Uma canção de Josep Puigdemont escrita por Braunjakga


Capítulo 1
A fuga




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I

 

Um homem martelava uma chapa de aço sobre uma bigorna.

Depois, ele coloca a chapa martelada na parede e começa a martelar outra.

Ele era um homem alto, moreno, careca, braços desproporcionais, onde o esquerdo era menor e menos musculoso que o direito, e tinha uma cicatriz na cabeça, causada por uma lasca de ferro que voou quando martelava uma peça.

Seu nome era Josep Puigdemont.

Josep Puigdemont i Sants era um ferreiro de Girona, Catalunya.

Era casado com Maria Josep y Nuñez e os dois tinham uma filhinha chamada Meritxell. A menina deles tinha cabelos claros como os da mãe, pele branca e olhos azuis, as mesmas qualidades da mãe.

Josep era um homem sonhador, idealista e bastante inexperiente, incapaz de ver a realidade em sua plenitude.

Ele não era um homem muito bonito, nem sequer muito forte.

Nasceu e cresceu em Girona e passou a vida inteira na cidade.

— Pronto! Mais uma para os Coronelas! Visca Catalunya lliure! – Josep apanhou a peça e pendurou na parede.

Nessa época, a Espanha estava vivendo uma guerra de sucessão ao trono espanhol, entre a casa Bourbon e a Casa Habsburgo e, com a aproximação da guerra na Catalunya, Josep tomou partido dos separatistas catalães, que estavam contra o Rei da Casa Bourbon que tomou o poder em Madrid, pois Josep viveu a vida inteira ouvindo as histórias de uma guerra anterior, a guerra dos segadores, e como os Catalães foram valentes ao defender seu país, Catalunha, do assédio das duas potências estrangeiras.

Ora, a guerra foi um conflito entre França e Espanha onde a Catalunha. por fazer fronteira às duas grandes nações, sofreu muito. As colheitas foram devastadas para o esforço de guerra dos dois países. Para acabar com a fome que surgiu no país pela presença das tropas, os Catalães pegaram em foices e lutaram contra as tropas das duas potências. Perderam, mas mostraram que a Catalunha reage quando convém.

Josep sentia que a mesma coisa acontecia agora, só que agora, estavam lutando de vez pela independência do seu território do reino da Espanha, aproveitando a confusão para ver quem ficaria com o trono.

Por causa disso, trabalhava horas a fio, alguns dias, até 16 horas por dia fazendo armas e acessórios para as tropas separatistas catalães, além de sua cota de trabalho diário, de graça, voluntariamente pela causa que tanto acreditava. Por isso, quase nem ia pra casa dormir, ver a família.)

Alguns diziam que era por causa do casamento dele com Maria, em ruínas, mas eram só boatos.

Um dia, um homem de casacão vermelho, chapéu preto de três abas dobradas para cima e fuzil nas costas bateu na porta da oficina de Josep.

— Entre!

— Com licença, Josep, Sargento Andreu dos coronelas entrando…

O sargento entrou e ficou contemplando a oficina de Josep.

A oficina de Josep era um local limpo, caloroso e aconchegante. De dentro, não se ouvia ruídos do lado de fora. Tinha um enorme forno de pedra atrás da casa e uma bigorna enorme, para trabalhos mais longos, que vivia sempre aceso, e outro forno menor perto do balcão onde atendia os clientes, com o qual fazia pequenos objetos. Um depósito estava numa sala ao lado e havia uma segunda sala do lado do depósito. Runas que apenas alguns poucos entendiam o significado estavam inscritas nas vigas de madeiras que serviam de coluna ao local e as paredes estavam cheias de ferramentas que usava. A que mais gostava era um enorme martelo de aço que ganhara de presente de uma amigo de Perpinya.

Sua casinha ficava logo em cima da oficina.

Josep esfregou as mãos sujas no pano para cumprimentar o homem:

— A que eu devo a visita, Sargento? Aconteceu alguma coisa nas linhas de frente em LLeida?

— Outro assunto dos coronelas, Josep, outro assunto.

O homem era um coronela, soldado de infantaria da Generalitat de Catalunya.

A Generalitat foi criada pela Coroa de Aragão e era a entidade responsável por governar toda a região de Barcelona e as cidades do interior dela, o que mais tarde veio a ser a Catalunha atual.    

Andreu tirou um pergaminho do bolso da farda vermelha:

— Josep, uma carta do presidente Angel Colom.

Josep estava apreensivo. Leu atentamente e seu humor mudou do dia para a noite.

— Os espanhóis vão invadir?

— Sim, em menos de uma hora de caminhada daqui… temos que fugir…

— Fugir?  Mas como a gente vai fugir se isso aqui é terra nossa? Cadê as armas? Cadê os Miquelets?

— Tão mantendo Puigcerdá e Seu d’Urgell, a gente tentou impedir eles em Banyoles, mas não conseguimos…

— Com o interior sendo nosso? Como eles invadiram?

— Por mar, desembarcaram em “El port de la selva” faz… Três horas!

— E conseguiram chegar até aqui nessa velocidade toda?

O sargento Andreu ficou mudo. Josep continuou:

— Estão há uma hora de caminhada! Como pode uma coisa dessas?

— Eu não sei senhor, eu só sei que o senhor precisa sair daqui com a sua família!

— Mas eu não posso nem tirar tudo o que eu conquistei a vida toda? Vou perder tudo! Sargento, veja, são poucos homens pra se deslocarem tão rápido assim e ameaçar uma cidade como Girona… Dá pra lutar! Eu tenho um martelo aqui e…

— Não são não… e não dá não…

— Vamos partir sem lutar?

O coronela cansou de discutir e puxou Josep pela mão e tirou-o da oficina.

— Não temos tempo senhor! Vai, vai!

Maria e Meritxell já estavam numa carroça em frente a casa que os levaria para fora de Girona.

Muitas outras pessoas na cidade também estavam saído a cavalo ou a pé, às pressas.

Outras pegaram em armas para ajudar na defesa da cidade, pois assim como Josep, achavam que era uma tropa pequena que dava pra ser repelida.

Josep não teve outra opção a não ser seguir a mulher, a filha e os demais coronelas que estavam evacuando a cidade, com uma imensa vontade no coração de ficar e lutar.


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