipos de palavrões que eu conhecia. Claro! Estava estressada e ele todo animado, como se fosse uma caçada.

– Vamos fazer uma pequena caçada hoje. – ele comentou animado.

Me matem. Por favor, me matem!

Não tiro mais conclusões precipitadas e muito menos saio com vampiros ao final da tarde. Isso é ridículo. Suspirei e os segui até lá fora, olhando rapidamente para o céu. As nuvens cobriam o pouco da lua que já aparecia de um lado, e do outro, um pedaço do sol, que já se escondia no horizonte.

Os dois pareciam igualmente animados, cada um de sua maneira. Vincent estava se guardando muito e isso eu podia perceber, como se estivesse controlado suas vontades e desejos, que, diga-se de passagem, em um vampiro deve ser muito forte. É praticamente o que move esses mortos vivos. E Francis ainda se mantinha imponente e com aquele sorriso vitorioso, enquanto dava os últimos passos até o denso bosque, que ficava na frente da minha casa.

Finalmente no local sugerido por ele, para que ninguém visse, Francis começou a me contar alguns detalhes importantes.

– Se fosse um vampiro que tivesse feito isso com sua irmã, provavelmente ela estaria morta agora, mas eu consigo senti-la e não me parece que ela está muito longe. – ele começou.

– Senti-la? Explique melhor. – disse de modo sarcástico, cruzando os braços enquanto me apoiava numa das enormes arvores ali perto.

– Você não conta nada mesmo para ela hein? – Vincent comentou calmo, se aproximando de mim.

– Cale-se! – Francis rebateu nervoso, fazendo um movimento com a mão que levou o pobre coitado para longe de mim novamente.

– Dá pra parar de fazer isso? É irritante o modo como trata ele!

– E isso por acaso é da sua conta? – rebateu rápido, como se fosse obvio. – Estamos aqui para falar da sua irmã e não de como eu trato um servo.

– Um...

– Sem mais perguntas. – ele advertiu bem impaciente.

Me mantive calada durante alguns segundos, até ele se virar e me encarar novamente, retomando o assunto.

– O que irá lhe preocupar é isso. Que estou sentindo o cheiro do sangue de sua irmã, ainda fresco, vindo de algum lugar para este lado do bosque. – apontou para o lado oeste. – E foi por isso que vim lhe ver, porque coisa boa não seria. Mas antes de vir atrás de você, tomei a liberdade de investigar algumas coisas que aconteceram durante estes dias na cidade e minhas suspeitas foram confirmadas.

Francis parecia aborrecido por alguma razão. Parece que mexer com crianças não era algo que ele gostava em particular. De braços cruzados e agora com os olhos fechados e bem pensativo, ele completava sua teoria para mim.

– Quatro crianças estão desaparecidas, isso sem contar sua irmã. Todas da mesma escola na verdade.

– De acordo com a ficha escolar que analisei – Vincent comentou, agora ao meu lado, também de braços cruzados, falando serio para mim.

– Enfim, as pessoas que estão fazendo isso, por azar, pegaram sua irmã e agora irão se dar muito mal. Mais alguma pergunta?

– Como explica o fato dos professores não se lembrarem muito disso? Humanos não confundem a cabeça de outros humanos assim. Não dessa forma.

– Ela é boa. – Vincent comentou aleatoriamente, apontando para mim, falando para Francis.

No mesmo momento Francis abriu os olhos, mostrando-os num carmim brilhante, vidrados em Vincent que logo se afastou alguns passos de mim e levantou as mãos, como se não quisesse ser jogado para longe novamente. Não demorou muito para aqueles olhos assustadores se virarem poucos centímetros até mim, me analisando por entre a franja negra que cobria parcialmente os olhos dele.

– Alguns humanos conhecem métodos mais antigos, como os da hipnose. Charlotte.. você já ouviu falar num método muito usado na África pelos antigos moradores, que pegavam os mortos para fazerem de escravos?

A pergunta dele me arrepiou todinha e meu coração acelerou. O que arrancou novamente um sorriso sádico dos lábios daquele vampiro.

– Isso mesmo que você está pensando. – ele tornou a falar, se aproximando de mim e me rodeando, ficando logo atrás, falando em meu ouvido – Zumbis.

