Um Caso de Copa escrita por psc07


Capítulo 14
Capítulo 14




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—Mais alguma teoria, Evans? – Moody perguntou.

Lily sorriu para o chefe e mentor. O tom de voz era duro, mas ela sabia que ele estaria interessado em ouvir novas teorias, não importava muito se muito malucas ou não.

—Sim, um pouco mais direcionada agora.

Moody ergueu as sobrancelhas. Eles estavam no mesmo bar de antes, um lugar neutro que ninguém parecia se importar com eles.

—Diga, então.

—Na verdade, senhor, é aquela mesma teoria. Do modo do assassinato – Ela disse. Moody focou os dois olhos nela.

—Continua achando que foi trouxa?

Lily assentiu e explicou sobre a sua suspeita de terem usado alguma veia de Jack pelas fotos que tinham da cena do crime.

—O que você precisa para continuar a investigação sob essa perspectiva?

—Então o senhor concorda? – Lily achava que teria mais trabalho de convencer o chefe.

—Você sabe muito mais sobre o aspecto trouxa do nosso trabalho do que eu. Vou confiar na sua avaliação, Evans. O que precisa?

Lily hesitou. Essa era a parte mais difícil.

—Ai, ai, Evans. Desembucha. – Moody rosnou, voltando a olhar para todo o restaurante com o olho azul vibrante. Lily suspirou.

—O ideal seria eu fazer uma investigação mais... bem, trouxa. O problema é que em casos como o de Jack, os trouxas fazem uma coisa chamada autópsia.

—E o que é isso?

—De maneira simples, eles, hm, cortam o corpo para ver se há algo errado ou que dê uma dica do que possa ter ocorrido, além de fazer uns exames com sangue, urina e outros órgãos que possam servir.

Moody voltou a encarar Lily com os dois olhos. Mesmo que ela tivesse desviado o olhar, saberia que o chefe estaria com uma expressão de surpresa e um pouco de desgosto.

—Quê?

—Bem, os trouxas não sabem fazer feitiços que ajudem, senhor. Não há nada assim.

—E você quer fazer isso com o filho da Ministra?

—Quero que um profissional faça.

Moody coçou o pescoço e deu um gole do uísque.

—Como vamos encontrar um trouxa que faça isso? Para depois lançar um feitiço de memória nele?

—Eu tenho um em mente, senhor, que seria perfeito, pois não seria quebra do estatuto de sigilo.

—Ah, não? E por que não seria?

—Porque é meu pai – Lily respondeu, e Moody ergueu uma sobrancelha desfigurada – Ele trabalha com isso, e obviamente já sabe sobre o mundo bruxo. Posso pedir como favor a ele.

—E a logística disso?

—Posso levá-lo ao Ministério pela entrada de visitantes e ele faz tudo lá. Se precisar de exames de sangue ou urina nós fazemos num laboratório particular com um nome falso. Mas a parte inicial pode ser feita lá no Ministério.

Moody parou para pensar por alguns minutos, e Lily entendia a hesitação do chefe, então esperou em silêncio, mordendo o lábio inferior, até Moody suspirar.

—Tudo bem, você me convenceu. Mas quem vai falar com a Ministra será você.

***

Não que Lily tivesse medo da Ministra, não mesmo. Lily tinha medo de poucas coisas, e quase todas envolviam quem ela amava, e não a própria. Lily sentia muito respeito pela Ministra, por tudo que ela havia passado e por mesmo assim se manter forte e como um exemplo.

O que ela não queria – e não sabia muito bem como evitar – era ser desrespeitosa com a Ministra, menos pelas consequências profissionais do que pelo princípio da coisa.

Ela colocou Benjy a par da situação, e pediu ajuda. O parceiro apenas disse para ela ser o mais honesta o possível, e falar com calma e gentileza, sem pressionar a Ministra, mas também deixando claro a importância do procedimento.

O que não ajudou Lily em nada, já que ela sabia tudo o que Benjy falara.

Lily ainda brincou com a ideia de pedir ajuda a Remus, facilmente uma das pessoas mais sensatas e gentis que ela conhecia, e ela tinha certeza que ele teria um bom conselho – mas ela não podia, de jeito nenhum, pedir a Remus, considerando que ela teria que contar toda a situação e era uma investigação sigilosa.

Então ela ficou remoendo, tentando decidir qual a melhor maneira de abordar o assunto, enquanto Moody não dizia com clareza quando elas se encontrariam.

