Confusão em Dose Tripla escrita por Lelly Everllark


Capítulo 3
Você venceu, eu desisto!


Notas iniciais do capítulo

Oi meus amores, voltei!
Eu juro que os capítulos da história são semanais, sério, é só que o buraco é mais em baixo e tinha um monte de coisas acontecendo na minha vida ao mesmo e no fim nada de capítulo novo pra vocês, então me desculpem mesmo por isso.
BOA LEITURA :D



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Verifiquei o relógio pela milésima vez sentada ali no banco do motorista da minivan e suspirei, eu tinha chego cedo de mais à escola das crianças por que estava morrendo de medo de me atrasar e agora estava ali em frente à escola há quase dez minutos e nada. Molly dormia tranquilamente em sua cadeirinha então eu nem podia tentar arrancar sorrisos da bebê para me distrair.

  Ruth tinha chegado logo depois que eu comecei a limpar a cozinha. Eu me apresentei, mas ela não pareceu nem remotamente surpresa por haver uma babá nova, só disse seu nome, me deu um aceno e começou seu trabalho em silêncio. Nenhuma palavra, foi o que trocamos nas mais de três horas que passamos juntas. Eu já estava pra explodir de vontade de falar, nem que fosse sozinha. Só que decidi bancar a pessoa normal e ficar calada o que me custou vários monólogos com Molly, pelo menos ela parecia disposta a ter uma conversa comigo.

  Verifiquei meu celular só para ter certeza de que não havia uma única mensagem ou ligação, meu circulo de amizades se resumia a Christina, e dona Shirley, a senhora de quase setenta anos que morava no andar de baixo lá no prédio. É, eu era um exemplo de pessoa bem relacionada. Não é que eu não tentasse, mas tendo vários empregos e não ficando muito tempo em nenhum deles eu meio que não tinha muito tempo pra sair, conhecer pessoas e ter relacionamentos de nenhum tipo.

  - Será se sou muito patética, Molly? – perguntei a bebê que nem se mexeu, só continuou ressoando baixinho. Eu meio que sabia a resposta pra essa pergunta, mas gostava de fingir que era não. Até por que, eu não ligava a mínima para o fato de não ter um emprego incrível e muito menos um namorado. Enquanto eu conseguisse pagar minhas contas em dia, o resto eu via depois e, dependendo do que fosse, eu nem queria ver.

  Quando o sinal estridente tocou eu me assustei, por que talvez eu tivesse começado a cochilar em cima do volante, levantei, ajeitei o cabelo e sai do carro para tentar ver Seth e Charlotte no mar de crianças saindo todas de uma vez do enorme prédio a minha frente. Reconheci os cabelos loiros da garotinha saltitando em volta do irmão antes mesmo de ver Seth e sua habitual cara feia. Quando me viu, sua revirada de olho foi o suficiente para eu ter certeza, como se eu não soubesse, que ele tinha odiado me ver ali.

  - Livy! – Charlotte gritou animada quando me viu e eu sorri, Seth atrás dela deu um sorriso irônico.

  - Você ainda está aqui?

  - Para nossa infelicidade, estou. Vamos pra casa? – chamei abrindo a porta e eles entraram. Ajudei Charlotte com o cinto e Seth prendou o seu, dei uma última conferida em Molly que ainda dormia e fui para trás do volante.

  - O que tem para o almoço, Livy? – Charlotte perguntou e dei de ombros arrancando com tudo e matando um grupo de estudantes de susto. Seth arregalou os olhos, mas Lottie não pareceu se importar.

  - tentando matar a gente?

  - Não estou tentando matar ninguém, Ok? E Charlotte eu não tenho ideia do que vai ser o almoço, a Ruth não me disse nada.

  - Você pelo menos sabe dirigir?

  - Sei Seth, sei, dá pra calar a boca? – perguntei irônica e me arrependi no mesmo instante. Por que com o sorriso divertido – e assustador -, que Seth abriu, eu sabia que no mínino ele diria tudo ao pai dele. Cada palavra que eu dissesse. Garotinho ridículo.

  - Você não manda em mim. Você trabalha para o meu mai então eu mando em você.

  - Só que não – murmurei, mas ele não ouviu então deixei por isso mesmo. Podiam ser só as meninas não é? Aí minha vida seria uma maravilha.

  Quando estacionei em frente a casa, Seth abriu a porta e saiu quase correndo para dentro com Charlotte logo atrás, eles não pegaram nada, nem as mochilas, nem os casacos, até os sapatos de Charlotte estavam jogados no banco de trás.

