Paradise Coast escrita por Erin Noble Dracula


Capítulo 17
Lembranças


Notas iniciais do capítulo

https://youtu.be/uvoPulPZ6n4-Nascimento de Lisa.



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P.O.V. Khal Khan.

Cá estou sozinho, em meus aposentos, olhando para esta fotografia. Foi tirada na Terra á vinte anos terrestres atrás. Quando eu estava fugindo, escondido.

A Doutora Elisa Carlton era como nenhuma outra mulher que eu já tenha conhecido. Era linda, parece estranho e talvez alguns considerem isso sexista, mas a primeira coisa que me chamou a atenção nela foi o seu cabelo.

Em Zênite ou em Astória não existem damas com o cabelo ruivo. Todas as zenetianas tem o cabelo louro, platinado, e as astorianas tem os cabelos escuros. Eu a conheci num bar, estavam ela, Emília e um grupo de amigos cientistas, dançando, bebendo e comemorando. Era seu aniversário.

Em Zênite também não temos esta tradição de aniversário. Ironicamente, Elisa descobriu a fórmula da droga que a matou. Ela usava um vestido preto que marcava suas belas curvas, mas o que eu mais gostava nela era o seu sorriso. A risada. Ainda posso ouvir.

Flashback On.

Entrei num local atraído pela música. Parecia muito com as músicas de Zênite. E haviam muitas pessoas, muitos terráqueos dançando e bebendo.

Mas, de repente a música parou e uma voz falou:

—Atenção! Atenção! Nós temos uma aniversariante na casa hoje! Então... vamos cantar parabéns para a Doutora Elisa Carlton!

E todos começaram a cantar e a bater palmas.

—Parabéns á você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida.

E passou um rapaz carregando algo quadrado cheio de fogo e levou até um certo grupo de pessoas. E eu a vi. Ouvi a risada dela. Era uma risada tão... gostosa, verdadeira. E ela tinha cabelos cor de fogo, assoprou o fogo que apagou. E começou a cortar aquela coisa quadrada e a distribuir entre seus convidados.

Decidi ao menos tentar falar com ela.

—Com licença.

—Pois não?

—Feliz aniversário, Doutora Elisa Carlton.

—Obrigado. Eu conheço você?

—Não. Temo que não. Eu sou Nicholas Warrior.

—Bem, é um prazer conhecê-lo. Você quer bolo?

—Bolo?

Ela pegou um pedaço daquele alimento, colocou num prato e me estendeu.

—Bolo. Pode comer. Não é veneno não.

O bolo era doce e tinha uma textura que nunca tinha experimentado.

—É bom.

—Claro que é.

Ela aceitou um completo e total desconhecido em sua festa, ofereceu-lhe alimento. Mas, notou que eu estava olhando para ela.

—O que? O meu rímel borrou? Isso acontece direto.

 Disse colocando uma mecha do seu belo cabelo cor de fogo atrás da orelha. A Doutora pegou algo em sua bolsa e abriu a caixinha, passando a mão no rosto.

—Não. Meu rímel não tá borrado.

Disse fechando a caixinha e colocando-a de volta em uma caixa maior.

—O que foi?

—Eu... gosto do seu cabelo.

—Oh, obrigado. Por favor, não leve isso a mal ou coisa assim, mas você é gay?

Homossexualidade. Um tema ainda polemico neste Planeta.

—Não. Apenas, de onde eu venho não existem pessoas com esta cor de cabelo.

—Sério? Isso é estranho.

E então, havia outra. A cor dos olhos delas era parecida, os da Doutora eram azuis puxados para o verde e os da outra eram verdes quase dourados.

—Ei, Eli, vem comigo um pouquinho.

A Doutora foi arrastada para longe.

P.O.V. Elisa.

Minha irmã só me faz passar vexame.

—Ele é totalmente afim de você sua cabeçuda.

—Não. Não, está na sua cabeça.

—Ele tá te cantando.

—Está sendo gentil.

—Ai, pelo amor de Deus Elisa! Só se ele te convidar para dançar ou pra sair diga sim. Faça uma loucura ao menos uma vez nesta sua vida.

—Tudo bem. Tudo bem.

Estávamos no banheiro e quando voltamos ele ainda estava lá. E ele me convidou pra dançar.

—Tudo bem. Aceito.

Fui praticamente empurrada pela minha irmã maluca.

Flashback Off.

P.O.V. Khal Khan.

Eu me lembro da música que estava tocando. Timbaland, The Way I Are.

Flahsback On.

Tentei dançar com ela, mas as coisas não saíram como planejado. Quando comecei a me mover... ouvi ela gargalhar.

—Parece que... achei alguém... tão sem jeito quanto eu.

