Crônicas de Gelo e Neve escrita por Haruyuki


Capítulo 1
Livro I - Máscaras de Gelo - Parte I




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# Primeira Noite

## Aeroporto de Narita - Tóquio ~ Japão.

 

Victor Nikiforov desfila pela ala de desembarque internacional do aeroporto, atraindo a atenção de diversas pessoas pelo seus cabelos prateados e óculos escuros no rosto. Com a sua bagagem em mãos, ele segue para a ala de imigração onde ao chegar na sua vez, ele estende seu passaporte e um envelope de carta para o policial à sua frente.

“Konnichiwa!” Ele diz em japonês fluente.

“Boa tarde.” O policial diz, com uma expressão de tédio no rosto. “Senhor Victor Nikiforov.”

“Sou eu!” Victor exclama, com um largo sorriso no rosto.

“Qual é o motivo desta visita, Senhor Nikiforov?” O policial pergunta, examinando o passaporte.

“Trabalho.” Victor responde, batendo no envelope que está em cima da mesa. “Eu sou um jornalista independente e fui contratado para documentar locais importantes de Tóquio. Estou muito ansioso!”

O policial abre o envelope e pega o papel de dentro, o abrindo e lendo o que está escrito, empalidecer ao ver uma certa imagem ao fundo.

“Entendo.” Ele diz, limpando a garganta e devolvendo o passaporte e a carta. “Muito bem, Senhor Nikiforov. Seja bem vindo ao Japão. Siga-me, por favor.”

“Arigato gozaimasu!”  Victor exclama, se é do guichê e passando por uma porta que o faz não precisar passar sua bagagem no detector de metais.

Ele sai do aeroporto em um táxi, seguindo para o hotel onde deve se hospedar.

 

## Hotel Teioh - Térreo

 

Com o cartão de seu quarto em mãos, Victor segue para os elevadores e parando ao lado de um rapaz de cabelos negros bagunçados, óculos de armação azul, jeans, um horrível suéter cinza e uma camisa branca com uma estranha mancha marrom na gola direita que parece ser de café.

“Oi, eu sou Victor!” Ele decide falar com o rapaz, que o olha com surpresa.

“Olá. Eu me chamo Yuuri.” O rapaz responde timidamente. “Posso lhe ajudar em algo?”

“Oh, eu estou bem. Só bastante excitado para poder visitar e fotografar os diferentes tipos de locais existentes em Tóquio.” Victor responde, abrindo um de seus sorrisos e dando uma piscadela para Yuuri.

“Você é um turista?” O rapaz japonês ao seu lado pergunta e ambos percebem a chegada do elevador.

“Na verdade eu sou um repórter independente russo contratado para fazer uma reportagem especial sobre Tóquio. Victor diz entrando no elevador e o vendo apertar o andar que ele também deveria apertar. “Mas bem que eu poderia ter ajuda de alguém que poderia me guiar e me contar mais sobre esses locais.”

“Não querendo me meter, mas eu poderia lhe ajudar com isso.” Yuuri diz, ao lado dele. “Eu sou um professor de história, então posso lhe dar todo o tipo de informações que precisar é lhe acompanhar nesses locais também.”

Isso é… perfeito. Perfeito até demais. Victor não consegue acreditar na sorte dele.

“Mesmo? Isso é incrível!” Victor diz, animado. “Que horas e onde podemos nos encontrar?”

“Eu estou ocupado a partir das 3 da tarde, então que tal nos encontrarmos de manhã cedo no restaurante do hotel para tomarmos café juntos?” Yuuri o olha timidamente, inclinando o rosto para ele.

“Perfeito, Yuuri.” Victor responde, sorrindo.

Para a surpresa deles, não só estão hospedados no mesmo andar como são vizinhos de quarto. Eles dão risada da coincidência, se despedem e entram em seus quartos.

