For Evermore escrita por MelanieStryder


Capítulo 2
Capítulo 2 – The Ugly Truth


Notas iniciais do capítulo

Bom... Ainda sem nenhum comment do capítulo anterior... Mas resolvi postar mesmo assim.



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Na noite seguinte, fomos visitar meu avô Charlie. Eu tinha esse costume estranho de chamar todos pelo nome. É que eu cresci ouvindo isso, então para mim era muito bizarro chamar, por exemplo, o Jasper de tio. Claro que ele era meu tio, mas ele parecia meu irmão mais novo... Eu só não me sentia assim com relação ao meu pai e minha mãe. Eles tinham cara de pai e mãe, pelo menos para mim.

Tocamos a campainha e logo Charlie veio atender.

_ Bella! _ Ele se agarrou à minha mãe num abraço interminável e acabou chorando.

Sue apareceu lá no fundo e eu vi Seth na sombra dela.

_ Olá Sue. _ Ela me abraçou. Estava estupefata. _ Menina, você cresceu demais! _ Ela agarrou minhas mãos e me olhou diversas vazes, de cima a baixo, o que me deixou um pouco envergonhada. _ Menina não... uma mulher. Você está a cara da sua mãe! _ Confesso que fiquei sim muito incomodada com Sue. Não era aquela recepção que eu esperava, que eu estava acostumada.

_ Seth! _ Ele estava ENORME. Não era mais aquele menino de sempre. De repente senti aquele velho e conhecido arrepio me pegar pela espinha. E se Jacob estivesse assim? Extremamente mudado. Foi só um pensamento bobo, então o arrepio foi embora logo, porque no final das contas, não fazia diferença de como ele estava ou não. Eu ia gostar dele do mesmo jeito.

_ Nessie! Meu Deus, que loucura! Você não parece você! _ Ele riu alto. _ Você está... _ ele ficou me olhando de um jeito estranho. Parecia que tinha algo de errado comigo.

_ O que?? _ Era importante a opinião dele pra mim, porque Jacob era “irmão” dele. _ Fala Seth!

_ Nahh, deixa pra lá. _ Ele riu meio sem jeito.

_ Fala! Quero saber! Estou pior? Estou feia? _ Que agonia ver aquela cara de Seth! Uma expressão que eu nunca tinha visto antes.

_ Você está sexy Renesmee. Bem sexy.

Minha boca começou a doer. Não, ela ía rasgar agora de tanto que eu ria, certeza! Aí eu senti o sangue todo subir e ficar passeando por minhas bochechas.

_ Bobo! _ Eu disse meio tímida e fui abraçar meu avô. Ele me segurou pelos braços.

_ Se eu não conhecesse esse rostinho, eu não saberia que era você Nessie. _ Depois do abraço ele olhou para o meu pai e estendeu sua mão è ele. _ Edward. _ Meu pai retribuiu o aperto. Eu fiquei observando aquilo e absorvendo a tensão que existia entre os dois. Edward tinha salvado minha mãe, mas em troca disso, tinha tirado sua vida. Eu podia sentir no rosto de Charlie como era conviver com aquela contradição. Era visível a gratidão eterna e também todo o ódio que ele tinha do meu pai. Também era por isso que estávamos de volta à Forks. Era difícil ficar inventando meias-verdades para Charlie, então ele concordou com minha mãe que era hora de saber de toda a verdade, nua e crua. Todos concordavam que ele estava preparado pra isso e que também era preciso, pois logo eu me tornaria uma vampira e diferente como aconteceu com minha mãe, teríamos que nos mudar para um lugar remoto. Denali era a primeira opção. Certamente, lá eu não teria nenhum humano por perto para torturá-lo até a morte. Às vezes eu me imaginava bebendo o sangue de um humano. Eu já tinha experimentado aquele gosto quando era muito pequena e sabia o quão bom ele era. Aí era só juntar isso com a sede de um vampiro de verdade e o desespero e insanidade furiosa de um recém-nascido. Seria eu muito em breve. De forma nenhuma eu imaginava que a transformação aconteceria comigo assim como foi com minha mãe. A situação é muito diferente... Ela queria isso mais que a própria vida, ela esperou incansavelmente por isso e por esse motivo ela “nasceu” tão controlada, tão matura.