Até que foi anunciado que a Ministra estaria presente no próximo jogo da Inglaterra na tribuna de honra. Um confuso James entregou crachás para a tribuna a todos os amigos, apenas dizendo que eles tinham dado sorte.

—Er, na verdade foi menos sorte e mais eu preciso falar com a Ministra, então... – Lily explicou, pegando o crachá com uma pequena careta.

Os outros assentiram com a informação, e James franziu o cenho, mas preferiu se manter calado. Desde que ele havia beijado a ruiva, não tinha tido a oportunidade de ficar a sós com ela. Imaginava que ela não iria querer que os outros soubessem, principalmente Benjy, então preferiu ficar calado até terem a chance de conversar.

Ele não deixaria para lá, porque sabia que ela tinha o beijado de volta. Ele queria pelo menos falar a respeito do assunto.

Apesar da confusão mental sobre os possíveis sentimentos da ruiva, James conseguiu se concentrar plenamente nos treinos que antecederam a próxima partida, que já era eliminatória, então eles precisavam ganhar de qualquer jeito.

A manhã da partida foi, na verdade, o único momento (mesmo que efêmero) em que James e Lily não ficaram cercados pelos amigos. Como que pressentindo exatamente o que James queria falar, Lily deu um sorriso e falou sobre uma das jogadas novas do treino. Ele semicerrou os olhos, mas permitiu a evasão. Não era o melhor momento de fato.

Lily desejou boa sorte ao garoto, um pouco sem jeito, sem saber se o abraçava ou não; James acabou com a dúvida puxando-a para um abraço antes que ela saísse. Lily relaxou e o abraçou de volta, mas se afastou com a chegada de Marlene.

—Foi apenas um abraço de boa sorte, calada – Lily sussurrou rapidamente. A morena apenas riu.

—Eu não ia falar nada.

Ambas sabiam que Marlene estava mentindo.

Ao chegar no camarote, Lily reconheceu Benjy e Moody antes mesmo de reconhecer a Ministra, e rapidamente se encaminhou para a direção deles.

—Ministra, creio que se lembre da auror Evans – Moody falou. A Ministra assentiu e se sentou. Lily aproveitou a área ainda vazia para fazer seu pedido após o aval do chefe.

—Ministra, estou aqui para falar com a senhora a respeito da investigação – Lily começou; recebendo como resposta apenas um aceno de cabeça – Chegamos em um ponto que nossa principal suspeita seja de que foi utilizado uma forma trouxa para o evento.

—Método trouxa? – A Ministra respondeu franzindo a testa – Mas trouxas não podem entrar na área em que Jack estava.

—Sim, não estamos pensando que tenha sido um trouxa em si, apenas que esse foi o método utilizado.

—Então estão suspeitando de alguém com algum laço trouxa?

—Não necessariamente – Lily discordou – Não estamos pensando por essa linha, até porque não faria muito sentido, considerando todo o seu trabalho. Queremos primeiro ter certeza.

—E o que precisam?

Lily hesitou e viu pelo canto do olho Moody olhando-a como encorajamento. Então ela explicou à Ministra como os trouxas investigavam e o que exatamente ela queria fazer.

—Mas... cortar meu filho? – A Ministra sussurrou, olhando assustada para Lily.

—Senhora, eu entendo de verdade o que a senhora está achando sobre isso. Parece algo fora da realidade, mas é o que eles fazem. E eu acho que esse é o caminho para achar pelo menos a causa da morte, e a partir daí continuar a investigação.

—Mas como... quem faria isso com meu menino?

Lily, então, explicou o trabalho do pai e a logística que ela havia pensado.

—Como conseguimos preservar bem com nossos feitiços, meu pai não teria problemas.

—Mas ele ficará... cortado?

—Não mesmo. Tenho certeza que ficará inclusive melhor que os trouxas se chamarmos um MediBruxo pra nos ajudar – Lily percebeu a hesitação da Ministra e observou o juiz dando o apito inicial – Sei que a hora é péssima, mas preciso da sua autorização para fazer isso. Quando a senhora tiver uma resposta, pode passar para Fenwick ou Moody que eles me respondem.

—Eu... certo. – Ela ainda parecia aturdida.

—Me desculpe por isso, Ministra. Mas a senhora pediu o meu melhor, e é isso que estou fazendo.

***

Lily nem se preocupou em parabenizar James por mais um triunfo e mais uma ótima partida – apenas um sorriso foi o suficiente. Parecia realmente que a Inglaterra iria ganhar a Copa de Quadribol, e o jeito que James olhou e sorriu de volta para ela, com uma piscada, dizia que ele tinha plena noção disso.

