_ Finalmente, hein! Ôooh mocinha difícil de encontrar! _ Ângela entrou no meu quarto e veio em minha direção. Eu deixei a caixa em cima da cama e fui até ela. _ Parabéns Ness! _ Ela me abraçou e eu praticamente soltei meu peso sobre ela, aliviada por ela estar ali comigo. Ainda bem que Ângela tinha aparecido, pois eu não queria que meu dia terminasse com Jacob pedindo desculpas dentro da minha cabeça.

_ Obrigada Angie.

Ela me entregou uma pequena caixa colorida.

_ Bella me disse que você passou o dia com o Jacob. Me conta! Conta tudo! _ Ela sentou-se em minha cama. Estava empolgada para que eu lhe contasse sobre o sonho que havia vivido, mas que tinha se transformado em pesadelo no final.

Eu não tinha vontade nenhum da falar sobre aquele assunto. Pensar me fazia perder a cabeça, me fazia ficar doente lembrar do que tínhamos feito. Por outro lado, eu sabia que se falasse com alguém, que se contasse para Ângela, aquele peso dentro de mim ía ser aliviado, eu ía me sentir um pouco melhor.

Desfiz o laço de cetim e abri a caixa.

_ Você tinha razão o tempo todo Ângela. _ Comecei.

_ Como assim? Sobre o que?

_ Sobre Jacob estar me enrolando. Essa coisa de que homem é tudo igual. Eu fui uma tola!

Tirei de dentro um porta-retratos com uma foto de nós duas abraçadas, sorrindo.

_ Angie! Que lindo!

Sorri pela primeira vez desde que Jacob tinha me deixado na porta de casa. Ângela era mesmo sansacional. Ter aquele presente lindo em minhas mãos, somando às lembranças que eu tinha daquela tarde na cabeça, começou a me dar um nó na garganta, uma vontade louca de jogar a tolha, de me deitar naquela cama e chorar até não agüentar mais.

_ Você gostou mesmo? É tão simples... Mas eu achei que você já tinha tudo que podia querer... _ Percebi que ela havia ficado meio sem graça ao dizer aquilo. Empurrei aquele bolo de volta para dentro de mim e tentei um sorriso. Ângela merecia.

_ Tudo... De onde você tirou isso Angie? _ Abracei-a apertado. Eu a adorava, de todo o meu coração. _ Eu nunca tive uma foto com uma amiga pra eu colocar assim do lado da minha cama. _ Coloquei o porta-retrato no criado-mudo e observeio-o de longe. Tão felizes aquelas duas gartoas... _Você não podia ter me dados coisa melhor.

Voltei a me sentar na cama e dessa vez cruzei as pernas.

_ É que você não parece muito feliz... Devia estar feliz, hoje é seu aniversário. _ Ela me encarou esperando que eu contasse. Olhei para o lado e percebi que a porta do quarto estava aberta.

Levantei-me e fui fechar a porta. Seria difícil converar em particular dentro de uma casa cheia de vampiros com a audição agussadíssima, mas talvez com a porta fechada, Nessie se sentisse mais confortável.

Quando voltei para a cama, ela tinha uma das mãos sobre o rosto.

_ Ness, você está chorando?!

Eu tentei segurar a outra mão dela, mas parece que isso só a fez ter ainda mais vontade de chorar.

_ Eu estou com tanta vergonha Angie, mas com tanta vergonha...

Ela soluçou.

_ Meu Deus, você está me assustando! O que aconteceu de tão ruim? O que você e o Jacob fizeram?

Não... não podia ser! Será que Ness e Jacob tinham feito algo de que tivessem se arrependido depois? Eu jurei para mim mesma que se Jacob tivesse feito algo infantil e irresponsável junto com Renesmee, eu ía agora mesmo ligar para Seth e ordenar que ele desse um jeito naquele cachorro.

_ Renesmee, vocês... Vocês transaram? _ Senti uma espécie de desconforto em ter que perguntar aquilo. Era muito particular, eu sabia, mas... Eu tinha que saber para poder ajudá-la.

_ Não, não chegou a esse ponto, mas...

_ Mas???

