Um Caso de Copa escrita por psc07


Capítulo 5
Capítulo 5




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—Quais novidades você tem para mim, Benjy? – Lily questionou, ao perceber o colega se sentar sutilmente ao seu lado numa das mesas da festa. Ele sorriu.

—Eu nunca consigo te surpreender, não é? – Ele perguntou, sacudindo os cachos claros.

—Não desista. Quem sabe um dia?

Ele riu e revirou os olhos.

—Quer saber o que eu tenho para você ou não? – Benjy questionou, olhando para o outro lado.

—Desembucha logo, homem! – Lily pediu. Ele sorriu em resposta.

—Coloquei uma ficha com essas informações na sua mala, mas preferi lhe dizer pessoalmente para que possamos discutir um pouco.

—Então me diga.

—Demos uma olhada no corpo do garoto. Jack Allyson não foi morto por um Avada Kedavra.

Lily encarou rapidamente o colega, erguendo as sobrancelhas em surpresa. Ela já encarava a Maldição da Morte como a causa da morte desde o início. Não havia sinais de violência, pelas fotos que ela vira.

—Foi envenenado? – Lily perguntou logo em seguida. Benjy sacudiu a cabeça em negação.

—Não há nenhum traço de qualquer tipo de conteúdo mágico... – Ele explicou – Nós basicamente não sabemos como ele morreu.

—Então... isso simplesmente pode não ter sido um assassinato? – Lily perguntou, então sacudiu a cabeça – Por algum motivo, eu não acredito nisso.

—Nem eu, e muito menos Moody. Ele era um garoto saudável, mas aparentemente morreu de causas naturais.

—Não engulo essa – Lily comentou – Mesmo que não seja um assassinato aparente, alguém matou Jack.

Antes que Benjy pudesse responder, foram interrompidos pela mulher sentada ao lado deles.

—Ah, estão falando da morte daquele pobre garoto? Uma tragédia, não? Fiquei muito abalada, e muito preocupada, mas não podia deixar meu menino não jogar...

Lily percebeu um forte sotaque que indicava que a mulher não era inglesa – não parecia ser francesa, tampouco. A ruiva franziu o cenho, mas Benjy sorriu educadamente e se levantou, pegando a mão de Lily e levando-a para a pista de dança.

—O fato de não ter sido um Avada pode significar que o bruxo que o matou não seja poderoso o suficiente para lançar um – Lily sugeriu, recostando a cabeça no ombro de Benjy enquanto eles giravam lentamente.

—Se pensar nessa linha, Voldemort não seria incluído – Benjy replicou.

—Não ele diretamente, claro. Mas eu não pensei em nenhum momento que ele teria feito isso pessoalmente – Lily comentou. Benjy pareceu encarar isso como uma possibilidade.

—Como está com Potter? – Ele perguntou. Lily suspirou.

—Ainda não tive como investigar de fato. Precisamos pensar em algum jeito de questionar as pessoas sem que eu me afaste de Potter.

—Eu posso questionar. Ou ficar de olho em Potter. Como preferir.

—É uma boa ideia – Lily concordou – Coloque Marlene na jogada que facilita. Potter tem um treino amanhã pela tarde, e eu e Lene vamos. Posso inventar que estou indisposta, ou que simplesmente não quero ir e perguntar a Potter se você poderia ir no meu lugar. Marlene acreditaria nisso facilmente.

—Não vão desconfiar se você ficar para trás? – Ele perguntou. Lily arfou com uma fingida indignação, afastando sua cabeça para encarar Benjy nos olhos.

—Você está questionando as minhas habilidades de me fingir de doente, Benjy Fenwick?

Ele riu e sacudiu a cabeça em negação.

—De forma alguma, parceira. Nunca vi ninguém com mais habilidades que você nesse quesito.

Lily riu e repousou a cabeça novamente.

—Só me prometa que não vai ficar impressionado com Potter como ficou hoje – Lily pediu num tom provocativo.