Enquanto Lily, Marlene, Remus e Peter esperavam James e Sirius saírem da área de entrevistas, a Ministra passou, se encaminhando para cumprimentar o time. Lily não pode deixar de prestar atenção em como James reagiria a Benjy, e sua surpresa foi ainda maior ao perceber que seu colega havia parado para falar algo com James, que ergueu as sobrancelhas e acenou para Benjy.

Quando ele percebeu que Lily olhava, sorriu novamente.

Benjy olhou na direção de Lily antes que ela pudesse desfazer o sorriso em resposta a James, e Benjy semicerrou os olhos para ela, antes de voltar a falar com James.

Claro que Lily estava morrendo de curiosidade para saber do que se tratava – o que Benjy teria a falar com James? Será que ele mandaria James se afastar de Lily? Ou iria falar alguma coisa sobre o beijo? Ou pior, falaria o que Lily tinha contado a ele?

Rapidamente Lily organizou a mente. Ela nem tinha falado do beijo para ninguém (nem sabia se falaria), e para o objetivo de Benjy, contar a James que Lily gostava dele era contra produtivo.

Nada impedia de ele avisar a James para se afastar, no entanto.

Quando a comitiva da Ministra saiu levando Benjy junto, Lily prestou atenção no rosto de James, que não parecia demonstrar ter ouvido nada desagradável. Por fim, Lily supôs que Benjy queria apenas passar um recado a ela sem chamar a atenção, e a garota relaxou, à espera do possível aviso.

Ao invés de uma festa, o pós-jogo do dia foi um grande almoço para os jogadores e convidados apenas. Com a proximidade das fases finais, James queria a menor quantidade de distrações que fosse possível.

Lily preferia esse tipo de encontro; menos chance de se bater com jornalistas, os jogadores não ficavam tentando impressionar ninguém e acabavam sendo mais eles mesmos, era possível conversar melhor porque a música não era ensurdecedora.

Além disso, várias crianças apareceram, e Lily adorava crianças.

—Fugindo, Evans?

Lily olhou para cima e sorriu. O lugar que haviam escolhido era no alto de um morro, e da borda era possível ver o vale abaixo com um lago de cor incrível. A vista como um todo era de tirar o fôlego, então Lily não tinha pensado duas vezes em sentar naquela beira e apreciar. James aparentemente também não, já que se sentou ao lado dela imediatamente, oferecendo um copo de cerveja amanteigada.

—Obrigada.

—Desistiu de me seguir durante todo o tempo? – James provocou. Lily revirou os olhos – Tsc, tsc, auror. O que Sr. Moody diria sobre isso?

Dessa vez Lily não segurou o riso.

—Decidi lhe dar alguns minutos de folga. Mesmo que tenha menos mulheres para lhe distrair.

Um momento de silêncio se passou entre eles enquanto se lembravam do que essa insinuação tinha levado da última vez, e Lily desviou o olhar, corada, de volta para a floresta abaixo deles.

—Para ser sincero, mesmo que tivesse mais, eu estaria aqui de qualquer jeito – James admitiu após alguns segundos de consideração. Lily conseguia sentir o olhar dele no seu rosto, mas se recusou a olhá-lo de volta – ela não sabia se conseguiria manter todo o controle a depender do que encontrasse. Ele é um suspeito de minha investigação.

—Eu não estou fugindo – Ela respondeu à primeira pergunta – É só que a vista é algo a mais, e quis aproveitar um pouco.

—É, eu nunca tinha visto nada assim – James concordou, e Lily ficou levemente agradecida por ele aceitar a mudança de assunto nada sutil – Antes que eu esqueça, Fenwick me pediu para lhe dar um recado.

Lily olhou para James novamente, e viu uma careta no seu rosto. Não precisa pensar muito para saber que a mudança da expressão se devesse pela menção do nome de Benjy.

—Ele disse que era para você ligar para seu pai e tentar uma visita amanhã.

Lily arregalou os olhos e se levantou num pulo.

—Eu preciso de um telefone. Será que aqui tem um telefone? – Ela perguntou, oferecendo a mão para James levantar também. Ele aceitou, uma certa confusão tomando seu rosto.

—Dificilmente, é uma casa bruxa.

—Droga.

—Mas eu sei onde tem um vilarejo trouxa por perto – James continuou – Na casa em que meus pais estão.

