Shadow escrita por Course


Capítulo 16
XV - Humana


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de agradecer os comentários anteriores.
Infelizmente estou sem tempo algum para responder. Esse capítulo é o último que tenho totalmente reescrito. Estou me esforçando para reescrever o próximo e garantir a vocês uma continuidade.
Não desistam de mim! ❤️



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Humana

 

― Existe essa convenção no mundo, em que todos precisam saber tudo sobre todas as coisas, Eve.

― Eu ainda não sei como me sentir em relação a isso, Jasper, de verdade.

― Bom, eu acho que em alguma hora vai precisar enfrenta-lo. Sinceramente, não sou o melhor para esse tipo de conselhos para lidar com essas situações, mas... acho que, se me colocasse como Carlisle agora, ele lhe diria para pedir desculpas ao Ethan.

Suspirei.

― Na verdade, eu sei exatamente como me sinto em relação a isso. E não gosto nada dessa sensação.

Sentia-me um monstro, na verdade.

E me sentia estúpida por me sentir um monstro.

Com apenas dois dias em Forks, achando que minha socialização estava melhor que a dos meus irmãos, sou despida em um discurso aberto ao público e tachada como agressiva, sem educação e desrespeitosa. Não que eu não concorde com nenhum desses feitos, mas... A sociedade em que eu estava acostumada a viver era outra.

― E como você se sente? ― Tentou Jaz.

Era até uma situação engraçada na qual nos encontrávamos.

Ele, sentado na cadeira estofada da mesa central da biblioteca, tinha seus olhos fixos no caderno de desenho, onde rabiscava alguma coisa atentamente. Enquanto isso, eu havia me jogado de qualquer forma no divã e ficava encarando o forro amadeirado e escuro do teto, tentando me esforçar para compreender e organizar meus sentimentos, enquanto ouvia-o falar e o seu carvão em mãos rabiscar a superfície da folha.

Quando cheguei da escola, no dia anterior, Alice, Rosalie e Emmett tentaram de tudo para me fazer falar, contudo, me recusei a me abrir com qualquer um deles. Esme fez minha atual comida predileta ― nhoque à americana ― e se esforçou bastante para ser delicada no uso das palavras para perguntar sobre meu dia, mas foi igualmente ignorada. Meu pai estava de plantão no hospital, entretanto, esforçou-se para me ligar e conversar sobre a complexidade de controlar os sentimentos humanos.

Agora, às duas horas da tarde, do dia de sábado, eu estava ali, com Jasper, o único irmão com quem, de certa forma, senti vontade de me abrir completamente, pelo simples fato de ele estar vencendo a sede pelo odor excessivo que eu provavelmente exalava enquanto humana, na tentativa de me aconselhar da melhor forma.

Eu não precisei contar a ele do que aconteceu no pátio ontem: Todos na cidade inteira já deveriam saber.

― É difícil colocar em palavras ― Fui franca ― Por um lado, sinto a culpa de ter julgado todos vocês por uma socialização meio que escassa com os humanos, o que acabou resultando em muita fofoca. Por outro, me sinto constrangida por ter empurrado. Já uma pequena parte minha se sente estranha por sentir todas as outras coisas. Normalmente, em Volterra, para se resolver algum problema, eu só precisava fazer uso do meu posto de liderança, algumas palavras ameaçadoras e tudo se resolvia.

― Eu imagino que seja difícil para você, depois de tantos anos em Volterra, se deparar com uma situação em que o humano tenha, pela primeira vez, razão.

Ergui minha cabeça só o suficiente para o encarar, repreendendo pelo o olhar pela escolha final do uso das palavras.

― Ou, pelo menos, quase toda a razão, já que, para você, nos chamar de bizarro é motivo o suficiente para fazer ameaças. ― Jasper, nem um pouco contido, desdenhava enquanto falava abertamente.

Joguei minha cabeça novamente no travesseiro recostado no divã e fitei a enorme estante de livros ao meu lado, ostentando os mais variados títulos que, com sorte, eu teria a chance de ler ou reler em breve.

― Já matei muitos por bem menos que isso. ― E aquilo era uma verdade simplória. Matar não era algo que eu via como algo totalmente ruim, principalmente quando se tratava de partir em defesa de algo ou alguém.

― Sabe, Eve, essa coisa de ficar sempre na defensiva pode ser prejudicial a você. ― Jasper falou, de repente ― Já deve ter notado que Carlisle e Esme prezam demais a vida aqui em Forks para você chegar e bagunçar tudo chamando atenção demais. Nos esforçamos bastante para não causar nenhum caos.