_ Pessoal, o jantar está servido! _ Sue chamou a todos para a cozinha. _ Bella, seu pai disse que você adora macarrão. Eu tentei convencê-lo, mas... Você sabe... _ Ela disse meio constrangida. Sue era mãe de dois lobos e definitivamente ela sabia muitas, muitas coisas sobre nós.

_ Tudo bem Sue, obrigada. _ Minha mãe disse igualmente meio sem jeito enquanto caminhávamos todos em direção à pequena cozinha. _ Sirvam-se vocês três. Nós somente faremos companhia.

_ Eu não quero nem imaginar o que vocês comem... _ Charlie grunhiu entre os dentes, enquanto olhava de rabo de olho para nós três, que estávamos apoiados ao balcão da cozinha.

_ Você vai saber pai, hoje, depois do jantar. _ Minha mãe disse.

_ Por que não vai falando Bella? _ Ele deu uma garfada no macarrão de Sue, depois resolveu despejar mais molho no prato. _ Hum, Sue, esse macarrão está espetacular!

_ Charlie, escute o que a Bella está dizendo. Não seria... prudente tocar nesse assunto agora. _ Ela olhou para nós três de pé em frente ao armário com olhos extremamente compreensivos. Definitivamente Sue tinha mudado muito sobre o que pensava sobre nós. Eu só esperava que Leah também tivesse amadurecido e não nos olhasse mais com olhos tão hostis.

_ Eu não me importaria! _ Seth sorriu atrás de seu prato de pedreiro. Eu retribuí e logo eram dois bobos gargalhando.

_ Também pudera! Esse garoto parece um cachorro! Como de tudo o que a gente dá pra ele!

Dessa vez a gargalhada foi geral. Não sei por que, mas Charlie estava bem engraçado naquele dia. Bom, pensando bem, acho que era pra aliviar o nervoso. Mas será que ele sabia sobre os lobos? Digo, sobre todos os lobos?

_ Vocês três vão virar estátuas se continuarem de pé aí. _ Charlie ofereceu uma cadeira e duas banquetas que estavam embaixo da mesa. Eu estava cansada mesmo e fiquei com a cadeira, ao lado de Seth. _ Bella, Edward. _ Ele insistiu.

_ Pai, eu poderia ficar de pé pelo resto da minha vida que não me incomodaria. _ Ela respirou fundo para começar as revelações. _ Depois do que aconteceu... não existe mais cansaço e você nem sequer precisa dormir.

_ Não precisa dormir? _ Ele questionou meio assombrado, meio curioso.

_ Não, nós nunca dormimos. _ Meu pai complementou.

_ Deve ser por isso que Carlisle agüentava tantos plantões... _ Charlie concluiu em voz alta.

_ Com certeza! _ Sue sorriu para ele.

_ Mas eu já vi Renesmee dormindo. _ Ele desafiou em meio a uma garfada no macarrão.

_ Renesmee é uma exceção pai... Mas sobre isso é melhor falarmos mais tarde.

_ É, eu sou o monstrinho da família. _ Eu disse meio amarga, enquanto brincava com uma folha de alface que eu tinha roubado da grande tigela de vidro.

Ninguém comentou e então eu percebi que tinha chateado a todos. Não tinha coragem de olhar nos olhos de ninguém daquela mesa, especialmente dos que estavam de pé, bem na minha frente. Enfiei aquela folha de alface na boca como se fosse uma punição por ter me portado daquela forma. O fino vegetal rodou dentre meus dentes e eu comecei a mastigá-lo.

_ Nossa, parece até que você está comendo um limão! _ Seth soltou. Graças a Deus, pois aquilo aliviou a tensão do ambiente.

_ Me lembra os veados, mas é ruim demais, meu Deus! _ Engoli aquele bolo com gosto de veado vegetariano doente e voltei à brincar com o resto do alface.

_ Me conte mais Bella. _ Charlie estava curioso.

_ Isso. _ Eu peguei uma colher e entortei-a facilmente entre os dedos da minha mãe esquerda.

_ Ah, isso é só uma questão de força... _ Ele não pareceu muito impressionado, então eu joguei a colher amassada para o meu pai e em milésimos de segundos ele fez dela apenas farelos de prata. Charlie engasgou quando viu aquilo e por alguns segundos, ficou quase tão branco feito a gente.

_ Bella, você...

_ Também pai. Exceto Renesmee. Ela também tem uma força sobre-humana, mas nem tanto.

Charlie olhou desconfiado para meu pai.