—Tem que ser um telefone público. Não é exatamente uma visita social, James – Lily disse.

—Então meus pais estarem aqui seria algo bom, certo?

Lily não sabia que Fleamont e Euphemia estavam lá porque ela estava, na verdade, evitando James (mas não fugindo!). Ele a levou para onde os pais estavam sentados com Sirius e Peter. Lily pediu desculpas por não ter falado com eles, mas eles disseram que não se incomodavam, e que seria um prazer emprestar a casa em que estavam para deixar Lily ligar para o pai.

Lily sorriu, mas não teve muito tempo para agradecer, pois James a puxou pela mão, um sorriso no rosto, e quando ela menos esperava, aparatou, levando Lily diretamente para a casa em que seus pais estavam.

—Um aviso antes de aparatar seria bom da próxima vez – Lily disse, fazendo uma careta. James sorriu.

—Próxima vez, eh?

Lily ignorou e andou até achar o telefone. Suspirou e discou o número tão conhecido, preparando-se mentalmente para o que viria nos próximos minutos. James fez uma cara confusa, mas antes que Lily explicasse, sua mãe atendeu o telefone.

—Oi, mãe – Lily disse, fazendo uma careta. Houve alguns instantes de silêncio do outro lado da linha.

Ai, Lily, quanto tempo!— O telefone da casa que os Potter estavam era alto o suficiente para que James ouvisse o que era dito no outro lado da linha – Finalmente fora de uma missão?

—Na verdade não, mãe.

Oh. O que houve então? Está no hospital? Se machucou de novo? Lily!

—Não, mãe, se acalma!

Da última vez que eu recebi uma ligação sua durante uma missão foi para dizer que você ficaria um mês no hospital, e das outras vezes que você se machucou foi Benjy que ligou, então não tenho como imaginar outra coisa— A garota fez uma careta. Ela sabia que a mãe estava certa – Não lhe vejo há mais de dois meses, Lily.

—Eu sei, mãe, mas as coisas estão...

Caóticas, eu sei. Quando não estão? — Lily suspirou. Novamente a mãe estava certa.

—Desculpa, mãe. Depois dessa eu prometo que visito, assim que acabar. Antes mesmo dos relatórios. – Lily ouviu sua mãe rir do outro lado da linha.

Você odeia os relatórios, pequena. Não me sentirei tão lisonjeada. Se não é para uma notícia devastadora, a que devo a honra dessa ligação?

—Eu preciso falar com papai. Preciso da ajuda dele.

De seu pai? Para a missão?

—Por incrível que pareça, sim. Mas nada perigoso, juro.

Vou chamá-lo. Estarei esperando por você, pequena. Não suma assim, ok?

Lily estava olhando para o chão o tempo todo, todo o rosto corado. Ela realmente preferiria que James não ouvisse a conversa, mas não tinha um jeito educado de pedir para ele sair, então ela preferia passar a vergonha.

Lily?— A surpresa na voz de seu pai era ainda maior que a de sua mãe.

—Ei, pai – Ela respondeu num sussurro. Seu pai suspirou.

Você está bem, pequena?

—Sim, ótima. Não se preocupem. Nenhum arranhão há um mês. – Seu pai riu, e de canto de olho ela percebeu James abrir um pequeno sorriso.

Sua mãe disse que você precisa de minha ajuda?

—Sim, muito. Antes de tudo, é sigilo, ok?

Estou acostumado com sigilo.

—Eu preciso que você uma autópsia.

O silêncio do outro lado da linha pareceu durar muito tempo.

Certo. Posso saber mais?

—Er, sim. Meu caso atual é de um garoto bruxo que foi encontrado morto em um lugar que não deveria ter sido encontrado morto. Não foi encontrada nenhuma causa bruxa para a morte dele, então pedi fotos e no pescoço tinha um hematoma com diversos ferimentos puntiformes e pequenos. Fora isso, sem marcas.

Se tem um hematoma foi feito antes da morte.

—Foi o que pensei. O lugar não pode ser acessado por trouxas, pai, mas a causa mortis me parece ser trouxa. Um possível envenenamento?

Sem dúvida é possível. Teríamos que coletar amostras de sangue e urina. Quanto tempo de morte?

—Não importa muito. Tem um feitiço para preservar o corpo. Seria como se chegasse um corpo de 6 horas.

E como quer fazer isso? Não posso levá-lo para o trabalho, pequena.