—Eu não fiquei impressionado! – Benjy exclamou indignado.

—Ah, ficou sim, Benjy. Juro que nunca vi suas orelhas mais vermelhas.

Benjy resmungou algo ininteligível, fazendo Lily gargalhar.

—Acho que devemos voltar – Lily comentou, e eles pararam de dançar, se virando para onde conseguiam ver James Potter finalizando suas entrevistas – Posso esperar nomes de pessoas que estavam com Jack no dia de sua morte?

—No arquivo em sua mala.

—Devo ficar preocupada com o fato de que você mexeu na minha mala? – Ela questionou com uma sobrancelha erguida, enquanto eles se aproximavam dos outros.

—Ora, parceira, depois de tudo que passamos juntos, mexer em sua mala é o mínimo, não acha? – Ele perguntou, fazendo Lily sorrir.

—Tudo o que passaram juntos, é? – Sirius perguntou, com seu sorriso provocativo aberto. Lily revirou os olhos, desviando o olhar do caminho até eles que James fazia.

—Definitivamente não é o que você está pensando, Black – Lily replicou, fazendo Remus e Peter rirem.

—Você nem sabe o que eu estou pensando!

—Nem preciso. Convivi com você por sete anos para reconhecer seu tom de voz.

—O que você está aprontando dessa vez, Almofadinhas? – James perguntou num tom de voz cansado. Sirius cruzou os braços.

—Já percebi que ninguém confia em mim, então vou para um lugar onde as pessoas realmente me queiram – E dizendo isso, se retirou em direção a um grupo de jogadoras de Quadribol que Lily não acreditava serem inglesas.

—Fenwick – James cumprimentou com um aceno de cabeça. O auror sorriu para ele.

—Desculpem-me por ter roubado Lily, mas estou acostumado a trabalhar com as opiniões dela...

—Benjy, apenas Marlene não sabe o meu real motivo aqui – Lily falou – Remus e Peter estão cientes.

—Ah, bem. Se for assim, nos vemos amanhã no treino! – Benjy exclamou com um sorriso – Lil, qualquer coisa é só me avisar. Amanhã de noite nos vemos de novo para eu passar o relatório para Moody.

Lily acenou e sorriu enquanto Benjy se afastava.

—Ele vai para o treino amanhã? – James perguntou, franzindo o cenho. Lily não respondeu de imediato, e James se virou para vê-la mordendo o lábio inferior – Uh, ok, não pode falar. Certo.

—Bem, isso eu acho que devo, para que você se prepare – Ela explicou, pegando uma Cerveja Amanteigada – A condição sine qua non para você estar aqui é estar sendo observado o tempo todo, mas eu realmente preciso prosseguir com a investigação... então vou aproveitar que Benjy está aqui, e passar a missão de babá para ele enquanto faço umas perguntas por aí.

James acenou positivamente com a cabeça. Ele precisava de uma babá, então?

—Fenwick está aqui para a minha investigação? – Ele perguntou.

—Não só por isso. Ele já estaria escalado para fazer a segurança, assim como eu. – Lily deu de ombros. – Eu confio muito em Benjy, assim como Moody. Nós dois conseguimos manter a sua participação em segredo, não se preocupe.

James acenou novamente.

—Hum, tudo bem. Eu, er, posso curtir a festa ou...? – Ele perguntou incerto, fazendo Peter rir.

—Se ela pode dançar com o tal do Fenwick, por que você não poderia dançar com alguém? – Peter perguntou. James arqueou uma sobrancelha.

—Ora, ora, Srta. “Estou-Aqui-A-Trabalho”, que reviravolta! – James exclamou. Lily revirou os olhos.

—Era a maneira mais segura de discutirmos o caso, Potter. E sim, pode curtir a festa. Vou ficar observando de longe. Só peço que não fique, bem, muito bêbado. Não quero ter que atrapalhar sua festa. Finja que nem estou aqui.