– NÃO! – berrei com descontrole, dando um pulo e me virando para encara-lo – Você tá querendo me pregar uma peça não é? Como pode brincar numa hora dessas Francis? Para com isso!

– Não estou brincando. – ele comentou inocente, fingindo. – São. Ou vai me dizer que você não lê jornais?

Francis levantou um jornal que estava em suas mãos na minha direção e com uma lanterna, a iluminou levemente. Ali, na primeira manchete da capa, dizia que três túmulos tinham sido revirados algumas noites atrás. Aquilo definitivamente me arrepiou toda.

– Isso foi um dia antes dos desaparecimentos. – ele continuou, guardando o jornal e me entregando a lanterna, já que agora estava escuro demais para humanos enxergarem. – E me parece que a criação dos escravos foi um sucesso.

– Ótimo! Agora vai me dizer que teremos que matar zumbis até chegar em quem fez isso?

– “Teremos”? – ele me perguntou irônico – Não me lembro de ter dito que você vai junto.

– Você me trouxe até aqui para me levar de volta em casa? – respondi perplexa.

– Acho que você está entendendo errado as coisas aqui, minha querida. – ele começou a explicar, novamente, como se eu fosse uma retardada. – Charlottinha, querida, eu lhe trouxe aqui para estarmos num ambiente mais confortável para conversa. Quem disse que vou arriscar a minha humana de sangue? Você usará a lanterna que lhe dei nas mãos para voltar em segurança para casa, enquanto eu e meu querido Vincent vamos ao encontro dos Zumbis e da sua irmã.

Naquele momento me sentia a maior de todas as inúteis e rejeitadas do planeta. Além de ter que voltar sozinha para casa nesse breu, ele estava claramente dizendo que eu não sirvo para nada. É isso mesmo? Olha, se eu pudesse, mas se eu pudesse mesmo, eu faria uma greve de sangue ou eu mesma me mataria, apenas para ver lá de cima o desespero desse vampiro imbecil, idiota, chantagista, golpista, esquisito...

– Já terminou o xingamento mental? – ele comentou divertido.

– Eu já te matei umas cinquenta vezes na minha mente. – rebati, irritada.

– De que formas?

– Nem queira imaginar.

– Não sabia que você conhecia mais do que duas formas de matar alguém Charlotte, interessante. Assunto para nossa próxima conversa.

Ele estava sendo claramente irônico e faltava apenas alguns nervos a mais se estourarem na minha cabeça para enlouquecer de vez e pular no pescoço dele. Mas minha irmã me veio na cabeça novamente e me acalmei de imediato.

– Vai logo. – respondi, por fim.

– Boa menina. É assim que se fala Charlotte, quando chegar na sua casa com sua irmã, me lembre de lhe dar um biscoitinho, sim?

– Au au. – respondi sem muito animo, me virando de costas para ele.

– Até mais Charlotte, foi um prazer lhe conhecer. – Vincent disse de modo educado, se juntando a Francis.

Comecei a andar na direção que viemos, com a lanterna iluminando parte do caminho. Mesmo que estivesse com medo de encontrar algum inseto nojento ou animal de pequeno porte, estava aliviada por ter alguém realmente apto na busca pela minha irmã. Os policiais são que nem eu, eles jamais a achariam sem um empurrãozinho do “sobrenatural” que tanto Charlie fala.

Depois de meio caminho andado me senti exausta. É, como eu fui carregada por Vincent a maior parte do caminho, não sei o quanto eles andaram, até que ponto do bosque vieram, mas foi bem longe, pelo que posso sentir.

Ah, quer saber? Que se dane. Estou indo atrás deles, agora mesmo.

Dei meia volta e voltei todo o caminho que tinha feito, era fácil, já que só tinha andado em linha reta até agora. Fui dar novamente na clareira que estávamos anteriormente e passei a caminhar para o lado que eu considerava oeste.

Um barulho, como um zumbido, começou fraco a diante e apertei o passo para esta direção, caminhando com cuidado para não tropeçar, o que geralmente faço com muita frequência. O zumbido foi ficando cada vez mais forte, até eu não ter mais coragem para avançar. Abaixei a luz da lanterna, para me manter protegida e respirei fundo, contando até três e iluminando o que estava provocando o som.