  - Venham pegar as coisas de vocês! – gritei, mas eles já tinham sumido dentro de casa. Olhei para a bagunça decidindo o que fazer e foi nessa hora que Molly acordou e começou a chorar. Peguei a bebê, a acalmei e olhei em seus olhos azuis. – O que a gente faz com esses seus irmãos, em Molly?

  Suspirei, equilibrei a pequena em um braço, e consegui pegar ao menos as mochilas dos dois com o outro, os casacos e o sapato eu buscava depois. Arrastei-me pra dentro de casa odiando todo o contexto da situação.

  - Suma da minha cozinha! Fique bem longe daqui, está ouvindo, Seth!? – os gritos de Ruth me assustaram, deixei as mochilas no sofá para ir até a cozinha ver o que estava acontecendo.

  Seth estava jogando as bolinhas do cereal pra cima e tentando pegar com a boca, ele era péssimo, por que só o que tinha era cereal no chão, Charlotte estava ajoelhada em uma das cadeiras da mesa tentando fazer o mesmo, mas além de quase cair, a única coisa que estava conseguindo era fazer ainda mais sujeira que o irmão.

  - Você – Ruth olhou pra mim. – Dá pra tirar eles daqui? Eu não sou babá, mas sempre termino tendo que ser responsável por eles. Só saia daqui com essas pestes.

  - Não pretendo ir a lugar nenhum – Seth sorriu debochadamente jogando mais um cereal pra cima e esse ele conseguiu abocanhar.

  - Eu também não vou! – Charlotte disse animada e eu não sabia se ela fazia isso simplesmente por querer imitar o irmão ou se Seth a chamava para participar dessas ceninhas ridículas.

  - Pessoal, por favor – pedi e fui solenemente ignorada. Ruth me olhou feio num aviso claro pra sumir dali com as crianças e voltou sua atenção às panelas no fogão. – Crianças, vamos pra sala, Ok?

  - Não – disse Seth simplesmente.

  - Charlotte? – tentei e ela negou com a cabeça. Suspirando troquei Molly de braço por que ela estava começando a pesar.

  - O Seth disse que a gente podia brincar na cozinha hoje.

  - Ele disse foi? – pergunto olhando para o garoto que tem a coragem de sorrir pra mim.

  - Foi. Por que você vai embora que nem todas as outras então não têm problema te desobedecer – ela diz simplesmente e sua resposta me pega de surpresa. Mas não deixa de estar certa, se não vou ficar pra que me obedecerem não é?

  - E se eu fosse ficar, você ia me obedecer?

  - Não sei. Seth? – ela olha para o irmão que observa nossa conversa e ele nega com a cabeça.

  - Ela não vai ficar. Então precisa responder. Que tal a gente tentar acertar o resto do cereal no armário? – ele pergunta divertido como se tivesse convidado a irmã pra assistir TV.

  - Seth... Crianças, não, por favor... – tentei, mas teria mais chance em derrubar uma parede com os punhos. Quando começou a chover cereal Ruth me olhou exasperada com uma expressão de “Faça alguma coisa!”. Como se eu pudesse realmente fazer. – Charlotte, vamos para com isso, Ok? Quer dizer olha a bagunça que estão fazendo, eu... – Eu estava com vontade de gritar e era isso. Berrar umas verdades, e sacudir essas crianças irritantes e mimadas pelos ombros, mas não ia fazer isso. Eles não eram meus filhos, nem meus sobrinhos e nem nada meu, eu não podia simplesmente começar a gritar e ameaçá-los. Mas eu queria, ah como eu queria!

  - Srta. Cooper - Ruth rosnou pra mim. - Eu quero você e essas crianças fora da minha cozinha.

  Olhei para Seth e Charlotte que ainda me ignoravam jogando cereal no armário e cheguei à conclusão de que talvez esse emprego não fosse pra mim no fim das contas. Como eu faço duas crianças que no mínimo nunca tiveram qualquer limite na vida me obedecerem? Até hoje eu mal tinha tido contato com crianças e agora preciso quase educar três, não, na verdade duas, Molly é realmente um anjinho, educar duas crianças mimadas? Será que ainda dá tempo de voltar a passear com cachorros?

