Oh meus deuses! escrita por Lily


Capítulo 1
01. Astrid Haddock vai chutar algumas bundas.




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01."Todos para trás! Astrid Haddock vai chutar algumas bundas."

—Eu ainda não sei porque insisto em bater o pé. - Soluço Horrendo Haddock III caminhava lentamente pelo píer de braços dados com sua esposa, Astrid Haddock. Ela sorria de maneira vitoriosa feliz por ter ganhando mais uma discussão. - Perna-de-peixe não ficou muito feliz em saber que não irá conosco.

—Você está deixando que eu comande Berk enquanto os gêmeos e Melequento estão “trabalhando” em novas invenções. O mínimo que pode fazer é deixar Perna-de-peixe comigo, somente ele pode controlar a Cabeçaquente. - Astrid retrucou desviando o olhar do marido e olhando para seu povo parado ao lado dos barcos a fim de desejar boa sorte ao chefe em sua nova jornada. Astrid então mordeu o lábio sentindo uma inquietação tomar conta de seu corpo.

—Serão apenas alguns dias. - Soluço a lembrou. - Cinco dias e eu estarei de volta.

—Eu sei. Mas isso não me deixa mais calma. Odeio quando você viaja sem mim.

—Se servir de consolo, você me treinou tão bem que sei que sou capaz de quebrar o braço de alguém.  - ele afirmou fazendo-a sorrir. - E além do mais, Gothi disse que você tem que ficar aqui e cuidar de sua saúde, da saúde de vocês dois. - a última parte foi dita em voz baixa.

Astrid esperou que alguns marinheiros se afastassem para poder dizer.

—Isso é ridículo. Foi apenas um dor normal. Gothi disse que estou bem. E você não ficaria mais seguro se eu fosse com você?

—Sim. Mas também me sentirei mais seguro enquanto você ficar aos cuidados da minha mãe.

Astrid revirou os olhos, ela tinha certeza que se olhasse por cima do ombro podia ver Valka de prontidão apenas esperando que Soluço partisse para poder enchê-la de chás e ervas que seriam boas para ela e para o bebê.

—Você por acaso falou que Gothi havia dito que eu precisava comer de três em três horas? - ela indagou deixando um fio de esperança tomar conta de si, mas essa sensação sumiu no momento em que Soluço coçou a nuca e desviou o olhar. Um gesto típico que ele fazia quando se sentia acuado. Astrid respirou fundo e o socou no ombro.

—Deuses, mulher! Você tem que parar de ser tão agressiva. - Soluço resmungou massageando o ombro. Astrid ergueu o punho para acerta-lo mais uma vez, porém Soluço conseguiu segurar o pulso dela antes do soco. Astrid o encarou em choque. - O quê? Você tem me treinando, lembra?

Ela apenas revira os olhos. Eret logo aparece para informar que os barcos já estão prontos. Astrid suspirou novamente, desta vez mais receosa.

—Tome conta de Berk, está bem? E cuide-se. - Soluço a beijou nos lábios segurando o queixo dela com a ponta dos dedos. - Eu te amo.

—Eu também te amo. - Astrid sussurrou sentindo-o se afastar dela.

Astrid respirou fundo mais uma vez e observou seu marido entrar no barco junto com o resto da tripulação. Aquela viagem teria como destino uma ilha vizinha, Soluço faria uma reunião com o chefe da aldeia para atualizar a rota do comércio, Melequento deveria ir já que era o mestre do comércio de Berk, porém naquele momento Soluço achava que seria melhor um rosto simpático como o dele para que as negociações fossem mais calmas. O que significava que ele temia que Melequento fizesse algo errado, o que era totalmente provável.

Os barcos deslizavam sobre água a medida que se afastavam. Ela ergueu a mão e acenou para Soluço silenciosamente lhe desejando uma boa viagem. Astrid abaixou os braços sem desviar o olhar, nem mesmo o barulho dos passos se aproximando a fez virar, ela então sentiu os braços de Valka a envolverem pelos ombros. As duas ficaram paradas enquanto os barcos desapareciam pelo horizonte.

—Ainda é difícil, mesmo depois de tanto tempo. - Valka sussurrou. Astrid assentiu dando um última olhada no mar, agora calmo e sem barcos à vista. Ambas as mulheres então se voltaram para a casa, o penhasco íngreme com escadas que as levava até sua aldeia. - Tenho que lembrar de pedir para Soluço inventar algo que facilite a subida. Daqui a alguns meses você não conseguirá subir e descer com tanta facilidade.

Astrid assentiu novamente, porém sabia que Soluço já estava trabalhando nisso. Ele e Bocão tinham algumas ideias em mente que logo colocariam em ação assim que Soluço voltasse de viagem.

Valka a empurrou gentilmente para que ambas seguirem a caminhada. Astrid iria direto para o grande salão enquanto Valka se ocuparia com Gothi, como vinha fazendo nos últimos anos.

