Uma Canção de Neus Artells escrita por Braunjakga


Capítulo 5
A capitã




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I

 

Setcases, frontera Catalunya-França

5 de agosto de 1714

 

A viagem de Neus e sua companhia até Setcases durou 2 dias.

Eles, a companhia de Neus, fizeram breves paradas por Vic e Ripoll no caminho para repor energia, suprimentos e dormir.

Na manhã do terceiro dia, eles saíram de Camprodon e seguiram pela margem do rio Ter até alcançar Setcases.

Quanto mais avançavam, mais eles subiam a planície e se aproximavam das montanhas nevadas dos Pirineus.

Nesse ponto da viagem, a correnteza do rio Ter ficou mais forte, o ar, mais frio e os ventos, mais turbulentos.

Por causa disso, tiveram que vestir casações grossos cor de vinho para montanhas.

Tudo isso foi arranjado por um regimento de Miquelets da cidade de Llanars que os aguardava há um tempo.   

Por fim, chegaram em Setcases às oito da manhã.

Na entrada da cidade, onde a corrente do rio Vall-Llobre se encontra com o Rio Ter, havia uma árvore.

A companhia avançou montanha adentro, mas Neus parou quando viu a árvore e se lembrou de um fato vivido há um mês.

 

Era noite.

A estrela vespertina desaparecia com o sol e as outras estrelas no céu começavam a aparecer.

Um vento fresco de começo de verão soprava das montanhas.

Na árvore, deitados na grama, ouvindo os sons dos dois rios se juntando próximo deles, um casal unia seus lábios e grudava seus corpos.

Ela, com roupas de camponesa, usando uma saia que raramente usava.

Ele, com uniforme de mensageiro terminando um dia de serviço.

Havia um cavalo que o rapaz usava para seu serviço de mensageiro amarrado na árvore..

Depois de um tempo sem querer se desgrudarem, soltaram seus lábios e ficaram  contemplando as estrelas no céu, abraçados.

Eram Neus e Gerard.

Os dois eram namorados há três anos e faziam planos para se casarem logo depois do fim da guerra.

Neus estava na cidade entregando um carregamento de melancias. Gerard soube e passou por lá para ver a namorada.

— Seu bobo! Eu ia voltar pra casa daqui há dois dias! Por que não me esperou lá?

— Neus, eu não posso voltar pra Sabadell agora, eu precisava falar com você sobre isso!

— O que foi? – Neus ficou preocupada.

— Por causa da guerra, as rotas de mensagens vão começar a se fechar, os miquelets tão ocupando as estradas e barrando qualquer um que vem ou vai de fora da Catalunya, eu só pude passar porque eu sou catalão...  

— Desembucha, Gerard!

Com semblante triste, ele confessou:

— Eu não vou poder ir e voltar pra Barcelona vindo de Madrid como eu fazia antes… Eu vou ter que ficar em Madrid, meu bem, até o fim da guerra…

— É o que? – Neus levantou-se da grama como aquilo fosse uma afronta contra si. – Como assim você vai ficar em Madrid até o fim da guerra? Isso pode durar anos pra se resolver, Gerard!

— As tropas do rei já estão se concentrando em Saragoça e muitas outras estão subindo de Valência; os valencianos aceitaram o acordo com o Rei…

— Eles tão achando que vai ser fácil conquistar Lleida? Eu já vi a cidade, Gerard, os portões são inexpugnáveis!

— Amor… – Gerard segurou o rosto de Neus e deu um beijo longo nela. – Me dá dois meses…

— Dois meses?

— Sim, dois meses; eu sei que você é impaciente, mas me dá esse tempo! Eu preciso, tá? Meu pai tá em Madrid, tá doido de preocupação, você sabe como ele é e depois de eu falar com ele, eu arranjo um plano pra gente… tá certo?

O casal ficou em silêncio por um tempo.