Quando a luz iluminou o local, era uma arvore que estava a minha frente, não havia nada ali, a não ser um tronco grande e gordo, com varias folhas em volta. Uffa, por um instante cogitei mesmo a possibilidade do que Francis havia me falado momentos atrás.

Mas o instante durou pouco, quando senti uma mão espalmar minhas costas e me tacar no chão com tudo. Assustada, assim que cai me virei e iluminei o individuo, que era bem maior do que eu e parecia se camuflar nas cores escuras que a mata estava por causa da noite. Ao passar a luz da lanterna para o rosto, mostrando os olhos completamente brancos, e a cara toda cheia de protuberâncias e com a pele caindo na área das bochechas, não aguentei e soltei um berro, deixando cai-la no momento em que levantei e comecei a correr, sem ver a direção.

Aquelas coisas podiam mesmo existir? O que estava me seguindo, era realmente um zumbi? Bom, eu não tinha mais tempo de pensar se era real ou não, o fato é, se essa coisa me pegar eu estaria literalmente morta. Continuei correndo, porém agora, gritando o nome da única pessoa que eu sabia que podia me ouvir.

– Francis! Francis, socorro!

Não aguentava mais. Era impressionante a velocidade que aquela coisa semimorta conseguia me seguir e mesmo sendo mais lento do que eu, não deixava de seguir o meu rastro a poucos passos atrás de mim.

Durante este pensamento o barulho ficou bem fraco e parecia mais longe, parei de correr na mesma hora, olhando para trás, me apoiando numa arvore. Mas era inútil, eu não enxergava nada a não ser o mato próximo de mim e não dava para saber se ele havia me perdido ou

– Eu deveria saber que você faria isso.

Escutei a voz de Francis, juntamente com a mão forte dele, segurando o meu braço e me puxando para outro lado da mata.

– Aquele negocio que tava me perseguindo era mesmo um Zumbi? – perguntei curiosa, enquanto era puxada brutalmente por ele.

– A parte de voltar para casa, você não entendeu nada não é mesmo? – ele continuou, visivelmente irritado. – Charlotte, entende o quão irritado estou, já que agora não posso mais deixa-la voltar para casa em segurança?

– Então vai me levar junto? – perguntei irônica. – Eu ganhei?

Ele me soltou e se virou, me pegando no colo, enquanto me encarava sem expressão, como se não quisesse admitir, mas estava claro: Minha teimosia tinha finalmente o feito perder desta vez e ele teria que fazer aquilo que eu queria.

– Só tente não chamar mais muita atenção, estamos quase entrando na casa.

– Quase? Então descobriram quem é.

– Quem, não exatamente. Mas sabemos que estão mantendo as crianças na casa que existe na propriedade. Se é apenas um ou mais, vamos descobrir agora.

– Dentro do bosque? A propriedade dos Sanders? – perguntei perplexa.

– Os conhece?

– Ah, agora está interessado em mim né?

– Particularmente interessado nessa informação que você tem, e vai logo, estamos quase chegando. – ele advertiu.

– Eles eram uma família tradicional daqui. os antepassados que vieram e construiram a empresa textil que agora pertencem a eles. Na verdade não sei muito, sei disse porque são amigos dos meus pais desde que eu era pequena. Mas pelo que eu saiba a familia se mudou para outro estado. Estão ampliando os negócios ou algo assim. Não moram aqui a alguns meses.

– Hm. Isso não ajudou em nada. Não consigo ainda entender o porque tem alguém raptando crianças tão descaradamente.

– Está preocupado com elas Francis?

– Não. O problema é que eu tenho que me envolver nessa historia, porque sua irmã está envolvida, e tristeza, dor, irritação, stress e outros fatores negativos diminuem a qualidade do seu sangue. Isso o deixa menos saboroso, não posso me arriscar.

– Quando vai admitir que se importa?

– Está realmente falando serio sobre isso?

Parecia que minhas afirmações o entediavam, mas era mentira. Mesmo sendo pouco tempo, pude perceber que Francis tinha um lado que odiava mostrar, que é o lado que evidência que ele se importa sim, com algumas questões dos humanos que ele alega não ter a mínima diferença para ele. E claro, não duvido nada que isso venha de algo que aconteceu a ele quando ou era humano ou quando havia acabado de se transformar.

