Oh meus deuses! escrita por Lily


Capítulo 4
04. A paciência de Astrid Haddock




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/776826/chapter/4

"A paciência de Astrid Haddock"

Astrid sentiu o gosto ácido em sua boca, sua cabeça estava zonza como se ela tivesse sido atropelada por uma manada de gronckles irritados. Deuses como ela odiava Melequento naquele momento.

Ela se deixou cair na cadeira sem conseguir mais se manter em pé. Astrid havia arrastado Melequento por toda a aldeia depois da confusão no cais, Bocão e Gosmento haviam impedido que os companheiros de viagem de Thanori amarrassem Melequento na popa do navio ou tentassem matá-lo. Mas era óbvio que eles não iriam fazer nada para impedir que ela o matasse.

—Você tem noção do que você fez? - ela indagou, sua voz estava em um tom baixo e controlado, mas mesmo assim Melequento deu um passo para trás, ele estava vestido uma túnica tão grande que quase chegava aos seus pés, Astrid tinha quase certeza que Cabeçaquente havia lhe entregado um vestido apenas para humilhá-lo ainda mais. - Você tem noção da encrenca que se meteu?

—Não é tão ruim quanto parece.

—Não é tão ruim? Me diga, Melequento, qual parte não é tão ruim? A parte em que você dormiu com a irmã do chefe de Hinkard ou a parte em que você foi ameaçado de morte ou a parte em que você provavelmente irá morrer? Porque para mim todas as partes são ruins.

—Falando assim realmente parece ruim. - Melequento resmungou cruzando os braços. Astrid se segurou para não revirar os olhos, estava tão enjoada que apenas aquele simples movimento possivelmente acarretaria uma intensa onda de vômito. - Mas em minha defesa, foi ela quem se insinuou para mim.

—Oh claro!

—Eu estou falando a verdade. Ela é louca! Ela me puxou para fora do salão e me levou até o barco.

—E por que você não disse não?

—Porque uma mulher bonita estava me arrastando para um lugar escuro para fazer...

—Melequento! Eu não vou ter essa conversa com você. - Astrid afirmou cruzando os braços em desgosto.

—Mas você já está tendo. - Melequento apontou com um sorriso malicioso no rosto.

—Que os deuses me salvem dessa maldição. - ela murmurou em um resmungou. - Ok, deixa eu ver se entendi. Theria te puxou para o barco e vocês… fizeram coisas.

—Isso.

—Quer dizer que você a desonrou.

—Não exatamente. - ele afirmou. - Digamos que o que ela fez, eu nunca imaginei que uma perna pudesse fazer algo daquele tipo curvatura.

—Melequento!

—O quê?! Eu apenas estou informando um fato.

Astrid respirou fundo. Sua cabeça girava assim como seu estômago.

—Vai pra casa, vou conversar com Thanori e tentar chegar a uma acordo. Mas eu não quero olhar para sua cara pelas próximas horas. Fica longe ou eu juro que…

—Astrid! Suas ameaças já não me afetam mais. - Melequento disse já se retirando do salão.

Astrid esperou até que a porta se fechasse para correr até uma das pira e vomitar. Oh deuses, ninguém havia dito que ter um pequeno Haddock em sua barriga poderia ser tão incômodo.

Limpando a boca com o dorso da mão, Astrid se voltou para sua cadeira sentindo-se um pouco melhor. Depois iria pedir para que Valka ou sua mãe lhe trouxesse algo para comer.

—Astrid? - a chefe de Berk ergueu a cabeça encarando Bocão. - Como foi a conversa?

—Estranha. Muito estranha. Thanori ainda quer matar Melequento?

—Arrancar a cabeça com um machado para ser mais específico. - ele disse soltando uma risada.

—Você está se divertindo muito com isso, não é?

—O que posso falar? Sempre precisamos de um pouco de distração.

Astrid balançou a cabeça enquanto mordia a ponta de seu dedão.

—Tenho que falar com ele e resolver essa situação antes que seja tarde demais.

—Você quer que um chame ele aqui?

—Por favor.

