For Evermore escrita por MelanieStryder


Capítulo 3
Capítulo 3 - Falling Dawn




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Despertei com o barulho dos pássaros tagarelando lá fora. Acordei devagar, estava muito mole, cansada por ter ido dormir tão tarde. Minha mente estava totalmente lerda, então eu ainda não tinha me dado conta de que dia era aquele. Eu me revirei no meio dos edredons e abri os olhos. Da minha grande parede de vidro, eu vi um divertido lobo cor de areia sentado perto do rio. Era Seth. “Lobo?” Pensei lerdamente. Lobo! Meu coração quase saiu pela boca e meio segundo depois, eu já estava em pé! Saí tropeçando nos edredons que eu mesma tinha acabado de jogar no chão e acabei levando um belo tombo.

_ Nessie, está tudo bem aí?

“Urgth! Rosalie não largava do meu pé!” Com certeza todos da casa estavam escutando as batidas descompassadas do meu coração. Que vergonha! Isso não era justo! Bom, pior seria se me paiu pudesse ler minha mente... Pensei enquanto tentava fechar a minha boca. Estava difícil tirar aquele sorriso dos lábios.

_ Nada não Rosie, está tudo bem! _ Me levantei e joguei as cobertas em cima da cama. Vai que eu caía e rachava a cabeça no chão justo hoje? Rolei os olhos e gargalhei para mim mesma. Eu estava impossível hoje!

Continuei minha corrida até o meu closet e parei em frente ao enorme espelho que Alice tinha me dado de presente. Como fazia religiosamente toda manhã dos últimos seis meses, observei com olhos de águia cada centímetro do meu rosto. Eu ansiava a cada dia por uma aparência mais adulta e feições de uma mulher, não de uma criança. Como meu crescimento estava desacelerando dia após dia, o máximo que eu consegui foi chegar da altura da minha mãe, mas meu rosto sim, tinha mudado bastante. Minha pele era quase tão branca quanto à dos meus pais, sem manchas, macia e brilhante. Eu devia ter uma pouco da carapuça de um vampiro, algo que pudesse atrair sua presa. Meus olhos eram castanhos, quase cor the whisky e na verdade, era a única coisa que se destacava no meu rosto pálido. Eu tinha muito do meu pai, é verdade... os mesmos olhos, os mesmos lábios, os mesmos cabelos cor de acobreados que passavam agora do meio das minhas costas, enrolados em grandes e pesados cachos, como os da minha mãe. Mas Charlie um dia me disse que meu rosto era idêntico ao da minha mãe e que o sorriso também era muito parecido. Suspirei. Só não era tão bonita quanto ela. Desejei poder ao menos ser tão graciosa quanto Alice, mas estava muito longe. Na verdade muito perto. Quem sabe depois da transformação eu me tornaria algo mais belo? Certamente Jacob não ficaria impressionado quando me visse, pois eu não havia me tornado lá grande coisa. Tirei a camiseta e fiquei só de calcinha em frente ao espelho. Pelo menos eu tinha seios. Olhei de lado, apalpei de outro... É, eu gostava bastante deles. Coloquei a camiseta de novo e uma calça velha de moletom Eu ia tomar um belo e demorado banho lá no banheiro da Alice, é claro. Onde mais eu poderia encontrar um estoque de produtos de beleza à minha disposição? E eu precisa de muita, de muita química mesmo se eu quisesse ao menos ficar “bonita” para ele.

Fui literalmente saltitando de felicidade rumo ao banheiro de Alice, mas antes que eu pudesse alcançar a maçaneta da porta do meu quarto, o chão veio até mim e eu senti a força dele em meus ossos. De repente eu não tinha mais ar, tudo girava embaçado e escuro na minha frente e meu coração batia tão rápido que eu sentia como se ele fosse rasgar o meu peito. Doía demais, de um jeito surreal e absurdo. Foi então que eu escutei batidas leves na minha porta e Carlisle me chamando. Eu tentei desesperadamente rastejar até a porta mas não tinha forças sequer para respirar e respondê-lo. Mas eu sabia que se eu conseguisse ao menos suspirar, tão baixo para qualquer ouvido humano, ainda sim, Carlisle ouviria. Puxei com todas as minhas forças um pouco de ar e soltei um gemido baixo. Era pra ser “socorro”, mas só saiu metade.

