Paradise Coast escrita por Erin Noble Dracula


Capítulo 21
Desaparecida


Notas iniciais do capítulo

https://youtu.be/jhC1pI76Rqo-Conflito interior da Lisa.



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P.O.V. Khal Khan.

Ela está desaparecida. Lisa está desaparecida.

Mandei os guardas procurarem por cada centímetro do Planeta.

—Grande Khal. 

—Alguma noticia?

—Uma nave foi roubada.

—O que?! Quem a pilotava?!

Senti o pânico me dominar.

—Não sabemos. O piloto foi encontrado inconsciente.

Meus Deuses! Alguém pode ter sequestrado a minha filha!

—Espera ai, eu também to surtando por dentro, mas... será que as naves não tem... GPS, rastreador ou sei lá?

Elisa tinha razão.

—Você está certa. Todas as naves de Zênite são equipadas com equipamento de rastreio. Sabem o número da nave que foi levada?

—20010.

—Então mande alguém rastrear a nave. Quero saber pra onde vai. Agora!

P.O.V. Lisa.

Não foi tão difícil, sabia ler Zênite e apesar da nave não ter nenhum botão e só um volante foi fácil fazer funcionar. Comando de voz.

Foi complicado mesmo lembrar os comandos em Zênitiano, mas eu consegui. Então, eu lembrei...

—Bev e Jeremy!

Mas, eu não sabia como fazer a volta nessa coisa. E nem queria. Preciso dar um jeito de trazê-los de volta, mas isso eu resolvo depois.

Em tipo cinco minutos, eu estava na Terra, entrando em órbita. Acabei parando no deserto de Mohavi, ativei o sistema de camuflagem e o escudo, foi difícil sair daquele maldito deserto. Mas, eu consegui.

P.O.V. Khal Khan.

Estamos rastreando a nave roubada.

—Onde ela está?

—A nave acaba de fazer a dobra.

—Onde vai sair?

A técnica, Ila começou a calcular.

—Calculando rota. Planeta C-56.

—C-56? Tem certeza?

—Absoluta senhor.

Elisa olhou pra mim apavorada.

—O que tem nesse Planeta?! Alienígenas canibais?!

Eu ri.

—Se considera o seu povo canibal.

—Espera, o sequestrador levou a Lisa pra Terra? Não sei como sequestros funcionam aqui, mas na Terra a pessoa é levada e exigem resgate.

Respirei fundo. Lisa não havia sido sequestrada, havia fugido.

—Oh, querida. Lisa não foi sequestrada. Ela fugiu.

Elisa entrou em pânico. Podia ver o cérebro dela entrando em pane.

—Está me dizendo que... ela tá... dirigindo a nave?! Como sabemos se ela não bateu numa árvore, caiu no mar e morreu afogada?!

—A nave aterrizou, não há alarme de emergência ou relatório de danos.

Os amigos humanos dela ficaram magoados de serem deixados para trás. Mas, de repente.... os olhos deles ficaram parados.

—O que?

—É a Lisa. Ela está se comunicando com a gente.

—E o que ela está dizendo?

—Que sente muito por ter nos deixado, que estava tão desesperada de saudades de casa que simplesmente deu a louca, entrou na nave e saiu voando. Quando ela se lembrou da gente, tentou fazer a volta mas não sabia como.

Bem, isso explica muita coisa.

—O que significa que ela não pilotou a nave, simplesmente a colocou no piloto automático, traçou o curso e foi. Preparem a minha nave, convoque a tripulação imediatamente. Vamos para a Terra.

—Espera, vou com você.

—E nós também é a Lisa.

—Se me permitir...

—Só vamos logo pelo amor de Deus!

Eu, Elisa, Jeremy, Beverly e o Lorde Felicius entramos numa nave e fomos para a Terra.

P.O.V. Lisa.

Tive que fazer compras e encontrar um lugar para ficar, mas não foi um problema. Eu ainda tinha meu cartão de crédito e isso era Paradise Coast, todo mundo conhecia todo mundo. Minha vizinha Meg concordou em me deixar ficar.

