Crônicas de Gelo e Neve escrita por Haruyuki


Capítulo 3
Livro I - Máscaras de Gelo - Parte III




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# Quinta Noite

## Hotel Teioh - Quarto 1304

 

Victor desperta lentamente, imediatamente sentindo uma forte dor de cabeça. Com dificuldade, ele abre os olhos e percebe que está nu e que está em seu quarto de hotel, mas ao olhar em volta, entra em pânico ao perceber que nada dos seus equipamentos está ali. Ele se levanta bruscamente, levando a mão direita para sua testa ao sentir uma pontada forte e quase tropeça em seus próprios pés. O que diabos aconteceu na noite anterior?

Olhando para a cabeceira ao lado da cama, ele encontra um copo com água, comprimidos e um papel dobrado com o nome dele. Ele toma o remédio, e pega o papel, o abrindo.

'Querido Victor,

Você se lembra do que aconteceu ontem de noite? Se sim, então está tudo bem. Se não…Eis aqui os fatos: Ontem, em um bar em Shinjuku, você bebeu muito e me puxou para dançar com você no meio de outras pessoas. E quando eu percebi que você havia exagerado a ponto de se despir em público, decidi chamar um uber e voltar para o hotel com você, e você decidiu me atacar logo no carro, me beijando e como eu bebi também, acabei cedendo à você. Já do lado de dentro do meu quarto, que é onde você está agora, as coisas esquentaram mas não se preocupe, não fizemos sexo porque você dormiu após ter gozado com minha mão. Eu quero que me perdoe, por não ter me controlado e se aproveitado de você enquanto você estava bêbado.

Eu queria poder dizer isso pessoalmente, mas recebi uma ligação importante de Ninomiya, me chamando urgentemente para a mansão. Talvez mais tarde nós podemos conversar melhor, embora a pergunta mais importante que eu quero fazer para você é: Por que não tem nenhuma foto dos nossos passeios na sua câmera?

Yuuri.’

Oh.

Essa não.

Victor novamente entra em pânico. Ele não acredita que quase fez sexo com Yuuri na noite passada. Yuuri neste momento está na mansão Ninomiya, cujo dono ele matou na tarde de ontem. Yuuri viu que não há nada na câmera…

Essa não.

Victor encontra suas roupas dobradas em cima da mesa, ao lado de suas bolsa e câmera, as vestindo rapidamente. Pegando suas coisas, ele destranca a porta e sai do quarto de Yuuri usando o cartão magnético e respira aliviado pela porta possuir tranca automática. Entrando em seu quarto, ele se sente aliviado ao rever que tudo está como ele deixou, mas congela ao olhar para o laptop, que está mostrando a confusão que está acontecendo na mansão Ninomiya.

Yuuri está em perigo!

Imediatamente ele troca de roupa e se equipa com suas pistolas com o objetivo de salvar Yuuri.

Ao entrar na mansão escuta, ele escuta tiros e gritos entre a gangue Yakuza que Ninomiya patrocinava o deixa apavorado. Com rapidez e precisão, ele atira e mata um após o outro. Avançando pelos corredores, ele entra em combate com outros dois, os matando com um tiro no peito após os imobilizar. Mais e mais tiros ecoam de um dos aposentos não muito longe dali e ele avança até chegar ao escritório de Ninomiya, onde uma pessoa toda de preto está de costas para ele e com uma arma apontada para outra pessoa no chão, que parece ser…

Yuuri?

A pessoa de preto atira, matando seu alvo.

“Não!” Victor exclama, avançando para cima dele e o enfrentando cheio de ódio.

“Victor?” Ele escuta e congela, pois é a voz de Yuuri.

Voz que vem de seu adversário.

“Então você é o agente que enviaram para matar Ninomiya. Eu não acreditaria, normalmente, mas isso explica tudo.”

“Yuuri?” O agente pergunta, observando seu adversário se aproximar de uma janela e abrir um pouco a cortina, revelando um Yuuri de cabelos penteados para trás, sem óculos, roupas apertadas no corpo e um sorriso triste no rosto.