James assegurou a ruiva que manteria suas faculdades mentais, e seguiu para onde os jogadores de diversas seleções se encontravam. Ele adorava conhecer novas pessoas no mundo do Quadribol, com tantas culturas diferentes.

Claro que a bebida ajudava nessa percepção, mas ele preferia não arriscar. Ele era do tipo de bêbado que soltava todas as verdades, e a última coisa que precisava era que seus adversários soubessem que ele estava envolvido em uma investigação de assassinato – ou qualquer pessoa, na verdade.

***

—Hey, Evans! – James chamou, tomando cuidado para não acordar Marlene que dormia ao lado de Lily – Evans, acorde! – Dessa vez ele acrescentou uma leva sacudida.

Ele percebeu exatamente o momento que Lily abriu os olhos, mas a próxima coisa que se deu conta foi da varinha da garota em sua garganta e ela ajoelhada na cama encarando-o.

Ele ergueu os braços para mostrar que não tinha nada em mãos e Lily pareceu relaxar ao perceber quem estava ali.

—Oh, hum. Desculpe, Potter – Ela pediu, sentando na cama enquanto James se afastava ajeitando os óculos – Eu não estou acostumada a ser acordada por outras pessoas e bem...

—Er, sem problemas, nenhum feitiço lançado – Ele respondeu, coçando a nuca e sorrindo.

—Algum motivo especial para ter me acordado? – Ela questionou. Agradeceu por estar usando os pijamas largos de sempre.

—Bem, você disse que eu precisava estar com você ou Fenwick sempre, e meus pais chegaram e eu preciso vê-los, então...

Lily suspirou e acenou com a cabeça, lhe pedindo alguns minutos para tomar banho e se vestir. James assentiu e saiu do quarto, onde Sirius o esperava.

—Evans realmente vem com a gente? – Sirius perguntou. James bagunçou os cabelos.

—Eu não tenho escolha, Almofadinhas. Ou ela vai, ou eu não vou.

—Já pensou em alguma desculpa para ela ir?

—Vou simplesmente dizer que ela era a única fora nós dois que estava acordada, e que a chamamos para no acompanhar para um café da manhã com meus pais – James respondeu dando de ombros – Como foi a festa ontem? Só lhe achei no final.

Sirius fez uma careta.

—Nada muito excitante. Aparentemente, ser o amigo de James Potter não significa tanta coisa para as demais estrelas do Quadribol – Sirius respondeu – Acho que terei mais sorte nas próximas.

James revirou os olhos e sorriu, relatando as pessoas que ele conhecera na noite anterior. Algumas tinham sido por motivos profissionais, portanto Sirius também se interessava no assunto.

—Desculpem pela demora, acabei esquecendo de remover a maquiagem ontem à noite – Lily disse, surgindo vinte minutos depois. Ela vestia calça jeans comum com uma camiseta que fazia alusão a um leão e os cabelos molhados. Sirius sorriu.

—Ei, Evans! Acho que não mencionei ontem que estava muito bonita – Ele comentou. Lily revirou os olhos.

—Amanhã eu agradeço, Black. Os outros não vão? – Lily questionou ao perceber que apenas James e Sirius estavam ali.

—Nah. Mama e Papa Potter ficarão por um bom tempo aqui. Verão os outros depois – Sirius respondeu.

—Mama e Papa? – Lily perguntou erguendo uma sobrancelha e claramente segurando um riso.

—Desde que eles me adotaram no quinto ano eu os chamo assim – Ele explicou dando de ombros – De início era apenas para irritar Pontas, mas depois acostumei. Vamos?

—Não vão comer? – Lily ponderou, levemente surpresa – Eu pensei que vocês precisassem de 5 quilos de comida por dia. – Os garotos sorriram.

—Vamos comer com meus pais – James explicou, abrindo a porta do quarto. Sirius fez uma semi-reverência indicando que Lily deveria ir na frente.

