Um Caso de Copa escrita por psc07


Capítulo 19
Extra 02


Notas iniciais do capítulo

É isso por enquanto! Devo ainda postar outros extras, mas não sei quando.
Fiquem ligados para a nova longfic que postarei no meu Twitter: @psc_07_
Obrigada por lerem!



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James estava irritado. Ele não gostava de ficar irritado, não gostava de estar nada além de feliz, ou no máximo concentrado. Mas ele sabia identificar exatamente o que estava sentindo.

E ele estava irritado.

Ele não precisava que Sirius lhe dissesse isso – apesar do amigo ter comentado mais de uma vez. Ele não precisava que Remus erguesse as sobrancelhas e lhe oferecesse um chocolate. Ele não precisava que Benjy lhe olhasse de relance a cada cinco minutos, com uma expressão apreensiva. Tampouco precisava dos suspiros de Marlene toda vez que ele passava por ela.

Em sua defesa, ele tinha motivos. Muitos motivos.

Há exatamente 16 dias sua namorada de agora dois meses tinha lhe dito que achava que Moody lhe daria uma missão importante nos próximos dias, mas que seria sem Benjy pois ele estava em uma outra missão no momento.

Lily dissera que estava levemente apreensiva porque Moody lhe colocaria chefiando uma missão com alguns dos novatos.

—Não que eu não confie neles – Ela dissera, enquanto espalhava um pouco do arroz do prato – eu só acho que essa missão é um pouco demais para eles?

—Você tentou falar isso para Moody? – James perguntara, franzindo a testa e fazendo círculos com seu polegar no ombro de Lily.

Ela bufou e revirou os olhos.

—Falei. Ele me disse que confiava em mim. Que tipo de resposta é essa?

—Uma verdadeira, eu suponho – James respondeu, escondendo o sorriso – Se ele acha que você é capaz de liderar essa missão, então você é – Ele continuou, completamente confiante.

—Você realmente não precisa ficar me elogiando assim, Potter – Ela dissera, corando levemente. James riu e pegou a mão para dar um beijo.

—Você realmente não precisa sinalizar isso toda vez que eu te elogio, Evans – Ele respondeu, e ergueu uma sobrancelha – Apenas agradeça, se acostume e me dê um beijo, sim?

A ruiva rira e lhe beijara.

—Mas isso também significa que o super encontro vai ter que ficar pra depois – Ela dissera, fazendo uma careta.

James consertara os óculos. Desde que haviam começado a namorar ainda não tinham conseguido passar uma noite inteira juntos. Entre o resto da Copa Mundial, emendando com a nova temporada de Quadribol, as missões de Lily e a perspectiva de férias dela apenas no próximo mês, eles tinham se visto mais durante refeições combinadas, ou quando ele ia visitá-la no Ministério.

Ele não conseguira ainda fazer um encontro que ele achasse digno de Lily Evans.

E ele queria que tudo ocorresse perfeitamente.

—Lily, eu já lhe disse que não me incomodo em esperar para nosso super encontro por causa do seu trabalho – James comentou. Ela estreitou os olhos, e lentamente se aproximou dele.

—Talvez eu não queira mais esperar – Ela sussurrou em seu ouvido, dando uma leve mordiscada no lóbulo da orelha de James (que ele sentiu se projetando para um lugar bem específico).

—Depois dessa missão você não me escapa – Ele murmurou em resposta, se virando para encará-la – eu vou fazer um encontro tão foda que qualquer outro encontro que você já tiver tido vai parecer uma ida ao Madame Puddifoot.

Lily riu e revirou os olhos, mas teve de contar sobre o pior encontro da vida dela – justamente no Madame Puddifoot, e ele em troca contou sobre o pior encontro dele, que ocorrera nas ruas de Hogsmead porque ele não fazia a menor ideia de como era um encontro.

Se ele não estivesse tão irritado, ele teria rido ao se lembrar daquela noite.

Mas ele estava, porque no dia seguinte, enquanto ele estava em um dos treinamentos de condicionamento, uma corça interrompeu sua corrida para avisar que Lily estava saindo naquele momento, para um local secreto, numa missão que ela não podia dizer qual era, com pessoas que James não sabia quem eram, mas que deveria voltar em cinco dias.

Então James apenas observou o patrono desaparecer, aturou as brincadeiras dos companheiros de time, e escondeu a preocupação fingindo estar focado na corrida.

Quando o sexto dia chegou, James entrou em contato com Benjy.

—Não tive notícias também – O colega de Lily respondera – Mas algumas missões podem demorar mais. Fica tranquilo.

No décimo dia, James foi ao Ministério conversar com Moody.

—A missão está demorando mais – O chefe dos aurores dissera simplesmente, como se aquilo fosse suficiente, como se aquilo explicasse alguma droga.