Então Lily explicou que iria levar o pai pela entrada trouxa do Ministério, onde ele faria a autópsia. Garantiu que todos os materiais que ele usava estariam lá, e decidiram que possíveis exames seriam feitos em um laboratório particular de Londres, onde as perguntas eram poucas e os resultados rápidos.

Não desapareça assim, Lily. Eu e sua mãe sentimos a sua falta.

Eu sei, pai, desculpe. Depois que esse caso acabar eu vou visitá-los. Prometo.

Então te vejo amanhã.

Lily desliga o telefone sussurrando um “amo vocês dois” e se atirando imediatamente num sofá, os olhos fechados e a cabeça jogada para trás.

—Dois meses sem nem falar com eles? – James pergunta quietamente.

—Eu tinha planejado vê-los no dia seguinte que recebi seu caso. Só pedi para Benjy explicar para eles.

James ergueu as sobrancelhas e trincou os dentes.

—Ah, então Benjy conhece seus pais? – Ele perguntou. Lily gemeu.

—Não vamos falar sobre isso, James, por favor.

—Tudo bem. Podemos falar sobre o beijo então?

Lily suspirou, mas sabia que seria inevitável.

—James...

—É só que eu entendo que quando a outra pessoa diz não, é não, e fim de papo. Mas eu queria saber o motivo, Lily, porque eu sei que você participou daquele beijo tanto quanto eu – James pediu – Se é porque você está com Fenwick – quando Lily começou a protestar, ele ergueu a mão – ou com outra pessoa, o que dá no mesmo no final das contas, ou se você só me odeia como há quatro anos atrás. Eu só gostaria de saber, para não desperdiçar o meu tempo, nem lhe importunar.

—Eu não lhe odeio, James – Lily murmurou – Por favor, não pensei que eu lhe odeio. Nunca odiei.

A expressão de James estava completamente confusa, e ele agarrou o cabelo com uma das mãos.

—Mas você me deu as costas na estação... eu não... não tinha outra possibilidade.

—Eu não te odiava, James, mas eu lhe via como um colega, e você... – Lily não completou e James soltou uma leve risada. Não precisava completar.

—Isso é um deja vu? – James perguntou e Lily suspirou.

—James, me desculpe, ok, mas eu não posso nem pensar sobre isso no momento. Eu estou no meio de um caso extremamente complexo. Não posso ficar pensando nisso.

Foi a vez dele de suspirar.

—Você está certa, me desculpe. Não vou lhe incomodar mais a respeito disso até essa... situação se resolver.

—Obrigada.

—É literalmente o mínimo que um cara decente faria, Lily – James disse com um sorriso, fazendo Lily sorrir de volta – Então... amigos?

O sorriso de Lily aumentou e ela apertou a mão estendida de James, ignorando quão certo aquilo sentia – ela não estava mentindo para James. Não podia se concentrar nessa... situação.

—Amigos. – Ela concordou. James sorriu ainda mais.

—Então você passou um mês no St. Mungus?

***

Lily acordou mais cedo para tomar café e levar seu pai para fazer a autópsia e esperava que sua única companhia fosse Benjy, que ficaria com James enquanto ela estava no Ministério.

Para sua surpresa, Marlene estava na mesa com Benjy, conversando em tons baixos.

—Não esperava você aqui a essa hora, Marls – Lily comentou quando se juntou aos amigos com um prato de ovos e croissant. A morena deu de ombros.

—Você tem estado meio ocupada, Lily. Estou com saudades – Marlene justificou. Lily não acreditou muito, mas continuou a comer.

—Quais as novidades, Lene? – Benjy perguntou – Aproveitando a Copa?

—Sim, eu adoro esse clima. Às vezes nós ficamos acordados até tarde e ouvimos alguns segredos.

—Segredos, é? – Benjy perguntou, franzindo a testa de maneira exagerada. Uh-oh, Lily pensou imediatamente – Como o quê?

—Que uma certa Bela Ruiva andou dando uns beijos por aí.

—Ah, merda. – Lily disse, com um suspiro.

—Tem algo que você queira nos dizer? – Benjy perguntou.

—Não. Exceto que estávamos brigando, e eu não esperava, e assim que eu voltei à realidade eu me afastei e nada mais aconteceu até então.

—“Voltou à realidade”? – Marlene perguntou erguendo as sobrancelhas – Tão bom assim?

—Cala a boca, Marlene – Lily resmungou, corando, enquanto Benjy tossia para disfarçar uma risada.