O caminho até o restaurante não era longo e foi preenchido por bocejos dos garotos. As missões haviam tornado Lily mais resistentes a longas noites.

—Então, como foi a festa para você, Evans? – Sirius perguntou.

—Eh. Não pude me divertir muito, já que eu estava vigiando seu amigo – Ela explicou, indicando James com o polegar – Mas mesmo que eu não tivesse de bancar a babá, não sei se teria sido tão interessante para mim... sabe como é, jogadores de Quadribol geralmente só falam de Quadribol e... é. Prefiro evitar.

Sirius riu enquanto James soltou um som indignado, mas não pôde reclamar pois ao olhar para frente ao invés de para os pés, percebeu que seus pais o esperavam na porta do restaurante.

—Ah, James! – Euphemia Potter exclamou ao ver os três. James sorriu e se adiantou para abraçar a senhora. Lily não conseguiu conter um sorriso com a diferença de altura de James e sua mãe, já que ela era menor que Lily, e Lily era consideravelmente menor que James. – Seus óculos estão sujos. Será possível que você não consiga manter seus óculos limpos nunca?

—Também estava com saudades, mãe – James disse sarcasticamente, mas abraçando a mãe do mesmo jeito. Fleamont Potter soltou um riso e abraçou Sirius. Era incrível, Lily percebeu, a semelhança entre pai e filho, mesmo que Fleamont demonstrasse claramente sinais de envelhecimento.

—Ora, você sabe que sinto sua falta, mas me impressiona como você fica... desleixado quando fica longe de mim – Euphemia continuou a falar, dessa vez se separando do filho e ajeitando o cabelo dele – E pela orelha direita de Merlin, James Potter, seu pai criou a melhor poção para cabelos do mundo bruxo, dê um jeito nessa bagunça!

Lily sentiu seus lábios se abrirem num sorriso ao se lembrar de quantas vezes ela havia apreciado a ironia dos cabelos indomáveis de James e sua relação com o inventor da Sleekeazy.

Pela primeira vez a senhora Potter pareceu notar que seu filho não estava sozinho, e puxou Sirius para um apertado abraço, reclamando do tamanho do cabelo do garoto. Ele deu uma desculpa qualquer, que ela não aceitou muito bem e por isso puxou sua orelha levemente. Então se virou para Lily, e ergueu as sobrancelhas levemente.

—James, acho que você esqueceu de nos apresentar a sua amiga – Euphemia ralhou com o filho, se adiantando para apertar a mão de Lily – Desculpe-me pela falta de educação de meu menino, eu juro que ele era melhor quando era criança. Foi essa fama, eu aposto que foi...

—Er, mãe, pai, essa é Lily Evans... Evans, meus pais, Euphemia e Fleamont.

As sobrancelhas de Euphemia se ergueram ainda mais e Lily observou sua expressão, não somente de surpresa, mas também... reconhecimento?

—Oh, Lily Evans? – Fleamont perguntou, se aproximando também e olhando para James – A Lily Evans?

—Deve ser, pelo cabelo e pelos olhos... oh, James, bem que você disse, ela realmente é linda!

Lily estava com a boca semi-aberta, sem entender o que estava acontecendo, olhando dos pais de James, para o garoto, que estava mais corado do que ela jamais vira.

—Eu não... er, prazer? – Lily disse, incerta. Foi interrompida pela gargalhada de Sirius.

—Sim, Papa. A Lily Evans! – Sirius respondeu – A garota que James fala sobre desde os 15 anos! Quem diria, ein, Mama Potter?

Os olhos de Euphemia brilharam e Lily percebeu o que estava acontecendo, ainda mais quando James acertou um chute nas pernas de Sirius.

—Evans veio como convidada de Remus. Ele pediu para trazer duas amigas para mantê-lo companhia quando estivesse indisposto para as festas. Vocês sabem como ele fica doente. Os outros estavam dormindo ainda, mas ela estava acordada então veio conosco.

