Uncover escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 4
Capítulo 3




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Ele jogou cinco fichas no lixo.

Era simbólico, logicamente, já que sua mãe pegaria elas depois e colocaria nos arquivos do castelo, indignada por sua falta de cuidado com as informações ali contidas. Mesmo assim, sempre acabava voltando para aqueles malditos pedaços de papel.

— Você tem que parar de tratá-las como se fossem uma lista de tarefas a ser cumprida — comentou McKinnon.

— O que você quer que eu faça? — Liam perguntou, frustrado — É só o primeiro dia e eu estou completamente perdido! Eu não sei o que fazer!

— Convida alguma delas para fazer massagem em você, tá precisando.

Ele alcançou uma almofada da sua cama e lançou com força na direção do amigo, tentando deixar clara a sua opinião com isso.

Apesar do deboche do guarda, convidar uma selecionada para um encontro não era má ideia, apesar de considerar uma atitude um pouco precoce. A outra opção era ficar no escritório pelo resto do dia, fingindo estar ocupado.

Ele não queria usar dessa carta, lembrava-se de Petuel fazendo o mesmo.

Estava caminhando pelos corredores, vendo se um pouco do exercício da caminhada o ajudava a pensar melhor no que fazer, quando viu uma das selecionadas caminhando na direção oposta.

Chavelle Wilkes.

Ela não tinha demonstrado ser uma maníaca como a irmã mais velha na breve conversa que tiveram, mas ele realmente gostaria de esclarecer isso de uma vez. Definitivamente odiava a ideia de criar intimidade com algumas selecionadas para depois descobrir que eram de um jeito diferente.

— Senhorita Chavelle?

Ela levantou o rosto, parecendo surpresa.

— Alteza — fez uma breve reverência, que Liam não considerava necessária.

— Sei que está um pouco em cima da hora, mas me faria companhia nos jardins? — ele perguntou.

Era um bom plano, no final das contas. Convidar a primeira selecionada que aparecesse pela frente para conversarem. Ou um encontro. Isso realmente importava? Era quase a mesma coisa.

— Pensava que me eliminaria pela manhã, Alteza — Chavelle quem iniciou a conversa.

— E por que pensou isso? — Liam perguntou.

— Eu sei o quanto a minha irmã foi inoportuna e incômoda em sua presença, gostaria de me desculpar por ela e que saiba que eu não farei isso.

Pelo menos ele não precisava dar a notícia a ela sobre Demetria.

— Não precisa se preocupar com isso, senhorita — disse Liam, aparentando não se importar, mas no fundo estava aliviado.

Eles caminharam um tempo em silêncio até irem para o lado de fora. Os guardas sequer esperaram o príncipe dar a ordem, assim que os dois se dirigiram em direção às portas de vidro que davam para os jardins, já abrindo o caminho. Chavelle deu uma leve inclinação de cabeça, agradecendo, as mãos entrelaçadas à sua frente.

Ele podia reparar que muitas das selecionadas tinham uma educação admiráveis, mas eram todas das três maiores castas de Illéa — sem ser a Um, pertencente somente à realeza. Só uma delas, uma Cinco, apresentava o mesmo comportamento, se não superior.

Liam olhou ligeiramente para trás quando viu uma das selecionadas ruivas correr pelo corredor. Impediu um sorriso de escapar, abaixando ligeiramente a cabeça. Chavelle não fez um comentário desagradável, também parecendo achar graça. Imaginava o que outras selecionadas diriam somente para ficarem de bem com o príncipe.

Ela deixou o braço esbarrar nos galhos e folhas espaçados de algumas árvores e plantações, e depois passou as costas de sua mão delicadamente pela textura de algumas flores, admirando-as.

Liam permitiu-se fechar os olhos, sentindo um pouco de paz em apenas caminhar pelos jardins, embora acompanhado, com a brisa batendo em seu rosto, levando o cheiro das rosas e de uma chuva recente até ele.

— Você parece carregar o peso dos mundos sobre os ombros — Chavelle disse, e então ele percebeu que estava sendo observado ao abrir os olhos.

— Todos temos um fardo para carregar — Liam deu de ombros, fingindo estar despreocupado.