“Bom trabalho, agente. Graças a você, o tráfico ilegal de crianças de Ninomiya foi interrompido devido a morte dele. Neste exato momento, documentos revelando a verdade sobre Ninomiya e seu orfanato estão em posse do Primeiro Ministro, que tomará todas as providências com relação ao caso. As crianças passarão por um tratamento e reeducação antes de voltarem para a sociedade. Você tem a gratidão da Família Imperial Japonesa pelos seus serviços na forma de pagamento em dinheiro e livre acesso ao país sempre que for necessário, contando que não se envolva em problemas.” Yuuri diz para ele seriamente.

“Quem realmente é você?” Victor pergunta, assustado com o que escuta.

Yuuri respira fundo, fechando os olhos.

“Coronel do Exército Imperial Japonês e Doutor em História e Arqueologia Mundial.” Ele diz, abrindo os olhos. “Meu nome é Yuuri Murakami, e antes eu era Yuuri Ninomiya, uma das primeiras crianças do orfanato Ninomiya e vítima de seus experimentos. Fui cedido à família Murakami um dos braços da Família Imperial Japonesa por ter falhado em apresentar os resultados que ele esperava. Fui eu quem contratou os seus serviços e também sou o informante de sua agência para esse caso.”

Victor se vê congelado, sem entender o que está acontecendo ali. Yuuri, o rapaz super fofo de antes, está ali na sua frente, com uma pistola em mãos. Pistola que ele acabou de usar para matar alguém.

“Você sabia?” Ele pergunta, com a voz rouca e vendo Yuuri morder o lábio inferior. “Você sabia sobre mim?”

“Não.” Yuuri responde, sério. “Mas eu pude perceber que você não era bem quem dizia ser em Akihabara, e ao perceber que não havia nenhuma foto em sua câmera.”

Yuuri guarda sua pistola em um coldre que está em seu quadril, fazendo Victor notar que na verdade há dois coldres presos no cinto dele, com duas pistolas agora guardadas. Engolindo em seco, o agente russo se vê achando Yuuri sexy. Yuuri que neste exato momento está o olhando de sobrancelha erguida.

“Então, o Yuuri de antes…” O agente começa a dizer, voltando a focar seu olhar no rosto do rapaz à sua frente.

“O Yuuri de antes é um Yuuri que estava se divertindo, sem precisar se preocupar com outras coisas.” Ele responde, e então franze a testa, colocando a mão esquerda no ouvido. “Peach, qual é o problema?”

Victor logo deduz que ele possui um comunicador no ouvido e esse Peach é alguém que dá suporte a ele.

“Ok. Conto com você para me guiar.” Yuuri diz, abaixando o braço logo em seguida. “Aparentemente a polícia foi chamada e está a caminho. Além disso, novos homens da gangue Yakuza estão entrando na mansão nesse exato momento. Você ainda tem balas?”

“Não. Usei todas.” Victor responde, checando sua pistola.

“Pegue isso.” Yuuri diz, sacando suas armas e estendendo a da mão direita para ele.

Victor a pega, e o observa retirar dois pentes de munição das costas de seu cinto e também lhe estendendo eles.

“A gente conversa melhor depois. Pronto?” Ao ver o agente russo afirmar com a cabeça, Yuuri afirma também. “Ótimo. Vamos sair daqui.”

Juntos, eles avançam pela mansão, matando inimigos que surgem em seu caminho com tiros únicos na cabeça. Victor percebe que os movimentos dele são até melhores que os seus, e se pergunta que tipo de passado ele teve no orfanato Ninomiya. Ambos deixam a mansão e seguem para uma casa abandonada ali perto onde na garagem há misteriosamente um jipe militar.

“Vamos descansar aqui antes de voltar para o hotel.” Yuuri diz desabotoando e retirando o cinto e o colocando dentro de uma mochila que está dentro do veículo, a jogando de volta no banco de trás.

Sem pensar duas vezes, Victor sobe no banco do carona. Ao notar Yuuri senta do lado do motorista, cruzando os braços e fechando os olhos, ele decide fechar um pouco os olhos também.

“Victor?” O agente escuta e abre os olhos, despertando de seu sono. “Nós chegamos.”

De fato, eles estão do lado de fora do hotel.

“Podemos conversar amanhã no café da manhã?” Yuuri pergunta, batendo seus dedos no volante.