_ Houve um momento em que eu me senti fora do meu controle. _ Ela me olhou apavorada. _ Fora do controle de mim mesma, das minhas ações, dos meus pensamentos. Você já se sentiu assim Ângela?

_ Já, mas...

_ E eu acho que ele também estava assim... Dava pra ver em seus olhos.

_ Espera aí. Se vocês não transaram, ao menos se beijaram. Beijaram?

_ Beijamos. Não, espera... Não sei! _ Seus olhos me fitavam com desespero. _ Eu não sei Angie!

_ Ness! Como é que você não sabe? _ Eu estava pasma. Não era possível!

_ Eu não sei dizer! Eu estava tão... Tão entorpecida pelo cheiro dele, a pele dele na minha, seus olhos... Eu não sei ao certo o que foi real e o que foi coisa da minha cabeça.

_ Gente... _ Fiquei tentando imaginar os dois daquele jeito que ela estava me falando. Jacob, Jacob...

Ela me olhou.

_ Para você ter uma idéia, de uma hora para outra estávamos rindo de coisas tolas e segundos depois rolando agarrados um ao outro no convés do iate.

_ Renesmee, eu não acredito que ele fez isso! _ O sangue ferveu na minha cabeça. Agora eu podia finalmente entender o que Renesmee estava sentindo.

_ Ele? Eu não acredito que EU fiz isso, que eu me sujeitei a isso! Ele... Ele é praticamente casado! É por isso que eu digo, eu fui uma tola Ângela, uma tola!

Ela abriu a caixa que estava sobre a cama e pegou alguns álbuns de fotos. Parecia nervosa, pois folheava cada um deles com rapidez. Eu podia imaginar o que ela queria encontrar...

Assim que se deparou com o objeto de sua raiva, picotou uma foto antiga que ela havia tirado com Jacob e voltou à sua caçada atrás de mais fotos.

_ Hey, pára com isso! _ Eu puxei a caixa para longe dela.

_ Eu quero apagar, dessa vez eu vou apagar! Eu vou arrancar todo e qualquer vestígio que tenha dele aqui na minha casa, vou jogar fora tudo o que ele me deu e...

_ Ness, não vai adiantar!

Ela começou a chorar novamente. Devia ser pelas coisas que eu estava dizendo. Eu sei que eu estava sendo dura, mas era a verdade e ela precisava disso.

_ Você pode acabar com tudo, mas ele vai continuar na sua cabeça. Você pode fugir pra longe, não importa o quão longe seja e ele ainda estará lá.

_ Mas o que eu faço então? _ Ela fitou-me ainda mais desesperada.

_ Se é mesmo isso o que você quer, comece tirando ele de dentro de você. Essa coisa de vocês saírem juntos a todo o momento, encontros na madrugada... Isso não é e nem nunca foi programa de amigos Renesmee. Olha, não me entenda mal, mas poderia dar certo com qualquer outro cara; esse é um tipo de amizade que poderia dar certo com Seth; por exemplo. Aliás, sempre deu certo, você sabe. Mas com Jacob... Ele mexe com você Ness... E quando um cara mexe com a gente não tem jeito.

_ Você está querendo dizer que eu devo cortar o mal pela raiz? _ Ela fungou.

_ Eu não quero te influenciar...

_ Mas é isso, não é?

_ É isso que eu faria.

Percebi que ela suspirou e olhou para a paisagem fora da janela, para dentro da mata fechada.

_ Eu entendo... Então é assim que vai ser. Cortar o mal pela raiz...

Eu sorri quando ela me olhou.

_ Ness... Não fica assim...

_ Não, você está certa Ângela. Acabar com isso, é isso o que eu vou fazer. Mas eu só tenho medo de uma coisa...

_ O que?

_ De não conseguir.

_ Oras Nessie! Você é forte! E outra... Você está prestes a se tornar uma vampira, não é mesmo? _ Renesmee balançou a cabeça positivamente. Eu segurei as mãos dela firme, pois sabia que o que eu diria agora seria duro, forte demais, mas talvez Renesmee precisasse ouvir mesmo isso. _ Ness, você já parou pra pensar que mais cedo ou mais tarde, uma hora ou outra você vai ter que esquecer o Jacob? E se você deixar pra depois, eu creio que vai ser pior. Se tem que ser, que seja então por bem, não por mal.