— Até mesmo uma Três?

Ela parecia ser muito observadora.

Talvez tivesse percebido o seu preconceito em relação às selecionadas de castas mais altas, que ele tinha tentado não deixar tão óbvio naquelas últimas horas.

— Até mesmo uma Três — ele admitiu.

Elas podiam não governar o país, mas deveriam ter algum fardo a carregar. Algumas aguentariam mais que outras, era natural. Ele suportava bem mais do que Petuel, que fugia sempre que as coisas se complicavam.

— Eu acho que estamos sendo observados — Chavelle comentou, dando uma olhada discreta para cima deles.

Liam não foi tão discreto e pôde ver a tempo algumas selecionadas sumindo da janela do Salão das Mulheres. Tinham uma visão privilegiada dos jardins.

Quando voltou o olhar para ela, a loira estava cheirando uma rosa, sem arrancá-la de seu lugar. Ele mesmo pôs a mão no caule da flor e tirou-a de seu lugar, entregando-a para a selecionada, que sorriu, pegando-a.

— Melhor? — Chavelle perguntou.

— Muito — respondeu, sinceramente.

Talvez agindo naturalmente, ele conseguisse se sair bem naquela Seleção.

Só talvez.

Eles caminharam mais fundo nos jardins, saindo da visão do Salão das Mulheres. Liam não sentiu necessidade de puxar um assunto, o que era bem estranho.

Ele pôde ver sua mãe caminhando com alguns assessores de seu pai, parecendo tentar resolver algum impasse. Não era incomum que ela conversasse com eles após alguma reunião com o rei, muitas vezes era assim que conseguiam resolver a situação. Sua mãe era melhor com palavras do que o seu pai.

Liam se perguntava se a sua esposa também o completaria de alguma forma.

— Sinto falta de minha família — Chavelle ficou ao seu lado, observando a passagem da rainha.

Assim que Doralice percebeu que estava sendo observada, ela encontrou o olhar do filho e deu um sorriso, acenando para ele discretamente, antes de voltar a conversar com os políticos. Entre eles, o pai de Lucy e o pai de Sirena. Era difícil de acreditar que aquela garota tão despojada e agradável era filha de Órion Black.

— Creio que já está na hora de você e as outras selecionadas mandarem notícias aos seus pais — ele disse, virando-se para ela — Irei providenciar isso agora mesmo.

— Agradeço, Alteza — ela curvou-se, percebendo que era uma dispensa.

Liam seguiu o caminho contrário de Chavelle, esperando sua mãe terminar de trocar as últimas considerações com os conselheiros, que pareciam um pouco contrariados. Eles sempre ficavam assim quando sabiam que a rainha estava com a razão.

— Liam! Eu não quis interromper o seu encontro — Doralice foi até ele, assim que os políticos afastaram-se.

— Você não interrompeu nada, mãe — ele deu um beijo em sua bochecha — Eu só estava dando um passeio nos jardins.

Não era exatamente mentira.

— Sei — ela deu o seu sempre radiante sorriso — Você não veio até mim para fazer companhia, certo? Ainda mais tendo trinta opções bem melhores.

Ele revirou os olhos, mesmo sabendo que receberia uma repreensão por isso.

— Não revire os olhos para mim — a bronca veio em segundos, como ele já esperava.

— Eu vou falar com Minerva para que ela providencie envelopes e papéis de carta para as selecionadas — Liam informou.

— Não é um pouco cedo para isso? Elas sequer apareceram no Jornal Oficial ainda — sua mãe perguntou.

— Cinco já foram eliminadas. As famílias gostarão de saber como elas estão, e tenho certeza de que a convivência no palácio não deve ser fácil de se acostumar, conversar com alguém pode ajudá-las.

Doralice concordou com a cabeça.

— Você pode estar certo.

Ela teve tato o suficiente para não comentar sobre Chavelle outra vez, conforme eles caminhavam pelos corredores do palácio.

Ele não teve tanta sorte com Marlin.

