Confusão em Dose Tripla escrita por Lelly Everllark


Capítulo 9
Vamos ao parque?


Notas iniciais do capítulo

Oi meus amores!
Dessa vez voltei super rápido! Estava animada esse fim de semana então saiu capítulo novo!
BOA LEITURA :3



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Eu estava morrendo de tédio assim como as crianças comigo. Charlotte espalhada no sofá até parecia interessada no filme da Barbie que passava na televisão, mas Seth estava claramente sem real interesse em ler a revistinha em suas mãos. O garoto já tinha sentado no sofá, na poltrona, agora estava no tapete e continuava com a mesma revistinha nas mãos, várias posições, mas nenhum progresso na leitura.

  Eram 15h00m da tarde de uma terça feira e nenhum de nós tinha nada para fazer, Molly dormia em seu cercadinho e nem fazê-la rir para me distrair eu podia. Repassei o cronograma das crianças mais uma vez na cabeça e hoje o dia era livre, mas me lembrei também que eu tinha permissão para sair com eles, levantei do sofá de repente e atrai olhares, até Seth desviou os olhos do que lia para me encarar sem entender.

  - Vamos sair, o que acham? – convidei e no instante seguinte Lottie estava de pé.

  - Vamos!

  Seth me olhou desconfiado, mas dava para ver que tinha gostado da ideia.

  - Pra onde?

  - Eu sei que tem um parque aqui perto, a gente passa por ele todo dia indo para a escola. Podemos conhecer. Ou vocês já conhecem?

  - A tia Bri já levou a gente lá. Mas faz tempo – Charlotte diz ainda sorrindo. – Você vai levar a gente também, Livy?

  - Vou. Vocês querem ir? Eu não conheço o parque. Que tal me mostrarem?

  - Sim! Vamos mostrar pra ela, Seth! Por favor, vamos! – ela foi até o irmão e mesmo que ele não tivesse gostado da ideia, tenho certeza que cederia só para vê-la feliz.

  - Vamos, vamos sim. Agora? – Seth olhou pra mim e fiz que sim.

  - Sim. Mas vou precisar que me ajude. Pode olhar Molly? Ela está dormindo e tenho que pegar seu carrinho de bebê e algumas coisas para podermos passar algumas horas fora. Lottie tem que colocar um short para poder brincar mais à vontade – digo olhando para a saia da garotinha que já está toda torta e para seu cabelo solto e bagunçado, como serei eu mesma a lavá-lo, melhor prendê-lo. – Pode me ajudar, Seth? Vigiar sua irmã alguns minutos?

  - Não demora – ele resmunga voltando a sua revista e sorrio, ele assim como o pai parece não conseguir ser verdadeiramente honesto nem com suas palavras muito menos com o que sente. Às vezes quero apenas abraçar Seth, às vezes quero sacudi-lo pelos ombros, talvez eu também não seja assim tão honesta com o que sinto.

  Suspiro pegando Charlotte pela mão e nós subimos escada acima, convencê-la a se trocar e amarrar o cabelo é simples e fácil por que a pequena está quase quicando no lugar de animação para sair e me sinto mal de não ter pensando em nada assim antes, dar uma volta, pegar um ar, ver gente. Ah é, não fiz nada disso por que estava tentando sobrevive a Seth primeiro.

  - Agora meu cabelo igual o seu, Livy – Charlotte balança o rabo de cavalo e a aperto em um abraço. Eu amava meu cabelo grande, mas às vezes ele incomodava demais então e mais vivia com ele amarrado que solto. Soltei Lottie que estava lutando para sair dos meus braços e pedi que a pequena fosse comigo até o quarto de Molly e me ajudasse com a bolsa da irmã.

  Ela como a pequena princesa que é adorou a ideia. Nós só íamos ao parque a poucos minutos de casa, mas com a experiência de ficar meia hora dentro de um carro esperando Seth e Lottie com Molly eu sabia que mesmo num curto espaço de tempo muita coisa podia acontecer, principalmente com um bebê. Então era melhor levar ao menos uma mamadeira, um brinquedo e uma fralda de pano para limpar eventuais desastres. Peguei uma bolsa de bebê pequena na cômoda, havia outra maior, mas no momento não precisava de muito espaço, juntei o que achei que poderia precisar e desci com Charlotte e a bolsa, deixei ambas no sofá depois de verificar Seth e Molly que continuavam no mesmo lugar e subi outra vez para buscar o carrinho da bebê guardado no enorme armário no corredor. Descer com ele foi mais complicado, mas consegui.