—Isso eu percebi. Eu quero saber como está Lily – James replicou, cruzando os braços. Moody suspirou.

—Escute, Potter. Você acha que se ela não estivesse viva eu estaria aqui?

James percebeu que ele falara “viva” e não “bem”.

—Eu entendo que se preocupe com ela, entendo mesmo. Mas a vida de auror é assim. Talvez você tenha que se acostumar ainda.

—Ela está bem?

—Potter.

Quando os dois olhos de Moody se focaram no garoto, James decidiu que era hora de sair.

No décimo terceiro dia, Moody não lhe passava nenhuma segurança. Talvez porque ele mesmo estivesse aparentando nervosismo – e também porque ele dissera que não fazia contato com a missão havia dois dias.

Fora muito bom que Benjy estivesse com James naquele momento, ou ele não sabia o que teria feito.

—Eu sei quão angustiante é, James – Benjy comentara, enquanto puxava James para fora da sala de Moody – mas tentar azarar Moody não iria fazer nenhum bem.

—Eu não ia azará-lo – James retrucou – minhas mãos seriam o suficiente.

Benjy soltou um riso e levou James para o cubículo de Lily.

—Cara, eu não vou lhe dizer para você ficar tranquilo, porque eu não estou tranquilo – Benjy falou – mas eu conheço Lily, e se tinha alguém capaz de tornar aqueles novatos em úteis, é ela.

—Cinco dias, Benjy – James respondeu, e se jogou na cadeira da namorada. Conseguia ver na mesa um jornal do mês anterior em que ele era a capa, além de uma pequena Torra Eiffel – do primeiro encontro deles.

—Eu sei, James. Acredite em mim, eu sei— James olhou para Benjy e conseguia ver que o auror estava quase tão preocupado quanto ele. Quase. – Lily é como uma irmã para mim, e o que eu mais queria nesse momento é ir atrás dela, mas isso não seria nada produtivo.

—Então o departamento vai ficar simplesmente esperando eles voltarem infinitamente? – James exclamou incredulamente.

—Claro que não. Mas existe protocolo para missões de busca, James. Moody está sendo meticuloso, não se preocupe com isso.

—Como você quer que eu não me preocupe, Benjy?

Benjy deu um sorriso fraco.

—Amanhã é seu dia de folga, certo?

—Sim.

—Ótimo. Eu já chamei Marlene, fala com Remus e Sirius. Caldeirão Furado em trinta minutos.

Benjy estivera certo – o firewhiskey ajudou a esquecer momentaneamente a situação.

Mas até a mente bêbada de James sabia que tinha algo de errado.

E no dia seguinte a ressaca foi piorada pela capa de jornal, assinada, como se podia esperar, por Rita Skeeter: BEBEDEIRA DESACOMPANHADA: TERIA O MAIS NOVO RELACIONAMENTO JÁ FINDADO OU NUNCA EXISTIDO PARA INÍCIO DE CONVERSA?

“Foi você que anunciou o início, sua maluca!”, Lily teria exclamado caso estivesse ali, ao seu lado.

Havia catorze dias que ela não estava ali.

Ele nem precisou ir ao Ministério naquele dia; Benjy lhe enviara três patronos diferentes dizendo que ainda não havia notícias, para ficar em casa.

No décimo quinto dia ele considerou ligar para os Evans e perguntar se sabiam de alguma coisa, mas descartou imediatamente ao lembrar do quanto Lily odiava preocupar os pais. Ao invés disso, foi visitar seus pais.

—Pare de balançar a perna, James – Sua mãe ralhou, menos de cinco minutos após ele ter chegado. James parou.

27 segundos depois, a perna voltou a remexer sem que ele percebesse.

—Por que você está ansioso assim? – Seu pai lhe perguntou.

—Não estou ansioso – Ele respondeu de imediato. Ele não estava, de fato. Ainda assim, sua mãe ergueu uma sobrancelha.

—Eu agradeço a todos os dias por Lily finalmente ter aceitado sair com você, senão nunca teria netos.

James parou de se mexer por completo e encarou suas mãos.

Cinco segundos depois sua perna já retornava à movimentação irrequieta e irritante.

—Ahhh, isso é sobre Lily? – Euphemia exclamou – Ela está grávida?

—O quê?! Não, mãe! – James exclamou exasperado, olhando para a mãe.

—Por que esse espanto? Honestamente, James, às vezes parece que você tem 15 anos ainda. Você realmente acha que vivo na ilusão de que você e Lily não...?

—Isso lá importa, mãe? – James retrucou, ignorando a parte de sua mente que levemente concordava com o caminho que a mãe pensava. Perfeito, James pensara diversas vezes, com ela tem de ser perfeito.