—O que?

—Tudo bem. Eu também não sei dançar.

Eu não sei dançar? Fui educado pelos professores mais caros que o dinheiro pode comprar, mas ela estava certa eu não sabia nada sobre a Terra.

Quando a festa acabou, os convidados foram embora e ela também.

—Foi um prazer conhecer você, Nicholas Warrior.

—Igualmente, Doutora Carlton.

Estava fazendo meu caminho para fora da boate quando ouço alguém praguejando.

—Que merda! Porque essas coisas sempre acontecem comigo?

E imagine minha expressão quando vejo que a pessoa que praguejava era a Doutora.

—Você está bem Doutora?

—Oh, você. Nicholas. Pode me chamar de Elisa.

—Você está bem, Elisa?

—Fui assaltada. O cara me apontou uma arma, levou minha bolsa, meu dinheiro e a chave do meu carro! Então, não posso abrir o carro ou dirigi-lo, não posso ligar para minha irmã vir me pegar ou para o guincho nem ao menos posso pegar um táxi. Será que dá pra piorar?

Foi ela fechar a boca, começou a chover, muito.

—Já vi que dá.

—Bom, eu tenho um carro. Posso levá-la de volta pra casa.

—Isso seria ótimo.

Disse rindo. Nós corremos até o meu veículo, abri a porta para que ela entrasse e entrei em seguida.

Mesmo dentro do carro ela ainda ria.

—Porque está rindo?

—Porque... isso parece uma cena de um filme de romance ruim. A donzela em perigo é salva pelo Príncipe. A chuva e tudo isso ai.

Ela finalmente parou de dar risada e disse:

—Obrigado. Por me salvar.

Era um agradecimento genuíno.

—Disponha, senhorita.

Liguei o carro e comecei a dirigir. Essa coisa é tão simples que não compreendo porque os terráqueos precisam fazer um teste para dirigi-la.

—Muito bem, para onde?

Ela me passou o endereço e eu fiquei chocado.

—O que?

—Surpreendentemente, somos vizinhos.

—Somos?

—Eu acabo de me mudar.

—Oh. Tudo bem.

—Você é Doutora em que?

—Neurologia. Especialista no cérebro humano. Acho fascinante. Esta coisa dentro da nossa cabeça que controla todo o nosso corpo, cada movimento, respiração, batida do coração. Estou escrevendo uma tese sobre ele. Cérebro e mente, qual é a diferença? Existe uma separação?

A paixão com a qual ela falava, os braços se moviam e ela se empolgava.

—Desculpe. Sou uma viciada em trabalho.

Parei o carro na garagem, ela desceu e então pareceu se dar conta de algo.

—Droga! Posso usar seu telefone?

—Claro. Porque?

—O assaltante levou tudo o que eu tinha. Inclusive a minha chave de casa.

—Bem, é bem vinda para ficar. 

—Acho melhor não. Fica pra uma próxima, talvez.

Pela primeira vez em dez mil ciclos fui rejeitado.

—Tudo bem.

Ela usou o telefone, a irmã veio acudi-la com um rapaz cheio de ferramentas que abriu a porta.

—Você é mesmo azarada.

—Nem tanto.

—Boa noite.

—Boa noite.

Flashback Off.

Aquele foi o primeiro de muitos encontros. Elisa era...afetuosa, engraçada, autêntica, gentil, carinhosa, altruísta e verdadeira. Me lembro do quanto era desastrada. Vivia trombando nas coisas, derrubando café na blusa ou qualquer coisa assim.

Me lembro de quando contei a ela sobre mim.

Flashback On.

Como devo contar isso a ela?

—Você está bem?

—Tem algo que preciso lhe contar, mas não sei como.

—Você é casado?

—Não.

—É procurado pela polícia?

—Não.

—Então, por mim tudo bem.

—Eu não nasci em Paradise Coast.

—E?

Não conseguia responder.

—Olha, o que quer que seja esse seu grande segredo... eu não vou contar. Nunca serei o Iceberg do seu Titanic. Contanto que não tenha problema com a justiça, eu não conto.

—Na verdade eu não nasci em nenhum lugar perto de Paradise Coast ou desta Galáxia.

—O que? Como assim?

—Sabe a pergunta que os humanos fazem para, estamos sozinhos no universo? A resposta é não.

Fechei todas as cortinas e portas para impedir que a luz do sol amarelo entrasse.

—O que está fazendo?

—No meu planeta, nós temos sol, mas não como o seu. E duas luas com duas vezes o tamanho do seu sol.  Vou mostrar como realmente sou, mas a luz do sol amarelo me fere na minha forma Original.

Respirei fundo e mudei de forma. Podia sentir meu D.N.A. se reorganizando, minhas células mudando.