_ Hã? Não entendi...

_ Está bem... Deixa-me tentar explicar. Você já parou pra pensar que você logo vai se tornar uma vampira e com isso vai passar a ser imortal?

_ Sim, já pensei...

_ Ok. E você já pensou também que Jacob, apesar de tudo, é humano? Ele não vai viver para sempre... _ Custou dizer a última frase.

Eu nunca tinha visto Renesmee assim tão pálida quanto agora. Os olhos dela enxeram-se de lágrimas e eu podia com certeza sentir o que ela estava sentindo agora. Aliás, quem quer que tivesse alguém para amar poderia sentir isso.

_ Ness, desculpa! Eu não queria te magoar ou parecer rude, desculpe! _ Aproximei-me dela e a abracei.

_ Agora eu entendi o que você quer dizer... _ Ela disse com a voz embargada. _ Você quer dizer que se eu deixar pra acabar com isso depois, vai ser pior, não é mesmo?

_ Exatamente.

_ Eu confesso pra você que eu nunca havia pensando nisso. Bem, na verdade eu comecei a pensar algumas vezes, mas nunca tive coragem para concluir o raciocínio, ou quando esse assunto vinha na minha cabeça eu sempre arrumava outra coisa para fazer, pra não pensar nisso.

_ Eu entendo você Renesmee. Perfeitamente...

_ Mas apesar de tudo você tem razão. Eu não posso passar uma eternidade lamentando o fato de que um dia eu amei um homem que nunca me amou da mesma forma. Jacob já escolheu seu caminho, já escolheu Leah. Eu tenho é que me conformar com isso de uma vez por todas.

Então ela me olhou, já bem mais controlada.

_ E eu vou fazer Ângela, eu vou. A partir de hoje, vai ser como se Jacob tivesse morrido pra mim.

...

Nos dias que se seguiram, Jacob tentou de todas as formas entrar em contato comigo. Chegou até a vir em casa, mas eu proibi qualquer um a permitir que ele subisse até o meu quarto. Dessa vez eu ía, de uma vez por todas, arrancar ele de mim. Ía ser meio que um tratamento de choque, como devia ter sido há muito tempo atrás... O importante é que desta vez eu estava bem mais confiante e como dizem por aí, agora eu estava “vacinada”. Eu havia provado dos joguinhos de manipulação de Jacob, agora eu conhecia seus truques e não ía deixar que ele me enganasse. Nunca mais.

Eu tinha acabado de voltar de uma caçada com Rosalie e Emmett e minhas roupas estavam sujas e cheias de pelos de veados. Sem contar naquele cheiro horroroso de animal vegetariano...

Como tinha marcado de sair à tarde com Rian e Mike, resolvi tomar um dos meus banhos demorados e por isso, usei o banheiro de Alice. Enchi a banheira e deixei o celular; programado para ficar no modo silencioso; sobre o balcão de mármore. Fiquei dentro d’água por um longo período. Dessa vez eu não estava preocupada eu tentar descobrir qual era a sesação de estar morrendo, pois essa eu já tinha provado algumas vezes, mas sim, em como eu ía enfrentar Jacob quando estivesse cara-a-cara com ele. Sim, pois isso era inevitável; ele ía dar um jeito de nos encontrarmos mais cedo ou mais tarde. Eu não sabia ao certo como seria, mas eu ía fazer, para o meu bem.

Quando saí da banheira, chequei o celular. Treze chamadas não atendidas. Não preciso nem dizer de quem eram...

...

De banho tomado e vestida, agora era esperar a hora em que eu havia combinado de buscar Mike e Rian. Seria meu último encontro com Rian, pois ele estava indo embora no dia seguinte. Eu estava chateada sim, mas também o mundo não ía acabar por causa disso. Nós nunca escondemos um do outro sobre nossas expectativas, então não seria assim tão difícil me separar dele.

Saí na varanda para me certificar que o tempo estava mesmo ruim, que estava mesmo um frio congelante, pois, afinal de contas, nós íamos patinar. Antes que eu pudesse voltar para a sala, Jacob saiu de dentro da densa floresta.

