Uma canção de Josep Puigdemont escrita por Braunjakga


Capítulo 13
A traição




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XIII

 

    Os dois aterrissaram no telhado da casa, pois vai que os britânicos ainda estavam ao redor da casa, aguardando por eles com o seus fuzis.

    O livro caiu com tudo no gramado e com ele, ainda estava presa a chave do lacre..

    Vendo que eles já tinham saído, pularam o teto do sobrado e correram pela mata do rochedo.

    Assim que Carles pulou do telhado, tropeçou numa pedra, caiu e não se levantou mais.

    A dor da flechada aumentou de uma vez quando pulou.

    Colocou a mão na flecha prateada presa no ombro e quis gritar. Rasgou a manga da camisa com a boca e mordeu com tudo o pedaço rasgado, para os ingleses não escutarem a agonia que se encontrava.

    Josep e Carles estavam horríveis.

    A flecha no ombro de Carles não sangrava, mas produzia uma dor horrorosa que aumentava à medida que caminhava. Era como se tivessem colocado um espeto de ferro quente cheio de espinhos no ombro e o espeto girasse a todo instante, devorando tudo por dentro.

    Josep também estava mal. Perdia sangue a toda hora e começava a ficar cambaleando como bêbado. Estava pálido, frio e ficava fraco a cada minuto que passava. Tentar estancar o sangramento com magia de gravidade apenas o cansava ainda mais.

    Foi então que Carles estendeu a mão para Josep:

    – Cara, tou lascado!

    – Nós dois estamos lascados, meu chapa! Os ingleses vão encontrar a gente e adeus cartas!

    – Mas ainda dá pra chegar em Barcelona… Mas temos que sair daqui agora…

    – E como vamos chegar? Com pássaros de ar?

    – Sim… eu fiz um grandão… tá lá perto do observatório… uns 20 metros daqui… Na encosta do rochedo… tá vendo lá?

    – Sei…

    O observatório que Carles falava parecia uma pequena torre de pedras brancas, escondido atrás do rochedo e dos arbustos há uns poucos passos de caminhada partindo do sobrado.

    Foi nesse momento que uma voz saiu do meio dos arbustos.

    – Cadê eles, Yue?

    – Tão aí pelo meio do mato!

    – Que meio do mato? Não tou vendo ninguém..  

    – Eles estão perto daqui… dá pra sentir a presença deles… um pouco fraco, mas dá…

    – Eu acho que eles deram no pé…

    – Eles não seriam tão burros de ficar aqui…

    Carles se desesperou e a dor no ombro aumentou.

    – Droga! Eles tão atrás da gente! Me levanta, cara! Ainda dá tempo!

    Josep viu Carles com as mãos estendidas para ele, a cara se contorcendo por causa da dor.

    E se lembrou da voz daquele homem loiro bonito de olhos azuis vestido de capa vermelha que lhe falou na praia:

    “Seu amigo sempre te traiu. Sua mulher sempre te traiu…”

    – Cara?

    Do nada, Josep chutou com tudo a cara de Carles. O nariz dele quebrou.

    – Qual foi!

    – Você Vai ficar pros ingleses!

    – Hã?

    – Pensou que ia se deitar com a minha mulher e ia ficar barato, é? Eu vou me vingar de vocês com essas cartas aqui!

    – Pera aí, cara!

    – Você perdeu, Carles! Justo você, o malandrão! Sempre foi melhor que eu em tudo!

    Josep deu as costas, pegou o livro das cartas que caiu no chão com o braço que estava bom e saiu andando.

    – Eu sempre fui seu amigo, cara! Eu sempre quis que você soubesse toda a verdade!

    “Então era verdade”

    Josep até que se arrependeu por dentro de ter chutado Carles depois de tudo o que Carles fez por ele em Barcelona. Mas o orgulho ferido dentro de si era maior que qualquer gratidão.

    Aquela confirmação era uma decepção forte por dentro, como um golpe que lhe causou uma tristeza, mas não chorou.

    Entrou pelos matos, andou um pouco até o observatório e saiu voando pelos céus, com o pássaro enorme de ar que Carles havia criado para eles escaparem.

  Restou a Carles ver tudo, até o amigo desaparecer; um ponto no horizonte.

    – Tá aqui, Capitão Firth! – Disse Yue.

    Um bando de soldados ingleses saiu do meio do mato junto com ele, Com fuzis nas mãos, apontando para Carles, agonizando de dor no chão.

    O capitão Firth se aproximou de Carles com uma pistola apontada para ele e perguntou:

    – Do you speak english?

    – Falo, falo sim… Yes, I speak English...

    – Então é você que é o ladrão?

    – Sim, sou eu mesmo…  

    – Cadê as cartas?

    – Nao tão comigo mais não…

    – Ah, é?

    O oficial chutou a cara de Carles.

    – Procurem pelo mato! Elas deve estar escondidas por aí! Vocês, subam pelo telhado! Yue…

    Os soldados se dividiram e começaram a investigar a área, mas Yue, o anjo prateado, interveio:

    – Capitão, ele tá dizendo a verdade, eles estavam em dois. Um conseguiu fugir…

    – Mas que droga! Procurem pelo rochedo! Ele não deve ter ido muito longe! Revistem tudo! Dêem o alerta!

    – Eu não sinto mais a presença do outro, Capitão! –  Disse Yue.

    – Ele já deu o fora, seus otários! – Interrompeu Carles.

    – O fora? O fora pra onde?

    – Malandro que é malandro não cagueta os parças… só sei que ele tá muito longe daqui!

    O Capitão Firth perdeu a cabeça:

    – Espanhol de merda! Bando de vagabundos! Só querem saber de tourada e soneca!

    O capitão Firth pegou a pistola e atirou no pé de Carles.

    Nem a dor do tiro fez Carles sentir o impacto do tiro. A flecha de prata no seu ombro doía muito mais. Ele apenas deu risada.

    Alguns soldados voltaram para ver o que aconteceu.

    – Capitão, ouvimos um tiro, aconteceu alguma coisa?

    O capitão colocou uma bala na arma e apontou para Carles.

    – Ou você fala, ou você morre.

    – Vão à merda!

    O capitão fez sim com a cabeça e os demais soldados que tinham voltado se posicionaram.

    Carles já sabia seu destino:

    – Josep, Você já acertou as contas comigo; não te devo mais nada! Sou cria dos Germans Sàbats, lá de Girona, Eu vou, mas vou com meu conceito no morro e com a minha moral que eu fui homem até o final.

    Os soldados britânicos não entenderam nada do que Carles falou. Eles engatilharam os fuzis e fuzilaram Carles Roig ali no chão mesmo.


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