IV

  A família voltou pra um beco de Barcelona, na avenida diagonal.

  A diagonal de Barcelona era uma rua muito movimentado, cheia de feiras e comércios de alimentos de todo mediterrâneo. Josep sempre conseguia uma fruta que sobrou, uma folha de alface ou um tomate amassado que ninguém quis. Às vezes, dava até pra ganhar um pedaço de carne meio marrom, mas que depois de cozido, dava pra comer.

  Josep não podia viver mais de caridade da Generalitat. Logo de manhã cedo, foi tentar arranjar emprego. Deixou Meritxell e Maria no beco, esperando. No começo da tarde voltou animado com um pedaço de chocolate nas mãos.

  – Toma, María! Eu sei que não é muito, mas foi o que eu consegui por hoje… arranjei um bico e o cara me deixou usar a oficina dele se eu desse metade dos lucros pra ele pelo aluguel! Esse é o primeiro de muitos e…

  Maria olhava indiferente para o chocolate. Meritxell estava animada, estendendo as mãozinhas para o chocolate.

  – Eu vou trabalhar duro como nunca! Eu vou reconstruir nossa vida…

  Maria deu um tapa nas mãos de Josep e o chocolate caiu no chão.

  – Você é um imprestável, Josep! Olha o que você faz com a sua família!

  – E eu ia adivinhar, mulher, que eu ia perder tudo!

  – Você podia ter ido pras Américas! Tá todo mundo enricando lá! E você com essa miséria de independência da Catalunha!

  – Maria, é uma oportunidade única!

  Maria chutou o chocolate e Meritxell chorou com o gesto da mãe.

  Nesse exato momento, um homem com gibão elegante e perfumado pegou o chocolate, limpou a parte suja e deu uma mordida nele:

  – Ora, ora, quem está aqui! Se não é o velho Josep e a Maria!

  – Carles!

  Maria correu e deu um abração em Carles.

  – Amigo, eu também te abraçaria, se eu não estivesse encardido como eu tou agora!