—E sabia que não podia te deixar sozinha com ele – Benjy comentou, rindo – E o que aconteceu depois? Porque já se passaram alguns dias, não é?

—Nada. Exceto que ele praticamente admitiu que está a fim de mim de novo e eu disse que eu não podia nem considerar nada enquanto eu estivesse nesse caso e ele aceitou e continuamos amigos.

Marlene soltou uma grande risada, enquanto Benjy sorria.

—Agora esse caso vai adiante, eh? – Marlene brincou.

—Como você descobriu isso?

—Eu ouvi seu amigo contando para Sirius. Eles achavam que eu estava dormindo.

Depois de garantir a Benjy que ela não se distrairia do caso por causa de James e garantir a Marlene que ela pensaria em tudo depois do caso, Lily se encaminhou para fora do complexo para aparatar na casa dos pais. Seu antigo quarto permanecera igual; os pais dela sempre a convenciam de passar um fim de semana com eles quando ela podia visitar.

Ela não se surpreendeu com seu pai já pronto na sala, lendo o jornal e com o jaleco na cadeira – ele sempre fora extremamente pontual. Como combinado, a mãe de Lily não ficaria sabendo de nada sobre o caso, já que ela se preocuparia ainda mais com Lily.

—Tive de trocar um turno para poder vir – Ele comentou enquanto dirigia para um local próximo da cabine telefônica.

—Eu agradeço muito, pai – Lily respondeu – Esse garoto é filho da nossa Ministra, então tinha que ser alguém de extrema confiança.

—Será uma honra lhe fornecer evidências, pequena.

Lily sorriu. Ela sempre tivera uma relação muito próxima com seu pai. Eles assistiram o seriado de Sherlock Holmes juntos, e foi o seriado que, juntamente com a série de livros do detetive que seu pai lhe dera algum tempo depois, que fizera Lily querer trabalhar como auror.

Ele parecia animado com a entrada pelo telefone, com seu crachá de “consultor” e com a fonte no átrio. Enquanto desciam para as salas dos tribunais, o único lugar que teriam liberdade total para fazer o procedimento sem ninguém observar, o semblante dele foi ficando mais sério, mais parecido com o que Lily sabia ser o de Dr. Evans.

Na porta do tribunal destinado, a Ministra estava conversando com Moody e um outro homem. Lily e seu pai se aproximaram, e Moody acenou com a cabeça, indicando a chegada deles.

—Ah, Auror Evans – A Ministra disse, oferecendo a mão – E assumo que esse seja... doutor Evans? – Ela perguntou, aparentemente incerta sobre como deveria se referir.

—Sim, sou eu. – Ele respondeu, apertando a mão estendida com um pequeno sorriso.

—Esse é meu marido, pai de Jack...

—Lily, você pode verificar se todos os materiais estão disponíveis? Gostaria de dar uma palavrinha com os pais do garoto.

Lily assentiu e foi seguida por Moody, deixando o pai conversando com a Ministra e o marido.

—O que é isso? – Moody perguntou, indicando a porta com a cabeça.

—Meu pai é médico legista, senhor. Isso faz parte da profissão dele, conversar com a família de quem ele vai fazer a autópsia. Ele gosta de explicar o que vai acontecer, tranquilizar. Acho que é mais importante ainda ele explicar, já que são bruxos e não entendem como funciona.

Moody assentiu com a cabeça e indicou a Lily onde estava o material. Ela pegou alguns clipes da bolsa e transfigurou nos materiais que faltavam, para depois dispor juntamente com o resto.

Depois de cerca de 10 minutos, seu pai entrou no cômodo, vestindo seu jaleco. Ele foi até Lily, observando para ver se tinha tudo que precisava. Pegou as luvas e colocou um gravador igual ao de Lily em seu bolso. Moody deu um risinho ao ver o aparelho.

—Podemos começar? – Moody perguntou. Lily descobriu o corpo e seu pai se aproximou, observando cuidadosamente – O feitiço para manter o corpo íntegro já está desfeito.

—Lily, o hematoma é no lado direito?

—Sim, bem aqui.

—Hummm – Dr. Evans observou cuidadosamente a região e acenou positivamente com a cabeça – Concordo com você, pequena. Alguém inexperiente tentou pegar a veia desse garoto.

—Envenenamento seria possível, então? – Lily perguntou.

—Sim, claro. Vamos ver se conseguimos coletar um pouco de sangue quando abrirmos mais, sim? Um pouco de urina também...