Bocão assentiu e saiu mancando, sua perna de madeira batendo contra as pedras. Astrid começou a repassar mentalmente o que falaria para Thanori, tinha que defender Melequento, mas era um pouco difícil quando se conhecia o histórico dele e sabia que ele não se arrependia do que havia feito. Ela respirou fundo controlando os nervos e sua respiração, aquela agitação toda poderia fazer mal ao bebê, Gothi havia receitado algumas ervas caso ela não se sentisse muito bem, talvez fosse hora de tomar um chá. Ela se levantou pronta para seguir direto para sua casa, mas parou assim que Thanori entrou batendo sua bengala no chão.

—Aquele gordo e grande senhor disse que queria falar comigo. - ele disse. Astrid forçou um sorriso e girou os calcanhares voltando para a sua cadeira.

—Bom, nós temos que discutir sobre o que fazer com Melequento.

—Pensei que estivesse claro. Eu vou matá-lo.

—Embora eu entenda suas motivações, não posso deixar que o mate. Mesmo sem eu querer, Melequento é uma parte importante da nossa aldeia e membro da minha família. - ela falou com um pouco de desgosto na voz. Era fácil se esquecer que Melequento e Soluço eram primos, principalmente porque eles não se pareciam em nada. - Talvez possamos chegar a um acordo que seja resolvido com um derramamento de sangue.

—Talvez. - Thanori ponderou batendo a bengala no chão. - Minha irmã foi corrompida por aquele mal caráter. - Astrid dobrou a língua diante daquela acusação. Porque se o que Melequento disse for verdade, então Thanori não sabia da vida da irmã. - Então para devolver a honra dela, sugiro castração.

Astrid arregalou os olhos. Deuses! Por que homens tinham que ser tão radicais?

—Ou uma solução menos brutal.

Thanori colocou as mãos na cintura e bufou, Astrid se sentou na sua cadeira imaginando o que se seguiria. De repente as portas do salão foram abertas novamente e Theria entrou acompanhada de Freyan, as duas pareciam agitadas.

—Marido, Theria quer lhe dizer algo. - a mulher ruiva disse empurrando a cunhada em direção a Thanori.

—Irmão, eu lhe imploro, não faça nada a Melequento, por favor!

—Ele lhe desonrou.

—Mas eu o amo! - o grito de Theria fez Astrid saltar no lugar. A mulher parecia decidida sobre o que estava dizendo. - E quero me casar com ele.

—Casamento!? - Astrid e Thanori gritam ao mesmo tempo. Aquela era a primeira vez que eles concordavam em algo.

Ela  piscou rapidamente. Melequento e casamento na mesma frase não era algo de se esperar principalmente depois do que  Melequento havia dito algumas semanas antes, as palavras que tinham ofendido as mulheres solteiras de Berk e eliminado qualquer chance do próprio Melequento se envolver com alguém.

—Sim. Eu o amo e quero me casar com ele. - Theria afirmou mantendo o rosto sério.

—Mas você só o conhece a menos de um dia. Como você pode amá-lo?

—Ah irmão, o amor não perde tempo, ele simplesmente acontece. - ela explicou piscando os olhos como uma boba apaixonada. - Ele me desonrou e podemos consertar isso, se você me deixar casar com ele.

Astrid franziu a testa diante da proposta. Melequento não ficaria muito satisfeito com aquilo, talvez Astrid tivesse que mandar Cabeçadura ou Perna-de-peixe ficar de olho nele, para caso alguma tentativa de fuga.

—Você tem certeza que quer fazer isso? - Astrid indagou olhando diretamente para Theria.

—Absoluta.

—Então só me resta conversar com Melequento. - ela disse se levantando e passando pelos irmãos. Astrid seguiu até a sua casa para uma rápida parada antes de encontrar Melequento e lhe contar a novidade.

Ela abriu a porta deixando o ar frio entrar na casa, estava tudo silencioso e calmo. Astrid caminhou lentamente até a cozinha e pegou um pedaço de pão que deixava guardado em cima da mesa, um pouco de água e seguiu até seu quarto. Se sentou na cama olhando para a parede à sua frente, fechou os olhos e por um pequeno segundo, deixou o seu corpo e a sua mente descansar.