  Assim que cheguei à sala, Seth e Charlotte levantaram, a pequena animada e ele fingindo uma indiferença que estava longe de sentir, ajeitei Molly ainda dormindo no carrinho e sorri para os outros dois de pé.

  - Só um minuto, tenho que pegar algumas coisas na cozinha, dois minutinhos e saímos – aviso e vou até lá sem dar tempo para que eles possam pensar em me responder.

  Não demora nem isso para estarmos finalmente prontos. É estranho e ao mesmo tempo divertido, a ideia de sair com eles é uma coisa nova, ser responsável por eles em um ambiente que não conheço? Isso vai ser novidade. Ruth está em casa hoje e quando sai ela estava cuidando da roupa suja, só a avisei onde estávamos indo por que se Ethan ligasse ela saberia dizer, caso contrário, ela não teria tanta sorte.

  Charlotte trouxe uma boneca consigo e Seth não quis trazer nada. Eles andam cada um de um lado do carrinho da irmã, alguns passos a minha frente, e a cena dos três é extremamente fofa. Sempre que vejo algo assim me pergunto coisas como, onde está a mãe deles? Por que os deixou? Ela ainda está viva? Não está? A verdade é que queria mesmo saber mais sobre eles, sobre todos eles. Principalmente a relação de Seth e Ethan, como será que chegou ao fato deles não conseguirem nem mesmo conversar numa mesa de jantar?

  Eu achei mesmo que os jantares que propus no último domingo resultariam em alguma coisa, ledo engano. Eu e Lottie continuamos sendo as únicas a conversar durante a refeição nos últimos dois dias, Ethan cumpriu sua palavra e veio para o jantar, mas nem ele nem Seth pareciam dispostos a começar uma conversa, eu tentei, puxei assunto, ri com Charlotte, mas eles ficam lá desconfortáveis e eu não sei mais o que fazer. Será que algum dos dois ia achar ruim se eu pegasse Seth e literalmente o jogasse no colo do pai? Pelo menos assim eles teriam algum assunto: a minha loucura.

  - Ali, Livy! Já vendo o parque! – Charlotte disse animada apontando mais adiante para as arvores e o parquinho. Ela não precisava fazer isso, os gritinhos animados das crianças nos impediam de errar o caminho.

  - Sim, mas nada de correr pelo amor de Deus – pedi empurrando o carrinho com uma mão só e segurando a mão de Charlotte com a outra. Olhei para Seth que encara o parque interessado. – Seth, se segure no carrinho da sua irmã e não solte por nada, Ok?

  - Eu não sou que nem a Lottie, não vou correr no meio da sua – ele reclama, mas dessa vez não me importo. Ele é uma criança e não consigo nem imaginar algo acontecendo a ele ou a qualquer uma das garotas.

  - Não me importo que não vá correr, só não solte, nem se afaste até chegarmos lá – ele faz menção em protestar, mas sou mais rápida. – Não me importo que seja mais velho ou qualquer coisa assim, você vai me obedecer e  ficar perto, ponto final.

  Seth me olha curioso e depois desvia os olhos fazendo um sim mudo com a cabeça. Eu disse alguma coisa estranha? Por que esse é o único motivo que tenho para ver Seth apenas se calar e concordar comigo. O que está acontecendo? É o fim do mundo e eu não sei?

  Atravessamos a rua, ambos ao meu lado e é só pisarmos na grama do parque que Charlotte larga minha mão e resolve percorrer correndo a distancia entre nós e o parquinho mais adiante onde duas garotinhas brincam na caixa de areia e um garotinho está descendo o escorregador. Seth olha para alguns garotos com uma bola mais distantes das crianças pequenas, não tenho certeza do que eles estão jogando, mas Seth parece interessado, ele os encara e depois se volta apara mim, não digo nada, poderia incentivá-lo a ir até lá, mas estou curiosa sobre seu próximo passo.