—Hum... você está muito estressado para quem tem uma namorada como ela... – Euphemia arfou – Pelas calças de Merlin, não me diga que ela já terminou com você!

—Mãe!

—Euphemia, querida – Fleamont falou – Deixe o garoto se explicar.

Então ele contou como Lily fora para uma missão e estava dez dias atrasada, e há quatro dias nem notícias mandava. O olhar de pena de sua mãe foi demais para James, mas Euphemia não deixou ele ir embora; depois de um longo abraço, insistiu em lhe fazer uma xícara de chocolate quente.

Para aquecer o coração que sofre, ela dissera.

Não havia funcionado muito, mas ele aceitara a bebida do mesmo jeito.

Na manhã do décimo sexto dia, ele fora treinar com o pior humor que já demonstrara em todo seu período de Puddlemore United. Seus companheiros de time não sabiam o que estava acontecendo, mas haviam lido a matéria de Rita Skeeter e preferiram dar espaço a James.

Ele treinava mergulhos violentamente; escapando faltando poucos metros para atingir o solo, mudando a trajetória no último minuto como se estivesse num kamikaze e mudasse de ideia quanto ao seu destino no último minuto.

Ele demorou um tempo até perceber Sirius e Remus no campo, acenando e gritando com certa urgência.

—Moody mandou mensagem – Sirius disse rapidamente – Está nos chamando no Ministério.

James nem se preocupou em avisar aonde estava indo; simplesmente largou a vassoura junto ao restante do equipamento do treino e seguiu os amigos.

Ela está bem, James convencia a si mesmo, Lily está bem.

Dessa vez ele não conseguia calar a parte rebelde do seu cérebro que clamava por atenção com um assustador “e se...?”.

Porque ele realmente não sabia o que aconteceria se ela não estivesse bem. Ela precisava estar bem. Em sua humilde opinião, o mundo não merecia Lily Evans – mas ela era tão graciosa que concedia a honra de simplesmente existir.

E depois de conseguir provar um pouco da maravilha de fazer parte da vida de Lily, ele não sabia o que fazer consigo mesmo se não mais pudesse.

Qualquer tempo entre saber que Moody tinha notícias e realmente ter as notícias seria longo o suficiente para uma vida inteira, mas James tinha certeza, andando de um lado para o outro na sala de Moody, que ele estava no inferno e ninguém lhe dissera.

Porque eles estavam ali havia três horas, e ninguém havia fornecido nenhuma droga de informação, porque, aparentemente, Moody estava em reunião com outros aurores sobre a missão de Lily.

E não havia deixado Benjy entrar devido ao conflito de interesse do caso.

Remus tinha impedido James de dizer exatamente onde Moody podia enfiar o conflito de interesse.

—Para de andar de um lado para o outro, James – Sirius disse. James nem olhou para o amigo; apenas suspirou e passou a mão pelo rosto novamente.

—Por que essa droga está demorando tanto? – James perguntou para ninguém em particular, expressando o sentimento de todos na sala.

—Moody deve estar tentando decifrar a mensagem que Lily mandou – Benjy sugeriu. James olhou para o auror.

—Ele recebeu uma mensagem de Lily? O que dizia? Por que é a primeira vez que escuto sobre uma mensagem?

—Bom, a notícia veio através de uma mensagem, uma carta, acho. – Benjy disse – Mas não sei o que tinha escrito – ele se adiantou quando James fez menção de abrir a boca.

James suspirou novamente e puxou os cabelos com força.

Nesse exato momento Moody e Crouch entraram na sala em silêncio. Moody olhou de relance para James e se voltou para Benjy.

—Hoje pela manhã chegou ao Ministério uma carta com a letra de Evans. – Moody disse, mostrando um envelope aberto e um papel em sua mão. James estendeu a mão involuntariamente para pegar, mas Moody afastou – não chegou por coruja, e tem uma mensagem que não conseguimos decifrar, mas que achamos que está endereçada a Potter.

James inspirou e se aproximou da mesa na qual Moody depositava a única comunicação que ele teria de Lily em dezesseis longos e exaustivos dias.

JFP

WoRhTAeH

JUVE X INTER

ISSOR

  02

Todos olhavam para James com expectativa. Ele suspirou.

—Potter – Moody chamou e James encarou os dois olhos do auror-chefe – esse é o momento que você vem me enchendo o saco. Lily se comunicou, e com você. Se concentre.

James fechou os olhos e tentou entrar na mente de Lily.

Aquela mensagem era realmente para ele; suas iniciais no início deixavam isso claro. Por que ela tinha mandado a carta para o Ministério e não diretamente para ele?

—Não conseguimos identificar nenhuma língua nessa carta – Moody comentou, enquanto James pegava o papel.

