Imprevisível **Em processo de reescrita** escrita por Jéssica Aurich


Capítulo 1
Capítulo 1 - Continue a nadar


Notas iniciais do capítulo

Caro leitor,

Tudo bem com você? Como está lidando com essa quarentena?

Apareço aqui depois de um longo hiatus para avisar que não, não estive parada todo esse tempo, e não esqueci de você. Acontece que "Imprevisível" passou por um processo de leitura beta, no qual recebi algumas críticas, dicas e ideias para deixar a história ainda melhor.

Assim, comecei o processo de reescrita da história e, apesar de ter tentado finalizar a primeira versão, não me senti confortável em continuar a escrever uma versão que não representava tudo o que eu queria passar com essa história.

Atualmente, já finalizei o esqueleto do livro e planejei todos os capítulos, e reescrevi, ao todo, 08 capítulos. Se tudo seguir conforme o planejado, ainda este ano postarei a nova versão da história aqui (algo que só farei com a história completa, para não deixar vocês em outro hiatus). Nesse meio tempo, arquivei todos os capítulos antigos para não gerar falsas expectativas em ninguém.

Qualquer novidade, corro aqui para avisar vocês! Peço desculpas por qualquer coisa!

Um abraço,

Jéssica



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Isabella

— Essa foi a última foto, acabamos aqui!

Toda a equipe bateu palmas, comemorando o final de mais um trabalho. Aquela não era a primeira vez que eu trabalhava com a marca Florencia, então já conhecia aquelas pessoas e me sentia confortável com elas, facilitando e muito o processo.

Fui para o camarim, onde os outros modelos já trocavam de roupa e limpavam as maquiagens artísticas do rosto. Todos conversavam de forma entusiasmada, e tinha um motivo – a coleção de fim de ano da Florencia seria lançada em todo o país, e não somente na Califórnia como das outras vezes, por esse motivo as fotos estavam sendo feitas mais cedo, em outubro. Para muitos ali, que eram novatos no mundo da moda, seria uma oportunidade de ouro.

Sentei em frente a um espelho e comecei a tirar minha maquiagem, quando minha agente entrou correndo na salinha. — Isabella, preciso falar com você. — Eu levantei e a segui para o corredor, sem discutir, já que o rosto dela estampava urgência.

— Meu bem, você precisa ser forte. Enquanto você estava ocupada com as fotos ligaram para o seu celular, de Forks. — Senti meu corpo inteiro ficar tenso. — Sua família sofreu um acidente. Seu irmão está passando por uma cirurgia de risco, e sua cunhada... infelizmente... droga, não sei nem como dizer isso.

 Eu desabei de joelhos no chão, a cabeça rodando. Mal ouvi Alice pedir para alguém trazer uma água para mim, era como se tudo ao meu redor estivesse abafado, fosse um mundo a parte.

Fui puxada de volta a realidade quando Alice soltou: — Meu bem, você precisa ser forte. Quem ligou foi uma assistente social. Aparentemente, sua sobrinha está sob os cuidados dela e eles precisam que você vá até lá buscar a menina. — Olhei no fundo dos seus olhos, tentando encontrar a graça da situação. Porque aquilo só podia ser uma piada. — Eu já preparei sua mala e consegui uma vaga no primeiro avião que encontrei. Vamos, eu ajudo você a se arrumar.

Os acontecimentos seguintes passaram como flashes em minha mente. Alice me ajudando com um banho, aeroporto, avião, conexão. Eu não parei para processar nada, de fato, só ficava repetindo as palavras de Alice na minha mente. Estava agindo em piloto automático. Antes que percebesse, estava em Forks, dentro no escritório da assistente social.

— Isabella, preciso que assine esses documentos antes de levar a criança — disse a mulher, em um tom irritantemente calmo.

Olhei para todos os papeis, tentando absorver tudo o que estava escrito. Uma das primeiras coisas que minha agente me ensinou: jamais assine nada sem ler antes. Os documentos tinham a assinatura da minha cunhada e do meu irmão e eram bem claros: caso qualquer coisa acontecesse com eles, a guarda de Renesmee seria transferida para mim. Eu nem sabia que isso era possível! Tudo o que eu precisava fazer era concordar e assumir a responsabilidade.

