Uma canção de Josep Puigdemont escrita por Braunjakga


Capítulo 3
A audiência




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III

 

Josep pegou um burrinho, colocou a mulher e a filha neles e partiu para Barcelona, só com a roupa do corpo, buscando ter uma audiência com o presidente.

Esperava que ele lhe restaurasse a casa, a oficina, as ferramentas perdidas no incêndio.  

Barcelona era a capital da Catalunya, uma cidade grande que crescera por causa do comércio. Os muros da cidade velha, quando Barcelona era chamada de Barcino pelos romanos, ainda existia e emanavam muita magia, como se nada pudesse destruir a cidade, lar de muitos condes e condessas.

Havia prédios altos de concreto por toda a parte e pouquíssimos eram de madeira. O comércio pulsava nessas casinhas e bem Josep podia fazer a vida lá, mas não gostava de cidades grandes e preferia o interior.

Depois de passar pela cidade velha logo encontrou o prédio do arsenal de guerra, a sede da Generalitat de Catalunya.

Nem sequer parou para descansar, pois não tinha dinheiro para um hotel. Os coronelas, ouvindo seu nome e tudo o que ele fizera, ofereceram comida e forragem para o burro, mas não abrigo, e veriam com o presidente se ele podia ser atendido em audiência por ele.

Levou uma semana morando na rua, mas Josep foi atendido pelo presidente.

Ao primeiro olhar, Santiago Castell pareceu ser um homem jovem demais para a função. Tinha pele branca lisa e sem barba, uma voz fina e delicada desagradável, assim como o resto do corpo, ficava mexendo nos cabelos lisos negros toda hora, colocando atrás da orelha como uma mulher fazia com os cabelos, mas era sério e firme nas palavras e Josep sentia uma energia mágica estranha vinda dele e do rapaz do lado do presidente.

O rapaz se chamava Pere Montserrat e era porta-voz da presidência. Tinha cabelos lisos, pele morena, corpo robusto e falava quase nada.

Santi era o Presidente da Generalitat, mas recebia os pedintes do alto de uma espécie de trono, com um rapaz do lado.

Josep ajoelhou-se e suplicou para ele como se fosse para um rei, mesmo ele sendo republicano:

— Senhor Santi, lamento a morte do nosso presidente Colom, mas dou boas vindas ao seu governo.

— Agradecido, Josep, qual o seu pedido?

— Senhor, levei dois dias pra chegar até aqui e uma semana para ser atendido por vossa excelência e só tenho um humilde pedido: gostaria de ter minha casa e minha oficina de volta, destruída pelos malditos espanhóis. Sou ferreiro e dei muito do meu sangue pela causa, o presidente Colom me conhecia…

mas sem meus meios de vida, eu não posso fazer muito pela nossa liberdade…

— Eu entendo, mas não posso fazer nada por você…

— Nada? Senhor, eu estou vivendo na rua…

— Eu sei, tem muita gente vivendo nas ruas de Barcelona hoje em dia… muita gente vinda do interior que perdeu tudo…

Josep se aproximou do “trono”, quase rasgando as roupas imundas que vestia. Maria olhava tudo com desdém e Meritxell estava apreensiva, assim como os Miquelets que cercavam o “trono”, olhando todos os movimentos de Josep, com as mãos nas pistolas no bolso, prontos para atirar.

— Senhor, eu sou um soldado da causa catalã!

— Sim! Eu também sou um soldado da causa catalã, todo mundo aqui é soldado da causa, não é gente.

Todos responderam em coro.

— O que faria de você especial? Diferente? Estamos na República Catalã e não no reino da Espanha pra conceder favor a qualquer um, porque se eu conceder favor pra qualquer um, o tesouro do país vai pro espaço e essa Generalitat vai virar casa de caridade!

Todos responderam em coro novamente.

Josep queria chorar.

— Não chore! Se você quiser, a gente te dá um fuzil e te acrescenta num regimento de Miquelets, você é forte. Essa sua mulher aí pode servir pra cozinhar ou lavar roupa e a sua filha vai ser botada num orfanato ou pode servir como pajém pra algum rico daqui que queira, o que acha?

Josep recusou a proposta.

Saiu de lá se sentindo tão humilhado que nem sequer queria acreditar que aquela era a Generalitat de Catalunya por quem tanto deu o sangue.


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