Deu certo. Segundos depois, Carlisle arrancou a porta e Esme gritou quando me viu no chão. Ele me levou imediatamente para minha cama e depois desapareceu. Quando voltou, enfiou uma agulha no meu braço e injetou uma substância. Eu confiava nele mais que tudo. Eu senti quando Esme segurou a minha mão enquanto eu ofegava, ainda buscando ar. Aos poucos o coração foi se acalmando e o ar entrando de volta nos meus pulmões. Esme passou um lenço de papel no meu rosto, que pingava suor, embora nem estivesse calor. Comecei a raciocinar novamente e um calafrio passou pelo meu corpo. Quem mais sabia sobre o que tinha acabado de acontecer? Quem?

_ Tem mais alguém em casa? _ Perguntei com dificuldade. O desespero devia estar em meus olhos.

_ Não, todos saíram pra caçar. _ Ele disse enquanto tirava o celular do bolso. _ Você deve querer ligar para seus pais...

_ Não! _ Eu gritei. _ Agarrei as mãos dele com todas as forças que ainda restavam em mim. _Carlisle, você tem que me prometer, você vai me prometer que não vai contar isso pra ninguém! E isso inclui meu pais, principalmente eles.

_ O que? Por que isso agora?

_ Por favor!! Pelo amor que você tem por mim!

_ Não me peça isso Renesmee, eu não posso... _ Ele disse sem olhar em meus olhos.

_ Esme, por favor! _ Eu me recorri à ela. Sabia que Carlisle não faria nada que ela não concordasse.  _ Carlisle, você sabe o que foi isso, não sabe? _ Joguei as cartas na mesa. Eu não tinha outra opção.

_ Eu não sei do que você está falando...

_ Está chegando a hora Carlisle. Eu vou morrer, você sabe! Isso é necessário para que eu me torne uma de vocês. É inevitável. _ Eu apertei forte os punhos dele.

_ O que? Nessie, o que você está falando? _ Esme parecia horrorizada.

Meu Deus... como é que eu ia explicar aquilo...

_ Eu tenho falado com Nahuel...

_ Nessie? Por que não nos contou? _ Ele questionou. _ Quem te disse isso? Quem te disse que você vai morrer? _ Carlisle parecia estar abalado com tudo aquilo que eu estava lhe contando.

_ Carlisle, eu sinto! Esses... esses ataques... Nahuel contou que isso aconteceu com a irmã mais nova dele.

_ Mas não aconteceu com ele... você é igual a ele, então deixe de bobagens querida... _ Esme acariciou meu rosto, mas eu tirei a mão dela. Sim, fui rude. Eles tinham que me ouvir, eles tinham que me entender antes que os outros chegassem.

_ Somos iguais? Iguais como ele é venenoso e eu não? Iguais como ele se alimenta de comida humana e eu não? Iguais como ele nunca se transformará em um vampiro e a irmã mais nova dele acabou de se transformar, há uma ano trás? _ Eu olhei no fundo dos olhos dela. Ela tinha que entender. Agora. _ Não somos iguais Esme. Carlisle... não somos iguais.

_ Calma Renesmee! _ Ele parecia estar confuso. _ Mas o que esses ataques têm a ver com isso?

_ Tudo isso aconteceu com a irmã dele. Os mesmos sintomas que foram piorando, piorando, até que um dia o coração dela parou. Três dias depois, ela era uma vampira.

Ele ficou em silêncio por alguns instantes. Olhou para Esme e depois pra mim. Isso era um bom sinal.

_ É a primeira vez que isso acontece? Digo... que você tem esses sintomas?

Eu balancei a cabeça negativamente. Era difícil admitir quando você está vivendo uma vida de farsas há algum tempo.

_ Renesmee! _ Esme estava incrédula. _ Por que você nunca nos contou? _ Ela parecia um tanto quanto indignada com relação à minha atitude.

Eu suspirei, sentido as lágrimas queimarem meu rosto.

_ Primeiro porque nunca foi tão ruim quanto hoje. _ Eu me arrumei na cama e acabei me sentando, com os pés fora dela. _ Segundo porque não há necessidade. Ninguém precisa sofrer por minha causa. Esme, se meu pai, especialmente se meu pai souber disso, me ver me contorcendo de dor, me ver sem conseguir respirar... Você pode imaginar o quanto ele vai sofrer justamente porque ele não pode fazer nada?

_ Mas...

Eu o interrompi.