Mentalmente eu revirava os olhos. Jasper não havia percebido o quanto a nossa família chamava atenção naquela cidade e possuía um destaque só por simplesmente existir?

― E o que sugere que eu faça? Que vá lá e me desculpe por tê-lo ameaçado e por achar que ele estava tentando alguma coisa comigo só porque sou uma Cullen?

― É uma ideia tão ruim assim? Pedir desculpas à um humano? ― Ele retribuiu com outra pergunta, parando levemente de rabiscar e eu sabia que agora me encarava.

Olhei-o de volta e franzi o cenho.

― Nunca precisei fazer isso.

― Eve, diferente do que o Ethan disse ontem, eu te acho inteligente o suficiente para saber que está perdendo tempo aqui, se lamentando e refletindo sobre o que precisa saber, quando, na verdade, tudo o que precisa é ser corajosa e admitir que errou com ele.

Soltei um bufar em exaustão.

Jasper tinha razão, mas eu não era capaz de o detestar por isso.

― Se Ano me visse agora, mandaria cortar minha cabeça só por eu pensar que um humano conseguiu me superar em alguma coisa. ― Comentei, agora voltando meus olhos para Jasper e sorrindo debochadamente da própria situação que me encontrava.

― Vai dar o braço a torcer e pedir desculpas?

Eu não entendia o que ele queria dizer com dar o braço a torcer, então ergui meu antebraço e fiquei o encarando momentaneamente.

Eu ia? Pedir desculpas, quero dizer.

― E se eu estiver com a razão por ele ter gritado comigo no pátio, na frente de todos. ― Sugeri prontamente, pensando em uma razão nítida para não fazer o que, de fato, eu precisava fazer.

― Já percebeu que você está tentando criar uma tempestade em copo d’água? Nenhum de nós realmente ficou ofendido com o comentário do garoto. Mas, ainda assim, você parece protelar com a situação. Talvez você só esteja buscando um motivo para odiar alguém, agora que está longe o suficiente da corte dos Volturi e dos seus pseudoinimigos do próprio clã. ― Jasper pareceu dar-se por satisfeito em seu rabiscar e fechou o caderno, enfiando o carvão entre as argolas de aço que seguravam as folhas num mesmo bloco ― Francamente, Eve, eu não sei o que estou fazendo aqui. Te ajudando a encontrar uma solução ou compartilhando um momento de auto piedade. Assim, você se assemelha bastante à Rosalie, sabia?

Mais uma vez certo. E eu, finalmente, chegara à uma conclusão certeira.

― Estou com fome!

Ergui meu corpo, num salto rápido e fugi do meu sábio irmão, caminhando para a cozinha carregando a bagagem emocional e as palavras filosóficas e reais que ele usara anteriormente.

Eu não era muito boa em lidar com os momentos em que alguém simplesmente resolvia jogar na minha cara minhas falhas consideráveis. Portanto, optei pelo mais sábio a se fazer no momento: me afastar para refletir.

Na cozinha, eu fui inundada pelo cheiro de assado e agraciada com a visão de um enorme rocambole de carne com bacon, senti meu estômago gritar no meu interior, implorando por um pouco de comida.

Esme parecia sempre feliz na cozinha, satisfeita por ter motivos para usar o enorme e moderno espaço na casa. Por terem uma alimentação especial, os vampiros como os Cullens mantinham aquele espaço apenas de faixada, para visita de alguma emergência ou qualquer coisa do tipo.

― Alice disse que em breve você e Jasper cansariam de ficar enfurnados na biblioteca e apareceria com fome por aqui. ― Sorrindo, a matriarca cortou uma fata fatia da carne e começou a montar meu prato, como de costume.

Eu até poderia me sentir mal por tantos mimos, mas Rose me falara dias atrás para eu não interromper a motivação de Esme por cuidar de mim. Minha irmã contou que ela se esforçava para me agradar, porque sabia o quão importante eu era para Carlisle e, de certa forma, era importante para todos os outros também.

Quando meu pai confidenciou que havia resgatado Esme, eu queria muito ser tomada pelos ciúmes, contudo a alegria por saber que, finalmente, depois de tantos anos, ele superara o término conturbado do romance com Aro e encontrara um novo amor prevaleceu.

Esme era doce, gentil e amigável. Fazia o possível e impossível pelos filhos e, com isso, assumia uma postura de mãe do clã com êxito. Gostava sempre de ler em suas cartas a palavra mamãe assinalada como despedida, apesar de nunca, necessariamente, tê-la chamado assim. Dava-me um sentimento de pertencimento maior a clã que me esforçara durante quarenta anos para manter protegido dos interesses da corte a qual eu pertencia.