Lily corou levemente ao perceber Euphemia ainda sorrindo, porém com um olhar meramente especulativo no momento.

—Hum, é um prazer conhecê-los. Principalmente o senhor Potter, se me permite. Sempre gostei muito de Poções, e é incrível conhecer pessoalmente um mestre como o senhor. Fiquei muito decepcionada por ter faltado o encontro promovido por Professor Slughorn há algum tempo atrás e ter perdido a oportunidade.

James disfarçou a curiosidade cuidadosamente. Não fazia ideia que Lily sabia a fundo quem era seu pai. Fleamont simplesmente levantou os braços e sorriu.

—Ora, ora, não precisa dessa formalidade, sim? Eu já ouvi falar muito da senhorita, mas sua preferência por Poções nunca foi mencionada. Se eu soubesse, teria arranjado um encontro imediatamente! Presumo que trabalhe com Poções atualmente?

—Sim, sim. Bem, na verdade sou auror, mas meio que coordeno o nosso mini departamento de Poções. Precisamos de algumas mais específicas, com caráter mais duradouro ou mais passageiro, e lá tenho liberdade total para experimentar...

—Então você gosta de modificar? Ora, isso...

James observou meio estupefato a conversa. Lily e seu pai se encaminharam para o restaurante, deixando ele, Sirius e sua mãe para trás. De todos os cenários que pensara para esse encontro, o que estava acontecendo definitivamente não era o havia esperado. Sentiu Sirius dando leves tapas em seu ombro.

—Quem diria que ela se daria tão bem assim com seu pai? Imagina se você visse essa cena há, digamos, 5 anos atrás?

—Cala a boca, Almofadinhas – James resmungou.

—Vamos entrar, meus meninos. – A senhora Potter chamou. – Merlin sabe como vocês precisam comer.

***

Quando Potter lhe dissera que iriam ver seus pais, Lily tentou não pensar que ela sabia quem era o pai de James Potter, e em como ela corria o risco de agir exatamente como as pessoas que ela julgava perto de celebridades.

Claro, ela se permitia se sentir deslumbrada com Fleamont Potter. Fleamont Potter inventara diversas poções, e não se aproveitava disso. Fleamont Potter nunca recusara ajudar Moody quando necessário. Fleamont Potter nunca discriminara mulheres ou nascidos-trouxa.

Mas ela nunca demonstrara ser fã de Fleamont, simplesmente para não dar motivos a Potter filho de aumentar ainda mais seu ego.

Incrivelmente, ela conseguira se controlar durante o café-da-manhã, engajando numa conversa que aparentava ser interessante também para Fleamont.

—Que bom que Moody conseguiu alguém que saiba a diferença entre esmagar uma tripa e simplesmente cortá-la! – Fleamont comentou, fazendo Lily corar levemente.

—Oh, eu juro que eu tive que levar meu caldeirão logo no segundo dia, senhor Potter! – Lily exclamou – Honestamente, aquele departamento era um caos no quesito poções.

—Eu acredito em você! Moody me mandava cartas quase semanalmente, tentando entender o que fizera de errado – Fleamont sacudiu a cabeça e olhou para cima como se pedisse ajuda divina – Só espero que não me ache tão velho a ponto de me chamar de “senhor” para sempre, Lily.

—Desculpe-me, Fleamont. É o costume do Ministério, entende? – Lily explicou. Sirius riu e Lily conseguiu ouvir o que ele sussurrou para James:

—Como se sente vendo Evans chamar seu pai pelo nome antes de você?

A resposta de James foi uma encarada mortal, que Lily fingiu não ver. Ela se serviu de mais um copo de suco, e justamente quando Fleamont parecia prestes a iniciar uma nova conversa, foi interrompido pela mulher.