  - Eu vou até lá – ele comunica e apenas faço que sim sorrindo, mas Seth não faz menção nenhuma em se mexer. Sua reação me lembra um pouco o pai no domingo com Molly, só que não vou dizer isso a ele, por que talvez não goste. Ele os olha por mais uns segundo e por fim me encara mais uma vez. – Você acha que eu devia ir?

  - Com certeza – sorrio um pouco mais. – Vai lá, vou me sentar num banquinho aqui perto. Brinque bastante, vou ficar de olho em vocês.

  Ele não precisa de mais incentivo, corre até os garotos, parece reconhecer um deles, conversa, sorri e no minuto seguinte já está participando do jogo seja ele qual for. Charlotte já está numa brincadeira animada com as garotinhas da caixa de areia e só me resta empurrar o carrinho de Molly e me sentar num banquinho para olhá-los. Tem uma mulher dos cabelos castanhos curtos sentada no único banco que não está totalmente ocupado. Ela tem um carrinho de bebê ao seu lado e sorri olhando os meninos brincarem com a bola no jogo que Seth foi participar.

  - Posso me sentar? – peço, ela me olha ainda sorrindo e faz que sim. Ajeito-me no banco e coloco o carrinho de Molly ao meu lado, já, já a bebê acorda e vai ser à hora da mamadeira.

  - Uma garotinha? – a mulher ao meu lado pergunta vendo a bebê se remexer.

  - É, está é Molly.

  - É uma graça. Saudades de quando Willy era desse tamanho – ela aponta o carrinho ao seu lado e o garotinho dormindo nele é bem maior que Molly.

  - Ele acabou de completar dois anos. Quanto tempo tem a sua?

  - Ela não... Não é minha – me atrapalho gesticulando e a mulher me olha curiosa. Decido esclarecer. – Sou a babá. Ela tem três meses.

  - Ah! Você é a nova babá dos Price! – ela diz e sinto as bochechas corarem. Será que esse lance de “babás rotativas” é mesmo conhecido por todos?

  - Todo mundo sabe que lá naquela casa aparentemente não fica babá alguma?

  A mulher ri e faz que não.

  - Desculpa! Não quis te ofender, é que meu filho mais velho, Sean – ela aponta o garoto que tinha cumprimentado Seth no inicio da brincadeira. – É amigo de Seth. Então eu fico sabendo, para horror das fofoqueiras do meu prédio, das coisas antes de todo mundo.

  - Entendi. Mora aqui perto? – pergunto curiosa.

  - Do outro lado da rua. Ali – ela ponta o prédio alto e bonito. Era um bairro caro afinal, então os apartamentos eram mais bonitos do que os que eu conhecia. – Eu estou aqui falando e falando e não me apresentei. Sou Dayse.

  - Meu nome é Olivia. É um prazer Dayse – nos trocamos um aperto de mãos e um sorriso. – Como faz para dar conta? – pergunto depois de uns minutos de silêncio em que apenas olhamos as crianças brincarem.

  - Dar conta do quê? – Dayse pergunta confusa.

  - Duas crianças, uma casa, talvez um emprego – gesticulo exasperada e ela ri, eu costumo gesticular quando estou muito nervosa ou animada.

  - Normalmente se tem nove meses para se acostumar com a ideia de ser mãe. Eu não trabalho fora e depois de um tempo você está tão habituada a determinadas situações que sabe o que fazer, e, quando não sabe você finge, por que eles – ela aponta as crianças mais adiante. – Normalmente esperam que você saiba. É em tentativa e erro. Tentando.

  - Você faz parecer até fácil – reclamo e ela ri.

  - Primeira experiência? – ela olha para Molly e faço que sim sorrindo.

  - Primeira e assustadora experiência. Antes de uma semana atrás eu nem nunca tinha trocado uma fralda, daí do nada me deram três crianças para cuidar. Eu precisava do dinheiro, aceitei o desafio e cá estou.

  - Começo ruim?