 

## Hotel Teioh - Quarto 1303

 

A suíte que Victor se depara ao entrar no quarto é incrível. Enquanto a decoração ali presente é esteticamente japonesa, das pinturas nas paredes, aos quadros e plantas artificiais, o resto dos móveis são claramente ocidentais. Cama de casal, sofá, guarda-roupa, televisões, geladeira e banheiro com privada e banheira jacuzzi.

Ele coloca suas duas malas em cima da cama, às abrindo lentamente. Ele se aproxima da mesa e a retira do lugar, a colocando na janela e retornando para as malas, onde de uma retira um laptop, um telescópio portátil, duas câmeras fotográficas, uma lente de aumento, cabos de alimentação e dados, um modem de internet móvel USB, diversos blu-rays lacrados e um tripé para uma das câmeras. Imediatamente ele leva tudo para a mesa e encaixa uma câmera no suporte, conectando o aparelho com o laptop e colocando o telescópio ao lado e o conectando na televisão do quarto do hotel. Ele coloca os cabos de energia na câmera, no laptop e no telescópio, os ligando em uma tomada na parede. Ligando o computador, ele arranca o plástico de um dos blu-rays e abre a cortina, procurando seu alvo por entre os diversos edifícios ao redor. Uma mansão de um político japonês que em alguns dias será morto por ele. Ele ajusta a câmera e o telescópio, observando na tela do computador imagens em infravermelho, mostrando a movimentação humana naquele local. Victor coloca um C D e encaixa o modem no laptop e começa a gravar o que vê e programa a televisão para gravar o que está sendo exibido pelo telescópio.

Na outra mala ele retira suas roupas e as guarda. Ele retira uma bolsa que será usada no disfarce, guardando nela a outra máquina fotográfica, um mapa de Tóquio, um gravador de voz e um celular. Ele retira uma maleta mais pesada, a destravando com sua senha e a abrindo, revelando duas pistolas pretas calibre .38, munições especiais e um silenciador. Satisfeito com o que vê, ele fecha a maleta e a guarda no cofre. Ao lado, ele coloca a segunda mala, que acaba de ser esvaziada e retorna para a primeira, retirando um tablet, fones de ouvido e uma pasta preta. Ele se senta na cama e encaixa o fone no tablet, apertando o número 2 e fazendo uma ligação via Skype.

Privet.” Ele escuta, assim que a ligação é completada.

“Privet. Agente Especial Nikiforov em posição e pronto para dar início a missão.” Ele diz em sua língua natal.

Muito bem, agente Nikiforov. Na pasta em sua posse há todas as informações sobre seu alvo obtidas com a ajuda de nosso informante. Sua missão é eliminar ele no prazo de uma semana.” A voz feminina no outro lado da linha diz.

Victor abre a pasta preta e espalha os documentos, fotos e outros papéis pela cama.

O alvo se chama Hayato Ninomiya, de 56 anos e Ministro da Educação. Ficou conhecido por desenvolver projetos de uma escola especial para crianças órfãs e abandonadas, o que o fez um homem bastante elogiado pelo público e pela mídia. Mas, segundo nosso informante, tão escola é na verdade um laboratório clandestino que realiza experimentos onde crianças eram usadas como cobaias para a criação de um exército de super soldados.

Victor franze a testa ao estudar as fotos e documentos do local em questão.

“Quais são as minhas ordens em relação a essa escola?” Victor pergunta, pegando uma foto do local e a erguendo.

Sua missão é apenas eliminar o alvo e voltar para casa.” A voz responde, e ele afirma com a cabeça.

“Por quê meu prazo é de uma semana?” O Agente pergunta, curioso.

Porque o alvo planeja vender crianças para outros países como Cuba, Estados Unidos, Rússia, China e Arábia Saudita, disfarçando as vendas com objetos de arte de valor histórico que na verdade são falsos.” A voz responde.

Objetos de arte falsos? Agora isso aqui faz todo o sentido.

Victor, com a testa franzida, ergue outra foto e a solta, a fazendo cair na cama. Uma foto de Yuuri com uma expressão séria no rosto e uma descrição na parte de baixo.

Yuuri Murakami, 24 anos, conceituado professor e especialista em arqueologia e história do Japão.