—Por Merlin, Fleamont, deixe a garota comer também! – Euphemia ralhou, e Fleamont consertou os óculos (de uma maneira tão semelhante ao filho que Lily foi obrigada a observar) – Ou pelo menos não manipule a conversa. Lily, querida, cuidado com esse velhote. Qualquer pessoa que lhe empreste os ouvidos por mais de um minuto fica sabendo mais sobre baços de sapos do que gostaria de saber pelo resto da vida.

Lily riu do jeito que as palavras aparentemente acusatórias carregavam uma afetuosidade que só podia se construir ao longo de muitos anos.

—Dessa vez creio que eu tive tanta culpa quanto ele, Sra. Potter. Sempre fui admiradora do trabalho de seu marido, e tenho a tendência de falar um pouco demais quando o assunto chega a poções – Lily explicou. A Sra. Potter deu um suspiro fingido e se virou para James.

—Você tinha que arranjar alguém igual a seu pai, não é? – Ela disse.

—Que bom que você me ama tanto, então, mulher – Fleamont interveio com os olhos brilhando. Euphemia sorriu.

—Então você trabalha apenas com poções, Lily? – Ela questionou.

—Oh, não, não. Eu sou a pessoa que mais lida com poções no departamento, sim. Mas eu geralmente faço parte das investigações, ou de missões em geral. Gosto de estar em campo, trabalhando diretamente, sabe?

Euphemia sorriu. E fez mais perguntas a Lily, enquanto Fleamont agora conversava com Sirius e James. Era muito fácil conversar com a Sra. Potter, não apenas sobre seu trabalho, mas também sobre coisas mais triviais, como maneiras de se preparar um frango.

—Pontas, não tá na hora de irmos? – Sirius perguntou. James olhou alarmado para o relógio e concordou.

—Sim, preciso almoçar com os outros e me apresentar... – James concordou. Lily e Sirius se despediram dos Potter e saíram primeiro, deixando James com os pais.

—Ela é realmente adorável, James – Euphemia comentou. James suspirou.

—Mãe, não é nada disso, eu juro. Ela veio por Remus.

—Ela está com Remus, então? – Fleamont perguntou. James deu de ombros.

—Não acho que esteja, ou ele teria mencionado. Mas não importa de qualquer jeito, já que eu não estou mais interessado nela, e ela continua do mesmo jeito – James respondeu, tentando dar um ponto final no assunto.

—Uma pena, – seu pai comentou, – considerando o quanto ela sabe sobre poções, seria uma boa se sua mulher entendesse dos negócios da família.

—Pai, esquece isso. Evans já passou. Não tenho nada com ela, e provavelmente jamais terei.

James abraçou os pais uma última vez, e combinaram de jantarem juntos. James se adiantou para acompanhar Sirius e Lily.

—Não sabia que você era fã de um Potter, Evans – James provocou, com um sorriso largo. Lily revirou os olhos e corou levemente.

—É possível admirar uma pessoa sem fazer nenhum tipo de alarde, Potter. Sou uma pessoa discreta – Lily respondeu, enquanto Sirius ria.

—Pelo menos você gosta de algum Potter, Auror Evans – Sirius comentou. Lily sorriu.

—Não seja cruel, Black. Euphemia é adorável.

Sirius gargalhou e James fingiu não ter percebido o olhar que o amigo lhe lançou.

***

—Com licença, estou procurando o senhor Anderson Miller?

Lily percebeu o homem em questão se virar e avaliar quem interrompia a sua leitura de jornal, olhando-a de cima a baixo. Ele estava sentando numa cadeira próximo à entrada do alojamento.

—Quem está procurando? – Ele respondeu. O sotaque claramente londrino confirmava a nacionalidade que a ficha que Benjy lhe passara dizia, se esse fosse quem ela procurava.

—Auror Evans, do Ministério da Magia do Reino Unido – Lily respondeu – O senhor é o senhor Miller?

—E onde está o auror Evans? – O homem ignorou a pergunta e questionou, erguendo uma sobrancelha e dobrando o jornal. Lily esboçou um leve sorriso.