— Nós vamos fazer algumas visitas aleatórias, para ter certeza de que está tudo bem com a criança. Você vai ficar na casa do seu irmão, certo?

— Acho... que sim? — Eu mal tinha pisado na cidade. Não tinha sequer racionalizado como as coisas ocorreriam dali para frente.

— Se aceita um conselho, é a melhor decisão. — Ela colocou os papéis de lado e segurou minhas mãos, enquanto olhava diretamente em meus olhos. — Sei que não é fácil. Com seu irmão na situação que se encontra, e sua cunhada... Eu sinto muito, Isabella. Mas no momento, a melhor coisa a se fazer é se concentrar no bem-estar da sua sobrinha. Ela é apenas uma criança e precisa de estabilidade. Manter sua rotina, casa, escola... Vai ajudar muito. Seja forte.

Acenei com a cabeça, como se compreendesse tudo o que ela estava dizendo. A verdade é que eu não conhecia a rotina da Renesmee, mal via a menina nos natais, quando a família se reunia, e algumas visitas esporádicas quando eu conseguia uma folga. Não que eu não conversasse com eles sempre através do Skype, mas não era o suficiente para saber do que uma criança tão pequena precisava.

— Eu vou trazer a Renesmee.

— Você... — Suspirei e organizei meus pensamentos antes de falar. — Eu ainda não visitei meu irmão. Não sei em que estado ele se encontra, preciso ir até o hospital. E não tenho ninguém aqui para tomar conta da Nessie por mim.

— Ela pode ficar aqui um pouco, enquanto você vai ao hospital.

— Obrigada.

Não precisei ligar para o táxi, pois o hospital era ali perto, chegaria lá tranquilamente andando.

— Com licença — falei com a recepcionista. — Meu irmão, ele... Emmett Swan. Preciso saber do meu irmão.

A mulher digitou no computador e vi seus olhos arregalarem com algo que viu na tela. — Você deve ser a Isabella. Seu nome estava na ficha dele como contato de emergência. O médico responsável já está aguardando.

A recepcionista indicou uma sala para aguardar um pouco. Eu já tinha visto seriados médicos o suficiente para saber que aquilo significava notícias ruins – as notícias boas eles poderiam dar na recepção sem esperar um escândalo da família do paciente. Não demorou muito para um homem velho, de jaleco branco, entrar.

— Eu sou o dr. Tompson, estou cuidando do caso do seu irmão. – Ele me cumprimentou com um aperto de mão. — Por que não se senta?

— Desculpa por ser grossa, doutor, mas preciso que vá direto ao ponto: como está o meu irmão?

Ele suspirou antes de responder. — Emmett passou por uma cirurgia longa, não vou entrar em termos técnicos aqui, a menos que queira, mas a situação dele era bem grave. A cirurgia foi um sucesso, mas infelizmente seu irmão não acordou.

— Como assim?

— Emmett está em coma. Não há motivos, do ponto de vista físico, para ele ter entrado nesse estado, mas infelizmente, nós médicos não temos respostas para tudo. A expectativa é que, conforme seu corpo se recupere, ele volte da inconsciência, porém não posso lhe dar nenhuma certeza. Eu sinto muito.

Eu queria gritar com aquele médico, dizer que ele é péssimo, que havia colocado meu irmão em uma cama para definhar, só que lá no fundo eu sabia, nada daquilo era verdade. Meu irmão sofreu um acidente de carro com a esposa, não era culpa de ninguém. A única coisa realmente boa naquela cidade era a medicina, eu sabia que todos haviam feito o possível por Emmett. Era como uma ironia do acaso.

O médico perguntou se eu queria ver meu irmão, que ainda estava na UTI, mas eu não estava preparada para aquilo. Saí o mais rápido que pude daquele hospital e corri para buscar minha sobrinha.

Logo que me viu, a menininha soltou a mão da assistente social e correu até mim, para me dar um abraço apertado.