Permaneceu o resto da tarde nos jardins, estava querendo fugir do seu escritório e do seu quarto, parecia que ele passava tempo demais ali e pouco ao ar livre. Não havia muita coisa que ele pudesse fazer no palácio: trabalhar ou estudar. Ler os livros da biblioteca tornava-se um estudo depois de um tempo, tocar piano e outros instrumentos também, tudo o que poderia ser considerado um hobby não passava disso.

Em um momento da ronda, McKinnon o encontrou e resolveu acompanhá-lo em seu passeio. Ele sempre arrumava um tempo de seu trabalho para ficar perto de Liam, era só uma desculpa para ele procrastinar um pouco. Imaginava que ficar caminhando feito soldado pelo castelo, esperando algum ataque acontecer, era tão entediante quanto passar o dia no escritório assinando papéis e lendo milhares de informes.

— As notícias correm rápido, você sabe — disse Marlin, apoiando a perna no canto do banco.

— E você as capta que nem sinal de rádio — Liam retrucou, imaginando por onde ia a conversa.

— Já perdeu o BV ou vai esperar até o noivado?

Ele conteve a necessidade de mostrar o dedo, não ia dar esse gosto para o amigo que sempre o provocava esperando conseguir tirar alguma reação agressiva e nada comum ao calmo e racional príncipe. Além do mais, ele realmente não gostaria que fosse flagrado fazendo tal ato de rebeldia.

— Eu teria muita pena dessas moças se você fosse o príncipe — disse Liam.

— Eu não teria, se fosse você — Marlin lhe lançou um sorriso cafajeste.

Era engraçado pensar que talvez uma delas resolvesse dar um tapa na cara dele, caso ele tentasse roubar um beijo de surpresa, mas não compartilhou essa imagem mental. Estava apenas fugindo do problema.

— Como eu vou me apaixonar por uma delas? — ele perguntou em voz alta — São tantas! E eu preciso ter um encontro com cada uma delas.

— Prefere resolver os informes do escritório?

Liam estava começando a considerar a opção.

— Se Petuel fizesse a parte dele, eu não teria tanta coisa para fazer — ele disse — Agora, além de toda a papelada, também tenho que entreter trinta garotas.

— Você nunca foi bom em entreter as pessoas — o guarda concordou com o seu ponto de vista — Eu lembro de quando você tentou puxar conversa com a princesa da França porque a sua mãe te obrigou a ser mais sociável.

Ele soltou um muxoxo.

— Eu me dava bem com a da Nova Germânia — tentou justificar-se.

— O problema é que vocês se viram em casamentos durante dois anos. Acho que não passou disso, certo? — Marlin perguntou, tentando confirmar de cabeça as datas — Não sei se a França é mais próxima...

— França tem abertura direta para o oceano. A Nova Germânia e a Itália ficam um pouco impedidas, mas nenhuma delas é realmente próxima de Illéa.

— Então vai ver a rainha da França tinha esperanças de um noivado acontecendo.

Ele podia se sentir grato de que Apolline já estava casada àquela altura, mas ele também estaria em breve. Com o silêncio que veio depois da sua falta de resposta, ele continuava com aquela pergunta martelando na sua cabeça. McKinnon não sabia o que dizer para acalmá-lo, ele era realmente péssimo quando se tratava de sentimentos.

— Olha, talvez você não deveria se cobrar tanto — ele disse, como se tivesse escutado isso de algum lugar, um livro de autoajuda talvez — Procure por amigas, não por uma paixão à primeira vista. Quem sabe depois vai evoluindo porque, sem querer colocar pressão, mas você sabe que vai ter que escolher alguém, e se a garota que você estiver esperando não estiver entre essas trinta garotas...

Marlin não soube como completar o raciocínio.

— Bom, é isso — ele forçou um sorriso, ao perceber que estava sério demais — Carpe Diem, babe. Me deixe saber quando você perder o BV, eu tô falando sério, quero saber todos os detalhes.

Liam revirou os olhos, enquanto o amigo dava uns tapas em seu ombro, antes de descer a perna do banco e caminhar de volta para o castelo.

Ficou observando os lírios e petúnias plantados. Eram os favoritos de sua mãe. Talvez seria o nome dele e de seu irmão, caso tivessem nascido mulher. A diferença é que eles não estariam tão juntos e entrelaçados quanto aquelas flores estavam na posição geográfica.