—Ai Meu Deus!

P.O.V. Elisa.

Ele era tão pálido, quase translúcido, cataléptico. As íris dele eram azuis, um azul fluorescente e frio, quase branco. Podia ver as veias dele sob a pele.

E o cabelo era... loiro platinado.

—Minha Nossa! Isso é... absolutamente incrível.

Então, comecei a pensar. Talvez algum dia, num passado muito distante um humano tenha visto alguém do planeta dele em sua forma original e pensado que era um vampiro.

—Incrível? Pensei que iria me rejeitar.

—Você me salvou quando fui assaltada e me ofereceu um lugar pra ficar, me deu carona. Se mais humanos fossem como você Nick, a Terra seria um lugar melhor. E eu acho que Nicholas Warrior não é o seu nome de verdade é?

—Não. Sou Khan.

—Como o personagem do Star-Trek?

—Sim. Sou Khal Khan.

—Então, o seu nome é Khal?

—Não. É Khan. Khal é... um título. Significa Rei ou no meu caso, Príncipe.

Eu ficava passando as mãos no cabelo e andando de um lado para o outro ainda processando a informação.

—Eu tenho que me sentar.

Me sentei, respirei fundo algumas vezes.

—Se eu abrir as cortinas e você estiver assim... o que o sol vai fazer como você?

—Feridas. Vai queimar minha retina, ferimentos horrorosos e extremamente dolorosos na minha pele. Eu não produzo melanina, não neste momento.

—Inacreditável. E você é obviamente um metamorfo.

—Posso controlar meu D.N.A. reorganizá-lo, alterá-lo, reformá-lo, deformá-lo. Não faz diferença. É tudo a mesma coisa. Infelizmente há uma limitação. Com sou biologicamente do gênero masculino, só posso assumir formas masculinas.

—Posso... posso tocar em você?

—Elisa, você me beijou e nós ficamos juntos.

—É. Eu transei com um alienígena e você também, suponho. Mas, isso é um sim?

—Sim.

Peguei nas mãos dele e eram como sempre geladas como pedras de gelo. Toquei o rosto e beijei-o nos lábios. Ele era tão frio.

—Você está bem? Está tão... gelado.

—Eu sou gelado. Comparado a um humano.

Contei a ele que era voluntária num experimento com a droga que eu havia inventado. CPH4 uma versão sintética. Serviria para estimular a atividade cerebral e ele me contou que havia coletado D.N.A. de todas as espécies não humanas da Terra. Que também era cientista.

P.O.V. Khal Khan.

Ela ficou empolgada em saber mais sobre o que a humanidade chamava de sobrenatural, o que acreditavam ser apenas lendas. Contei a ela sobre cada criatura, sobre Zênite, sobre Astória, todos os planetas que já havia visitado. E sobre meus planos de usar o D.N.A. das espécies não-humanas da Terra numa cobaia.

Alguns meses depois os testes da nova droga inventada por Elisa e a irmã começaram. E todas as cobaias morriam. Era muito estímulo, o corpo não suportava. E o mesmo acabou acontecendo com Elisa.

Quando descobriu que estava grávida, ficou desesperada.

Flashback ON.

Elisa ficou desesperada.

—Tenha calma?

—Calma? Estou grávida! Estou grávida Khan, de você! Não estou arriscando só a minha vida. Estou arriscando a vida do nosso filho. Meu Deus, se eu soubesse. O que vamos fazer? Não posso deixar o bebê morrer. Não posso e se eu parar... se eu interromper as injeções... só vamos morrer mais depressa.

Então, ela pareceu ter uma ideia.

—O D.N.A. Khan, o D.N.A. das outras espécies. Podemos usar.

—O que? Não. Não, se eu usar você não vai sobreviver.

—Não vou sobreviver de qualquer jeito. Já estou morrendo, mas se existe... mesmo que... a mínima chance... de salvar o nosso bebê... temos que tentar. Pense pelo lado positivo. Mesmo após a minha morte, uma parte de mim vai viver. Nosso filho vai viver.

Disse Elisa com lágrimas nos olhos. E eu usei meu equipamento e o D.N.A. coletado mesclando-o com as células do nosso filho.

Elisa deu a luz á uma menina, ela morreu no segundo em que a criança nasceu. Mas, eu não aceito isso.

Flashback Off.

Sem que Elisa soubesse, usei a tecnologia de Zênite para captar e absorver sua consciência, suas memórias e coletei seu D.N.A. enquanto ela dormia. Uma mecha do seu lindo cabelo, até uma amostra de saliva por garantia.

Agora que Una está morta e não é mais um obstáculo... posso ter o meu amor de volta. A minha Rainha.


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