Por essa Victor não esperava. Ele acabou se envolvendo diretamente com alguém envolvido com o alvo e o usará como álibi para sua presença em Tóquio. Ele ri da estranha coincidência, de novo. Mas ele deveria saber que coincidências não existem.

Tudo o que acontece é inevitável. Ou, como certos japoneses acreditam… Hitsuzen.

 

# Segunda Noite.

## Hotel Teioh - Térreo - Restaurante

 

São 7 e meia da manhã quando Victor entra no restaurante do hotel e logo encontra Yuuri sentado em uma das mesas, bebendo chá em um copo branco e na frente dele há um prato com sanduíches. O agente russo o vê pegar um deles e levar a boca, dando uma mordida bebendo mais um pouco de chá. Ele o observa por um tempo, até ver que Yuuri o olha com o rosto inclinado.

Com um de seus falsos sorrisos no rosto, ele se aproxima da mesa.

“Ohayo, Yuuri!” Ele exclama, não se importando que os outros poucos hóspedes o olhassem com raiva.

“Ohayo, Victor-san. Quais são seus planos para hoje?” O professor pergunta, novamente com um sorriso tímido no rosto.

“Eu estava pensando em começar com Shibuya.” Victor diz, retirando a bolsa do ombro e a colocando na cadeira do lado oposto ao de Yuuri.

“Hm. Eu concordo que é um bom lugar para começarmos.” Yuuri volta a beber chá, o olhando. “Mas eu recomendo tomar café da manhã primeiro.”

“É claro!” Victor diz, se levantando e indo pegar um prato para se servir.

Discretamente ele olha para a mesa, vendo Yuuri novamente morder um sanduíche e acenar timidamente para ele quando percebe seu olhar. O Agente russo se vê não acreditando na possibilidade de que ele esteja envolvido com Ninomiya e seus planos gananciosos.

Victor retorna para a mesa e se alimenta em silêncio, algo que Yuuri nota mas não fala nada claramente em respeito a ele, que fica aliviado por isso.

O passeio em Shibuya é até interessante. Fingindo tirar fotos e gravar tudo o que Yuuri diz, Victor acaba chorando de verdade ao saber da verdadeira história por trás da estátua do cachorro Hachiko que fica logo na saída da estação de trem. O agente russo se vê também estudando seu guia, vendo que ele é uma pessoa gentil e educada ao ajudar uma senhora na estação.

“Você disse ontem que estaria ocupado a partir das 3…” Victor começa a dizer quando eles se sentam em um banco para descansar.

“Oh, sim.” Yuuri responde, passando a olhar para ele seriamente. “Um amigo me pediu para substituir ele como avaliador de certos itens que o ministro da educação planeja vender em um leilão para adquirir fundos e criar uma escola para crianças abandonadas.”

“Isso é legal!” Victor diz, surpreso com a ingenuidade dele e respirando fundo, ficando aliviado com o que escuta.

O professor o olha com surpresa.

“Você… está bem?” Ele pergunta, dessa vez pegando o russo de surpresa.

“Eu estou sim, Yuuri!” O agente secreto responde com um sorriso no rosto.

“Hm.” Yuuri afirma com a cabeça, se levantando. “Você quer algo para beber? Eu estou com sede.”

“Água, por favor.” Victor diz, o olhando com surpresa. “O dinheiro…”

“Eu pago.” Yuuri diz, se afastando rapidamente e logo voltando com duas garrafas de água.

Victor, aproveitando que o professor deixou sua mochila com ele, solta um suspiro e pega algo do bolso do paletó, e com a mesma mão, toca na alça da mochila.

“Estou de volta.” Yuuri diz, estendendo para ele uma das garrafas de água que segura na mão esquerda enquanto na outra carrega barrinhas de chocolate kit-kat de diversos sabores.

“Kit-kats?” Victor pergunta, surpreso.

“Eu gosto.” Yuuri diz, dando de ombros e bebendo um pouco de água. “Além disso, existem sabores que só são encontrados aqui no Japão.”