_ Carlisle, o inevitável vai acontecer! Mais cedo ou mais tarde meu coração vai parar e eu vou me tornar igual à vocês. Foi assim que Nahuel disse, eu me lembro muito bem. Eu não quero que ninguém mais da família saiba que isso me causa dor, dor física. Eu não quero que ninguém se magoe por minha causa...

Eu olhei para Carlisle com os olhos embaçados pelas lágrimas.

_ Já chega tudo o que aconteceu com meus pais, já basta. Sem dor. Quando eu me juntar à família, vai estar tudo acabado, ninguém vai precisar saber de nada, nunca.

_ Mas Nessie... Você já é da família, eu... eu não compreendo. _ Esme me olhou com olhos tristes. Quisera eu poder lhe explicar, mas também causaria dor à ela saber o que se passava pela minha cabeça, saber de um dos meus segredos mais íntimos que eu tinha certeza que tinha conseguido esconder até do meu pai.

_ Está bem então. Ao menos por agora acho que eu posso concordar com isso. Mas se eu mudar de idéia, pelo bem de todos nós e isso inclui você Renesmee, eu te comunico sobre minha decisão.

Eu vi o olhar de Esme para Carlisle, reprovando totalmente o comportamento dele. Ela não disse nada na minha frente, embora eu tivesse certeza que eles conversariam depois.

Enfim, os dois saíram do meu quarto. Carlisle voltou em seguida com uma caixa de ferramentas e colocou a porta no lugar. Eu deitei novamente em minha cama e acabei cochilando por longos minutos. Quando acordei já estava bem melhor, tanto fisicamente quanto psicologicamente. Não dava pra ficar remoendo o que tinha ocorrido, então melhor seria não sofrer por antecipação.

_ Bom dia! _ Saudei-os enquanto descia as escadas. Era pra parecer alegre, mas soou triste. Olhei desconfiada para todos. Ou eles eram muito bons atores ou Carlslile e Esme não tinham mesmo contado à ninguém. _ Vou sair pra caçar. Alguém vem comigo?

_ Acabamos de voltar. _ Emmett estava refestelado no sofá. _ Comi demais. _ Ele disse passando a mão no estômago. Era incrível como Emmett conseguia ser tão engraçado. Ele era naturalmente palhaço.

Eu vesti minha jaqueta e então Esme e Carlisle caminharam até a porta. Claro que eu nunca tinha ido caçar sozinha. Se eu levasse um tapa de um urso ou uma chifrada de um veado eles podiam me rasgar no meio. Eu era forte sim, além do normal dos seres humanos, mas não era de ferro.

Assim que saíamos de casa começamos a correr e logo rastreamos um bando de veados. Eu e Carlisle ainda esperávamos por Esme. Estávamos sentados na grama, eu, ele e aquele silêncio arrebatador.

_ Desde quando começou Renesmee?

Eu respirei fundo. Não queria falar sobre isso. Não naquele dia. Era sempre assim comigo: se eu chorei um dia antes então não venha falar comigo no dia seguinte porque a ferida ainda estava aberta. Mas Carlisle não sabia de nada, ele não tinha culpa de tamanho atrevimento que estava cometendo.

_ Há mais ou menos um ano. _ Eu fiquei picando pecados de grama, pequenos galhos, tudo que via pela frente, ao invés de olhar pra ele.

_ E tem sido mais freqüente desde então?

_ Sim. E mais forte.

_ Como assim? Me explique por favor...

_ Bom... meu coração só disparava de vez em quanto, como se você levasse um susto, sabe?

Ele riu. Que pergunta cretina eu tinha feito.

_ Não, não sei.

Foi engraçado...

_ Você não lembra? É tão normal... então eu não pensei que fosse isso. Aí depois começou a dor, a falta de ar e a cada crise ele bate mais rápido. Depois de um tempo, comecei a sentir meu corpo queimar como se estivesse ardendo em brasas, você entende?

_ Sim. É assim mesmo.

_ Então é isso que se sente? _ Pela primeira vez olhei nos olhos dele, cheia de uma curiosidade mórbida. _ É isso que acontece durante a transformação?

Ele balançou a cabeça. Eu senti que ele queria achar as palavras certas para aquilo.

_ Todos nós... _ Eu via a hesitação nos olhos dele. _ É complicado... _ Ele finalmente olhou pra mim. _ Todos nós temos que morrer antes de nascermos pra eternidade. É assim que acontece.