Então, coloquei meu biquíni novo,uma toalha, uma canga, passei protetor solar, peguei minha roupa de Neoprene, minha prancha e cai na água.

P.O.V. Elisa.

Paradise Coast. Eu sou daqui, nascida e criada. Nada mudou. Continua a mesma cidadezinha minúscula onde todo mundo se conhece. E este foi o problema.

—Misericórdia! É um milagre!

—Ai Meu Deus! Beth! Oh, Beth vem correndo!

—O que... Virgem Santíssima! Elisa Carlton? Mas, você morreu. Menina, eu fui no seu enterro, vi o seu corpo no caixão!

Disse a Beth tocando no meu rosto.

—Ah, é um milagre. Aleluia!

—Estamos procurando a Lisa.

A velha Beth que usava uma de suas roupas hippie e seu longo cabelo branco falou:

—Ah, ela está hospedada na casa da Meg.

—Quem é Meg?

—Certo. A vizinha dela, no prédio Sun Coast. Apartamento 232.

Arrumamos um carro.

—Precisamos de roupas novas.

Depois de arrumar roupas mais discretas, entrei no carro.

—Posso dirigir.

—Nem vem! Lá no seu Planeta vocês que mandam, mas aqui? Cala a boca e entra no maldito carro.

P.O.V. Khan.

Eu não me lembrava de como ela era quando ficava brava. Mas, é igualmente adorável. Elisa ligou o rádio e estava tocando uma música que eu não reconhecia.

Mas, ela sim.

—O que é este som irritante? Como um arranhão.

—Som irritante? Menino, isso é uma guitarra elétrica!

Ela estava dançando, cantando e dirigindo pelas ruas da pequena cidade.

—Que música é essa?

—Edwyn Collins, A Girl Like You. É um clássico. 

P.O.V. Lorde Felicius.

É a minha primeira vez no C-56 também conhecido como Terra. O céu era azul, o clima era tão quente, e eu vi a luz do sol, era quente, radiante. Os veículos trafegavam no chão.

Quando chegamos ao prédio, Elisa bateu á porta e perguntou pela filha.

—Oh, ela foi á praia.

—Clássico da Lis. Bora, galera. Vamos á praia!

Quando chegamos haviam várias pessoas, sentadas em tecidos coloridos, fazendo absolutamente nada. Uma instalação que vendia o que eu creio ser comida. Era feita de madeira, muito frágil e rústica.

—Alguém viu a Lis?

—Olha ela lá!

Ela estava na água sentada numa tábua.

—Porque ela estaria sentada numa tábua sob a água?

—Não é uma tábua. É uma prancha! Oh, essa vai ser boa. Aposto que vai dar um turbo.

—O que?

—Ela tá falando da onda.

A jovem Khalissa deitou-se na tábua, ou prancha e começou a remar em direção á imensidão azul. E foi engolida por aquele enorme montante de água.

—Meus Deuses! Devemos chamar ajuda?

—Ajuda? Maluco, ela vai sair do outro lado numa boa.

Ela pulou encima daquela prancha e deu um giro aterrizando de volta na água.

—Meus Deuses!

—Esse foi o aéreo mais incrível que eu já vi.

Cada manobra tinha um nome. Aéreo, rasgada, Back flip.

—Está me dizendo que ela está fazendo isso de propósito?

—Sim.

P.O.V. Lisa.

Gente, eu tinha esquecido como era bom. Mandar as manobras, só o mar e eu. Sem conselheiros, estilistas, bailes, aulas de etiqueta e o sol. O sol lindo, radiante... mano não tem igual. O problema foi quando eu sai da água.

—Ops.

—Ops? Você roubou uma nave, saiu voando com ela pelo espaço.

—Pode me culpar? Eu já tava de saco cheio daqueles bailes, daquelas luas idiotas! Daqueles bichos voadores que pareciam dinossauros! Eu precisava de um tempo. E eu queria voltar pra casa!