“Droga!”. Pensei. Eu ainda não estava pronta, 100% segura do que eu deveria fazer em relação a ele, de como tratá-lo. Definitivamente eu precisava de mais tempo. Eu queria ter podido planejar todas as respostas, de forma a aniquilá-lo.

À medida que ele se aproximava eu me lembrava do que tinha acontecido no iate e minha raiva aumentava proporcinalmente ao quanto aquelas lembranças me tiravam do sério. Ele tinha me usado!  Pior que isso, eu tinha me rendido a ele. “Jacob, você nunca podia ter feito isso”.

Antes que Jacob chegasse na varanda, eu dei as costas para ele e desci pelo outro lada da escada, indo em direção às garagens. Dava para sentir que ele estava andando atrás de mim, pisando fundo, bufando. Eu sabia que aquilo, que aquele meu comportamento de ignorá-lo iria irritá-lo profundamente e, quanto mais certeza eu tinha disso, mais eu queria fazer, só para ver a cara dele; a sua reação. Ía ser impagável.

Abri a porta externa da garagem e fui até o armário onde eu imaginava que eles estivessem guardados. Peguei o pesado par de patins para gelo e joguei nas costas. Jacob olhou para mim com os olhos arregalados.

_ Onde você vai? _ Não houve sequer um “oi, tudo bem”. Eu não sei o que se passava na cabeça daquele cara. Essa era mais uma das várias coisas que eu não entendia nele e que por sinal, me tiravam dó sério. Mas não, dessa vez eu não perderia o controle. Eu ía massacrá-lo, sem ter que mexer um fio de cabelo meu.

_ Patinar com o Mike e o Rian. _ Eu sorri vitoriosa enquanto ele tentava controlar a tremedeira que havia tomado conta de seu corpo. _ Tenha calma Jacob, lobos não estão convidados. _ Falei de propósito e agora ele estava realmente prestes a se transformar.

_ Mas já é tarde! Você tem que patinar de manhã e não no fim da tarde! _ Sua voz estava alterada.

Eu rodei a chave do jipe de Emmett na minha mão enquanto caminhava até o utilitário, com Jacob na minha sombra.

_ E daí se anoitecer? Eu não tenho medo da noite, nem da floresta. Eu sei me cuidar Jacob. Agora você já pode ir embora.

_ Eu não estou falando nem da noite, nem da floresta. _ Ele usou um tom irônico. _ Renesmee, estou falando de Mike e Rian e você, de noite, sozinhos na floresta.

Rolei os olhos. Já que era assim, eu ía responder na mesma moeda, no mesmo tom.

_ Ai que medo! O que você acha que eles poderiam fazer de mal pra mim? Acho que é o contrário, o perigo na verdade sou eu. Pobre Mike, podre Rian...

Entrei no jipe e ele segurou a porta, me impedindo de fechá-la.

_ Eu quero conversar com você, sobre o que houve no iate.

_ Você não está pensando em me explicar o que houve, não é mesmo Jacob? Não se esquece que eu tenho 18 anos e sei muito bem o que houve.

Ele pareceu desconcertado.

_ Desculpe...

_ Ai Jacob! _ Balancei a cabeça negativamente e usei do mesmo tom irônico que ele tinha acabado de usar comigo. _ Você já disse isso umas vinte vezes... Você já não cansou de me pedir desculpas?

_ Ness!_ Ele fitou-me com os olhos arregalados. _ Pensei que nós éramos amigos...

_ Ah, desculpe! Esqueci de te avisar. Não somos mais. Bom, você deve ter percebido pela nossa conversa.

_ Mas... Mas você disse que queria; que precisava da minha ajuda... _ Ele gaguejou.

_ Não, não preciso mais. Sua ajuda de nada adiantou. Agora chega dessa conversa que eu estou atrasada. Vamos, solta essa porta.

Percebi a porta começar a tremer e em seguida o carro todo. Ele estava furioso.

_ Não, você não vai! _ Gritou.

_ Qual é Jacob! Leah não ía gostar de saber desse seu comportamento... _ Mantive a irionia _ Você não pára de me perseguir desde que chegou! Me deixa! _ Eu empurrei a mão dele.