Eu sou a auror Evans. Lily Evans.

Lily observou o homem olhá-la novamente, se perguntando se aquela garota vestida com roupas trouxas e carregando um caderno podia ser do Ministério. Ele suspirou.

—Isso é sobre o garoto, não é? – Ele perguntou.

—Que garoto? – Lily devolveu. O homem semicerrou os olhos, e apontou um dedo para ela.

—Você é da impressa? – Ele acusou. Lily suspirou e trocou o pé em que se apoiava.

—Sr. Miller, eu já me identifiquei-

—Se você é do Ministério, por que perguntaria ‘que garoto’?

—Por que o assunto que vim falar é confidencial, Sr. Miller, e preciso me certificar de que estou falando com a pessoa certa.

—Compreendo seu lado, senhorita, – o homem respondeu, – mas como posso saber que a senhorita realmente é do Ministério?

Lily suspirou mais uma vez e mostrou as credenciais que a identificavam como auror.

—Podemos conversar em um local mais discreto agora, Sr. Miller? – Ela questionou.

O homem apenas grunhiu e se levantou, seguindo em direção a uma sala. Lily sentou numa das cadeiras enquanto ele se sentou em outra.

—Então o senhor realmente é o senhor Anderson Miller? – Lily perguntou, colocando seu caderno e caneta em cima da mesa, ao lado do gravador. O homem olhou para os objetos com desconfiança.

—Sim, sim, sou eu. O que é isso aí? – Miller questionou, apontando para os objetos. Lily sorriu.

—Acho que o senhor já percebeu que tenho algumas heranças trouxas, Sr. Miller. Isso é um caderno, substituindo um pergaminho. Isso é uma caneta, que uso no lugar de uma pena e tinteiro. Mais prático, já que não preciso ficar pingando a pena. E isso é um gravador, que gostaria de usar se o senhor não se importar.

Lily explicou como funcionava o gravador e o motivo de querer usá-lo. Miller ainda pareceu desconfiado, mas deu de ombros e aceitou. Lily observou calmamente enquanto ele pegava um lenço e enxugava o suor da sua testa, que se estendia um pouco acima onde seu cabelo (provavelmente) outrora estivera.

—Então isso é sobre o garoto? – Miller perguntou, cruzando os braços.

—Sim, Sr. Miller. Estou aqui para fazer umas perguntas para ajudar na investigação de Jack Allyson. Mas antes, perdoe a minha ignorância, Sr. Miller, mas preciso entender o funcionamento de toda a estrutura para a Copa Mundial.

—Não é uma fã de esportes, Srta. Evans? – Miller perguntou em tom debochado. Lily sorriu, identificando um mecanismo de defesa ao ser questionado.

—Não sou uma fã de Quadribol. Não tenho problema com outros esportes. O senhor é o responsável pela segurança do alojamento, sim?

—Sim. Bem, um dos. Somos três no total.

—Certo... – ela disse, anotando no caderno – E o senhor também era o responsável pelos... estagiários?

—Sim... – Miller suspirou – Jack era um bom garoto, sabe? Muito educado, muito disposto. Também era muito bom numa vassoura. Nunca usou o nome da mãe para conseguir regalias, queria conseguir as coisas com seu próprio esforço. Eu respeito pessoas assim, Srta. Evans. Que nem James Potter.

Lily assentiu, escondendo sua surpresa ao ouvir o nome de seu suspeito.

—Ele trabalhava com o que, exatamente?

—Os estagiários em geral organizavam os materiais dos times. Cada time trouxe três. Lá na Inglaterra foi uma prova ou algo assim. Eles basicamente se certificavam que os materiais de treino, de estadia e de jogo estavam em ordem, ajudavam a montar algumas estruturas específicas e outras coisas. Na quinta-feira, Jack foi agraciado com a responsabilidade de arrumar os uniformes dos recém-convocados, e na sexta-feira, de receber os materiais de jogo e organizá-los.