P.O.V. Khal Khan.

Aquela frase foi... dolorosa demais de se ouvir. Voltar pra casa. O que significa que ela não considera Zênite sua casa.

—Desculpe. Mas, é mais complicado do que pensa.

—O que?

Perguntou Elisa.

—Estava falando com o papai. Quer saber? Foda-se. Não. Não, eu não considero Zênite minha casa. Tá? Pronto falei. Não significa que eu não te ame ou que não goste da Magdalia, do Philicius, mas... eu sinto falta da Terra. Eu sinto falta do sol, das pessoas, de tudo. O que eu deveria fazer? Só, ficar lá olhando para aquelas luas e simplesmente aceitar que eu ganhei uma vida e um Reino que nunca quis? Um pai que me abandonou e de repente volta do nada com a víbora da esposa dele e quer que eu seja sua herdeira?!

—Se quiser abdicar...

—Não é o que estou dizendo! Só, dá pra me ouvir por cinco segundos?! Eu entendo, sabe... sou sua filha e isso me faz uma alienígena, híbrida o que seja. Mas, essa é minha casa. Ser humana, ser uma terráquea fazendeira é uma parte de quem eu sou. Não pode me negar isso. Se essa for a condição para ser sua herdeira... então estou fora.

Disse indo embora.

—Lisa. Lisa, querida... 

—Podemos ao menos te dar uma carona?

—O prédio é de frente pra praia. O que vocês podiam me dar é um pouco de espaço!

—Khan, acho que devíamos... deixar ela sozinha um pouco. Vamos dar um momento pra ela se acalmar.

Tentei ir atrás dela, mas uma mão me impediu.

—Ai, ela tá certa. Acho que você precisa de um tempo também. Você tá muito pistola, se for atrás da Lis agora, vai dar merda. Vem, vamos tomar um suco.

Fomos até a pequena construção de madeira e taipa e pedimos os alimentos. O atendente enfiou os ingredientes dentro duma máquina e quando a ligou ela fez um barulho infernal.

O líquido era bom. Doce, mas nem tanto.

—O que é isso?

—É um suco. De fruta. Do que você pediu?

—Cocô e abacaxi.

—Você quer dizer coco. Cocô é... dejetos.

—Oh! É bom, mas tem algo não tão doce.

—É o abacaxi. Abacaxi tem um gosto meio... ácido.

P.O.V. Lisa.

Eu estava no meu antigo apartamento, haviam reformado e acho que iam vender. Estava ouvindo Evanescence-Everybody's Fool. E como eu me identificava. Chorando, destruindo o apartamento. Deitada na cama e sentindo uma merda. E cantando junto com a Amy Lee.

Fui até o banheiro, enchi a banheira e me enfiei na dentro. Tomei três frascos de comprimidos tarja preta antes disso. Acho que eu morri, mas... não durou muito. Acordei, tive que respirar, tive que viver. Tive que me olhar no espelho e eu odiava aquela pessoa refletida.

Então eu quebrei ele, com minha mão que começou a sangrar e a curar, então bati de novo.

P.O.V. Elisa.

Nós viemos atrás da Lisa já que a vizinha que a hospedou veio atrás de nós. E encontramos o apartamento absolutamente destruído. E a música que tocava em replay... foi um aviso pra mim. Só ouvi algo quebrando e tentei entrar no banheiro, mas a porta tava trancada.

—Lisa! Lisa abre a porta minha filha! Khan, pelo amor de Deus arrombe a porta.

E ele arrombou. E o que encontramos do outro lado foi... uma banheira cheia, vidros de remédio tarja preta vazios e Lisa cortando os pulsos com os cacos do espelho.

—Lisa! Lisa! Para.

Ela olhou para mim, para Khan... com fúria.

—Vocês estavam errados sobre mim. Eu amei minha mãe Emília mais do que vocês possam se quer imaginar. Vocês não veem esta luz em mim? É porque vocês roubaram. Sufocaram. Eu nem tinha nascido e vocês eram o Diabo! Vocês roubaram minha luz, meu amor, minha vontade de viver, minha habilidade de morrer. Você não é mais a minha mãe. E você nunca foi meu pai. E eu não sou... sua filha!