Lily percebeu que Moody tinha um pouco de dificuldade de assistir o trabalho de seu pai, mas não iria culpá-lo; a perspectiva de um bruxo era completamente diferente. Lily estava se direcionando para o chefe, perguntar se estava tudo bem, quando seu pai falou de novo.

—Hummm, interessante...

—Pai? – Lily questionou, se aproximando.

—Veja bem, eu fiz duas ligaduras na veia que foi puncionada para isolar o sangue e colher dela mesma, sabe, mas quando puncionei para colher o sangue da região...

Ele mostrou a seringa a Lily, que não entendeu direito. Tinha menos de 1mL de sangue.

—Não entendi, pai.

—Tinha ar, pequena.

***

James acordou mais tarde, já que era dia de folga depois do jogo intenso do dia anterior. Ele sabia que tinha que se levantar mesmo assim, pois dia de folga de treino era dia de pensar em tática.

Sabia que não teria o prazer da companhia de Lily naquele dia porque ela estava com o pai fazendo uma autópsia (o que quer aquilo significasse), então sua babá do dia seria Fenwick. Sirius e Marlene iriam para outro jogo da Copa, enquanto Remus e Peter haviam decidido permanecer no quarto durante o dia.

Com um suspiro, James se levantou e se arrumou para o dia. Antes, pediu café da manhã no quarto e saiu com a prancheta. Fenwick, Marlene e Sirius estavam conversando no sofá, enquanto Peter e Remus jogavam xadrez na mesa.

James abriu a porta quando bateram para pegar a comida, e se sentou ao lado de Remus com um jornal na mão; era sempre bom ler as análises que os jornais faziam do jogo, para acrescentar algo a mais na avaliação dele mesmo.

Na hora, contudo, de colocar na prancheta, não conseguia se concentrar com as discussões de Peter e Remus sobre o jogo, então decidiu voltar para o quarto.

—Ei, Capitão! – Marlene chamou. James parou para falar com a morena, e viu de relance um sorriso muito suspeito no rosto de Sirius.

—Oi, Lene. Vocês não deveriam ter ido já? – Pelas contas de James, o jogo começava em duas horas.

—Sim, sim, estamos indo agorinha mesmo... Mas gostaria de dizer que sabemos o que você fez noite passada... – Marlene disse, piscando o olho – Bem não noite passada literalmente, mas você entendeu.

James semicerrou os olhos em direção a Sirius e cruzou os braços.

—Você contou a ela? – James acusou. Sirius apenas riu.

—Como você se não foi a ruiva que contou, Pontas?

—Ela não... acho que ela não quer que ninguém saiba – James respondeu.

—É, bem, ela não queria, mas vocês deveriam checar se uma pessoa realmente está dormindo antes de contar todos os seus segredos, sim? – Marlene respondeu. James revirou os olhos – Divirta-se, querido.

Sirius e Marlene saíram rindo, deixando James e Fenwick sozinhos. Fenwick observava James com um olhar especulativo, então ele preferiu encarar seus amigos jogando xadrez. Remus olhou de volta, erguendo a sobrancelha e quietamente sugeriu a Peter descerem para comer alguma coisa.

Assim que a porta se fechou, Fenwick falou.

—Sobre aquele beijo...

—Você sabe? – James perguntou surpreso.

—Bem, sim. Marlene me contou assim que entreouviu vocês.

—Eu não vou discutir isso com você, Fenwick – James cortou rapidamente.

—Qual o seu problema, cara? – Fenwick perguntou. Ah, então ele também perdia a paciência? Bom saber.

—Não tenho problema nenhum.

—Pois parece! Eu estou tentando lhe ajudar! – Fenwick exclamou. James soltou uma risada de escárnio.

Me ajudar? Como você quer me ajudar? Quer saber o que aconteceu? Por que não pergunta a ela, já que vocês são parceiros tão unidos?

—Eu já pergunt... – Fenwick franziu a testa e então ergueu as sobrancelhas – Ah, por Merlin, Potter, você está com ciúmes?

James tentou não corar, mas sentiu o sangue subindo. Óbvio que ele estava com ciúmes. Todo mundo já tinha percebido, menos Fenwick.

—Escuta... – Fenwick disse com a voz mais calma, quando James não respondeu – não existe nada entre mim e Lily nesse aspecto, cara. Nada. Ela é minha parceira de trabalho, e nunca tivemos nada romântico. Lily chegou jovem na academia, e por ser uma mulher, e ainda por cima bonita, teve que lutar muito pelo seu espaço. Ela teria conseguido sozinha, eu não tenho dúvidas, mas a ajuda de alguém mais avançado faz a diferença. Eu fui essa ajuda. Por isso temos essa amizade. Mas nada além disso.