_ Dói muito? _ Mais uma pergunta cretina. O que eu esperava que ele me respondesse? Bom, na verdade ele não respondeu. Acho que ele não queria me assustar mais do que eu já estava. Na verdade eu tinha outras perguntas em mente, como por exemplo, se ele já soube se em algum momento na história, um vampiro e um lobisomem viveram juntos, como homem e mulher. Eu devia estar corada só de pensar na pergunta e então achei melhor deixar essa pra mais tarde.

_ Vamos voltar? _ Finalmente Esme havia voltado para me salvar daquela conversa estranha com Carlisle.

_ Vamos, eu ainda tenho que me arrumar. _ Um arrepio passou pelas minhas costas.

Esme sorriu pra mim. Todo mundo sabia que era hoje o dia em que Jacob voltaria.

Corremos de volta até em casa e eu me tranquei no banheiro de Alice, que seria o meu refúgio pelas próximas duas horas. Eu quis ficar sozinha para ficar quieta, sem comentar sobre a chegada dele porque eu ficava ainda mais nervosa com todo aquele rebiliço. Então é claro, todos estavam fingindo muito bem que hoje não era um dia importante.

Me despi e entrei na água morna da hidromassagem. Usei os sais de lavanda que Alice tinha trazido da França, que deixavam na pele um aroma bem suave. Antes de sair, submergi por alguns segundo e enquanto estava lá embaixo, abri os olhos e fiquei olhando o teto dourado do banheiro se mexer. Segurei a respiração o máximo que pude, até começar a agonizar. Às vezes eu fazia isso, eu queria chegar perto, bem perto da morte para sentir ela, para saber como era, para ter uma pequena idéia de como seria quando chegasse a hora, quando ela viesse levar minha vida.

Quando dei por mim, já estava vendo tudo borrado. Me agarrei na borda da banheira e emergi velozmente enquanto sentia o ar gelado tomar conta dos meus pulmões e meu coração bater selvagemente. Eu ofegava por ar e aos poucos minha visão voltava ao normal. Eu quase tinha ido longe demais dessa vez, quase.

Saí da banheira, me enxuguei, vesti meu hobby atoalhado e abri uma fresta da porta do banheiro.

_ Alice! _ Gritei pelo corredor.

_ Sim! _ Em um segundo ela estava na minha frente. _ Hummm, meus sais franceses. _ Ela sorriu.

_ Eu peguei emprestado, tudo bem?

_ Ahh que pergunta! Agora vamos, me diga que você precisa dos meus serviços, porque eu não consegui ver nada sobre você hoje. _ Ela brincou. Alice parecia estar em êxtase por mim, pela minha ansiedade por causa do meu encontro com Jacob.

_ É porque eu estarei com um lobo hoje à noite. _ Eu sorri timidamente, deixando que ela entrasse no banheiro.

Alice bateu à porta e apertou suas mãos contra seu próprio peito, daquele jeito romântico que ela sempre fazia.

_ O que você tem em mente para hoje à noite? Combinaram de fazer algo especial?

Fiquei muda. Eu tinha passado o dia todo pensando nele, mas não tinha pensado nisso, sobre o que íamos fazer hoje à noite.

Eu pensei em várias coisas, umas até meio absurdas, mas que eu ia esconder da Alice, com certeza. Então comecei a pensar no que seria quando nos víssemos pela primeira vez, depois de tanto anos.

_ Eu... eu não sei ao certo Alice. _ Eu me sentei enquanto ela começou a mexer no meu cabelo. _ Acho que teremos muito o que conversar. Eu também pensei em abraçá-lo muito.

Nós duas rimos.

_ Que piégas né? _ Eu ri meio nervosa.

_ Náh! Isso tudo é muito romântico. _ Ela suspirou. _ E o que mais?

_ De repente... um beijo. _ Eu disse extremamente baixo, não sei como ela escutou.

Ela apenas sorriu.

_ Alice, você me acha ridícula por ficar pensando essas coisas? _ Eu não sei por que, mas eu confiava nela pra conversar sobre essas coisas, me sentia bem dividindo meus medos, minha angústias sentimentais com ela. Acho que era porque Alice era a que mais se parecia comigo daquela casa, com meu jeito de ser. A única diferença, era a experiência dela, não só de vida, mas também com garotos.

_ Claro que não Nessie! Que pergunta estranha...