—Você disse que não foi entregue por corujas?

—Exato.

—Posso olhar o envelope? – James pediu. Moody deu de ombros e fez o que foi pedido.

Era um envelope comum – branco, do tamanho habitual. Havia o endereço do Ministério na frente, e no fundo apenas... era um adesivo?

—Um selo... – James murmurou, lembrando de Lily explicando para que serviam selos quando eles enviaram um cartão postal para a mãe da garota na Copa Mundial. – Essa carta foi enviada pelo correio trouxa...

—E daí? – Crouch questionou. James nem olhou para ele, vidrado na carta.

—Se isso foi enviado pelo correio trouxa... ela quer que eu faça alguma relação...?

Ele olhou novamente... aquele X... parecia alguma coisa... um evento esportivo...?

Mas Juve...? Inter...?

Ele olhou novamente para o papel. A formatação do número era estranha... quase como se tivesse alinhada com o nome... mas não fazia sentido...

—Será que é um anagrama? – Benjy sugeriu.

James assentiu, considerando. Era possível, sim. Mas um anagrama para quê?

E ainda assim, James tinha a impressão que conhecia a palavra “Juve” de algum lugar...

Mas aquele número... por que 02? O que tinha de especial em 02?

A não ser que ali não fosse 02, e sim 20...?

Bom, se fosse pensar assim talvez fizesse sentido inverter a palavra acima também.

—Rossi! – James exclamou com a lembrança – Paolo Rossi, camisa 20! Ela está na Itália!

Junto com o nome de Rossi, sua memória puxou mais um pouco.

—Juve é o apelido da Juventus, onde Rossi joga!

Todos olharam para James como se ele fosse louco, mas ele lembrava de assistir à final da Copa do Mundo de Futebol com Lily, e ela falando sobre o tal do Rossi, sobre como ele havia sido o melhor da competição.

—Então é um tipo de time? – Moody questionou.

—Sim, é um time de futebol.

—Inter seria outro time?

James buscou mais em sua mente, à procura de outros comentários de Lily sobre futebol italiano.

—Claro! O clássico, Juventus contra Internazionale!

—Certo... mas o que isso significa? – Sirius questionou.

—Acho que ela está em Turim, é a cidade da Juventus. – James explicou.

—Então ela quer que a gente vá até esse jogo para resgatá-la?

James franziu o cenho. Ainda faltava a parte de cima. Ele pegou um outro pedaço de papel e escreveu todas as letras maiúsculas:

—Talvez se você inverter de novo...? – Remus sugeriu.

—He... Heathrow! – Dessa vez Marlene e James falaram ao mesmo tempo: – O aeroporto de Heathrow!

—É isso! – James exclamou – Ela vem de Turim para o aeroporto de Heathrow, deve chegar na hora do jogo!

Moody e Crouch se entreolharam e conversaram alguma coisa baixinho. James dobrou o papel e colocou no bolso, se afastando da mesa.

Ele precisava sair dali e ir para Heathrow.

Agora.

—Potter! – Moody bradou – Onde pensa que vai?

—Com todo o respeito, Moody, mas eu vou encontrar Lily no aeroporto. Você pode ou não acreditar em mim, mas eu vou fazer o mínimo que eu puder para vê-la novamente. E se ela não chegar hoje, amanhã mesmo viajo para a Itália.

—Potter...

—Eu não posso esperar mais, Moody. Ela é sua funcionária, mas pra mim... – James engoliu em seco – Pode dizer que tenho que me acostumar o quanto quiser, mas ela pode estar aqui em algumas horas e eu estarei lá esperando por ela.

Moody ergueu as sobrancelhas.

—Só ia dizer para deixar a veste. Chamará muita atenção no mundo trouxa. Fenwick, você não vai como auror, entendido? Vamos logo.

Era verdade que James não estava com paciência, mas ainda assim ele sabia que tinham que respeitar o Estatuto do Sigilo – foi o único motivo para ele não ter aparatado diretamente no saguão de espera do aeroporto.

—Você nunca foi lá – Remus lhe lembrou enquanto andavam pelo Ministério – Não seria uma aparatação precisa...

James sabia que o amigo estava certo, mas ainda assim não respondeu.

—Então como vamos? – James perguntou.

—Existem carros oficiais do Ministérios – Moody explicou – suponho que saibam o que são carros?

A irritação de James permitia agora também se manifestasse a ansiedade.

Estava ansioso quando parou numa banca de revista e viu que o tal jogo seria em uma hora e meia.

Ansioso quando Moody tentou convencer Crouch que este não precisava ir.

Ansioso todas as vezes que o sinal fechava.

Ansioso pelo engarrafamento.