Paramos no topo, ainda um pouco longe da casa, a onde Vincent vinha andando calmamente. Pude notar as mãos cheias de sangue.

– Então você terminou sem mim? – Francis perguntou um pouco desapontado.

– Achei que seria melhor terminar logo com isso, assim nos tomaria menos tempo.

– Do que está falando?

Era a primeira vez que via aquela expressão de desentendido na face de Francis, que parecia que sabia o que ia ouvir, porém ainda estava à espera de uma resposta.

– Ué, matei os zumbis e os três que estavam fazendo o cativeiro, como o planejado. – ele comentou como se fosse obvio. – As crianças estão no porão ainda, porém, só duas estão vivas e Charlotte, fique feliz, uma delas é sua irmã, apenas com ferimentos nos braços e pernas que podem ser cuidados e

Francis não o deixou terminar de falar, o pegando pelo pescoço e arremessando longe. O mais longe que eu tinha visto até então. O gesto me assustou, e gelei.

– Idiota! – ele berrou todo insatisfeito – Como ele é idiota!

– Mas porque tanta raiva? – perguntei em voz alta, enquanto ia na direção da casa, pera pegar minha irmã o mais rápido possível.

– A onde pensa que vai?

Com uma rapidez incrível, Francis já estava na minha frente, me segurando firmemente pelos dois ombros. Me assustei, já que os olhos dele brilhavam e isso significava que ele estava fora do controle, com vontade de sangue. O desejo de matar. Eu podia sentir apenas pelo jeito como ele olhava para mim e me apertava, sem se importar que sua força me despedaçasse.

– Buscar minha irmã, a onde mais? – falei o obvio e tentei me soltar, mas foi inútil. – Francis, me solta, além de estar me machucando, você está me atrapalhando.

– Você. – ele comentou irritado. – Você atrapalhou tudo, a culpa é sua, sua infeliz.

– Mas o que--

Sinceramente não sabia como formular uma pergunta naquele momento, ele não me soltava de jeito nenhum, quanto mais eu me rebatia, mais ele me apertava. O tanto que ele havia me ajudado até agora, era o tanto que ele estava atrapalhando agora.

– Eu sou sua humana de sangue se lembra? – comecei a apelar. – Você não quer fazer nada comigo. Não pode.

O sorriso sádico voltou aos lábios dele, enquanto ele abaixava a cabeça, se apoiando próximo ao meu ombro, um pouco abaixo e começou a rir de um modo sinistro.

– Você não sabe de nada. - as palavras sairam amargas e quentes de sua boca.

E foram essas as palavras finais dele antes de empurrar rapidamente minha cabeça para o lado e enfincar com força as presas no meu pescoço, como se realmente quisesse me dilacerar. Com a dor aguda, soltei um berro alto e apertei o braço dele, enfiando minhas unhas em sua pele branca e macia, como se meu corpo estivesse tentando lutar contra um predador, mas logo cedi, apagando aos poucos.

Dessa vez eu realmente pensei que ia morrer, vê-lo daquele modo todo descontrolado, e assim que meus braços cederam, senti a escuridão me tomar. E não me lembro de mais nada.

Uma luz entrava em meus olhos, me machucando muito, me obrigando a abri-los.

– Ela está acordando!

Escutei uma voz abafada falar próxima a mim.

Aos poucos fui conseguindo enxergar melhor, reconhecendo o rosto de meus pais, olhando preocupados para mim. Eu estava no hospital.

– Charlotte, minha filha, como você está? – mamãe veio toda preocupada, segurando minha mão.

– Alice. – falei baixo, meio tonta - Cadê ela?

– Está bem meu amor, melhor do que você.

– Mas eu estou bem mãe. Porque estou numa cama de hospital? – perguntei ainda bem atordoada, tentando me levantar.

Mas os médicos me impediram rapidamente.

A conversa continuou por pouco tempo, até eu fechar os olhos novamente. Escutei algo como “muita perda de sangue” e “a Alice está bem, não se preocupe.”.

O que me preocupava agora, não era o festival e nem a minha irmã. Eram Francis e o porquê ele tinha feito aquilo comigo.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!