James não soube como reagir imediatamente. Deveria acreditar em Fenwick? Ele supôs que sim; não tinha nenhum motivo para Fenwick mentir daquele jeito.

—Lily não te contou que não tínhamos nada? – Fenwick perguntou. James passou a mão pelos cabelos.

—Não diretamente. Eu ainda tinha minhas dúvidas. Principalmente depois que Remus começou a falar sobre recaídas...

—Ah, não – Fenwick negou rapidamente, com um leve sorriso – Não era sobre mim. Lily namorou um cara do Ministério, Amos Diggory. Mas ele não entendia a complexidade do trabalho de Lily, e não aceitava que nós dois íamos em missões longas sozinhos. Ficava louco de ciúmes. Lily não aguentou, mas...

—Ela mencionou esse namorado, mas eu não... associei. E tem também o fato de que, bem...

—Ela parou de lhe beijar? – Fenwick ofereceu e James bufou em concordância. Fenwick suspirou – Eu realmente não deveria lhe dizer isso, mas... Ela gosta de você, Potter. E ninguém está mais surpreso com isso do que ela própria, pelos conceitos que ela já tinha de você. Mas você foi um suspeito nessa investigação, então até tudo isso acabar, ela não pode fazer nada a respeito. Você tem que...

—Me afastar?

—Esperar – Fenwick completou – Como você disse a ela que iria fazer.

James e Fenwick ficaram em silêncio por algum tempo. James tentou absorver a situação. Se Fenwick estivesse falando a verdade (e de novo, James não conseguia imaginar um motivo para ele mentir), Lily realmente gostava dele. Mas ele era um suspeito, e conseguia entender que não seria ético da parte de Lily simplesmente começar a namorar um suspeito.

—Mas eu tenho uma dica para o futuro. Se você realmente quer algo que dure com Lily, você precisa respeitar os horários loucos dela. Na verdade, respeitar todos os aspectos do trabalho dela. As missões, os parceiros...

James conseguiu soltar um leve riso. Ele sabia disso. Fenwick estava lhe dizendo que James teria que respeitar a amizade que ele tinha com Lily.

A porta do quarto se abriu, e Lily surgiu com papeis nas mãos e uma expressão concentrada.

—Benjy, vem cá! – Ela chamou. Fenwick encarou James mais uma vez, como se confirmando a dica. James também foi em direção à mesa.

Lily espalhara diversos papeis na mesa; um era a foto do corpo de Jack na cena do crime, e James podia ver novamente o hematoma no pescoço; tinha também um papel carimbado no final, e parecia ser algo oficial; e diversos outros que James não conseguiu ler.

—Meu pai descobriu. O assassino injetou ar na veia de Jack. Grandes quantidades de ar. Gerou uma embolia gasosa venosa massiva. O ar não deixava o sangue passar, o coração não conseguiu vencer todo o ar e parou.

—Ar? – James perguntou. Lily olhou para ele e acenou.

Antes que Lily pudesse falar mais sobre o assunto, a porta se abriu novamente, e Remus e Peter entraram, o primeiro claramente contrariado.

—James, vamos na casa de seus pais, ok? Peter quer ver aquela porcaria de seriado de qualquer jeito... – Remus falou, pegando alguma coisa na outra extremidade da mesa.

—Não fale assim de Quincy MD, Aluado! – Peter disse, se aproximando dos outros. Então ele percebeu os arquivos na mesa, e engoliu em seco.

—É, é o melhor seriado, vamos logo, Rabicho... – Remus respondeu revirando os olhos. Peter balbuciou alguma coisa e seguiu o amigo para fora do quarto.

—Isso é normal no mundo trouxa? – Benjy perguntou a Lily, mas James percebeu que a garota estava distraída; não distraída, mas concentrada em outra coisa: seus olhos viajavam das fotos para o laudo, até que ela resolveu responder.

—Não, não é normal. Para matar uma pessoa assim, o nosso cara teria que conhecer medicina, ou já ter visto algo assim na televisão, por exemplo... ou... – Lily arfou – ou os dois! – Ela se virou para James, pegando sua mão para chamar sua atenção – James, eu vou lhe fazer uma pergunta sobre aquela sexta-feira, e eu preciso que você seja 100% honesto comigo.


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