Em sua cabeça, uma voz repetia com firmeza, tentando transformar em realidade um sentimento de necessidade: ela está bem, Lily está voltando.

James (com a roupa debaixo das vestes de Quadribol, que foram abandonadas no carro) saiu em disparada, mas logo ele lembrou que realmente nunca tinha ido ali e definitivamente não sabia andar pelo aeroporto.

Girou um pouco, ignorando os olhares estranhos que recebia dos trouxas, até achar um balcão de informações.

O guia teve de explicar umas duas vezes onde ficava o portão onde Lily deveria descer, mas James assentiu e voltou a correr. Lembrou dos outros e voltou pelo mesmo caminho.

Faltavam 15 minutos para o voo chegar, e ainda assim Moody insistia em andar ao invés de correr.

Faltavam 10 minutos e Marlene tropeçara, fazendo a comitiva toda estagnar.

Faltavam 5 minutos e pararam Sirius para pedir informações.

Na hora exata do voo, eles chegaram ao portão. James imediatamente se adiantou para a porta automática, mas os seguranças o impediram antes mesmo de chegar perto.

—A entrada é proibida, senhor. Por favor aguarde atrás da linha amarela.

James suspirou e puxou os cabelos em frustração, lamentando amargamente por não ter trazido a Capa.

Ele retornou sua caminhada de um lado para outro, ignorando os olhares que recebia dos seguranças. Ele não dava a mínima de parecer um maluco, contanto que Lily chegasse.

Ele só precisava que Lily chegasse.

James ficou na ponta dos pés, tentando enxergar os cabelos chamativos da garota, mas sem sucesso.

—James... – Marlene chamou, e ele olhou rapidamente para o fundo do terminal, achando que era Lily. Então olhou para a fonte da voz, e Marlene estava lhe oferecendo água. Ele suspirou e recusou, agradecendo a gentileza.

Ele poderia viver 100 anos, mas aquele dia estaria marcado pra sempre nele – a angústia, o desespero, e o maior alívio que sentira na vida até aquele momento quando identificou Lily não pelo cabelo ruivo (que estava preso e escondido), mas sim pelo casaco que ela usava – o casaco que ela roubara dele dias antes de sair para a missão.

—Eu não vou entrar – James avisou aos seguranças quando se aproximou da porta automática. Ele não conseguia sorrir; o choque ainda era demasiado.

Mas estava tudo bem, porque Lily também não sorria.

No futuro, ele nunca seria capaz de apontar quem eram os outros aurores que estavam com Lily – seus olhos estavam apenas na garota que se aproximava lentamente, lentamente, com tamanha calma e paciência que James nunca seria capaz de reproduzir.

Lily não deu um passo antes de James puxá-la para seus si num dos melhores abraços de sua vida.

—Lily, você está bem – Ele sussurrava, a voz embargada, enquanto tentava distribuir beijos pela cabeça encoberta pelo capuz do casaco e apertava seus braços, suas costas; ele precisava ter certeza que aquilo era real.

—Eu estou aqui, James, estou aqui – Lily sussurrava de volta, um tom de alívio que mostrava claramente que aqueles dias não haviam sido nada fáceis e que James estivera completamente certo em se preocupar. E que não necessariamente ela estava bem.

—Auror Evans – James ouviu Moody chamando – Potter, poderia soltar minha auror?

—Não – James respondeu calmamente, sem se virar para responder, e ouviu a risada de Benjy.

—Potter.

James ignorou Moody e se afastou levemente de Lily, passando suas mãos para segurar o rosto da garota, encarando as intensas orbes verdes. Facilmente dava para perceber as olheiras e... ela estava mais magra?

—Você não imagina quão preocupado eu fiquei, Lil – James sussurrou. Lily deitou o rosto na carícia que os dedos de James faziam e soltou um suspiro pequeno.

—Me desc- – Lily começou a falar, mas James a silenciou com o polegar.

—Não peça desculpas pelo seu trabalho, eu só...

—Eu sei. – Lily completou, abraçando James pela cintura e enterrando seu rosto no peito do namorado.

—Potter, eu realmente preciso falar com Evans... – Moody falou novamente. James suspirou e permitiu que Lily se afastasse para encarar o chefe, sem, contudo, perder o contato físico.

—Senhor. Eu escrevi um relatório completo no voo e entreguei a Rokeby. Eu realmente preciso descansar hoje.

James desconfiou que foi o jeito que a voz de Lily quebrou quando ela disse “realmente” que fez Moody respirar fundo e concordar.

—Nos vemos próxima segunda, Evans. Só o relatório e os depoimentos dos novatos são o suficiente por enquanto. – Moody concedeu. Lily soltou um leve sorriso – Precisa de escolta para casa?