—Se lembre que tem que comer de três em três horas. Então…

—Daqui a pouco você irá até o grande salão com pratos de comida e me obrigará a comer. Ok, já entendi.

Valka sorriu acariciando o cabelo dela.

—Que bom que você entendeu. Agora vá. Seu povo precisa de você.

Astrid riu, mas seguiu a ordem se apressando em direção as escadas.

♢♢♢♢

O grande salão agora estava vazio. Depois de uma breve reunião com os pastores e os pescadores, ouvindo suas reclamações e atualizações, Astrid estava cansada.

—Você viu Cabeçaquente? - ela perguntou a Perna-de-peixe. O único do Conselho que ainda restava no salão.

—Eu não sei. Ela disse algo sobre ajudar Cabeçadura com um novo brinquedo. - ele falou folheando algum de seus livros.

—Oh por favor, me diga que desta vez o brinquedo não explode.

—Eu não posso afirmar isso, você sabe como eles são.

—Eu sei, mas eu apenas queria que eles me ouvisse apenas uma vez. É pedir demais.

—Você pode fale com ela. Cabeçaquente é sua melhor amiga. É claro que ela vai te ouvir.

—Ela não é minha melhor amiga, Perna-de-peixe. - Astrid afirmou  brincando com a ponta de sua trança.

—Claro que é Astrid. Vocês estão sempre juntas e eu tenho certeza que dizem coisas uma para outra que mais ninguém sabe. - ele retrucou.

Astrid abriu a boca para revidar, porém então pensou um pouco. Realmente havia coisas que sobre ela que Quente sabia e Soluço não. Havia sido ela quem Cabeçaquente procurou quando ficou ansiosa para a noite de núpcias, elas trocaram confidências e revelaram seus medos. Astrid havia visto algumas faces dela que ninguém mais podia ver. Também era óbvio que elas discutiam diariamente, mas ela não podia negar que Quente sempre estaria ali caso ela precisasse. Havia respeito e admiração entre elas. Oh droga…

—Como isso aconteceu? - ela indagou incrédula.

Perna-de-peixe riu.

—Coisas assim simplesmente acontecem, não há como evitar.

Astrid bufou escorregando a mão até a barriga.

—Vou ver o que esses dois idiotas estão aprontando. - ela disse já se levantando. Perna-de-peixe assentiu ainda imerso no livro. Astrid saiu do salão olhando de uma lado para outro, Valka ainda não havia aparecido e já tinha passado deixando do horário para sua alimentação. Se ela pudesse fugir apenas um pouco mais, talvez tivesse um pouco de paz.

—Astrid! - ela continuou a caminhar ignorando o chamado. - Astrid, eu sei quando você está me ouvindo. Você sempre me ouve.

Ela parou e então girou os calcanhares encarando Cabeçadura.

—O que você quer? - ela indagou sem se preocupar em ser educada.

—Eu preciso de sua autorização para eu e Cabeçaquente prepararmos uma grande inauguração para nossa loja.

—Pensei que eu você tivesse desistido dessa ideia. - ela murmurou passando a mão pelo rosto. - Depois da quarta vez eu realmente pensei que vocês tivessem desistido.

—Mas a quarta vez é a que da sorte.

Astrid revirou os olhos. Ela não estava no clima de ouvir as ideias mirabolantes dos gêmeos e muito menos ser a responsável por mais um desastre caso as coisas saíssem do controle.

—Navio à vista! - o grito alto de um dos sentinelas fez os olhos de Astrid voarem direto para o mar aberto. Ela se apressou até a borda, ela se inclinou sobre o parapeito de madeira e semicerrou os olhos. Haviam pelo menos três barcos de grande porte vindo em direção a ilha, e mesmo a aquela distância ela percebeu que não eram os navios de Berk.

—Inimigos? - Cabeçadura indagou se colocando ao lado dela.

—Eu não sei.

—Você pegar minha maça. - ele disse já se virando para ir, porém Astrid o puxou pela camisa.

—Nem ouse. - ela murmurou soltando a camisa dele. Astrid rapidamente se pôs a descer as escadas para o porto com Cabeçadura logo atrás.

Os barcos se aproximavam lentamente fazendo os aldeões que já ancoraram seus próprios barcos apenas pararem para ver. Um dos barcos chegou perto o suficiente para Astrid notar a figura cravada na popa do navio, geralmente os navios de Berk tinham dragões meticulosamente entalhados, porém aquela figura se assemelhava a uma mulher seminua, apenas seus seios estavam cobertos e a parte de baixo de seu corpo era uma cauda de peixe.

—Uhh, eles têm bom gosto. - Cabeçadura afirmou sorrindo, Astrid não hesitou em socá-lo no estômago.