_ Vá em frente Charlie e pergunte. _ Meu pai tinha uma expressão meio triste. Charlie devia estar pensando horrores.

_ Bella, ele não... ele... _ Charlie não conseguia terminar a frase, mas todos nós entendemos.

_ Eu nunca a machucaria Charlie. Nunca. Bella e Renesmee são a razão da minha existência. _ Ele olhou pra mim cheio de ternura. _ Eu não sei quando você vai entender isso Charlie... de uma vez por todas.

Charlie ficou vermelho.

_ Como é que você sabe que era isso que eu ia perguntar? _ Ele disse perplexo.

_ É apenas um dom, de ler mentes. _ Ele ficou olhando pra Chalie por alguns instantes. _ Sim, podemos conversar sobre isso uma outra hora. Já é hora de você saber.

_ O que é? _ Minha mãe tirou as palavras de nossas bocas.

_ Charlie. _ Meu pai deu à ele a possibilidade de decidir se compartilharia ou não aquele pensamento conosco.

Ele bufou e jogou o guardanapo na mesa.

_ Eu ainda não consigo entender por que você e sua família foram embora naquele ano! Desculpe-me Edward, eu sei que você voltou e já se passaram muitos anos, mas é isso que sempre esteve entalado na minha garganta.

_ Pai! Eu não acredito! _ Minha mãe disse chateada. _ Não acredito que você ainda pensa nisso!

_ Bella, quando você não tem as respostas, as perguntas te perseguem feito demônios, dia e noite.

Nesse ponto meu avô tinha razão. É... Definitivamente, eu também tinha muitos demônios.

_ Charlie, eu vejo que temos muito o que conversar, só não acho que hoje seja uma boa hora pra isso. Mas eu estou sim disposto a te contar tudo, tudo o que lhe foi escondido.

_ Eu agradeço Edward.

Charlie voltou a comer e o jantar seguiu sem mais perguntas sobre nosso “segredo”. Quando todos terminaram, ajudamos Sue a arrumar a cozinha, enquanto os homens estavam vidrados na gigantesca TV de plasma que meu pai tinha dado para Charlie.

_ Leah está para voltar. _ Sue começou a puxar papo. Até que ela era legal. Aquele papo é que não era legal. Não que eu não gostasse de Leah, pelo contrário, nunca tive nada contra, mas o jeito que ela costumava se referir à minha família, me deixava um tanto quanto furiosa. Sim, eu sei que ela estava mudada, mas... ainda tinha um pé atrás com Sue.

_ Onde ela está? _ Perguntei, confesso que um pouco curiosa.

_ Estudando, em Londres. Vai voltar professora. _ Ela sorriu largamente. _ O diretor da escola da reserva já garantiu que quando ela voltar, terá uma vaga para lecionar.

_ Isso é ótimo Sue! _ Minha mãe sorriu enquanto secava o último prato.

_ E Jacob? Você tem notícia de Jacob? _ Eu perguntei. Tentei fingir que não estava nem aí. Se tipo, ela dissesse que ele estava ali na esquina eu diria “ahh ta...”. O problema é que depois que as palavras saíram da minha boca elas ficaram fazendo eco na minha cabeça e eu mesma achei que eu parecia um tanto quanto desesperada quando perguntei.

_ Billy vive dizendo que ele diz que vai voltar esse ano. Eu não lembro direito o lugar onde ele está... _ Ela tentou de todas as formas se lembrar, mas não conseguiu. Mas também, quem se importava onde é que Jacob estava? O que importava é que ele iria voltar e aquela notícia salvou minha noite.

Depois da cozinha limpa, fomos todos pra sala. Conversa vai, conversa vem e nós todos sempre rodeando o assunto principal,

_ Bom e o que mais vocês tem pra me contar? Até agora eu não achei nada tão horripilante, nada que eu não pudesse ter sabido há alguns anos atrás. _ Charlie parecia tranqüilo.

_ Pai... na verdade eu acho que você ainda não entendeu o que nós somos... _ Minha mãe disse devagar, escolhendo palavra por palavra, depois olhou pro meu pai. Ele apenas balançou a cabeça negativamente.

_ Ahh, eu já entendi, oras! Super força, não come, não dorme, não cansa. Deve ser uma espécie de mutação... _ Ele tentou. _ Já tentei conversar com Billy várias vezes a respeito disso, mas tudo o que ele me diz é que há algo de errado com todos vocês Cullen, algo que não é normal.