Instantaneamente ele se transformou. Estava furioso, mostrou os dentes pra mim, seus pelos eriçaram nas costas e ele ameaçou avançar.

_ Pode vir! Eu sempre quis saber que gosto tem um lobo. _ Enfrentei-o.

Acho que se ele não tivesse ido embora depois disso, íamos mesmo rolar bem ali no chão da garagem e acabar machucando um ao outro. Mas ele foi inteligente e correu pro meio da floresta.

_ Idiota! _ Soquei o volante com raiva.

Então meu celular tocou e eu vi no visor quem era. Não pensei duas vezes antes de atender.

_ Rian.

_ Nessie! Anda, a gente está esperando!

Respirei fundo. Não podia deixar que Jacbo acabasse com o resto do meu dia. Melhor, não podia continuar vivendo o resto dos meus dias humanos em função dele. Isso tinha que parar.

_ Está bem, já estou indo.

Dei a partida e saí com o jipe. Pouco tempo depois estacionei no posto de combustível ao lado da loja dos Newton, quero dizer, do Jacob.

_ Hey!_ Os dois vieram me cumprimentar com beijos.

_ Onde está a Ângela?

_ Ela não vem. Teve uma reunião de emergência na escola. _ Mike avisou.

_ Que pena...

Enfim, montamos os três no jipe. Mike foi de pé na parte de trás. Ele parecia estar “se achando” andando no jipe do Emmet.

_ Cara, eu sempre quis andar nesse jipe!

_ Ué, porque nunca andou?

_ Com aquela cara feia que seu irmão tem...

_ Nahh, ele é legal! É só a cara e o tamanho, mas ele é legal.

_ Hum... Não sei. Na época da escola não era muito bom ser amigo dos Cullens. Eles eram... Estranhos, perigosos, assassinos eu diria. _Mike completou.

_ Nossa! Você já parou para pensar que eu posso estar te levando pro lago, quando na verdade, meu plano é matar vocês dois? _ Eu entrei na paranóia do Mike, mas sabia que de certa forma ele tinha mesmo razão e até eu tinha razão com minha piada. Se eu quisesse, podia mesmo executar esse plano, mas essa não era a idéia.

Rimos debilmente da piada.

_ Sua irmã não vem,Nessie? _ Mike estava cheio da graça hoje.

_ Qual delas?

_ A Bella, lógico!

_ Cala a boca Mike! _ Dei risada porque lembrei do meu pai. Se ele escutasse isso era capaz de ter um treco.

_ Você não desiste mesmo! Pensa que eu não sei das histórias do colegial? _ Eu riu.

_ Bom, o Cullen ganhou, certo?

_ É, ganhou. _ Nesse ponto tínhamos que concordar. _ Rian, você está com o mapa?

_ Aqui. _ Ele abriu e apontou para o local onde havíamos encontrado o lago congelado outro dia. É claro que eu não precisava de mapa nenhum para me localizar, mas é sempre bom disfarçar. Saí da estrada e entrei na floresta através de uma pequena trilha pouco utilizada pelos moreadores de Forks. Seguimos por ela por cerca de trinta minutos e então, “voilà”! Chegamos no lago.

_ Viemos meio tarde... _ Mike reclamou enquanto saía do jipe.

_ Ah Mike, não seja um bebê chorão! _ Brinquei com ele, enquanto amarrava o cadarço do patins nos meus pés.

_ Bebê chorão! _ Rian me imitou.

_ Eu estou pronta. _ Me levantei, equilibrando-me sobre a lâmina de aço.

_ Você acha que é seguro Nessie?

_ Bebê chorão! _ Rian repetiu mais uma vez, enquanto pisoteava sobre o gelo liso e branco que tinha se formado sobre o lago. _ Você acha que é seguro? _ Ele continuava pulando. Não dava pra acreditar que Rian tinha vinte e seis anos. Eu ri e Mike ficou bicudo, mas foi por pouco tempo.

Acendi os faróis do jipe e deixei-os ligados, iluminando o lago, pois a penumbra já começava a tomar conta da grande clareira que envolvia o lago. Depois caminhei até a borda do lago e pisei no gelo devagar, sentindo se estava realmente firme.

_ Duro feito cimento. _ Constatei.