_ Eu sei que é estúpido, mas... essa história do beijo, por exemplo. Eu sempre quis que o primeiro fosse com ele, você entende? Eu guardei isso pra ele. É, não foi muito fácil guardar, mas eu consegui. _ Eu ri no final porque me lembrei no ano passado em New Hampshire, quando eu saí com um garoto da escola, Thomas, e ele tentou me beijar quando estávamos no cinema. Talvez eu devesse ter beijado, só pra não ser assim tão inexperiente quando eu finalmente reencontrasse Jacob. Então eu guardei meu beijo pra ele e com isso, perdi todos os encontros, todos os jantares, todos os passeios que uma garota poderia ter feito com seu namorado, porque para mim, isso não tinha nenhum sentido se eu não fizesse com o Jacob.

Alice ligou o secador e começou a escovar meu cabelo.

_ Acho que de certa forma eu entendo. Eu não me lembro de nada da minha vida humana, mas acho que senti algo parecido com relação à Jasper. _ Ela sorriu largamente. _ Sim, definitivamente eu te entendo, e não acho que seja nada estúpido. _ Ela afirmou.

Depois de alguns minutos, com o cabelo perfeitamente escovado pela minha leal consultora de moda Alice (ela adorava quando eu a chamava de personnal stilyst), fomos para o meu closet escolher a roupa perfeita, para o dia perfeito. Ficamos com um jeans bem escuro que Alice tinha me dado de presente recentemente e que, como ela dizia, ficava impecável em mim. Vesti um suéter de gola alta cinza e um casado comprido preto. Nos pés, botas pretas sem salto, afinal, era uma longa corrida até onde tínhamos marcado o encontro.

Alice arrumou meus cabelos com os dedos.

_ Está perfeita! A maquiagem está realçando seus olhos, está linda como sempre Nessie!

Eu a abracei forte.

_ Obrigada Alice! Não sei o que seria de mim sem você.

Enquanto descia pelas escadas de mãos dadas com Alice, a porta da frente se abriu, revelando Seth.

_ Bem na hora! _ Eu disse.

_ Nossa! Será que ele merece mesmo tudo isso? _ Seth fitou-me de um jeito que ele nunca tinha feito e eu sorri com um pouco de vergonha.

_ Pai, vou sair com o Seth. _ Beijei Alice mais uma vez enlacei minha mão na enorme mão de Seth.

_ Diga ao Jacob que se ele não te trazer até a meia-noite, eu vou buscá-los pessoalmente. _ Ele disse num humor negro, mas tinha lá sua pontinha de verdade, afinal, era a primeira vez na vida que eu ia para um encontro com alguém que eu amava, um encontro com um lobisomem.

Eu fui até ele e o abracei forte e ele logo estava contagiado pela minha alegria. Ele entortou um pouco a boca e depois sorriu.

_ Tchau mãe. _ Dei um beijo no rosto dela e um abraço.

_ Diga à ele que também estou com saudades. Edward também está, não é mesmo amor?

_ É claro, eu tenho muitas saudades daquele fedor de cachorro em casa. _ Todos nós rimos. Claro que era brincadeira, pois meu pai sentia grande compaixão por Jacob, além de ser eternamente grato por tudo o que ele tinha feito por nós. _ Seth, cuide dela por favor.

_ Não esquenta Edward, ela vai estar bem.

Então nós dois saímos da minha casa com o sol ainda sobre nossas cabeças, nos embrenhamos na floresta e começamos a correr. O local combinado era montanha acima, num penhasco muito alto, com vista para o exuberante lago Crescente.

Quase uma hora depois, chegamos no local combinado. Eu sentei-me ofegante sobre a grande rocha, enquanto Seth ainda estava embrenhado na floresta, provavelmente se vestindo.

_ Então é aqui que vocês combinaram? _ Ele apareceu.

_ Sim. _ Eu me levantei e andei até a beira do penhasco. Dava pra ver quase toda a extensão do lago Crescente iluminado pelo sol, que estava prestes a se por. Sem sobra de dúvidas, a paisagem mais linda de Forks, perfeita para nosso reencontro.

_ E porque vocês escolheram aqui? Não dava para ser mais perto? _ Seth me abraçou pelo ombro.

_ Porque foi aqui que ele me disse que estava indo embora. Foi aqui que estivemos juntos pela última vez. Eu chorei feito a criança que eu era, então Jacob me prometeu essa data e que estaria aqui, hoje, antes do crepúsculo. _ Eu fechei meus olhos a abri os braços, sentindo o vento forte e frio entrar pelo meu casaco. Não os abri até que as lágrimas estivessem controladas dentro de mim. _ Eu amo esse lugar Seth... _ Disse debilmente.