— Tia Bel! Você tá aqui!

Quase desabei novamente ao ouvir aquele “tia Bel”. Quando era só um bebê e estava aprendendo a falar, Nessie não conseguia pronunciar o meu nome, então só me chamava de Bel. Ela já falava tudo direitinho, mas o apelido fofo ficou.

— É claro que estou. Vou levar você para sua casa.

Eu chamei um táxi e fui observando a cidade passar ao som da tagarelice da Renesmee. Forks foi a cidade onde meu irmão me criou, depois que nossos pais morreram. Não mudou nada no tempo que estive fora – ainda era um lugarzinho horroroso, e podia apostar que os moradores ainda eram extremamente venenosos.

— ... Eu não queria ir com aquela mulher estranha. — Voltei a prestar atenção no que a Nessie falava. — Mas aí a minha professora falou que ela era boazinha e eu tinha que ir com ela. Eu queria ir com minha mamãe, ela que me busca na escola todo dia, mas a mamãe não apareceu.

O táxi estacionou em frente a casa do meu irmão. Ele e Rosalie compraram aquele lugar quando a Nessie nasceu – eles queriam que a filha fosse criada em uma casa com um grande quintal. Paguei ao taxista e entrei na casa junto com minha sobrinha, usando a chave reserva que ficava escondida embaixo do tapete da varanda.

Renesmee entrou correndo, seguindo direto pra cozinha. — Mamãe, tô com fome! — gritou. — Ué, cadê a mamãe? — Ela me encarou, com aqueles grandes olhos cor de chocolate.

Aquilo não era justo. Por que eu tinha que explicar para uma criança tão pequena que os pais não estavam ali? Que a mãe nunca mais estaria ali? Que o pai estava preso em uma cama de hospital? Logo eu, que nunca tive muita delicadeza com as palavras? Eu sequer tive tempo de pesquisar na internet sobre como fazer aquilo.

Peguei a menina pela mão e sentei no sofá da sala, com ela no meu colo. Decidi seguir pelo caminho que melhor conhecia: a sinceridade.

— Princesa, a gente precisa conversar. — Coloquei meu cabelo atrás da orelha e respirei fundo. — Seus pais sofreram um acidente. — Não tinha como amenizar uma notícia daquelas. — Seu pai está no hospital. Como ele ficou muito machucado, ele vai dormir por um tempo, até o corpo dele se recuperar.

— O papai tá dodói? Vai ser que nem a Bela adormecida?

— Não, princesa. O seu pai não vai acordar com um beijo de amor verdadeiro, ele vai dormir até sarar. Pode demorar um pouquinho. E a sua mãe...

— Cadê a mamãe? — Ela mordeu a boca e me olhou por debaixo daqueles cílios grossos.

— Nessie, a sua mãe morreu. 

— O que é morreu? — Aquilo era uma verdadeira tortura, e ficava cada vez pior.

— Sabe como as crianças nascem, e vão crescendo? — Ela acenou com a cabeça. — Bom, um dia todo mundo fica bem velhinho e a vida termina, a pessoa morre.

— Mas a mamãe não é velhinha.

— Não, mas a vida dela terminou. — Revirei minha mente, tentando buscar auxílio em todo o meu conhecimento de desenhos animados. — Você se lembra do filme do Nemo? No começo do filme, a mãe do Nemo morre, e quem cuida dele é o pai.

— Um tubarão comeu minha mamãe? — perguntou, seus olhos enchendo de lágrimas.

— Não, mas sua mãe não está mais aqui. Ela morreu, como a mãe do Nemo. — Seu choro se tornou ainda mais forte. Eu era um desastre, estava tudo dando errado. — Mas você não está sozinha. Eu te amo muito, e vou cuidar de você, tá certo?

— Eu quero minha mamãe.

Eu não aguentei, todo o estresse e correria me atingiu de uma vez, e minha ficha finalmente caiu. Acabei em lágrimas junto com a Nessie, deixando a tristeza me dominar enquanto abraçava minha sobrinha com força.


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