“Estou vendo.” Victor diz, bebendo água logo em seguida, e o observando abrir um pacote e dividir o chocolate ao meio.

“Aqui.” O professor estende uma das metades para ele, passando a comer a outra.

Victor pega dele e dá uma mordida hesitante, sentindo primeiro o sabor de chocolate e depois um sabor bastante peculiar.

“Chá?” Ele pergunta, devorando o resto com surpresa.

“Matcha. Chá verde.” Yuuri responde, também devorando o seu.

“Vkusno!” Victor exclama, fazendo o professor rir enquanto guarda na mochila o resto dos chocolates.

“Estou vendo que gostou.” Ele comenta, erguendo a mochila nas costas. “Amanhã eu dividirei outro para ver se você tem a mesma opinião.”

“Por que só amanhã?” Victor pergunta, choramingando.

“Porque já está quase na hora do almoço e isso também significa que logo estaremos nos despedindo.” Yuuri responde, olhando para o agente seriamente.

“Oh, é verdade.” Victor comenta, surpreso pelo tempo ter passado tão rápido.

O resto do passeio por Shibuya foi interessante para o agente, que mal percebe que está curtindo de verdade ouvir Yuuri contando sobre os locais que visitam ao invés de fingir.

Não se envolva demais com ele.” Uma voz em sua cabeça surge de repente.

Antes que seja tarde demais.” Outra voz diz, e ele sente um estranho arrepio pelo corpo.

 

##Hotel Teioh - Quarto 1303

 

Após almoçar e se despedir de Yuuri, Victor retorna para seu quarto no Hotel Teioh. Ele toma um banho, passando a relaxar na banheira de hidromassagem, refletindo por um tempo sobre o que aconteceu mais cedo.

Você não tem coração. Você não tem emoções. Você não tem desejos. Você não tem futuro.

Você é uma máquina treinada para realizar missões com extrema precisão. Erros não serão permitidos.”

Você é ninguém. Você não existe. Você é apenas mais um peão para o governo russo.

Victor sai do banheiro usando o roupão do hotel em seu corpo é uma toalha no pescoço. Ele se aproxima do laptop, que está reproduzindo as imagens em infravermelho captadas pela câmera, que mapeia o interior da mansão de Ninomiya onde, nesse exato momento, 3 pessoas estão pertos uma da outra em um grande salão com diversos objetos peculiares que Victor deduz ser os itens que serão leiloados em breve.

Mexendo no teclado do laptop, ele abre o áudio do dispositivo que ele colocou na mochila de Yuuri e se senta na cama para escutar.

“... Por favor poderia parar de dizer essas mentiras de novo sobre minha coleção, senhor Katsuki?” Uma voz ríspida é a primeira que ele escuta.

Por que o senhor insiste em dizer que esses objetos são de valor histórico?” A voz fria de Yuuri o faz se arrepiar. “Eu poderia entender se o senhor entrasse em pânico ou se preocupasse em saber a verdadeira natureza desses objetos, a não ser que…

Eu já disse para não falar mais nada!” A voz ríspida exclama e pelo laptop, Victor percebe um homem gordo agarrar Yuuri pelas roupas. “Não queira por um alvo na sua cabeça, Katsuki.

O homem, que o agente deduz ser Ninomiya, larga Yuuri que se curva e se afasta do cômodo. Misteriosamente, o som reproduzido dos passos dele diminui até desaparecer por completo.

Maldito professor. Não esperava que ele realmente fosse um especialista em história do Japão. Tsk.” Ninomiya diz e Victor o vê se virar para o outro homem. “Ligue para seus homens. Quero dar um susto nele.

Sim, senhor.” O outro diz, imediatamente se afastando.

Essa não! Yuuri está em apuros!

Com um par de binóculos, Victor observa Yuuri sair da mansão e se aproximar do hotel. Quando ele entra, Victor respira fundo, se jogando na cama aliviado pois ali pelo menos ele pode proteger o rapaz.


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