Estava refletindo sobre isso quando uma das selecionadas entrou em seu campo de visão. Começava a escurecer e os guardas deveriam estar cuidando das portas para impedi-las de sair àquela hora sem acompanhamento e permissão. No entanto, ele não disse nada, ficou observando-a tirar uma câmera fotográfica da maleta e tirar fotos das flores.

Ela parecia preocupada com alguma coisa.

Era a única selecionada de cabelos curtos, então ele reconheceu-a no mesmo instante. Janeth Mirren da Casta Cinco. Quando ela virou-se para pegar trocar o filme, ela notou-o ali sentado. Ficou parada com a câmera em mãos, como se esperasse que ficasse invisível caso não se movesse.

Liam abriu a boca, provavelmente para dizer alguma brincadeira que aliviasse o momento, mas desistiu. Nenhum dos dois parecia no clima para isso.

— É melhor você voltar para dentro. É perigoso aqui fora — ele disse, o que era bem irônico considerando que estava uma calmaria nos jardins, interrompida apenas pelo vento batendo nas flores.

— É mesmo? — ela não parecia impressionada — Então Vossa Alteza não deveria estar aqui.

— Preciso zelar pela segurança de vocês neste castelo.

Liam levantou-se do banco e Jane pareceu observá-lo dos pés à cabeça, desconfiada, como se esperasse que ele estivesse com alguma arma escondida sob a roupa.

— Tenho certeza de que os guardas exercem bem esse trabalho — Jane voltou-se para as flores.

— Janeth...

Antes que ele pudesse concluir a sua frase, ela cortou-o, ríspida:

— É Jane.

Ele hesitou, perguntando-se se tinha feito algo de errado para que ela tivesse ficado tão estressada de repente, ou se ela estava apenas descontando nele outras frustrações.

Ela não mudou a sua expressão facial, mas ele pôde notar que de um instante para o outro o seu rosto ficou pálido e ela deu uma estremecida, como se tivesse visto algo aterrorizante por cima do ombro dele.

— A senhorita está bem? — perguntou, temendo que ela desmaiasse.

— Eu preciso ir — ela sussurrou, como se fosse grande esforço, pegando a maleta da câmera e indo rapidamente para dentro, sem chegar a correr.

Liam ficou observando o caminho que ela seguiu mesmo depois de alguns minutos que ela já tinha ido embora. Ele tentou ignorar e voltar a olhar as flores coloridas, mas não conseguia mais. Tomou uma decisão, caminhando para dentro do castelo.

Os guardas estavam finalmente nas portas dessa vez, parecendo envergonhados e decididos a ignorar o fato de que uma selecionada conseguiu ir para o lado de fora sem que eles soubessem. Decidiu não dizer nada, não era o seu objetivo naquela hora.

Jano Thickey estava tomando um café e conversando com uma das enfermeiras do Três que ele decidiu apadrinhar no castelo. Era um projeto que Liam tinha ajudado a ser aprovado.

— Alteza — ele deixou a caneca em cima da mesa — Algo que eu possa fazer por você?

A enfermeira reverenciou-o e afastou-se para deixar os dois sozinhos.

O doutor não curvou-se, ele tinha sido o responsável pelo seu nascimento.

— Gostaria de desse uma olhada na selecionada Janeth Mirren da Cinco — ele disse — Ela não parecia estar se sentindo bem.

Jano pegou a ficha médica da selecionada dentro de uma gaveta, dando uma rápida olhada.

— Ela não deve ter tomado as vitaminas — ele fez uma careta, como se já estivesse acostumado com selecionadas que não seguiam as recomendações dadas — Eu vou dar uma olhada nisso agora mesmo.

Viu-o fechar a ficha, deixá-la em cima da mesa e ir atrás da sua maleta para ir até o quarto da selecionada. Resolveu não atrapalhá-lo, voltando para o seu quarto. Os corredores pareciam diferentes durante a noite, sem a luz da manhã para iluminar o caminho, apenas a eletricidade das luminárias — que de tempos em tempos tinham que ter suas lâmpadas trocadas, mas eram melhores do que velas.

Certo, ele tinha sobrevivido ao primeiro dia sem grandes problemas.


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