_ O que vocês acham de eu... _ Como eu ia explicar? Levantei-me e sentei ao lado de Charlie. Ele segurou a minha mão como de costume.

_ Minha neta. Nossa! Como é que pode crescer tanto assim? Edward, você teve notícias sobre seu irmão? O pai biológico de Renesmee.

Ele travou.

_ Não. _ Soltou abafado.

_ É tão estranho que ela seja assim tão parecida com vocês, principalmente com a minha Bella. Eu já ouvi dizer que alguns filhos adotados realmente se parecem muito com os pais adotivos. _ Charlie olhou para mim e sorriu. Adotada? Aquilo foi como uma pancada na cabeça. Nunca tive nada contra a adoção, mas... ele era meu avô! Ele precisava saber.

_ Não vai ter jeito. _ Eu olhei pra minha mãe. _ Por favor, me deixe fazer. _ Implorei.

_Tudo bem... _ Ela concordou. _ Só não mostre a ele aquilo que pode fazê-lo sofrer, vocês sabe. _ Sim, eu sabia. Eu teria que me esforçar para não mostrar à Charlie a imagem que eu tinha da minha mãe no dia do meu nascimento. Ele sofreria, ela tinha razão e, além disso, talvez isso fizesse com que ele tivesse ainda mais ódio do meu pai. Mas talvez, se ele a visse naquele estado e conseguisse compreender com toda a clareza o que meu pai tinha feito por ela... Eu tinha esperanças que ele conseguiria compreender.

_ Pai, assim como todos nós, Renesmee também tem um dom. Ela pode faze-lo ver tudo o que ela viu e assim talvez você consiga entender melhor o que nós somos, como vivemos, tudo o que aconteceu desde o nascimento de Renesmee.

_ Hum, me parece interessante. Mas Renesmee não chegou para vocês quando tinha três meses? _ Ele questionou.

_ Não pai... Essa é uma das respostas que você terá hoje. Mas isso eu quero que você saiba por mim... _ Ela segurou firme a mão do meu pai. _ Quero que você saiba por nós que Renesmee é nossa filha biológica.

_ Que?? Mas... eu não compreendo! _ Ele parecia atordoado com a notícia.

_ Deixe ela te mostrar Charlie. _ Meu pai tentou tranqüilizá-lo, mas Charlie estava bem perdido.

_ Ok Charlie. Eu vou tocar seu rosto agora. _ Eu dizia enquanto levantava a manga da jaqueta. _ Vou fazer isso e você vai começar a ver, a entender tudo. Não fique com medo, é só uma visão do que já aconteceu.

Ele sorriu meio abobalhado e colocou minhas mãos no rosto dele. Acho que ele não estava acreditando muito. Porém, antes que eu começasse, Sue apertou forte meu braço. Ela olhou fundo em meus olhos. Lá estava a velha e conhecida Sue.

_ Deixa ela mãe. _ Seth puxou o braço de Sue de volta. _ Eu sei o que ela vai fazer. Ela não vai machucá-lo, eu prometo. _ Eu sorri de volta para Seth. Definitivamente ele tinha o dom de trazer paz e tranqüilidade onde quer que estivesse. Esse era o Seth.

Eu comecei devagar, mostrando a ele quando ainda estava no útero de minha mãe. Transmiti a ele exatamente tudo o que eu sentia enquanto estava ali: alegria, felicidade, amor... Todo o amor que eu sentia pelos meus criadores. Deixei também claro que havia um sentimento incomum: uma sede, uma fome por algo que eu nem sabia ao certo o que era e que eu precisava, incontrolavelmente. Até certo ponto, eu tinha “aquela coisa” que aplacava a minha sede, a minha fome e eu me sentia plena, revigorada, literalmente crescendo no ventre da minha mãe.

_ Inacreditável... _ Charlie esboçava um sorriso incrédulo enquanto balbuciava aquela palavra, de novo, de novo e de novo.

Mostrei à Charlie até mesmo pequenas conversas que eu ouvia da barriga da minha, conversas entre meus familiares, mas principalmente, o que meu pai e minha mãe falavam. Essas conversas eram, na maioria das vezes, a preocupação que meu pai tinha com a minha mãe grávida e a culpa que ele carregava por tudo o que estava acontecendo à ela, e é claro, sem contar o desejo que ela tinha de “entrar” para a família Cullen.