Rian segurou minha mão e então corremos para o meio do lago, enquanto Mike ficava nas beiradas, como se nunca na vida tivesse patinado.

_ Parem! _ De repente, Rian e eu ouvimos um grito horrorizado. Certamente era Mike. Nós dois paramos e olhamos pra ele. _ Corram! _ Ele gritou novamente e apontou para o fundo do lago.

Lá estava ele, um enorme e gigante lobo marrom, espreitando na beira do lago. Há! Eu conhecia muito bem aquele lobo. Eu ía socá-lo por ter feito aquilo! Ele não podia, ele não tinha o direito de se meter na minha vida dessa forma.

_ Ah, é só um lobinho! _ Eu disse como se fosse a coisa mais normal do mundo ver um lobo de quase três metros de altura no meio da floresta. Eu tinha que disfarçar... Não podia concordar com Mike, mandar todo mundo correr, ligar pra Charlie e armar uma caçada aos lobos, pois eu sabia do que se tratava na realidade. Bom, para falar a verdade a idéia não era assim tão ruim... Pelo menos manteria Jacob e seu bando longe de mim por um bom tempo, mas por outro lado, havia o risco de alguém se machucar de verdade.

_ Você está louca! Vamos embora daqui! _ Rian gritou e começou a me puxar em direção à outra margem, mas eu resisti.

_ Não! Eu conheço esse lobo! Já vim aqui outros dias e ele sempre estava aqui. É inofensivo, só tem tamanho. _ Eu tentei convencê-los, mas eu já podia adivinhar que nada no mundo iria fazê-los ficar.

Então o lobo colocou as patas para dentro do lago, como se tivesse saltando para dentro do espelho d’agua congelado. Aí ele derrapou e veio para o meio do lago escorregando sobre as patas traseiras e o com traseiro arrastando no gelo. Eu podia ver nos olhos de Jacob um risinho sem vergonha. Sim, ele estava fazendo de propósito. Nessa altura Mike já estava dentro do carro, tentando fazê-lo funcionar, mas a chave estava no bolso do meu casaco. Ele gritava feio uma criança enquanto Rian me arrastava para o jipe, igualmente desesperado.

O lobo se levantou, lançou-se novamente sobre o gelo e deixou suas patas escorregarem. Ele nos cercou.

Rian me colocou atrás dele e ficou encarando Jacob. Ele estava tremendo, mas ele estava sendo corajoso.

_ Mike, vá pedir ajuda! _ Ele gritou.

_ Não dá! Estou sem a chave! Cadê a chave?

Então o lobo veio em nossa direção e com a pata dianteira, me arrancou de perto de Rian. Eu caí sentada no chão e nós deslizamos até além do meio do lago. Jacob foi mais longe, rodopiando sobre seu traseiro. Era quase possível ver o sorriso irônico no focinho dele.

_ Renesmee! _ Rian gritou.

_ Eu estou bem! _ Acenei para Rian e sorri. _ Eu disse que ele era inofensivo. Ele só está brincando.

Ficamos em silêncio. Ainda sentada sobre o gelo, olhei pra trás e vi que o lobo estava a uns 10 metros longe de mim.

_ Você ouviu isso Jake? _ Falei baixo para Rian e Mike não escutarem.

Ouvi de novo o ruído e dessa vez fui no rastro dele. Olhei para o chão à minha frente e o vi trincando.

Eu estava assustada.

_ Jake, não se mexe! _ Tentei não deixar transparecer através da minha voz o medo que eu estava sentido.

Não deu tempo d’ele responder. Um grande buraco se abriu em volta dele, fazendo-o cair na água.

_ Não! _ Meu grito ocoou floresta adentro.

Sem pensar duas vezes, lancei-me ao chão e me arrastei até o buraco onde o lobo havia caído. Ele gania alto, enquanto tentava desesperadamente sair do buraco. Eu me ajoelhei na beirada e segurei firme o pelo da sua nunca, na tentativa de puxá-lo para fora do gelo, mas as patas do lobo moviam-se desorientadamente, na tentativa de escapar da água gelada. Senti algo queimar do meu ombro até o cotovelo e percebi que uma de suas garras afiadas havia cortado meu casaco, o suéter e arranhado meu braço. Não me importei. Era apenas um arranhão e agora, o mais importante era tirar Jacob dali.