  - Oliva! - Ruth gritou e tudo aconteceu tão rápido que se eu não tivesse ótimos reflexos Charlotte tinha ido de encontro ao chão. A pequena se assustou com o grito e como ainda estava de joelhos na cadeira se desequilibrou, mas mesmo com Molly no colo, consegui segurá-la por um braço antes que se chocasse com o chão e coloquei-a de pé me abaixando para encará-la.

  - Você está bem? Charlotte? - perguntei tocando-a por todo lado para ter certeza de que estava inteira. Os olhos azuis da garotinha marejaram, mas ao que parecia era mais pelo susto que qualquer outra coisa, respirei aliviada.

  - Eu caí - ela fungou fazendo bico e seu drama me fez sorrir. Beijei sua testa.

  - Eu vi. Então que tal agora ficarmos longe da cozinha até Ruth nos chamar? - perguntei e ela fez que sim aceitando a mão que estendi depois de ficar de pé também.

  - Lottie! - Seth a chamou, mas dessa vez Charlotte nem olhou pra trás, estava sentida de mais com o quase tombo para ouvir o irmão.

  Saímos a três da cozinha e mesmo de costas eu quase podia imaginar a expressão indignada de Seth, isso me fez sorrir, é, eu não era lá muito madura. Charlotte se sentou no sofá e eu coloquei Molly em um cercadinho que havia para ela na sala, a bebê estava acordada e felizmente não começou a chorar quando a coloquei ali, ela tinha se entretido com um morder em forma de boneca que lhe dei, mas seus olhos azuis me procuravam vez ou outra como se para ter certeza que eu ainda estava ali. Agora me diz como não é possível se apaixonar por essa coisinha fofa?

  - Quer assistir televisão, Charlotte? - perguntei e a garotinha fez que sim animada, aposto que já tinha se esquecido da quase queda.

  Liguei a TV - com mais funções do que eu achei ser possível - com a ajuda de Charlotte, e com uma última olhada em Molly que parecia muito entretida tentando arrancar a cabeça da bonequinha, mesmo sem ter um único dente na boca, eu fui atrás de Seth pensando como faria o garoto dar paz a Ruth. Eu meio que entendia a irritação dela, como a pobre ia trabalhar com crianças mal educadas enchendo o saco?

  Cheguei à cozinha e me surpreendi com a cena a minha frente, Seth estava guardado o cereal no armário, quando me viu sorriu - o que me deixou morrendo de medo dele ter plantado uma bomba debaixo da mesa - e depois levou sua vasilha até Ruth, olhei para a cozinheira e ela parecia quase triste, como se estivesse prestes a ver uma execução. Seth abriu um sorriso ainda maior quando se aproximou de mim.

  - Desculpa por mais cedo, a Lottie quase se machucou por minha culpa, vou deixar Ruth trabalhar em paz e ir jogar videogame no meu quarto - ele avisou, por algum motivo que não compreendia, passou por mim e vi quando ele começou mesmo a subir as escadas até os quartos.

  - Boa coisa ele não está aprontando - Ruth sentenciou para a uma eu ainda chocada. - Você não acreditou nele, acreditou?

  - Não. A gente se conhece a algumas horas, mas é o suficiente para eu saber que ele me odeia, então ficar bonzinho assim do nada? Nem eu sou tão idiota a ponto de acreditar nisso, vou lá em cima ver o que ele está aprontando.

  - Ok, o almoço sai em cinco minutos.

  - Obrigada, Ruth. Já volto.

  Segui de volta para a sala para encontrar Charlotte se acabando de rir com o desenho que passava na televisão e Molly tentando virar de bruços no cercadinho, era uma cena tão fofa que poderia ficar ali o resto do dia vendo-as. Peguei as mochilas dos dois folgados e resolvi levá-las comigo, entrei primeiro no quarto de Charlotte e coloquei a sua de rodinhas ao lado da cama. Depois fui ao quarto de Seth certa de que ele não estaria lá, mas para minha surpresa o encontrei fazendo exatamente o que disse que ia fazer, jogando videogame em uma televisão quase tão grande quanto a da sala e com fones enormes nos ouvidos. Ele apertava furiosamente os botões do controle e falava com alguém no fone.

  - Vamos Kyle! Você cego por acaso!? - Seth estava tão entretido no jogo que parecia ser de tiro que nem mesmo me notou ali colocando sua mochila sobre a cama. Vendo-o assim, ele quase parecia um garoto normal e obediente, o pensamento me fez sorrir e resolvi sair antes que ele me visse e resolvesse ir aprontar mais alguma.