Hmmm... ― Deixei escapar, depois da primeira garfada na comida ― Nossa, Esme! Às vezes, eu recebi uma dádiva por poder ser momentaneamente humana e provar essa comida deliciosa.

O sorriso no rosto dela cresceu, enquanto se acomodava ao meu lado, em uma das banquetas na ilha da cozinha.

― Fico feliz de ver que esteja melhor, querida. ― Passando a mão pela lateral do meu cabelo, como se arrumasse alguns fios, ela falou calidamente.

Assenti apenas, em confirmação, pois era incapaz de parar de encher minha boca com a carne e a salada que ela preparou para meu almoço.

Normalmente eu não tinha um horário de refeição correto. A vantagem de viver em uma casa com vampiros, que as vezes ficam entediados, era que sempre havia alguém na cozinha para preparar algo para eu comer enquanto gostavam de tagarelar sobre qualquer coisa. Normalmente, à noite, estávamos estabelecendo uma rotina de “todos juntos na cozinha para conversar”, como eu imaginava que uma família normal e humana fazia em seu cotidiano. Não ficava maravilhada pelo fato de ser servida, mas por estar na companhia animada da minha família que me acolhera tão bem.

Além do momento de comida, eu tinha aulas extras frequentes com Alice e Jasper, que eram até animadoras. Pelo fato de minha irmã prever o futuro, normalmente ela se dedicava a explicar exatamente tudo, impedindo-me de ter qualquer dúvida. Era fascinante, na verdade.

― Eve, você permite que eu faça um comentário sobre essa sua situação com o Ethan?

Bom, nunca fui familiarizada com psicologia de mãe, afinal, nunca tive uma, então, pensei que daquela vez, já que Jasper parecia ter esgotado o torrencial de palavras filosóficas, seria interessante ouvir algo de uma pessoa nova.

Novamente meneei com a cabeça, confirmando que estava preparada para ouvi-la falar.

― Lembra de quando estávamos na cozinha e a Alice deixou claro que sabia o que ia acontecer? Você optou por não saber nada dos próximos passos e aceitou as surpresas que o destino a garantiria.

Sim. Eu lembrava bem daquela decisão estúpida.

―  Se eu tivesse preferido ouvir, talvez estivesse livre da humilhação que Ethan me fez passar ontem. ―  Comentei, depois de terminar de engolir um dos últimos pedaços de carne.

 ― Mas, se soubesse do que estava por vir, não seria capaz de aprender as lições que conseguimos com os nossos erros.

Era um bom ponto a ser considerado, na verdade.

De uma forma bastante incomum, sempre que eu me alimentava, ainda na forma humana, conseguia clarear minha mente e ser capaz de discernir sobre minha postura diante de algumas coisas. Naquele momento em questão, percebi que algo importante precisava ser feito.

― Não estou dizendo que você precisa ser amiga dele, querida ― Esme complementou ― Mas, se quer mesmo aproveitar a experiência enquanto humana da melhor maneira, vai precisar lidar com esse tipo de situação tão comum. Ninguém é perfeito e todos estamos propensos a falhas.

Precisei de alguns minutos para absorver as palavras dela e, com isso, optei por vislumbrar o bosque que era visível através das enormes janelas de vidro da cozinha.

Sempre gostei de pensar em mim como alguém capaz de se misturar em qualquer grupo, afinal, era para isso que minha sombra servia: me camuflar. Acontece que, no fim das contas, eu nunca havia experimentado de fato algo similar ao que estava vivenciando. Fui para Forks querendo aproveitar um momento com minha família e de liberdade para ser quem eu quisesse e acabei pega de surpresa, descobrindo que as facetas por trás da vida entre os humanos eram muito maiores do que estava preparada.

Esme e Jasper tinham razão em absolutamente tudo.

E, para provar meu valor e mostrar que realmente estava disposta a enfrentar esse tipo de situação da melhor forma possível, tomei minha decisão.

― Preciso conversar com Ethan.

Dei um pulo para longe da banqueta e coloquei o prato na pia com uma velocidade impressionante, até mesmo para minhas capacidades humanas.

― Oh... Você vai... agora? ― Esme olhava-me confusa, com seus olhos dourados brilhando em surpresa por minha reviravolta.