— Dois meses, né amor? Então em setembro a gente se vê…

— Sim, lá pro dia 15 acho que dá…Me espera! Vou ir pra Valência e vou pegar um navio até Tarragona…

— Por que Tarragona?

— É uma das únicas cidades da Catalunya onde os navios de outras partes da Espanha estão autorizados a ir… A marinha controla o porto por lá, não os miquelets…

— Tarragona… tá certo então…  até lá o povo de lá vai precisar de melancias e eu vou ir lá pra entregar…

Gerard se levantou da grama e tornou a selar seu cavalo, dessa vez para partir.

Os dois estavam chateados, mas Neus estava mais chateada ainda.

— E o que eu vou fazer até lá, seu bobo?

Neus segurou tolamente a camisa azul marinho de Gerard, tentando impedi-lo,

Nessa hora, um fio vermelho de luz cruzou os céus de Setcases como um cometa e foi parar atrás dos Pirineus.

Neus não gostou daquele cometa com rastro cor de sangue rasgando o céu escuro.

Gerard pousou os olhos no fenômeno e ficou olhando-o atentamente.

— Tá vendo aquilo?

— Sei…

— Pensa que aquilo é um dragão! Se lembra daquela história que eu te disse sobre São Jorge, nosso padroeiro? Quando a gente precisa, eles caem do céu como aquele cometa pra proteger a gente.

— Eu não gosto de dragões, Gerard, só você que gosta!

— Faz um esforço, vai!

— Dragões são criaturas que cospem fogo, Gerard, e acaba com tudo! Quer que eles acabem com a minha fazenda se eu chamar um deles?

— Sua boba! – Gerard começou a beijar Neus e a garota correspondeu. – Por isso que eu te amo!

— Eu também…

Gerard montou no cavalo e ia pegando a estrada para Lleida quando Neus gritou:

— Não vai entrar pro exército, Gerard! Por favor! É contra seu próprio povo que você vai lutar!

Gerard não falou nada.

— Eu que quero ficar longe daquela bagunça!

Gerrard cavalgou.

Neus correu alguns metros e gritou mais uma vez:

— Gerard!

Mas o grito de Neus não alcançou Gerard. O cavalo já se distanciou o bastante para que sua voz fosse carregada pelo vento e ofuscada pelo farfalhar das árvores.

Restou a Neus apertar o punho direito fechado contra o coração e olhar o amado partir com uma angústia enorme no peito que descia até a barriga, como uma menina apaixonada das que tanto via em Sabadell e odiava ser uma.

— Droga, Gerard! Tarragona, né? Dia 15 de setembro, né? Você me paga!

 

— Neus! Neus!

Um grito fez Neus se desfazer de sua nuvem de recordações e voltar para a realidade.

Em sua frente via o fim da fila de sua companhia de coronelas e ao seu lado, o Irmão Pau berrava em seu ouvindo:

— Que é?

— Quer ficar pra trás mesmo, é? Vamos! Todo mundo já foi e você fica boiando olhando essa árvore idiota!

Neus falou com ternura:

— Não é idiota, Pau… Foi aqui que eu e o Gerard nos vimos pela última vez…

Pau riu da irmã:

— Olha a mocinha apaixonada esperando o namoradinho! Olha! Se lembra da Dolors e aquela cara de choro dela quando o Vicent ficou três meses nas Baleares?

Neus pegou o fuzil das costas e começou a dar coronhadas em Pau. Ele gargalhou mais ainda.

— Você pára com isso, seu moleque! Eu não sou aquela menina idiota! Vamos! Vamos!    

 

II

 

A companhia viajou algumas horas pelas montanhas.

Ao contrário das planícies, verdes no verão, as montanhas estavam cheias de neve. Era difícil andar e os ventos sopravam mais fortes cada vez que subiam.

— Mana, você sabe pra onde a gente tá indo?

— Pra uma gruta nas montanhas. Segundo o prefeito de Setcases, ele acha que tem tropas espanholas entrando na Catalunya desde a França.

— As mesmas que atacaram Girona?