  - Péssimo – fiz careta e ela sorriu. Willy chorou e ela pegou seu filho no colo. O garotinho era uma fofura, ela lhe deu um beijo barulhento na bochecha antes de remexer a bolsa ao seu lado e dar um biscoito ao pequeno que muito animado começou a comê-lo. - Ele é uma graça.

  - É o meu bebê – Dayse diz com o olhar mais amoroso que já vi e sorrio.

  Como deve ser a sensação de amar uma vida mais do que tudo? Desisto desses pensamentos e olho as crianças, Charlotte me vê e acena ainda na caixa de areia e sei que hoje seu banho será longo e vou tirar mais areia dela do que seria aconselhável, aceno de volta sorrindo, ela volta a sua brincadeira. Seth mais adiante corre com Sean e não me nota olhando-o, não notaria nem se quisesse, o rosto corado e sorriso fácil o faz ficar encantador e se pudesse escolher, desejaria que essa fosse sua única expressão. Ele é só uma criança, não devia ser alguém tão irônico e carrancudo, não mesmo.

  Depois de mais de meia hora de brincadeira em que Willy come quase metade do pacote de biscoito e Molly acorda e tenho que lhe dar mamadeira, Seth já está vermelho, suado e sujo, pra mim parece exatamente como um garoto de dez anos deve parecer. Estou terminando de fazer Molly arrotar quando Charlotte caminha em minha direção trazendo sua boneca, as duas precisam urgente de um banho.

  - Livy, com sede – ela avisa quando se aproxima, olha para Dayse e Willy com curiosidade, mas não diz nada. Seguro Molly com um braço e vasculho a bolsa da bebê atrás da garrafa de água que trouxe. Eu sabia que não demoraria a algum deles pedir.

  - Aqui.

  Estendo a garrafinha a pequena e ela bebe enquanto ajeito Molly em meu colo. Charlotte de devolve a garrafinha e olha para a mulher ao meu lado mais uma vez.

  - Livy, quem é ela?

  - Uma amiga que fiz aqui. Charlotte, aquela é a Dayse e o filho dela, o Willy. Dayse essa é a Charlotte, irmã mais velha da Molly e uma garotinha muito encantadora – digo apenas para ver o enorme sorriso orgulhoso da loirinha.

  - Seu bebê é muito fofo.

  - Obrigada – Dayse sorri. – Você também é muito linda.

  - Geralmente tem menos areia nela, juro – digo divertida. – Você por acaso estava jogando areia para cima, mocinha?

  Charlotte olha para todos os lugares menos para mim, tenho que controlar o riso, era só uma brincadeira, mas aparentemente ela estava mesmo jogando areia pra cima.

  - Charlotte! – a repreendo ainda segurando o riso.

  - Ah, foi sem querer, Livy. É que tava chovendo e depois começou uma tempestade e... foi a Layla que começou! – ela aponta a garotinha morena de cabelos curtos ainda brincando na caixa de areia quando suas desculpas acabam. Sorrio negando com a cabeça.

  - Ok, só diminua as tempestades. E vá continuar sua brincadeira que daqui a pouco vamos voltar para casa.

  - bom! – ela grita animada e volta correndo para junto das amigas.

  Nem me dou ao trabalho para pedir a ela que não corra, é perda de tempo. Sorrio com o pensamento. Não demora para mães e babás começarem a se despedir, confiro a hora no celular e já passa das 17h00m da tarde, hora de irmos também. Mas é só depois de alguns gritos que consigo atenção de Charlotte. Ela vem até mim depois de se despedir das amigas que também já estão de saída. Seth decide por me ignorar.

  - Seth, por favor! – volto a gritar.

  - Sean, filho, vamos! – Dayse ao meu lado grita também. Já juntamos as coisas dos bebês e apenas estamos esperando os garotos. Por fim eles acenam para o grupo que, agora muito menor, ainda brinca e seguem até nós.

  Estendo a garrafinha de água a Seth que aceita sem reclamar.

  - Olivia, o Seth pode voltar na quinta-feira quando ele não tiver judô? – Sean pergunta para minha surpresa e sorrio. O garoto de cabelos e olhos castanhos claros parece encantador.