― É. Bem, tem aquele ditado dos humanos... como é mesmo? Hm... Não deixei pra pedir desculpas amanhã, se você percebeu que foi idiota ontem... Ou algo do tipo. ― Sorri e pisquei para ela enquanto saía às pressas da cozinha.

― Eve, espera! Mas... como você pretende ir? Sabe onde o Ethan mora? Talvez seja precipitado aparecer na residência dos Mitchell hoje.

Nós já estávamos quase no hall de entrada e Jasper surgiu, de repente, segurando uma jaqueta em uma mão e a chave do carro em outra.

― Ah, eu não gosto muito de jogo de lacrosse, mas faço esse esforço por você, maninha. ― Lançando-me a jaqueta, ele foi direto abrindo a porta e saindo rumo à garagem.

Olhei para Esme e ergui uma das sobrancelhas enquanto lhe mostrava meu sorriso desafiador.

― Algo me diz que Jaz sabe exatamente onde devemos ir.

Tudo o que ganhei em resposta fora o sorriso despretensioso dela e um revirar de olhos.

― Tome cuidado. E, por favor, não coma o cachorro-quente do vendedor ambulante! Seu pai sempre precisa cuidar de pessoas com infecção alimentar depois dos jogos por causa do molho que usam naquelas salsichas.

Antes que eu terminasse de descer os degraus da varanda frontal da casa, Jasper já estava com o volvo de Edward estacionado bem à minha frente. Edward não estava usando muito seu carro, porque vivia com Bella e, de certa forma, como ela prosseguia de castigo, meu irmão não necessitava do próprio carro para se locomover. Então, Jasper aproveitou-se da oportunidade para me dar uma carona no Volvo prata estacionado em nossa garagem.

Entrei no carro e fui logo me acomodando na jaqueta que Jasper, cuidadosamente, separara para mim. Assim que fechei a porta, ouvi um pequeno estrondo atrás, no banco traseiro, e peguei Alice estonteante enfiando a cabeça entre os bancos da frente e sorrindo para mim.

― Jogo de Lacrosse, certo? ― Balançando as sobrancelhas do jeito que fazia, deixava evidente que aquela minha escolha fazia parte das suas visões.

― Vai me dizer como eu vou acabar indo com Ethan pro baile? ― Ao invés de brigar ou discutir sobre suas visões tão espertas, resolvi tentar uma nova abordagem, cansada de prosseguir relutante com relação aquilo tudo.

― Se eu contar, com toda certeza não teria tanta graça assim. Mas, posso garantir, vocês dois serão grandes amigos. Acho que, no fim, Eve, era isso que te apavorava, sabe? Achar que vai cometer o mesmo erro que Edward. ― Alice se acomodou tranquilamente no banco traseiro enquanto o motor do carro roncava sob o controle de Jasper que dirigia na estrada em direção ao centro de Forks.

― Eu nunca tentaria me matar por perder alguém, isso eu garanto. ― Rebati, olhando pela janela o bosque passar feito um borrão diante de nós.

― Eu não quis dizer isso. Eu quis dizer que você tem medo de correr o risco de se importar com os humanos. Afinal, passou sua vida inteira reclusa, usando-os apenas como alimentos e aqui, agora, tem a chance de aproveitar a outra versão que eles têm a os oferecer.

― E que seria?

― Amizade. Os humanos possuem uma capacidade infindável de serem bons e verdadeiros amigos.

― Até, claro, a gente se descontrolar e enfiar as presas neles. ― Jasper, aparentemente notando que o assunto estava me esgotando, soltou a piadinha fazendo com que nós duas o olhasse chocadas ― Eu estou só brincando, meninas! Juro! ― Ergueu uma das mãos, como se cessasse o momento.

Ficamos uns bons segundos olhando-o ainda atordoada, até que Jasper, esforçando-se para não rir da situação, soltou um sopro entre os lábios comprimidos e desencadeou um acesso de riso em mim e Alice.

― Meu Deus, precisavam ver suas caras! ― Ele falava, entre suas risadas altas e descabidas.

― Você é doente! ― Apesar de também compartilhar das gargalhadas, eu consegui proferir as palavras.

E, entre risadas e comentários fúteis, Jasper guiou-nos até o terreno da escola onde aconteceria o jogo de lacrosse e eu seria obrigada a abrir mão do meu orgulho para fazer uma coisa inédita: me desculpar com um humano.


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Notas finais do capítulo

Qualquer erro de digitação ou ortografia se deve ao fato de que não revisei a escrita. Prometo que, num futuro próximo, as coisas se ajeitam de novo e eu volto a postar regularmente.



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