—Querida eu sinto muito...

—É meio tarde pra isso. Mas, no fim... vocês, os humanos, todos estavam certos sobre uma coisa. 

—O que?

—Eu aprendi muitas coisas. Eu sou... a arma mais poderosa, a arma suprema. Eu sou... o Monstro que vocês criaram.

—E porque está me dizendo isso?

—Porque você... não estará aqui... para ver.

Senti a mão dela atravessar o meu peito e então... escuridão.

P.O.V. Khan.

Lisa arrancou o coração de Elisa fora.

—Oh Meus Deus!

—Como é a sensação? Como é a sensação de perder a pessoa que você mais ama bem diante dos seus olhos? De ver o corpo cair, saber que ela morreu e que foi culpa de alguém? Como é a sensação de ter o seu coração e sua alma... arrancados de você, pai?!

Disse Lisa encolerizada enquanto amassava o coração da própria mãe fazendo o sangue espirrar e respingar no seu rosto, na sua roupa.

O líquido escarlate escorria pelo braço dela.

—Olhem pra mim! Olha no que vocês me transformaram! Um monstro feio, cinza e odioso! Você acha que sou um milagre agora, mãe?

Perguntou Lisa para o cadáver ainda quente de Elisa.

—Não. Eu acho que não.

P.O.V. Beverly.

Ver a Lisa assassinar a própria mãe... olhando nos olhos e simplesmente arrancar o coração fora...

—Lisa... eu sei que... está triste.

—Triste? Triste?! Eu estou quebrada, nasci quebrada.

—Não, não nasceu. Você é uma boa pessoa.

—Eu era. Eu era uma pessoa e agora eu sou um Monstro. Você acha que sabe o que é ficar triste? Você não sabe de nada! Sempre cercada de mentirosos e traidores, usurpadores, interesseiros. Uau! É o sonho virando realidade! Eu... eu a matei. Eu... eu a matei. Eu a matei! Matei minha mãe biológica! E eu não me sinto melhor! Não me sinto em paz! Eu não sinto absolutamente nada! Sou um buraco negro sem fim.

Lisa se voltou para Khan.

—E você?! Você é um buraco negro ainda maior que eu. Um buraco negro de amor e energia e tempo. Só... sugando tudo. Nunca devolvendo nada. Nenhum de vocês nunca parou para pensar em mim! No que eu queria. No que eu sentia! É só... me perdoe, seja minha namorada, seja minha herdeira, seja a filha que eu nunca tive. Seja a substituta para a sua mãe morta e enterrada.

Ela virou um tapa na cara do pai dela esfregando o sangue da mãe na cara dele.

E Lisa simplesmente foi ao banheiro e começou a concertar tudo e a lavar a mão na pia do banheiro enquanto chorava á ponto de soluçar. Então, ela fez o impensável, o impossível.

O corpo de Elisa começou a se refazer, o coração cresceu de novo, as costelas, os músculos, a pele tudo. E ela respirou.

—Elisa!

—O que... o que houve?

—Eu te matei. Arranquei o seu coração fora e amassei.

Lisa mostrou as presas e os olhos.

—Ainda acha que eu sou um milagre? Mãe?

E ela saiu do apartamento num borrão com um silvo de vento.

—Puta que pariu, mano. Ela te trouxe de volta da morte! Literalmente!

—É estou começando a me acostumar com isso.

P.O.V. Lisa.

Sem casa, sem amor, sem família, sem esperança... fui para o cemitério e cantei Wishing You Were Somehow Here Again, pensando na minha mãe. Encarando o túmulo vazio dela. A minha mãe, não aquela mulher, mãe biológica.

Caminhando no meio daquelas estátuas de anjo, enormes, de mármore, gelados, os túmulos com inscrições, as árvores que também pareciam mortas.

Deixei rosas para ela.


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