—Não será necessário, senhor.

Moody assentiu e suspirou.

—Vou levar o carro comigo, então. Potter.

—Sim?

Garanta que ela ficará bem, sim?

—Não precisava nem ter pedido.

James a puxou para mais um abraço, dando um beijo na testa da garota, antes de se afastar.

—Tem mais gente querendo te ver – Ele respondeu, sorrindo pela primeira vez e apontando para os demais amigos. Lily sorriu levemente, antes de ser atacada por Marlene num abraço que quase derrubou a ruiva.

—Nunca mais faça isso, Lily – Marlene disse. Lily riu e abraçou a amiga de volta. Em seguida, Benjy se aproximou com as mãos nos bolsos e um meio sorriso.

—Uma missão sem mim e dá nisso, parceira?

Lily riu e abraçou Benjy.

—Meu Deus, aqueles novatos... você tem que ler o relatório para entender o que estou falando...

—Graças a Merlin você voltou – Sirius disse, dando um peteleco na cabeça de Lily quando ele e Remus se aproximaram – James estava enchendo o saco.

—Estava? – Lily perguntou, olhando para o namorado, que apenas deu de ombros.

—Esteve bem perto de ser preso algumas vezes, mas Benjy aliviou a barra.

James revirou os olhos e, depois de Remus abraçá-la, puxou Lily para seu lado novamente, dando mais um beijo em sua testa.

—Não trouxe bagagem? – James perguntou. Lily apontou para a mochila no chão, que James imediatamente pegou – Vamos que você precisa descansar.

—Podemos ir para sua casa? – Lily pediu, com um fraco sorriso – Quero usar uma banheira e a minha está quebrada.

Claro que sim, Lil.

Benjy ergueu as sobrancelhas para Lily, mas ela nem se importou em repreendê-lo. James lhe deu um beijo no cabelo e lhe puxou para seu lado, passando um braço por seu ombro e a levando para fora do aeroporto, seguidos dos outros.

Enquanto Benjy arranjava um taxi, James pedia a Sirius e Remus para providenciar comida para todos e levar para sua casa, enquanto ele seguiria adiante com Lily, Marlene e Benjy.

—Está bem o suficiente para aparatar? – James perguntou. A ruiva revirou os olhos.

—Eu estou cansada, não doente, James. Não precisa de taxi, Benjy, juro.

James assentiu, apesar de não concordar completamente. As olheiras que ela exibia eram absurdamente maiores que o comum, e ele podia ter certeza que ela havia emagrecido um pouco. Contudo, se todos os seus anos de convivência com Lily Evans lhe ensinaram alguma coisa é que, em algumas situações, é melhor não discutir.

Então James simplesmente procurou o melhor ponto de aparatação perto de Heathrow; não que ele soubesse que existia um – ele só precisava achar um local isolado.

Não era um beco muito amigável, mas era escondido o suficiente para que eles conseguissem aparatar sem quebrar o estatuto do sigilo. James ofereceu o braço para Lily, que sorriu e segurou, acompanhando-o até a casa do garoto.

James logo ligou as luzes e levou Lily para o seu quarto, fazendo uma careta quando Benjy e Marlene apareceram também.

—Era para eu ter arranjado uma roupa para você, Lil.

Lily sorriu e negou com a cabeça.

—Eu não me importo em usar uma sua – Ela respondeu – A não ser que você...

Claro que eu não me importo. Vem, vou te mostrar aqui e pegar uma muda pra mim também.

—Eu espero você terminar o banho.

—Não, toma banho aqui na banheira e eu vou no quarto de hóspedes – James respondeu, pegando roupa para ele – Aquela gaveta ali tem umas roupas mais antigas que eu deveria ter doado, mas não doei, então fica a vontade. Quando você terminar vem pra sala que vou arrumar a comida que Sirius trouxer.

Lily assentiu e sorriu.

—Obrigada por tudo, James.

—Você não precisa agradecer por isso, nunca – James disse, puxando-a para mais um abraço. Deu um beijo no topo da cabeleira ruiva e suspirou – Você com certeza estava pior que eu, mas... eu só estou muito aliviado em lhe ver aqui, Lil. Você prefere dormir no quarto de hóspedes ou...?

—Com você – Ela respondeu de imediato – Não quero ficar sozinha depois de... bem.

James assentiu e lhe deu mais beijo.

—Os sais de banho estão na gaveta embaixo da pia – Ele disse, separando-se de Lily, que ergueu uma sobrancelha.

—Sais de banho?

—Quem em sã consciência tem uma banheira mas não tem sais de banho?!

Lily riu e revirou os olhos, indo para o banheiro.

—Vou mandar uma toalha limpa por Marlene.

—Certo.