“Claro.” Victor apenas diz, saindo do carro e entrando no hotel.

Só que nem um nem o outro dormem esta noite, pensando mil coisas do outro.

 

# Sexta Noite

## Hotel Teioh - Quarto 1303

 

Logo quando Victor decide que não irá mais dormir, ele decide usar a televisão normalmente, enquanto guarda todas as suas coisas nas malas. Logo, para a surpresa dele, uma notícia sobre a morte de Ninomiya surge.

— Ministro Ninomiya Hayato foi encontrado morto em sua mansão. - Polícia investiga chacina em mansão de Ministro - Ministro morto tinha envolvimento com Yakuza. - Orfanato Ninomiya sob investigação após denúncias anônimas. -

Ele senta na cama, abrindo um largo sorriso. Missão completa. Isso significa… voltar para a Rússia. Isso também significa… se despedir de Yuuri.

As vozes voltam a invadir sua mente, mas para a sua surpresa, ele se vê lutando contra elas. Ele termina de fazer as malas, atualiza o status da missão pelo celular, compra sua  passagem de volta e toma um longo banho. Ao sair do quarto com as duas malas, ele percebe que Yuuri está ali também, com sua própria bagagem.

“Quer uma carona até o Aeroporto?” Ele pergunta, erguendo as chaves do jipe.

“Por favor.” Victor responde, sério.

“Pelo visto nenhum de nós dois tivemos uma boa noite de sono.” Yuuri comenta, colocando sua mochila nas costas e pegando sua mala. “Não que isso me afete em nada. Ainda.”

Eles entram no elevador, onde ele aperta o botão do térreo.

“Orfanato Ninomiya.” O agente diz, o vendo sorrir e afirmar com a cabeça. “Você pode me contar?”

Eles atravessam o saguão, indo para o restaurante, tomar café da manhã. Yuuri se senta em uma mesa, colocando sua mochila na cadeira ao seu lado.

“Você pode deixar suas coisas aqui. Eu vou te contar tudo.” Yuuri o olha seriamente e Victor se vê acreditando nele.

Quando ele chega, Yuuri se levanta e logo retorna com um prato e uma xícara de chá.

“Eu tinha 8 anos quando fui sequestrado. Aos poucos, outras crianças começaram a surgir e no início, era como um orfanato mesmo. Tinha os dormitórios, o refeitório, salas de aula e uma sala de brinquedos. A comida era meio ruim, mas o resto até que era legal. Isso até os primeiros sintomas começarem a surgir em meu corpo. Dores intensas, principalmente na minha cabeça, tonturas, enjôos a ponto de vomitar sangue, perda parcial de sentidos… enfim, era algo muito ruim.” Yuuri diz e Victor o vê ficar cada vez mais pálido e com as mãos se tremendo. “E com isso, eles começaram os experimentos em mim. Eu deveria ser o soldado perfeito. Forca, agilidade, inteligência, percepção, memória, resistência, entre outras coisas absurdamente inumanas.”

“E você possui esses atributos aguçados?” Victor pergunta, sentindo nojo do que escuta.

“Eu possuo memória de tudo o que se passou na minha vida, a partir do orfanato. Meus sentidos são aguçados e eu demoro muito mais tempo para me cansar do que o normal. Além disso, eu posso controlar o tempo que meu corpo leva para se curar de ferimentos, explicando como eu recuperei do machucado no rosto sem você ter percebido. Minha força e agilidade são aguçados, mas não tanto quanto Ninomiya desejava. Por causa disso, ele decidiu me dar para a família Murakami. No início, estava tudo bem, até que minha mãe adotiva viu as marcas em meu corpo. Ela tentou abrir uma investigação contra Ninomiya, mas ele usou seu poder para impedir que isso acontecesse. Uma semana depois, ela foi encontrada morta. Ninomiya tentou me ter de volta mas não conseguiu porque minha mãe deixou escrito que a irmã mais nova dela seria minha guardiã caso algo acontecesse com ela. Ela se chama Satsuki e é casada com o ex-marido de minha mãe, que é primo distante do príncipe Haruhito. É claro que agora, com a investigação sobre Ninomiya e o orfanato, a investigação sobre a morte também irá acontecer e sem tem Ninomiya para atrapalhar, tudo vai ser revelado ao público.”