Mostrei à Charlie as circunstâncias em que eu havia nascido. Todas. Não escondi nenhuma imagem, não escondi nenhum pouco o sofrimento do meu pai e a “morte” da minha mãe. Depois, mostrei à Charlie a imagem mais linda que eu tinha da minha mãe, quando ela me segurou pela primeira vez e eu olhei para os olhos vermelhos dela. Mesmo assim ela era fabulosa e, novamente, todo o amor e gratidão que eu sentia por ela estavam lá para Charlie ver e sentir.

Charlie viu a si próprio quando ele foi me visitar pela primeira vez e como eu ansiava pela sua volta a cada dia. “Mãe, cadê o vovô?”. Charlie riu e limpou as lágrimas dos olhos.

Agora vinha a pior parte... Achei melhor que ele visse à mim caçando do que a filha dele. Bella e meu pai, eu só mostrei de longe. Nas minhas lembranças também estavam Seth e Jacob, ora humanos, ora lobos.

_ Seth Clearwater! Lobo! _ Charlie abriu os olhos e fitou-o. _ Eu nunca suspeitei!

_ Calma Charlie, ainda tem mais. _ Eu disse, colocando a palma de minhas mãos sobre seus olhos, de modo a fechá-los.

Então, o medo tomou conta das lembranças que eu estava entregando à Charlie. Os Volturi. Eu expliquei a ele rapidamente que eu era diferente e que eles me queriam por conta disso. Mostrei a morte de Irina, os olhos de minha mãe aterrorizados, a família toda na clareira cercada pelos amigos gentis que vieram tentar nos ajudar. E Jacob do meu lado... e todo meu amor por ele. Quando tudo estava prestes a acabar, mostrei Alice e Jasper, que chegaram com outra criatura igual a mim e como aquela quebra-cabeça, tinha sido solucionado e ganho por nós.

Devagar, fui tirando minhas mãos do rosto dele, mas ele permaneceu com os olhos fechados. Parecia até que ainda estava “desligando a TV” que ele tinha acabado de assistir.

_ Vampiros? _ Charlie finalmente abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi minha mãe. _ Então é isso o que vocês são? É isso o que você é agora Bella? _ Ela apenas balançou a cabeça positivamente, fugindo do olhar de Charlie. Ele respirou fundo... Era um lamento. _ É como se eu soubesse disso desde o começo, mas estivesse sempre fugindo da verdade. _ Ele disse triste, depois olhou pra mim.

_ Pai... _ Minha mãe sentou-se ao lado dele e segurou sua mão.

_ Gelada, fria. _ Ele colocou a mão no peito de minha mãe, checando o que ele já devia imaginar. _ Sem coração, morta...

_ Charlie! _ Sue o repreendeu.

_ Não fale assim com Bella, por favor. _ Meu pai pediu. _ Os sentimentos dela, os nossos sentimentos, ainda são os mesmos. É só um corpo novo, uma nova condição de vida, um ser imortal.

Charlie se levantou devagar e deixou a mão da minha mãe cair de volta no colo dela.

_ Desculpe, eu... não foi isso o que eu quis dizer. _ Ele passou a mão na testa vermelha. _ Acho que foi demais para mim por hoje, eu vou subir. Eu esperava outras coisas... Não sei... Vampiros? _ Ele balbuciou de modo que quase não pudemos ouvir. _ Boa noite.

Eu fiquei passada. Realmente pensei que ele estivesse preparado.

Ele subiu poucos degraus até que minha mãe se levantou e chamou-o. A voz dela saiu estranha, como se estivesse prestes a chorar. Ela moveu-se rapidamente até o pé da escada e entregou-lhe um envelope.

_ Isso é seu. Renesmee devia ter lhe mostrado, mas não foi preciso. Vai te ajudar a compreender e... a aceitar.

Ele olhou pra mim, como se não me conhecesse mais, depois de volta para o envelope e então para minha mãe. Ficou mudo, deu meia volta e voltou a subir o restante dos degraus em direção ao seu quarto.

Dentro daquele envelope estava uma das cartas que minha mãe escreveu à sete anos atrás, antes da chegada dos Volturi, que vieram para dizimar nossa família. Eu nunca a tinha lido; apenas minha própria carta; mas já imaginava seu conteúdo.

...

Estava com a cabeça cheia e já tinha mandado Sue e Seth embora, sem ao menos vê-los. Não queria ver ninguém, nem se fosse a minha filha estranha, que agora sequer me lembrava minha Bells.