_ Eu estou vendo, eu estou vendo. _ Ele disse em um tom brincalhão. _ Acho que vou fazer uma fogueira, daqui a pouco vai ficar muito frio.

Eu acordei do meu transe e vi Seth catando gravetos e pedaços de árvores secas.

_ Daqui a pouco ele chega, acho que não precisa.

_ É, pode ser... Mas não custa fazer. _ Ele olhou pra mim e gargalhou. _ Lembre-se do que Edward disse: “Seth, cuide dela”. Foi quase uma ameaça, sabe, então é melhor eu fazer fogo pra te manter aquecida.

Nós dois rimos e eu comecei a ajudá-lo com a fogueira.

_ E então, o que é que você faz aqui em Forks Seth?

_ Faz pouco tempo que comecei a trabalhar com seu avô...

_ Sério? Como? Você é policial? _ Não! Seth Clearwater como policial? Eu ri por dentro. Ele não tinha mesmo jeito para policial.

_ Claro que não! _ Ele riu alto. _ Eu só estou ajudando ele com a mudança para a nova sede da delegacia. Você não imagina o que tem no porão de uma delegacia... Acho que eu vou demorar uma semana pra catalogar tudo aquilo.

_ Ah bom! E depois, o que você pensa? _  Ele ficou quieto por alguns instantes. _ Certo. Sem planos então, é isso?

_ Não, na verdade não. Algumas vezes eu falei com o Jacob por telefone e ele me disse que está pensando em abrir um negócio aqui. Eu ainda não sei ao certo.

_ Que? Ele tem ligado para vocês? _ Meu sangue ferveu. Há muitos anos que Jacob não me ligava. Eram apenas cartas que foram ficando cada vez mais raras.

_ Calma, ele não tem ligado. Desculpe se me expressei mal. Uma vez ou outra ele ligou, mas já faz tempo.

_ Ahh. _ Eu não estava convencida. Jacob ia ter que se explicar muito bem essa história.

Finalmente conseguimos juntar uma grande quantidade de madeira. Seth demorou um pouco para conseguir fazer o fogo arder em meio às folhas úmidas, mas logo uma fumaça branca com cheiro forte começou a se erguer no céu. Então eu fui para beira do penhasco e fiquei olhando o sol, que já estava com sua metade submersa no lago Crescente. Eu apertei meu casaco contra o peito para me proteger do vento forte da montanha. Pela primeira vez senti medo de que ele não viesse e foi como um veneno sendo injetado em minhas veias. Minhas pernas fraquejaram, a boca ficou seca e eu senti minhas mãos mais geladas que o normal. Então dei um passo atrás e trombei em algo. Engoli seco e me virei.

_ Seth?! Que susto!

Ele me segurou pelos ombros.

_ Calma... O que é que há de errado Nessie?

_ Eu... eu não sei... _ Friccionei minhas mãos em meus próprios braços, um tanto quanto confusa. Como é que eu nunca tinha pensado nisso? E se ele não viesse? Estava me sentindo uma boba agora. Segurei firme os braços de Seth e busquei nos olhos dele algum sentimento de alento, de esperança. _ E se ele não vier Seth? E se ele tiver esquecido de mim, de nós? E se...

_ Shhh... Vai com calma Nessie. Se ele prometeu, ele vem. Eu conheço o Jacob, ele vem. _ Ele estava muito confiante. Dava para ver nos olhos dele.

Eu olhei para o lago novamente, e o sol estava lá, quase que completamente submerso. Já era o fim do crepúsculo e nada do Jacob. O combinado era claro, não tinha como gerar dúvidas: “Antes do crepúsculo”. Eu lembro até hoje d’ele dizendo isso, segurando meu rosto entre as mãos e depois me abraçando. Quando abri os olhos novamente, já não tinha mais sol e a escuridão avançava rapidamente pelo oeste.

Eu me escorei naquela rocha pra não cair. Não deu nem tempo de eu esconder meu rosto e então as lágrimas vieram e com elas um soluço incontrolável. Devagar eu me sentei no chão, quando na verdade eu queria era mesmo me jogar daquele penhasco e acabar logo com isso. Como é que eu tinha sido tão ingênua, tão estúpida? Como?