Suspirando, James a puxou para mais um abraço e lhe deu um beijo leve nos lábios.

—Eu te amo tanto, Lil.

Ele sorriu e saiu do quarto, indo pegar a toalha para Lily. Quando achou, pediu para Marlene entregar à namorada e foi tomar banho também.

Sirius não tinha poupado esforços. Trazia três caixas de pizza e 2 engradados de Cerveja Amanteigada, que ele, Benjy e Remus estavam arrumando na mesa quando James desceu.

—Tudo ok? – James perguntou. Os outros acenaram positivamente – Benjy, posso falar com você?

O Auror assentiu e seguiu James para outro cômodo. James suspirou.

—Isso já aconteceu antes, certo?

—Sim. Não é a primeira vez que Lily vai pra uma missão e volta depois – Benjy respondeu.

—Não me refiro ao tempo. Ela me parece um pouco... abalada.

—Não é a primeira vez que isso acontece tampouco.

—Como posso ajudar Lily? – James perguntou, o desespero em sua voz se tornando visível. Benjy deu um pequeno sorrisinho.

—Já está ajudando, James. Ela geralmente se isola quando algo assim acontece, e agora está cercada por amigos. Já é um avanço.

James apenas olhou para Benjy, que suspirou.

—Você não conviveu com Lily durante a academia, cara. Ela sempre respondia a situações como essa tentando ficar sozinha, sem ninguém por perto. Só de ela ter pedido pra ficar aqui já é alguma coisa. Aceitar ajuda de outras pessoas então... Você acha que só você se influencia positivamente pela convivência com Lily, mas não entende quão melhor ela tem lidado com o trabalho. Fica tranquilo, James. Ela está aqui e precisa de você agora.

James assentiu e foi com Benjy terminar de arrumar a mesa para todos. Ele definitivamente não queria apressar Lily do seu momento de relaxamento, mas queria que ela voltasse logo. Já ficara muito tempo longe dela.

Marlene já estava na cozinha com Sirius e Remus, dizendo que Lily pedira para ficar sozinha por um tempo.

Pouco depois de meia hora de ter entrado no banheiro, Lily apareceu. Ela trajava uma camisa de James da época em que jogava na Grifinória – ficava pequena nele, mas era suficiente para chegar no meio da coxa da garota. Ele reconheceu uma calça de moletom também de sua adolescência e pantufas da época de Hogwarts.

Se ele não estivesse tão feliz por ela ter voltado, tão preocupado para que ela comesse logo, e tão ansioso para confortá-la, ele com certeza teria achado Lily muito sexy nas roupas dele.

Mas sua cabeça estava 100% concentrada em acalentar Lily naquele momento, então ele se adiantou e puxou a garota para a mesa.

—Lembrei que você gosta de pizza – Sirius disse, colocando um prato com uma fatia grande na frente de Lily, que sorriu em agradecimento e pegou o pedaço de mão e colocou de vez na boca, soltando um pequeno som de apreciação que fez os demais rirem.

—Isso está divino, Sirius, obrigada!

Se James tivesse ignorado a pele mais esticada que ela exibia, as seis fatias que a ruiva devorou realmente chamaram a atenção de garoto. Remus foi o primeiro a chamar Sirius para eles irem, com a promessa de avisar a Euphemia e Fleamont que Lily estava bem. Benjy foi diretamente para o Ministério ajudar na papelada. Marlene estava hesitante em sair, mas um olhar mais profundo para a amiga lhe convenceu que Lily precisava descansar de fato.

—Precisa que alguém avise seus pais? – James perguntou enquanto os dois subiam para o quarto de James.

—Não precisa. Moody já avisou que voltei.

—Vamos passar lá amanhã, então? – Ele supôs, abrindo a porta. Ela franziu a testa.

—Por que passaríamos lá amanhã?

—Bem, porque você estava numa missão complexa e voltou agora e eles devem estar preocupados?

Lily fez silêncio enquanto James tirava a colcha da cama.

—Eu tenho que trabalhar amanhã – Ela comentou, deitando na cama de modo que ficasse de frente para James. Foi a vez dele fazer uma careta.

—Moody não pode lhe dar um dia de descanso?

—Eu... eu nunca pedi... – Lily confessou, parecendo surpresa com a possibilidade. James suspirou.

—Tem uma primeira vez para tudo, certo?

Lily não respondeu mais uma vez. James se aproximou um pouco mais dela, segurando o rosto da garota com uma mão.

—Você tem seu trabalho – Ela lembrou.

—Eu já fugi hoje. Posso pedir para Almofadinhas avisar que tive uma emergência familiar ou algo assim.

—James.

—Lily.

—Você não precisa fazer isso por mim – Lily disse com um suspiro.