— Talvez…

 

— Você vai entrar em guerra contra os Espanhóis, mana, você não queria, né? Agora você me entende? – Pau perguntou em tom provocador.

— Eu tou lutando pelo Gerard, não tou lutando contra a Espanha… Eu só quero saber quem foi o miserável que queimou nossa fazenda!

Pau ficou tão animado com o que a irmã disse que colocou uma bala no fuzil e engatilhou-o para atirar, mas Neus não deixou Pau fazer isso.

Ela segurou o cano do fuzil do irmão e deu uma bronca nele:

— Ficou doido, é? Olha alí! Vai entregar nossa posição.

A companhia inteira parou e se escondeu atrás das rochas.

Nas estradas nevadas, uma carroça de madeira puxada por dois burros apareceu.

Uma lona cobria o que havia dentro, mas pelo volume, parecia que tinha coisa grande.

O homem que a conduzia desceu da carroça e mais dois homens saíram detrás de uma rocha, todos os três cobertos com grossas capas de couro, mas por baixo das capas, dava para ver as botas pretas de soldados.

— Espanhóis!

— Pera aí, Pau! Não vai apontando nada assim!

Neus baixou o fuzil do irmão e o cano da arma bateu na pedra. Como Pau já tinha carregado a arma, o fuzil disparou por acidente e chamou a atenção dos soldados em frente a carroça.

Um deles gritou:

— Coronelas! Retirada! Retirada!

Um dos dois soldados montou na carroça e deu meia volta.

— Fomos descobertos! Em posição! – Ordenou Neus.

Os coronelas acharam por bem atirar nos soldados.

Um dos soldados que estava no burro foi abatido, o outro conseguiu escapar.

Mais e mais soldados com casacos de couro saíram da caverna correndo e, em vez de formarem uma linha de defesa em frente da caverna e atirar de volta, resolveram correr.

Os coronelas atiraram e abateram um ou outro fujão.

Alguns dos soldados de casaco de couro, para se proteger, atirava de volta nos coronelas, mas a maioria resolveu fugir.

— Basta! Eles estão correndo! Não é certo atirar quando não somos atacados! – Ordenou Neus.

— Porque estão fugindo? Eles são muitos! Eles podiam tentar reagir! – Indagou Pau.

— Eu acho que eles estão armando uma emboscada pra gente! Isso sim! Eles estão esperando a gente entrar na caverna pra prender a gente lá! – Disse um dos sargentos coronelas.

— Vai lá saber… – Respondeu Neus. – A gente podia se dividir e ficar aqui pra ver se eles voltam enquanto o outro grupo explora a caverna.

— Tá maluca, Mana! Eles vão fuzilar a gente! Se tiver alguém na caverna?  Os que foram primeiro vão voltar pra pegar a gente! Se a gente for atrás dos fujões, os que estiverem na caverna vão prensar a gente nessas estradas de neve.

As bochechas de Neus se encheram de ar.

— E quem foi o gênio que queria atirar logo de começo?

Enquanto pensava se entrava ou não, um tiro passou de raspão na cabeça de Neus e derrubou seu chapéu de três abas no chão de neve.

Era um dos soldados de casacão que havia ficado.

Ele tinha duas pistolas na mão e atirou na direção dos coronelas.

Um, dois, três, quatro coronelas da companhia de Neus foram morrendo em seguida.

Neus e Pau se esconderam na rocha e atiraram no soldado.

Os tiros atravessavam o casaco de couro e revelava detalhes da farda vermelha como sangue que ele usava, mas não o feriam.

Mais e mais coronelas morriam. A cifra chegou a dez homens mortos na neve.

— Baixar armas!

— Mana, ele não morre com tiro! Ele tá vindo e continua atirando!

— Eu tou vendo que isso é trabalho pras cartas Clow…

A chave do lacre  com cabeça de pássaro estava  no pescoço de Neus. Ela tocou no chave e recitou:

— Cartas criadas pelo mago Clow, abandonem essa velha forma e venha servir à sua nova dona! Em nome de Neus Artells!