Lily observou Miller se perder em seu discurso, como se ela não estivesse na sala.

—Por isso ele ficou até mais tarde na sexta. Não que ele se importasse; sobrava disposição no garoto. Ele conhecia alguns dos convocados, e ficou em êxtase ao receber todos. Ele estava vivendo um sonho – Miller soltou uma risada e suspirou – Era pra eu ter ficado com Jack até ele sair, mas ele disse que não precisava. Foi aniversário de minha esposa, e já passavam das onze da noite. O garoto não tinha nem um roxo no corpo, estava ótimo. Achei que não teria nada de mais, sabe.

—Então o senhor foi para casa depois das onze?

—Sim. Cheguei em casa antes de meia-noite, mas já não dava para sair, então jantamos em casa.

—Alguém viu o senhor chegando? – Lily perguntou.

—Não exatamente, mas quem estava trabalhando para a Inglaterra tinha direito a chaves-de-portal diretamente para o Ministério, e de lá aparatei para casa, depois de assinar a minha presença. Além de ter usado a minha credencial para sair.

—Certo. Então essa foi a última vez que o senhor falou com Jack? Por volta das onze da noite? – Lily questionou, anotando. Miller assentiu com a cabeça.

—Foi. Esses garotos têm um alojamento próprio aqui, então não julguei ter nenhum tipo de problema.

—Sr. Miller, algum dos garotos tinha algum tipo de problema com Jack? – Miller pareceu assustado com a pergunta.

—A senhorita acha que um dos estagiários poderia ter matado Jack? – Ele perguntou em tom de surpresa.

—Preciso aventar todas as possibilidades, Sr. Miller.

—Bem, eu nunca... os garotos se davam bem. Na verdade, é um garoto e uma garota, além de Jack. Eu nunca percebi nada. Claro que os outros dois ficaram um pouco acanhados ao perceber a familiaridade de Jack com alguns jogadores, mas Jack logo apresentou todos. Ele era um bom garoto – Miller repetiu.

—E os estagiários de outros países?

—Não havia tempo para ele se familiarizar com os de outros países. Eles tinham que cuidar da chegada de uma enorme delegação. A integração ocorre durante a Copa.

Lily anotou mais algumas coisas e suspirou

—Como um dos chefes do alojamento, tenho certeza que o senhor sabe que uma credencial foi achada.

—Sim – Miller respondeu num tom hesitante.

—Então não vai ficar surpreso quando eu lhe perguntar como James Potter se relacionava com Jack.

Miller encarou Lily nos olhos e sacudiu a cabeça em negação.

—Aí que está, Srta. Evans. Jack era fã de Potter, assim como quase todos os garotos da idade dele. Ele já conhecia Potter, e na quinta-feira Potter se mostrou tão animado ao vê-lo quanto Jack. Jack me disse que Potter tinha prometido um encontro com alguém do Puddlemore, já que Jack queria ser jogador profissional.

—Então não havia nada de anormal na relação dos dois?

—Não mesmo. Potter gostava do garoto, pelo que vi. Eu não acho que ele machucaria Jack de nenhuma maneira.

—Ainda assim, a credencial de Potter, pessoal e intransferível, foi a única a ser registrada entrando naquela noite. Ou melhor, madrugada.

Eles fizeram silêncio enquanto processavam as informações.

—Acho que só tenho isso para perguntar por hoje, Sr. Miller. Posso procurá-lo se precisar de mais alguma coisa? – Lily perguntou, se levantando. Miller seguiu seu exemplo.

—Claro, claro.

—Provavelmente vou querer conversar com os outros dois garotos. Eles conviveram mais com Jack.

—Sim, com certeza. Srta. Evans... capture o maldito que fez isso, sim? Jack era... ele não merecia isso. – Miller disse, com a voz embargada. Lily sorriu em simpatia.

—Estou fazendo o meu melhor, Sr. Miller.


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