  - Então você é o famoso, Sean? É bom conhecer o dono da voz com quem Seth passa horas nos fones de ouvido do videogame.

  O garoto fica levemente constrangido e Dayse sorri.

  - Estão sobre quinta-feira... – Seth deixa a sentença no ar sem conseguir realmente me encarar enquanto volta a beber mais água. É a minha vez de sorrir. Ele quer voltar, mas não tem coragem de pedir diretamente a mim e pediu ao amigo que fizesse isso, acho graça, quem nunca pediu a um amigo para pedir alguma coisa a sua mãe?

  - Ele pode, Olivia? – Sean pergunta animado e Seth finalmente me olha também, há um pedido mudo em seus olhos brilhantes, o cabelo está grudado na testa pelo suor e mesmo que precise de um banho, quero muito abraçá-lo.

  - Eu também quero voltar! – Charlotte exclama animada.

  - A gente vai voltar quinta-feira, Sean. Isso se o Seth quiser, o que acha? – pergunto ao garoto que se limita a balançar a cabeça em concordância.

  - Quero, quero sim.

  - Então está decidido. Nos vemos quinta-feira. Agora todos para casa.

  - Até, Oliva, crianças – Dayse se despede. As crianças acenam e faço o mesmo.

  - Até.

  Seguimos de volta pra casa e dessa vez as crianças estão conversando sobre as horas no parque, Charlotte já é toda animada, mas é bom ver Seth conversando e se empolgando. Molly também está acordada e vou brincando com a bebê enquanto ouço os mais velhos tagarelarem, não demora até chegarmos em casa. Ter o controle e as chaves do portão é realmente a melhor coisa, por que depender de Ruth que às vezes simplesmente sai sem avisar é uma tristeza.

  Não dou tempo a eles nem mesmo para entrarem, no jardim já estou mandando Seth e Charlotte tomarem banho aos berros. Não é preciso muita conversa, tenho apenas que dizer a eles que se não puderem nem mesmo tomar banho quando chegarmos, não poderemos voltar ao parque, depois disso não preciso de mais nada. Deixo o carrinho de Molly na área de serviço e passo por Ruth na cozinha que não faz qualquer movimento ao nos ver.

  Subo com as crianças e enquanto Seth vai tomar seu banho, vou ajudar Lottie com o dela. Prendo uma Molly muito desperta em sua cadeirinha e a deixo esperando por nós no quarto da irmã enquanto terminamos o banho. Demoro mais do que o esperando tentando livrar a pequena de toda areia e nesse meio tempo e praticamente vôo até o quarto apenas para dar uma olhada em Molly que continua no mesmo lugar mastigando sua bonequinha de morder.

  Quando finalmente terminamos e consigo colocar Charlotte em um pijama já são quase 19h00m da noite, troco a fralda de Molly em seu quarto e, finalmente descemos as três para encontrar Seth limpo, cheiroso e em um pijama sentando no sofá lendo a revistinha de mais cedo, parece que ele finalmente conseguiu avançar na leitura.

  Eu e Charlotte retomamos ao nosso filme e a Barbie que agora é uma seria está tentando salvar o oceano. Ruth nos avisa sobre o jantar, ela já sabe que agora esperamos Ethan para comer, então às vezes simplesmente vai para o seu quarto, ou outras como hoje, diz ter que voltar para casa e se despede saindo logo em seguida. Com a comida pronta temos apenas que nos servir quando Ethan chegar.

  Esperá-lo ainda é uma coisa nova e um pouco estranha para todos, eu inclusa, ficar assim na expectativa apenas por jantar com alguém? Quando isso já aconteceu comigo? Acho que nunca. Eu já fui há alguns poucos encontros e nenhum deles me deixou tão ansiosa quanto esperar Ethan para comer e olha que isso nem é realmente grande coisa. Nem somos só nós dois, não é, e nem nunca vai ser um encontro, seus três filhos estão conosco e ainda assim eu adoro esses momentos, foram só dois até hoje e quero continuar repetindo-os o quanto puder.