A chave se transformou em espada e Neus sacou uma carta do livro:

— Tiro!

Neus apontou a espada contra o soldado, ela disparou tiros de luz. O soldado recebeu tiros e cambaleou. Deu mais um tiro e mais outro e o soldado caiu, mas não morreu.

Os coronelas sobreviventes correram até ele e o cercaram.

Pau chutou as pistolas que ele usava para longe, para evitar que ele pegasse de novo.

— Como um cara desse causou tantas perdas pra gente! Droga!

Neus se agachou até o soldado e perguntou:

— Quem é você? Você é espanhol?

O soldado agonizando respondeu em castelhano:

— Vete a la mierda, cabrones!

— Tinha que ser um puto espanhol! – Disse Pau.

— Quem diabos é você? Você usa magia?

O soldado cuspiu sangue na cara de Neus e morreu.

Pau chutou o corpo do homem até derrubá-lo no barranco.

— Pára com isso, Pau! Você chutou no barranco a última chance de saber quem ele era… vamos! Eu protejo todo mundo!

Os coronelas obedeceram e entraram na caverna.

“Mas pelo menos eu sei que eu tou no caminho certo…” – Pensou a sardenta.

 

III

 

Na caverna, as tropas de Neus revistaram as paredes e túneis da caverna em busca de mais soldados espanhóis escondidos.

As paredes da caverna eram úmidas e frias e parecia que dentro da caverna era mais frio do que fora da caverna.

Haviam tochas nas primeiras paredes a cada cinco metros, mas, a medida que avançavam, as tochas ficavam mais distantes umas das outras e o túnel ficava mais escuro.

Em poucos metros, encontraram as primeiras bifurcações e descobriram que aquilo tudo era uma rede complexa de túneis.

— Acho que é melhor dividir metade, metade para cada lado…

— E arriscar perder outra metade numa outra divisão? Não! Vai um e os outros 39 continuam. Se ele encontrar um caminho sem volta ou encontrar alguém é só voltar pra trás e ele pode sair ou continuar com a gente na outra bifurcação, mana!

— E se tiver mais e mais bifurcações, gênio? O exército pode estar em qualquer túnel! E se todo o exército estiver concentrado em um só ponto e atacar nosso único soldado?

— Então é melhor a gente escolher um caminho só e ir todo mundo junto… vai demorar mais, mas acho que essas cavernas não são muito grandes e com certeza tem muitos caminhos sem saída por aqui…

— Da mesma forma que também tem caminhos muito longos por aqui! É que nem túnel de formigueiro! Acho melhor a gente voltar e esperar…

— E ser encurralado lá fora?

Enquanto Neus e Pau discutiam, um coronela interveio:

— Permissão, Capitã, Sargento! Acho que todo mundo aqui sabe onde se meteu quando a gente escolheu esse caminho! Acho que é melhor a opção do Sargento Pau de ir um por um caminho e os outros vão pelos demais! Se morrermos ou encontrarmos um inimigo, vamos ter certeza de ir pro inferno com o fuzil descarregado!

Neus e Pau olharam-se e concordaram com o plano, a muito contragosto de Neus.

 

IV

 

À medida que avançavam, mais e mais bifurcações eram encontradas e mais coronelas partiam em sua aventura solitária pelos túneis até o ponto em que só restaram Neus e Pau:

— Vamos continuar juntos, mana! Não vamos nos dividir não!

— Eu fico pensando se isso não é uma estratégia do inimigo…

Os irmãos continuaram avançando e só o pior aconteceu dali em diante.

Os túneis se tornavam mais e mais largos e longos e pareciam não ter fim. Os dois se cansaram e o suprimento havia acabado. A luz das tochas também acabou e Neus precisou sacar a carta “Brilho” para iluminar a escuridão. Mais bifurcações apareceram e os irmãos se viram diante da escolha por um e rejeitar os outros.