Victor então percebe que tem uma pergunta muito importante que ele quer fazer.

“Por que você contratou um agente secreto de outro país para lidar com Ninomiya, se você possui habilidades o suficiente para realizar tal façanha até melhor do que esperava.” Ele pergunta, o vendo ficar com as bochechas coradas.

“Bem, por que  você acha que nenhuma outra criança se voltou contra ele ou os cientistas do orfanato?” Yuuri pergunta de volta, bebendo um pouco de chá logo em seguida. “Ninomiya não era só um homem influente na política nipônica. Ele desenvolveu também um sistema de ordens em em que a primeira é que jamais poderíamos fazer alguma coisa de ruim com ele. Ou seja, eu não poderia simplesmente matar Ninomiya. Eu tentei entrar em contato com outras redes de inteligência além da sua, mas nenhuma aceitou meu pedido porque não acreditavam em mim.”

“Isso…” Victor começa, mas se interrompe ao ver Yuuri dando de ombros e comendo um sanduíche.

O agente passa a observar ele, que inclina o rosto enquanto mastiga o que está comendo.

“Por que Ninomiya não te reconheceu?” Victor pergunta, o fazendo abrir um sorriso tímido.

“Porque Ninomiya só chegou a me ver duas vezes durante todo o tempo que estive no orfanato. E como eu também mudei por causa dos experimentos, não foi difícil perceber que ele não sabia quem eu realmente era.” Yuuri responde, o fazendo franzir a testa.

“Mudou? Mudou como?”

“Eu era uma menina quando eles me sequestraram e por causa dos experimentos, meu corpo passou a não se desenvolver por completo. Depois que fui adotado, minha mãe adotiva me levou no médico, que ficou apavorado com o que viu em meus exames. Segundo ele, meu útero e meus seios foram removidos de meu corpo porque significavam minha fraqueza para eles e meus hormônios possuem um alto teor de testosterona. Para Ninomiya, eu era apenas um homem com interesse na coleção falsa dele. Hoje, em documentos, eu sou do sexo masculino, mas se for para definir o que sou, eu diria que sou intersexual.”

“Então, anteontem… Victor começa a dizer, surpreso com o que escuta.

“Ah. Sim, eu não estava preparado para tentar fazer sexo com você. Eu apenas me foquei em te dar prazer, mas estava com medo de que você não me aceitasse quando me visse nu. E isso me machucaria muito por que…” Yuuri se interrompe, ficando com as bochechas coradas. “Por que eu passei a ter sentimentos por você.”

“Mas…”

“Eu sei. Está tudo bem. Eu compreendo se você não sente nada por mim, principalmente agora que sabe boa parte da minha vida. Se você quiser, você pode me visitar aqui.” Ele diz, retirando da carteira um cartão azul e o estende para Victor, que o pega para ler.

“Museu e Escola de História e Arqueologia Murakami-Katsuki. Endereço: xxxxxxxxxxx - Castelo de Gelo - Hasetsu - Japão.” Ele diz e franze a testa, pois Katsuki não é o nome de…

“Algum problema?” Yuuri pergunta, o olhando seriamente.

“Não, nenhum.” Victor responde, guardando o cartão no bolso da sua jaqueta.

Eles terminam o café da manhã e encerram as hospedagens, que foram pagas por Yuuri. Victor o acompanha até o estacionamento, onde colocam suas bagagens no banco traseiro do jipe. No banco do carona, Victor vê Yuuri retirar um óculos de sol e o colocar no rosto antes de ligar o veículo.

...

Yuuri o acompanha até o portão de embarque, e Victor congela ao perceber que ele não pode continuar andando com ele.

“Yuuri, eu…” Ele começa a falar mas é interrompido quando escuta.

“Atenção passageiros do vôo 4125 da empresa Aeroflot com destino a São Petersburgo. Embarque imediato no portão 21”

“Você tem que ir, Victor.” Yuuri diz, o empurrando para a sala de embarque. “Até outra vez, Moya Lyubov.”

E ele se afasta, o deixando ali com surpresa.


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