—Não é só por você, garota. Como eu disse, tenho certeza que foi pior com você, mas eu basicamente enlouqueci sem notícias suas, sabe. Acho que você ainda não entendeu perfeitamente quão importante você é para mim, Lils. Sirius não estava brincando quando ele disse eu quase fui preso.

Lily engoliu em seco e olhou para James.

—Caímos numa emboscada no quarto dia. Um dos novatos achou que já estava resolvido, e foi desleixado. Esse é um dos problemas com os novatos, eles acham que nada vai dar errado.

—Lil, não precisa falar nada agora, okay? – James disse quando ela pausou.

—Eu quero falar. Bem, eles foram desleixados e acabamos numa emboscada que nos levou para uma floresta deserta na Itália, onde alguns dos seguidores de Voldemort nos esperava. Para ser sincera, nós tivemos muita sorte, James. Eu achei que... eu não tinha certeza de que eu voltaria. E isso foi terrível.

—Deve ter sido péssimo – Ele concordou, se aproximando para poder abraçá-la e fazer um cafuné ao mesmo tempo.

—Foi desesperador – Lily confessou – Eu já estive em situações mais complicadas, mas nunca com tantos novatos. Eu era a única ali que tinha alguma experiência, e isso é terrível. Eu me sentia responsável por aqueles palermas, e eles mal conseguiam seguir meus comandos. Tivemos que nos esconder, a comida acabou, água só conjurada.

“Teve um dia... muito ruim. Eu quase me separo dos novatos. Parecia que os seguidores sabiam que eu era única experiente, porque estavam me mirando absurdamente. Eu nunca na minha vida inteira duelei como nesse dia, e teve um momento que eu quase desisti. Quase.”

O tremor que tomou o corpo de Lily não passou desapercebido por James; muito menos o jeito que a voz de Lily quebrou. Ele tampouco gostara de ouvir Lily falando em “desistir” no meio de uma missão.

De repente, Lily sorriu. Um sorriso doce, um sorriso afetuoso e cheio de vida. Um esticar de lábios definitivamente não típico de alguém que havia desistido, e sim de quem acreditava que valia a pena viver. Que todo o sofrimento, no final das contas, seria um sacrifício que seria recompensado. Que seguir os ideais era o suficiente para continuar lutando.

O sorriso que fizera James se apaixonar por Lily pela primeira vez ainda na escola, e o sorriso que ainda fazia ele se apaixonar por ela todos os dias.

—Mas aí eu senti seu cheiro. Eu estava com seu casaco, sabe, porque estava frio e estávamos nos preparando para dormir quando eles chegaram. Eu fiz um feitiço para fixar o cheiro, e quando eu fui limpar meu rosto, eu senti seu cheiro. E me lembrei de você aqui, me esperando. E de meus pais, e quão decepcionados eles ficariam se soubessem que eu simplesmente desisti. E daí veio Benjy, e depois Marlene, e Sirius e Remus, e Moody irritado porque ele perdeu tantos aurores.

Lily sorriu mais um pouco, puxando uma mão de James para seus lábios e devolvendo depois de depositar o mais leve e mais doce dos beijos no dorso.

—E depois você de novo, me chamando de Evans e dizendo que eu teria que esperar pra ter um encontro de verdade. Eu não podia desistir sem meu encontro de verdade com James Potter. Como eu iria dizer para a estrela de Quadribol que, apesar de eu já ter aparecido no Profeta Diário três vezes por causa dele, eu o amo de um jeito que nunca achei que fosse amar depois de apenas dois meses juntos? Que apesar desse pouco tempo eu já imagino o que vai acontecer daqui a anos?

—Lil – James murmurou, entrelaçando suas mãos.

—Eu tinha que voltar para você, James. As vezes eu me jogava tanto porque não tinha tanto me esperando na volta. Mas agora eu tenho. Então sim, sempre tem uma primeira vez para tudo, e se não for lhe prejudicar no Puddlemore, eu adoraria não ir para o Ministério amanhã e ficar com você o tempo todo até a hora de irmos visitar meus pais.

James não teve como não sorrir de volta.

—Tudo bem. Faremos o que você quiser amanhã, contanto que tenha comida envolvida – James concordou. Lily soltou uma risada.

—Engraçado, essa era uma das minhas exigências também!

James riu e a beijou docemente, como uma pessoa que beija o amor de sua vida após saber que o sentimento é recíproco: com todo o amor que os lábios podem transmitir, um “eu te amo” silencioso, mas certeiro.

Com Lily em seus braços, o cheiro característico dela já dominando o ambiente, e a certeza de que ela estava bem ali, com ele, juntos, permitiu finalmente que a irritação sumisse completamente de James, deixando-o com uma leveza que somente quem sente compreende o privilégio.


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