Os primeiros gritos e tiros foram ouvidos longe de onde eles estavam.

— Tá ouvindo, mana? Bem que você falou! Os malditos espanhóis atraíram a gente pra caverna pra nos dividir e nos massacrar! Ah, eu não vou morrer com um fuzil descarregado não! – Pau pegou o fuzil e colocou balas neles.

— Calma, Pau, não fica assim tão nervoso! Eu protejo a gente! – Neus sacou as cartas “Escudo” e “espada” do livro.

— Mana, você já tá usando a carta “brilho”, vai usar a carta espada e escudo ao mesmo tempo mesmo? Três cartas?

— Eu tenho que tentar, Pau, eu tenho que tentar...

Neus jogou as cartas no ar e a espada e o escudo apareceram nas suas mãos e braços. Uma esfera azul transparente envolveu o irmão.

— Puxa, Neus, né que deu certo! – Disse Pau, excitado.

Neus sorriu também, mas logo o sorriso desapareceu.

— Tá ouvindo isso, Pau?

— O que?

— Tem uma cachoeira logo alí! Vamos, vamos!    

Orientada pelo som das águas, Neus escolheu um caminho e Pau seguiu a irmã.

 

V

 

Neus e Pau chegaram até uma gruta.

Na gruta, havia uma luz que descia desde o alto dos Pirineus e iluminava a câmara.

A luz revelou uma pequena lagoa que havia no centro dela e a cachoeira de onde vinha o som das águas, há uns dez metros de altura.

— É aqui, Pau! A nascente do rio Ter!

— Que sorte ver ela! Vai ser mais sorte a gente sair daqui! Você não acha estranho, mana?

— Estranho o que?

— A gente não encontrou caixas, armas, redes, sacos, nada que indica que havia alguém aqui nessas cavernas e o pior é que tinha gente, tinha soldados!

— Será que eles não estão em outro túnel?

— Deve ser…  

Atrás deles, passos foram ouvidos.

Os dois se voltaram com armas em punho.

— Pare ou eu atiro!

— Baixa, Pau, é um dos nossos!

Era um coronela.

O homem correu tanto que se agachou para respirar um pouco. Estava exausto e suado.

— Peraí, você é o Sargento Andreu, de Girona, não é?

— Sargento Andreu? Você é o soldado que ajudou o Josep Puigdemont a fugir de Girona quando começou o incêndio, não é?

— Sou eu mesmo, Capitã!

— Que honra ter alguém como o senhor aqui! Como chegou até aqui?

— O presidente em pessoa mandou ajudá-los, mas parece que vocês já se adiantaram, eu já estava a caminho quando me falaram que vocês entraram aqui…

— E os espanhóis, Sargento? Não encontrou nenhum pelo caminho não?

— Não capitã, não vi nenhum!

— E os demais coronelas, Andreu? Cadê os outros? Não viu nenhum pelo caminho não quando você entrou aqui? Como achou a gente?  

— Sargento Pau, não tem outros… mas o poder mágico de vocês e o uso das cartas Clow dentro dessa caverna tornou fácil meu trabalho…

Neus ficou assustada:

— Como assim não tem outros?

Pau voltou a pegar o fuzil:

— Que trabalho é esse?

Uma arco saiu da manga do casacão vermelho do sargento.

Um escudo vermelho como sangue apareceu no outro braço.

— Não tem outros porque eu matei todo mundo… pois o meu trabalho até aqui foi me infiltrar nos coronelas e enviar toda a informação que eu pude reunir pro meu Interventor… mas eu pude descobrir mais quando eu ajudei a queimar Girona e ouvi falar das “Cartas Clow”. Eu achava que era ficção, mas olha elas aqui na minha frente! Totalmente indefesas!

— Maldito!

Pau tentou dar um tiro na cara do Coronela, mas não adiantou.

— Armas humanas não funcionam contra mim, Sargento! Depois que eu acabar com vocês, vou passar pra Major na Ordem num piscar de olhos!