_ Nessie! _ Seth parecia apavorado e eu não tirava a razão dele, pois ele nunca tinha me visto assim. Na verdade, nem eu nunca tinha me visto assim, me sentido assim tão sem rumo.

Ele segurou minha mão e me fez olhar para ele, puxando suavemente o meu rosto.

_ Você está me assustando desse jeito Renesmee.

_ Você não entende Seth? Jacob é a minha vida? O que eu faço sem ele? Como eu vivo sem ele?

_ Mas calma Nessie! O sol acabou de se pôr! Vamos esperar mais um pouco, ele vai aparecer!

Seth me levou para o outro lado da rocha; para frente da fogueira, onde estava mais quente. Então sentou-se ao meu lado e me abraçou.

_ Nós vamos esperar e ele virá, eu tenho certeza. _ Ele dizia calmamente enquanto passava seus dedos entre meus cabelos perfeitamente escovados.

Como é que ele podia tem tanta certeza disso? Eu sentia na voz dele uma confiança tremenda e cada vez que ele me repetia que era para eu acreditar, confiar em Jacob, uma pontinha de esperança se acendia dentro de mim e realmente, logo eu voltei à mim, ao meu auto-controle de sempre e cheguei até a sorrir com nossos papos bobos sobre Forks.

_ E você tem amigos em Forks?

_ Hum, não posso dizer que sejam amigos-amigos, mas às vezes me encontro com uma galera da época da Bella e Edward.

_ Sério? Mas por que? Eles não são muito mais velhos que você?

_ Você está me chamando de bebê por acaso?

Eu ri. Seth era impagável.

_ Praticamente.

_ Nah, eles são só 4 ou 5 anos mais velhos. Não tem tanta diferença assim.

_ E quem são eles?

_ Você não conhece...

_ Vai, me diga nomes, quem sabe eu conheço. _ Insisti. _ Minha mãe tinha me falado de muita gente e se Seth me dissesse um desses nomes, com certeza eu reconheceria.

_ Mike Newton lhe é familiar?

_ Mike Newton? _ Eu pulei do colo dele, quase não acreditando que estávamos falando do mesmo boboca do Mike Newton da época da minha mãe. _ Meu pai odiava esse tal de Mike Newton!

Nós dois rimos.

_ É, eu sei.  

_ Mas e aí, me conta, conta tudo! _ Eu estava empolgada. Queria ouvir o que Seth tinha a dizer sobre ele. _ Quem mais daquela época é seu amigo?

Então ele olhou no relógio. Pronto, lá se ia minha alegria. Eu tinha lembrado porque estava ali naquele penhasco. Olhei para o céu e a Lua estava parcialmente encoberta pela fina neblina, quase sob nossas cabeças.

_ Que horas são? _ Perguntei embora as palavras tivessem ficado quase que engasgadas na minha garganta, lutando para ficarem presas, para não serem pronunciadas. Eu tive vontade de tapar os ouvidos, para não tem que encarar a realidade que doía feito uma lança atravessando meu peito cada vez que eu me via defronte dela.

_ Dez e vinte e sete.

Eu me encostei de volta na rocha para processar aquela informação.

_ Eu vou buscar mais lenha para fogueira e já volto.

Seth se levantou e desapareceu alguns metros à frente depois da fogueira. Enquanto isso, o medo veio me visitar de novo e dessa vez ele trouxe uma parceira: a dor. Ela me feriu rapidamente, me tirando qualquer resquício de esperança que eu tinha guardado, me fazendo ter a certeza absoluta de que ele não viria. Agora eu só não me sentia boba, mas também enganada, abandonada, um monstro.

Senti quando minha cabeça tocou o chão úmido e morno. Meu corpo parecia estar adormecido e eu sentia como se minha alta estivesse saindo fora dele. Eu não conseguia raciocinar e tudo o que eu via na minha frente eram flashes de tudo o que tinha acontecido na minha vida até então. Jacob estava fisicamente em pouquíssimos trechos dela, mas durante todos esses anos, eu fiz com que ele fizesse parte de absolutamente todas elas. Até no meu futuro ele estava: eu vampira, ele lobisomem. Ainda sim ele estava lá.

Me dei conta de que ele esteve sempre presente por uma ilusão que eu tinha criado e era somente eu quem enxergava assim. A dor da verdade era insuportável e eu não resisti.

_ Renesmee! Renesmee! Acorda! _ Abri meu olhos, mas não pude enxergar nada. Sentia meu corpo trêmulo sendo chacoalhado por algo e baixinho, ouvia a voz de alguém chamando meu nome.