Pela quarta vez naquela noite desci as escadas em busca de água gelada pra ver se conseguia aplacar aquela dor de cabeça infernal. Subi de volta e vi novamente o envelope lacrado sobre o criado-mudo. Sentei na borda da cama e apaguei a luz, ficando apenas na penumbra, tudo sem tirar os olhos do maldito envelope. O que Bella tinha escrito lá? Porque era tão importante que eu lesse algo que ela tinha escrito a tanto tempo e que nem deveria mais fazer sentido?

Peguei o envelope e arranquei com força a carta de dentro dele. Ir ler agora. Ia acabar agora com isso.

Pai,

Me dê a chance de hoje, somente hoje, explicar-lhe algo que você nunca entendeu: eu o amo Charlie. Eu amei Edward Cullen desde o primeiro dia em que o vi. Eu amei como ele arquitetou a minha morte dentro da sala de aula de Biologia, mas não conseguiu concluir seu plano. Eu amei quando ele literalmente quase acabou com meu sangue, quase me matou por instinto, mas não conseguiu porque me queria e me queria viva, para não me tirar de minha vida humana; para não me tirar de você. Eu amei quando ele confiou em mim, me contanto seu mais terrível segredo e que me fez quase morta de medo, para depois me confessar que eu era a vida dele e que nada mais importava, senão minha própria vida.

Edward renunciou ao que ele é para viver comigo como eu sou; como eu fui... Pai, ele tem caráter, ele admite seus erros, ele é bom, ele é incrivelmente altruísta, ele se preocupa com nossa família (isso incluir você, Reneè, Jacob e a tribo Quileute), ele me ama para toda a eternidade e ele é um vampiro. Sim, vampiro! Mas não se assuste pai. Lembre-se de que se hoje eu estou vida, é porque ele me salvou da morte.

Eu sempre quis loucamente ser como ele, embora Edward nunca fosse a favor dessa idéia. Edward me disse centenas de vezes que se ele tivesse apenas uma chance para se tornar humano novamente, ele o faria, então porque eu não faria o mesmo por ele? Fazer essa escolha não foi fácil, porque não tem volta, é para todo o sempre, mas de certa forma eu tinha tanta certeza que daria certo, que não precisaríamos ir embora daqui depois da minha transformação... E eu desejei tanto, pai, mas tanto, que foi o que aconteceu. Sem despedidas, sem lágrimas, sem perdas.

Eu amo o que eu sou hoje pai, então por favor, entenda e não culpe Edward por isso, pois ele só fez coisas boas por mim. Fizemos também muito juntos, mas a melhor e mais perfeita coisa que fizemos, foi Renesmee, nossa filha, nosso sangue. Não vou entrar em detalhes agora, pois Jacob poderá lhe explicar mais tarde. Mas só digo que “Ela é como nada nesse mundo!”. Edward adorava repetir isso para mim e eu adorava ver aquele brilho em seus olhos quando ele dizia. Ela é especial, é extraordinária, é a nossa Nessie.

É por ela que estou lhe escrevendo. Então, se você estiver lendo essa carta, é porque eu já não existo mais nesse mundo. Nem Edward, nem os Cullen, nem nossos queridos amigos que vieram de tão longe testemunhar ao nosso favor contra os Volturi; que estiveram aqui para nos matar, para acabar com a vida da nossa Renesmee. Eles a queriam pai, pois ela é quase única neste mundo: metade vampira, metade humana e com um talento fantástico, que um dia você provará.

No dia da batalha, confiei nossa preciosa Renesmee à única pessoa neste mundo que poderia cuidar dela, como ela precisava ser cuidada: meu irmão, meu amigo, meu porto seguro - Jacob. Ainda imagino Renesmee agarrada nas costas de um lobo, cruzando as fronteiras desse país, pra onde quer que fosse necessário, para que ela pudesse ser mantida viva.

Pai, agora que Renesmee e Jacob estão de volta, cuide dela, pelo amor que você tem por mim, pela minha memória, por ela. Ela não requer cuidado especial, somente seu amor pra substituir o meu. Diga à ela que eu a amo e para que ela não tenha medo do futuro, do que um dia ela será. Diga a ela que Deus não esqueceu de nós.

E pai, se eu nunca disse que te amo, perdoe a minha falta de jeito, mas eu sempre te amei. Sempre.

Eternamente, sua Bella.


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