  Não demora até a porta se abrir e ele passar por ela, com seu terno e sorriso encantador que dirige a filha no momento em que Charlotte salta do sofá e corre até ele. Esse gesto, esse pequeno gesto aquece meu coração. Eu não devia ter nada com isso, mas não posso deixar de me importar, de sorrir vendo-os juntos. Seth olha o pai e Ethan devolve o olhar assim que deixa Lottie no chão outra vez, ela já está tagarelando sobre o dia, mas Ethan ainda está encarando Seth. Todo dia eles têm essa troca de olhares e todo dia nenhum deles dá o primeiro passo, não quero impor-lhes uma situação, mas estou quase apelando para o plano de jogar Seth sobre o pai e ver o que acontece.

  - Seth, por que não cumprimenta seu pai? – pergunto sem conseguir me conter e pai e filho me olham com a mesma expressão de surpresa que me faz rir. – É só dizer “Oi”, vamos deixar os abraços para mais pra frente.

  - Oi, pai – o garoto diz por fim querendo atenção sem saber como consegui-la. Suas brincadeiras de mau gosto diminuíram, mas Seth ainda mão é exatamente um amor de pessoa.

  - Oi, garotão. Como foi seu dia? – Ethan pergunta e vejo os olhos de Seth se iluminarem. Pela primeira vez desde que cheguei aqui ele parece realmente feliz e estou ansiosa pela resposta e pela reação de Ethan, por que hoje, ele fez a pergunta certa e Seth está mais do que animado para responder.

  - Nós fomos ao parque – ele começa depois de colocar a revistinha no sofá e ficar de pé. – Sean estava lá e nós fomos jogar e eu levei uma bolada na perna, Todd levou uma bem no meio da cara... – Seth sorri e continua a falar se aproximando do pai em sua empolgação sem nem se dar conta. Ethan olha pra mim surpreso e seu sorriso é ainda mais bonito que o do filho. Como é possível? Isso não é justo, um sorriso de felicidade desses é golpe baixo, muito baixo.

  Charlotte também exige atenção e em poucos minutos Ethan está completamente envolvido pelos filhos e não tenho outra alternativa se não levar Molly comigo para a cozinha e começar a servir o jantar. Dessa vez o Senhor Distância não vai conseguir tomar banho antes do jantar, parte de mim acha que é simplesmente uma desculpa para evitar os filhos uns minutos mais, mas hoje Ethan não teve nem chance e sorrio divertida.

  - Papai está muito enrolado com os seus irmãos hoje – digo a Molly terminando de servir os pratos das crianças e o meu, o de Ethan deixo que ele mesmo faça. Não vou ser eu a determinar o que o meu chefe vai ou não comer. – O que você acha, Molly? Será que estamos indo bem? Eu acredito que essa foi uma importante conquista. Conversa antes mesmo do jantar? Estamos realmente bem. Venham jantar! – desisto de falar com a bebê que me olha curiosa quando grito. Molly não liga muito, afinal, vivo fazendo isso com ela no colo. – Venham comer! Vocês continuam a conversa aqui!

  - A gente já ouviu, Olivia, para de gritar – Seth reclama aparecendo seguido por Ethan e Charlotte.

  - Se ouviu responda que eu paro. Agora se sente ai e vai comer, você também Charlotte.

  - Ok! – a pequena responde se ajeitando na cadeira, Seth se senta ao lado dela e Ethan vai buscar seu prato, sento-me ao lado da cadeira onde está Molly em sua cadeirinha e quando Ethan retorna a conversa recomeça.

  Eles falam ao mesmo tempo e nem sei se o pai está mesmo acompanhando tudo, só sei que ele sorri de uma forma tão genuína que não consigo não sorrir também ao observá-los, todos os três. Nós aqui reunidos, comendo, enquanto as crianças falam sobre seu dia e eu insisto com Charlotte para que coma seus legumes, quase perecemos uma família e isso de algum jeito mexe comigo. Por que eu sou só a babá e talvez nem devesse estar aqui numa cena tão íntima.

  Mas por enquanto, enquanto parecer que eles precisam de mim, não vou pensar nessas coisas, vou apenas tentar ajudá-los a se darem bem como eu puder e com o resto, vou me preocupar depois.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, comentem, por favor.
Beijocas e até, Lelly ♥