_ Ele não vem...

_ Que? Fala alto Nessie. Abre os olhos por favor! Meu Deus, eu vou matar aquele Jacob!

_ Jake... _ Chorei. _ Eu fui tão estúpida!

_ Você está queimando em febre... Vem, vamos embora.

Senti como se flutuasse num espaço morno e aconchegante e foi assim por algum tempo, até que não vi mais nada.

...

_ Edward. Aqui...

Minhas mãos congelaram sobre as teclas do piano quando vi Seth parado na porta da sala, com Nessie desfalecida em seus braços.

_ Não. _ Travei, não consegui dizer mais nada.

_ Ela está bem, mas está queimando em febre. _ Tomei minha Nessie dos braços de Seth e a deitei no sofá. _ Carlisle! _ Ele não demorou a aparecer na sala.

_ Nessie?! _ Carlisle estremeceu quando a viu, então sumiu e quando voltou, estava acompanhado de Esme e trazia consigo sua maleta.

_ Parece que ela está queimando em febre Carlisle.

_ Mas quando começou? Ela reclamou de dores no peito, falta de ar?

_ Não, não disse nada. Eu saí por uns minutos para buscar lenha e quando voltei ela já estava assim.

A primeira coisa que Carlisle fez foi usar o estetoscópio para auscultar o coração e pulmão dela.

_ Parece que ela está bem, mas... eu não compreendo essa febre...

_ Onde está Jacob?

_ Edward, receio que este seja o problema... _ Eu não entendia onde Seth estava querendo chegar. _ Jacob não cumpriu o combinado. Ele não apareceu.

_ Aquele cachorro... _ Rosnei alto. Era bom mesmo que ele não estivesse ali, pois agora eu seria realmente capaz de matá-lo.

_ Ahh, então está explicado! _ Carlisle sorriu. Parecia aliviado.

_ Carlisle, eu ainda não compreendo... _ Não conseguia montar aquele quebra-cabeça. Não conseguia compreender a relação entre a febre de Renesmee com a ausência de Jacob.

Em um segundo Bella estava ao lado de Nessie, acariciando seu rosto.

_ Você nunca ouviu dizer sobre “a dor do amor”? _ Ela olhou pra mim sorrindo, mas era um sorriso repleto de tristeza. _ O que é que uma perda não faz com a gente Edward, um amor não correspondido, uma grande decepção?

Olhei profundamente nos olhos de minha Bella e enxerguei em Renesmee o que eu tinha feito com ela há nove anos atrás quando fui embora, decidido a manter-me longe dela, a acabar com minha vida. Então era esse o tipo de sofrimento que eu tinha infringido è ela? Eu me sentia pior que um monstro agora, me sentia impotente para fazer qualquer coisa por Nessie, por Bella.

Bella se levantou e me abraçou forte.

_ Me perdoe amor... me perdoe. _ Sussurrei em seu ouvido.

“Oh Edward, não fique remoendo isso agora. Passou...”. Ela deixou que, através de seu escudo, eu ouvisse seus pensamentos.

_ Por mais que você me perdoe Bella, eu nunca vou me perdoar. Eu, eu... Tive que ver Renesmee para compreender tudo o que lhe causei.

“Esqueça isso Edward. Nós estamos juntos agora. Você é minha vida agora, você se lembra quando me disse isso? Vamos cuidar de Renesmee, ela precisa de nosso apoio”.

_ Edward, Eu vou medicá-la... _ Carlisle espetou uma agulha no braço dela e injetou alguma coisa. _ É só um remédio para febre. Também vai fazê-la relaxar e dormir melhor.

_ Obrigado Carlisle, eu vou levá-la para o quarto agora. _ Tomei Renesmee nos braços, mas agradeci Seth antes de deixá-lo partir.

_ Obrigado Seth. Obrigado por não tê-la abandonado, por tê-la trazida de volta.

_ Edward, eu nunca a deixaria lá!

_ Desculpe. _ O que eu estava fazendo? Seth não era o Jacob e eu não podia julgá-lo dessa forma. _ Só estou chateado pelo que houve, não há nada de errado sobre você. Você é um bom amigo Seth. Obrigado pelo cuidado com minha filha.

_ Tudo bem... Bom, agora eu preciso ir pra casa. Amanhã eu volto pra ver como ela está.


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Notas finais do capítulo

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