  Depois disso o almoço transcorreu com uma calma e tranquilidade assustadoras, ambos, Seth e Charlotte, se sentaram para comer sem reclamações ou confusões, eles comeram sem grandes problemas enquanto eu dava mamadeira para Molly, fiz a bebê dormir e consegui comer antes de Charlotte começar a pedir por filmes da Barbie na televisão. Lá pelas quatro da tarde Lottie já tinha feito a lição de casa e acabou dormindo no sofá no meio do segundo filme da boneca loira que adorava cantar e eu estava tentando convencer Seth a fazer sua lição, sua fachada de bom moço estava começando a parecer real, será que ele tinha começado a gostar de mim? Gostando ou não de mim o dever ele não parecia disposto a fazer.

  - Seth, por favor, colabora com a gente, não custa nada fazer o dever, depois você continua a jogar, que tal? - ofereci e ele desviou o rosto da televisão em seu quarto apenas para sorrir pra mim e negar com cabeça.

  - Não - disse simplesmente antes de encarar a tela colorida a sua frente mais uma vez. Respirei fundo e encarei Molly em meu colo.

  - Vamos tomar um banho, pequena. Deixa seu irmão aí - comentei saindo do quarto com a bebê.

  O lado certo da fralda eu já sabia qual era, mas dar banho em um bebê? Eu não sabia nem por onde começar. Será que tem tutorial no YouTube sobre isso? Antes de apelar mesmo para a internet eu resolvi ligar para alguém que já tinha feito isso e podia me dar uma luz, mesmo que pequena.

  - Livy? — papai atendeu no segundo toque.

  - Oi, pai.

  - Que bom ouvir sua voz. Está tudo bem? Tem o quê? Umas duas semanas que não nos falamos?

  - Tem quatro meses pai, desde que a Erika me enxotou da casa de vocês pela última vez - respondi irônica e me arrependi, não pelo que disse, mas por que eu tinha certeza que não era assim que se começava uma conversa na qual você ia pedir um favor à alguém.

  - Oliva — ele me censurou, como se não falar do acontecido o fizesse menos importante ou real. - Aquilo foi só um mal-entendido. Mas foi para isso que me ligou, falar mal da Erika?

  Era assim agora, qualquer coisa que eu dissesse ou fizesse, se desagradasse Erika eu estava errada e não tinha nem direito a defesa ou argumentação, a palavra de Erika era a única que importava desde que ela surgiu em nossas vidas sete anos atrás levando de mim não só meu pai, mas meu dinheiro pra faculdade também.

  - Não papai, não foi pra isso que liguei - suspirei olhando para Molly em meu colo brincando com o colar em meu pescoço, ela tinha mesmo gostado do pingente. - Na verdade não era nada, estou com saudades, consegui um emprego novo, tenho que ir.

  - Certo, vai lá. Boa sorte e até... — ele deixou a sentença no ar como sempre, não era “Até amanhã” ou “Até semana que vem”, nem mesmo “Até qualquer dia”, era só “Até”, por que a gente podia se ver ou não, pra ele não parecia fazer mais diferença.

  - Até, papai.

  Ele simplesmente desligou sem realmente me perguntar qualquer coisa que fosse sobre o emprego novo ou se estava me virando bem.

  - É assim que é agora, Oliva! Melhor aceitar. Vamos Molly, banho. Será que tem mesmo tutorial sobre isso no YouTube? - tagarelei para a bebê em meu colo e acabei sorrindo, ela tinha me babado toda e só um sorriso desdentado dela tinha sido o suficiente para fazer eu me sentir melhor. - Obrigada. Agora vamos realmente tomar banho.

  Como na internet se acha de tudo, tinham realmente vídeos e posts sobre como dar banho em bebês e derivados. Eu sabia que envolvia água, sabão, uma banheira e não deixar o bebê se afogar, de resto, seria na sorte e na coragem. Duas coisas que eu não tinha, só pra constar.

  Deixei Molly só de fralda enquanto fingia mordê-la apenas para ouvir sua gargalhada extremamente gostosa. Depois fui até o banheiro com a bebê nos braços tratar de encher a banheira e pelo menos tentar dar banho nela. O problema não foi colocar água na banheira nem a bebê já sem fralda dentro dela, o problema mesmo era segurar Molly com uma mão e lavá-la com a outra, como eu ia fazer isso? Ela não era pesada, nem de longe, meu medo era ela simplesmente mexer e eu não conseguir segurá-la e acontecer um desastre.