— Bom saber que armas humanas não funcionam!

Neus passou a mãos na lâmina da espada e a carta fogo apareceu, incendiando a espada em suas mãos, sem precisar sacar a carta, só pensar.

Assim que fez isso, o Sargento Andreu começou a brilhar e a farda de coronela queimou em seu corpo e revelou uma armadura vermelha como sangue por baixo dela, o mesmo brilho do cometa que um dia no passado Gerard mostrou para Neus e jurou que ia protegê-la.

“Gerard, que história é essa de dragões que protegem a gente? Esse aqui quer me matar! Matar eu e o Pau!”

— Eu vou enfiar minhas flechas do dragão no meio dos seus corações e enviar a cabeça de vocês como um memorial pra Ordem!

O sargento Andreu disparou três flechas ao mesmo tempo contra Pau.

Pau, projetando círculos mágicos marrons na palma da mão, levantou uma barreira de madeira, mas uma das flechas atravessou a barreira e atingiu seu ombro, causando muita dor.

— Merda!

— Pau! Furou a carta escudo!

Neus partiu para cima do Sargento, mas ele se movia em velocidade muito rápida, se esquivou e atirou contra Neus.

Neus fez um círculo de fogo com a espada e se protegeu das flechas.

Enquanto atirava, Pau criou um enorme círculo mágico no ar e várias estacas de madeira saíram de lá. Elas atingiram o Sargento Andreu, mas não causaram dano aparente nele.

— Com o poder do Dragão, nem mesmo magia pode me atingir!

— Mas isso pode, como acertou o outro lá fora!

Neus alcançou o Sargento Andreu e deu uma espadada em seu braço do escudo. O braço caiu no chão.

— Não pode ser…

— É sim!

Pau apareceu com tudo com uma estaca de madeira na mão e tentou espetar o Sargento Andreu pela barriga, mas isso só arrastou o sargento para a parede.

— Você acha que consegue vencer a ordem com sua magiazinha, pequeno Pau?

Quando Pau menos esperava, o Sargento Andreu tinha um arco apontado para a cabeça dele com três flechas que ele atiraria a queima roupa.

— Pau!

Neus estava longe demais para impedir.

— Através!

— O que?

Neus sacou a carta “através” de uma ponta da gruta e reapareceu na outra ponta da gruta, ao lado de Pau.

A espada flamejante estava em suas mãos.

Ela cortou braços, tronco e armadura do Sargento Andreu com um golpe só.

O Sargento Andreu caiu só com o tronco no chão, desmembrado e esquartejado como um animal no matadouro, com os membros espalhados pela gruta.

— Mana!

— Pau!

Os irmãos se abraçaram, chorando, mas logo se separaram assim que o Sargento Andreu mostrou que ainda estava vivo:

— Então esse é o fim… mas não pense que isso acaba aqui pra vocês… Esse é apenas o começo… Eu sou apenas um sargento da Ordem, mas será que vocês vão ser capazes de enfrentar nosso Interventor? Enviando informações para o Mestre Enric…

— Quem é esse interventor? Quem é mestre Enric?

— Uma vez da ordem, sempre da ordem… Apenas descansamos quando a missão chega no fim… Nunca descansando, sempre procurando, por quaisquer meios possíveis,

sem qualquer hesitação, chegar aos nossos fins.... Contra tudo, contra todos… Essa é a Ordem!

Uma espécie de jóia cor de rubi saiu da testa do Sargento e voou pela caverna até a fresta por onde passava a luz que iluminava aquela gruta.

— Foi você quem queimou Girona, né?

— Eu e outros caras que não vou dizer quem são…

Neus encostou a espada no pescoço dele e o Sargento Andreu Sorriu:

— Você vai morrer até saber quem deu a ordem, Capitã!

— Não faz falta, eu vou descobrir até lá…

Neus estava com um semblante sombrio.

Pegou a espada flamejante e cortou com um golpe a cabeça do Sargento.



Continua…  


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