Quando o primeiro barco atracou ela de repente se sentiu nervosa. Normalmente era Soluço quem fazia as boas-vindas, era sempre ele o mais comunicativo e aberto. Astrid costumava ficar atrás e assistir a conversa se desenrolar, mas sem Soluço, agora cabia a ela dar as boas-vindas. Três pessoas desceram primeiro, um homem alto de cabelos loiros e olhos azuis que usava uma capa de couro e roupas um tanto apertadas também de couro, e duas mulheres, uma loira muito parecida com o homem que usava um vestido longo e uma capa de couro vermelha e uma mulher de cabelos vermelhos vivos que usava um vestido longo dourado e um manto fino também dourado.

—Bem vindos a Nova Berk. Meu nome é Astrid Haddock. Em que podemos ajudar? - ela indagou tentando manter um sorriso gentil no rosto.

—Eu gostaria de falar com o seu Chefe. - o homem de cabelo longos e claros se apoiou em sua bengala ornamentada com pedras preciosas, seus olhos a analisaram de cima à baixo.

—Bom, você já está falando com ele, ou melhor, com ela.

O homem arqueou as sobrancelhas parecendo incrédulo. Astrid já havia visto aquele olhar, era o mesmo que a maioria dos comerciantes faziam no início do seu casamento. A descrença de que uma mulher poderia ser Chefe de uma aldeia.

—Querida, eu quero falar com um chefe competente.

Astrid fechou as duas mãos em punho enquanto tentava se manter calma, porém não ajudou muito quando CabeçaDura começou a ordenar.

—Todos para trás! Todos para trás! Astrid Haddock vai chutar algumas bundas.

Ela olhou por cima do ombro encarando o amigo com um olhar repressor, mas quando Cabeçadura a encarou com um olhar de apoio, tudo o que Astrid conseguiu fazer foi sorrir minimamente.

—Ninguém vai chutar a bunda de ninguém, Cabeçadura. - ela disse e então olhou para o visitante mantendo o olhar firme. - Meu marido está em uma viagem de negócios e me deixou encarregada da aldeia. Então você pode falar comigo.

—Ótimo. - a mulher de cabelo claro afirmou dando um sorriso animado para Astrid. - Estávamos a caminho da nossa ilha quando fomos avisados sobre uma grande tempestade que iria cruzar nosso caminho. Achamos melhor fazer um desvio e acabamos parando aqui. Gostaríamos de pedir abrigo até passar a tempestade. Não é seguro navegar em um mar agitado. Podemos acabar indo parar na boca do inferno.

Ignorando totalmente algumas partes gritadas pela mulher, Astrid assentiu entendendo a situação deles.

—Quem seria eu para negar abrigo. Vocês podem ficar em Berk o tempo que for necessário. - ela disse sem desviar o olhar do homem que ainda a encarava com soberba. - O povo de Berk ficará feliz em recebê-los.

—E o governante da ilha de Hinkard agradece a hospedagem. - o homem falou batendo o bengala no chão. Astrid franziu levemente a testa. Hinkard?

—Por acaso já nos conhecemos? Você já esteve na Velha Berk antes? Aquela  pouco mais ao norte. - ela indagou.

—Há muitos anos meu pai tentou fazer negócios com Stoico, o Imenso, líder de Berk, porém a aliança não foi muito longe devido ao alguns problemas na rota comercial. Eu e minha irmã. - ele apontou para a mulher loira ao seu lado. - Fomos com o meu pai em sua primeira visita. Lembro-me de muitos rostos, mas o seu não me é familiar.

—Devo dizer que também não me lembro de você. Acho que em sua primeira visita não fomos apresentados. Para falar a verdade, nem agora fomos oficialmente apresentados.

—Oh que má educação a minha. - ele murmurou e então pegou a mão dela e levou até os lábios. Astrid desviou o olhar um tanto embaraçada, apenas Soluço fazia aquilo com ela e apenas quando estavam a sós. - Thanori, filho de Therino, o Tenebroso.

Astrid arregalou discretamente os olhos, Cabeçadura se moveu até ela e sussurrou baixinho perto do ouvido dela.

—Astrid.

—Sim?

—Esse por acaso não é o cara que o Melequento deu uma surra quando éramos mais novos porque ele ofendeu o Soluço? - ele indagou. Astrid tinha aquele mesmo pensamento em sua mente, mas agora com aquela pergunta ela tinha uma confirmação.

—Tenho pouco de certeza que sim.

—E por acaso ele se lembra disso?

—Tenho pouco de certeza que não. - ela sussurrou antes de se voltar para Thanori. - Então acho que essa será uma boa oportunidade para construirmos alguma aliança.

—Veremos. - Thanori murmurou. Astrid respirou fundo e indicou com a mão para que eles a seguissem em direção a aldeia.

Oh céus, aquilo seria um desastre.


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