♢♢♢♢

—Casar?! - Melequento quase gritou enquanto andava de um lado para outro da cozinha. Astrid girou a pequena faca na mão antes de cravá-la na madeira da mesa, o som um tanto alto que fez Perna-de-peixe pular ao seu lado.

—Essa daí não bate bem. - Cabeçaquente murmurou sem esconder seu divertimento diante da situação.

—Esse é o único jeito de você sabe… não morrer. - Perna-de-peixe disse.

—Sinceramente não sei nem porque você ainda está pensando. A resposta é simples. - Astrid olhou para Melequento que ainda andava de um lado para outro.

—Não é tão simples assim. Theria é louca. - Melequento afirmou finalmente parando de andar.

—É! Louca por querer se casar com você. - Cabeçadura disse arracando uma risada da irmã, mas Astrid apenas revirou os olhos.

—É sério gente, ela é louca de verdade. Ela gosta de facas.

—E daí?

—Facas na cama, Astrid. - ele insistiu arregalando os olhos.

—Seja mais específico, meu caro amigo. - Cabeçadura pediu passando a pela barba desigual em seu rosto. Melequento então caminhou até ele e sussurrou em seu ouvido, Astrid observou que a medida que a história ia sendo contada o rosto de Cabeçadura se tornava mais confuso e perplexo, até o momento em que ele se afastou de Melequento parecendo horrorizado. - Ok, ela é terrivelmente insana.

Astrid balançou a cabeça ignorando completamente o amigo e então disse a Melequento.

—Não importa se ela é louca ou não. Se você não quiser morrer, terá que se casar.

—Eu realmente não tenho outra opção?

—Você poderia se jogar do penhasco para ver se sobrevive. - Cabeçaquente sugeriu isso fez Perna-de-peixe a encarar com repreensão.

—Ok. Se é assim que os deuses querem, eu aceito meu destino.

Astrid revirou os olhos mais uma vez antes de se levantar da mesa e sair da casa, seus amigos a seguiram, como sempre. Eles foram direto para o grande salão onde Thanori os esperava, Astrid foi recebida pelo olhar gélido do chefe de Hinkard, ela sorriu minimamente antes de olhar ao redor e notar Valka e Bocão que pareciam interessados no que se seguiria.

—Thanori, Melequento está disposto a se casar com sua irmã para limpar a honra dela. - Astrid disse em seu tom formal, Melequento resmungou baixo logo atrás dela enquanto Theria saltitava animada, como um pequeno dragão depois de receber um peixe.

—Ótimo. Se é assim que minha irmã deseja. - ele falou olhando para a irmã que sorria abertamente.

—Então podemos começar os preparativos. Podemos organizar a cerimônia para hoje à tarde. - ela sugeriu olhando para Melequento que apenas deu de ombros.

—Isso seria maravilhoso! - Theria exclamou fazendo menção de correr até Melequento, porém Thanori a puxou pelo braço.

—Não podemos fazer a cerimônia sem o chefe da tribo presente.

—Mas eu estou aqui. E dou chefe da tribo. - Astrid afirmou cruzando os braços.

—Eu sei que você acha isso, mas sendo sincero, nenhuma mulher sabe comandar uma ilha. - Thanori disse. Ela arqueou as sobrancelhas olhando com descrença para ele. - E o casamento não acontecerá até que o chefe volte.

Astrid sorriu minimamente apertando as unhas com força contra a pele de seus braços. Se ela estivesse com seu machado já teria acertado a cabeça daquele idiota. Mas ela era a líder, a chefe de Berk e deveria mostrar para Thanori que ele estava errado. Então respirando profundamente ela disse.

—Ok. Soluço volta dentro de quatro dias. Acho que será tempo o suficiente para Theria começar a se acostumar com seu novo lar. - ela sorriu para os irmãos e então girou os calcanhares e saiu do salão. Ela não daria aquele gostinho de vitória para ele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Oh meus deuses!" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.