  - Sem movimentos bruscos, Ok? Só vou passar sabão em você, por hoje é o suficiente, você nem tem tanto cabelo assim pra precisar lavar, vamos aos poucos - eu ia tagarelando simplesmente por que falar me acalmava, Molly me olhava atenta, se por minha voz chamar sua atenção ou ela gostar do colocar em meu pescoço eu não sabia, mas seus olhos azuis me acompanhavam curiosos.

  Segurei-a com uma das mãos apenas para ensaboá-la, mas foi o suficiente para quase deixar Molly escorregar na banheira. Eu a tirei tão rápido da água que a bebê se assustou, não com quase afogamento, mas com o movimento que fiz para puxá-la para cima. Seu choro agudo fez meu coração disparar, eu estava tremendo quando a apertei contra mim, antes de levá-la de volta para o quarto, envolvê-la na toalha fofa e tentar acalmá-la, ou a mim mesma, eu não tinha certeza.

  - Está tudo bem, Molly, está tudo bem... – murmurei ninando a bebê. Eu quase tinha deixado-a se afogar, tudo bem, não foi um afogamento, mas ainda assim, eu estava começando realmente a repensar esse emprego.

  Depois do susto e de vários minutos nos acalmando eu finalmente consegui terminar de secar e vestir Molly, a essa altura eu já tinha me molhado toda, mas essa era a minha última preocupação. Quando desci as escadas com a bebê no colo, depois de conferir que Seth continuava na frente da televisão em seu quarto, encontrei Charlotte descabelada e sentada no sofá com o rosto amassado parecendo extremamente perdida, sua expressão era muito fofa.

  - Lottie? – chamei e ela me olhou piscando. – Que tal um banho?

  - Já está na hora de jantar? – ela perguntou e achei graça de sua associação.

  - Quase, mas primeiro você tem que lavar o cabelo, deve ter um meio quilo de areia ai e agora no sofá também – murmurei e ela ficou de pé vindo até mim.

  - É que eu brinquei na caixa de areia hoje.

  - E deve ter trago metade dela com você, Ruth vai ficar uma fera com a gente quando descobrir, melhor irmos tomar banho logo.

  - bom – ela concorda rindo e acho graça. Mas é quando Charlotte começa a subir as escadas saltitando que me lembro de Molly em meus braços, depois do que aconteceu no banho da bebê não tenho mais coragem de deixá-la na cama e não sei o que fazer com ela.

  - Lottie pode subir e tirar a roupa, mas não é pra entrar no banheiro, já te encontro no banheiro – digo e ela balança a cabeça concordando antes de correr escada acima. – Não corre – peço, mas é inútil, ela já sumiu no andar de cima.

  Vou até a cozinha e quando chego até lá Ruth está separando ingredientes para o que no mínimo vai vir a ser o jantar mais tarde.

  - Posso te pedir um favor? – pergunto antes de mais nada e ela me olha curiosa.

  - Isso depende, aquele pequeno delinquente vai estar envolvido?

  - Não, Seth está no quarto dele. Eu só queria que você ficasse de olho em Molly enquanto eu dou banho em Charlotte, vou prendê-la na cadeirinha, vai ser rápido.

  - Poucos minutos?

  - São só o que eu preciso.

  - Vai lá então antes que eu me arrependa – Ruth dá um meio sorriso e eu a abraçaria se eu não soubesse que ela, no mínimo, ia odiar a ideia.

  Prendo Molly na cadeirinha e a deixo na cozinha com sua bonequinha de morder e corro para o andar de cima, felizmente Charlotte se enrolou na blusa do uniforme e está tentando se soltar quando chego então não tem perigo dela ter tentado entrar no banheiro sozinha. A ajudo e então seguimos as duas para o banheiro, a missão de livrá-la da areia é difícil, mas eu sou perseverante então alguns minutos depois estamos saindo do banheiro, é com certeza mais fácil dar banho em uma garotinha que em um bebê.

  Já são mais de seis da tarde por isso ajudo Charlotte a colocar um pijama, penteio seus cabelos e quando começamos a seguir pelo corredor em direção ao andar de baixo ela vai saltitando a minha frente. Seth surge correndo em nossa direção e quando me alcança não sei definir sua expressão.

  - Eu não queria... Foi sem querer, juro... Eu só estava com ela no colo – ele ia dizendo e eu me assustando a cada palavra.

  - Seth, se acalma! O que aconteceu?

  - A Molly, eu estava com ela perto da escada, a Ruth deixou, eu só, me desculpa... – não escutei mais nada, só corri até o topo das escadas, o pequeno bolo de tecido lá embaixo me deixou em choque.

  - Não, não, não – disse em pânico correndo escada a baixo, havia manchas vermelhas por todo lado, peguei o amontoado de tecido, mas não havia nada lá. – Onde está sua irmã, Seth? – eu estava tremendo e o garoto no topo da escada tinha um sorriso no rosto. Ele deu de ombros.

  - Eu sei lá.

  - Como? Onde ela está!?

  - Olivia, você vai demorar muito mais? – quando Ruth surgiu da cozinha trazendo consigo a cadeirinha de Molly com a bebê perfeitamente bem dentro eu só me ajoelhei no chão e comecei a chorar. Aquilo tudo era de mais pra mim, eu não ia aguentar. – Olivia?

  - Você está chorando mesmo? Era só uma brincadeira – a voz de Seth me alcançou e eu quis muito só matar aquele pestinha.

  - Livy? – Charlotte me chamou e eu senti suas mãozinhas em meu cabelo e foi só isso que fez levantar a cabeça, a pequena estava de pé a minha frente. A abracei e lhe dei um beijo na testa antes de ficar de pé.

  - Você conseguiu – digo olhando diretamente para Seth depois de limpar o rosto. – Juro que conseguiu. Eu vou embora, isso é de mais pra mim, eu não aguento! Não precisa de mais nada. Você venceu – anuncio e antes de dar meia volta quase achei ter visto decepção nos olhos dele, mas ela sumiu com a mesma rapidez com a qual surgiu.

  Peguei Charlotte e Molly depois de agradecer a Ruth e segui para a cozinha. No fim ir embora era o melhor que eu podia fazer. Como eu achei que poderia cuidar de três crianças quando não sei cuidar nem de mim? Nós jantamos em silêncio, ninguém disse nada, nem mesmo Ruth ou Charlotte, a cozinheira no mínimo sabia do que eu estava falando, mas a garotinha loira estava claramente perdida. Seth não se desculpou nem mesmo falou comigo, mas eu não estava mais me importando, nem todo o dinheiro do mundo me faria aguentar isso, pra mim já tinha dado. Um dia foi mais que o suficiente.

  Eu estava sentada no sofá com Molly no colo, completamente empenhada em fazer a bebê sorrir enquanto Charlotte ao meu lado acompanhava vidrada o filme da Barbie que passava na TV a nossa frente e Seth, talvez para ter certeza de que eu iria ir embora mesmo, tinha desistido do videogame e estava lendo uma revistinha no sofá do outro lado da sala.

  Quando a porta finalmente se abriu e Ethan passou por ela com toda a sua beleza eu quase me esqueci da decisão que eu tinha tomado, mas aí me lembrei do que Seth havia feito e não foi difícil ficar de pé com Molly ainda no colo. Charlotte correu até o pai e se jogou em seu colo com o maior sorriso no rosto que Ethan fez questão de retribuir ao pegar a filha e lhe beijar o rosto.

  - Como foi o dia de vocês?

  - O Seth fez a Livy chorar e a gente comeu macarrão – Charlotte resumi em sua simplicidade e dou de ombros.

  - Foi mais ou menos isso mesmo. Aqui – lhe estendo Molly e ele a pega depois de colocar Lottie no chão. Ethan olha de mim para a bebê e depois de volta pra mim.

  - O que aconteceu?

  - Eu só descobri que não tenho estruturas emocionais nem psicológicas para ser babá e é isso. Suas filhas são uns amores e seu filho bem... Enfim, caso não tenha ficado claro eu estou me demitindo e... – desviei os olhos dos de Ethan pra tentar voltar a pensar com clareza, um homem desse tamanho e lindo assim devia ser proibido de sair na rua, só acho.

  - Se demitindo, Olivia? Como assim? – ele parecia realmente surpreso e dei de ombros pegando minha bola em cima do sofá.

  - Eu não costumo fugir, mas também não luto batalhas perdidas, sinto muito, mas eu não consigo. Boa sorte em achar outra pessoa e é melhor eu ir – murmuro e saio sem olhar pra trás, por que se encarar qualquer um dos três pares de olhos azuis que estão as minhas costas sei que vou me sentir muito pior.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo e o que acham que vai acontecer agora que a Olivia supostamente se demitiu? Quero opiniões e prometo que vou tentar não demorar muito pra voltar!
Beijocas e até, Lelly ♥



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