_ Jake, Jake! Calma!

Ouvi passos atrás de mim e senti algo puxando minhas pernas.

_ Rian, me solta!

_ Vamos sair daqui! A gente tem que sair daqui! _ Ele gritava.

_ Não, temos que tirar o lobo da água, ele vai morrer! Me ajuda Rian, me ajuda!

Não sei se foi pelo meu desespero, mas Rian finalmente começou a entender que eu não ía sair dalí enquanto o lobo não estivesse m segurança.

_ Está bem. Segure ele, eu vou te puxar.

Tentei novamente segurar as patas do lobo, que teimavam em querer segurar-se em mim, nos meus ombros e braços. Eu sentia algumas fisgadas que eu julgava ser por conta do frio, pois a esta altura, eu já estava completamente encharcada pela aguá gelada.

Houve um momente em que finalmente consegui segurá-lo pelas patas, mas sua cabeça continuava descontrolada e seus dentes afiados passavam a centímetros de meus braços.

_ Vamos, puxe! Puxe _ Gritei para Rian, que começou a me puxar.

Quando pensei que íamos conseguir, as patas do lobo deslizaram dos meus ombros até os meus pulsos, como se estivessem lisas feito sabão.

Eu gritei de dor e de desespero. Olhei para trás e Rian me observava inerte.

_ Rian, Rian, não está adiantando! _ Eu sentia as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Não estava funcionando, eu ía perdê-lo. _ Pega meu celular no jipe e liga para os meus pais.

_ Renesmee, não vamos conseguir tirá-lo... _ Rian tentava me convencer.

_ NÃO! _ Gritei. Eu não ía admitir aquilo. _ Faz o que eu estou mandando, liga! Vamos, saí daqui! Vai!

Rian correu até a borda do lado congelado e eu fiquei observando-o até ter a certeza de que ele estava falando no celular com alguém. Então voltei-me à Jacob.

_ Jake, Jake! Me ajuda! Se transforma, volta! Está difícil tirar você da água assim.

Ele parecia bem pior agora. Não gania mais, não uiava, estava ficando mole, embora ainda tentasse algumas vezes escapar escalando meus braços.

Eu já não tinha muitas esperanças. Jacob não se transformava de volta e eu não sabia o motivo. Eu não conseguia puxá-lo para fora, estava completamente sem forças. O máximo que conseguia fazer era segurar suas patas para manter sua cabeça para fora da água.

_ Jake, Jake...

Senti novos passos atrás de mim. Quando olhei, ao invés de Rian, deparei-me com Seth.

Ele jogou-se seu corpo esgui no chão gelado e escorregou até onde estávamos. Então Seth me empurrou para o lado e começou a puxar o lobo para fora do lago, dessa vez com sucesso. Só mesmo alguém com uma força extraordinária para conseguir puxá-lo para fora.

Eu rastejei até o lobo, que estava agora deitado sobre o gelo e debrucei-me sobre ele Ele parecia morto, estava inerte, desfalecido no chão gelado.

_ Seth... _ Solucei, mas ele não dizia nada, apenas continuava apertado com força a pelagem branca do peito de Jacob.

Percebi então uma movimentação na beirada do lago. Eu não sei o que estava acontecendo comigo, mas eu via tudo meio embaçado. Ví parte da minha família descer do jipe de Rosalie e então Mike e Rian partirem no jipe de Emmett, dirigido por Rosalie.

Eu me levantei, uni forças e corri até a beirada do lago.

_ Renesmee! _ Esme segurou minhas mãos.

_ Graças a Deus Seth chegou e conseguiu tirá-lo da água! _ Eu tentei contar, mas eu mesma percebia que minhas frases não tinha muito sentido.

Eu tirei meus patins e nós corremos de volta para o meio do lago, onde a tragédia havia acabado de acontecer. Para minha surpresa, quando voltei, Jacob já estava em sua forma humana, nu, deitado sobre o gelo e ainda desacordado.

Emmet tirou seu casado e jogou sobre ele.

Eu me abaixei até o chão, juntamente com Carlisle.

_ Ele acabou de voltar à sua forma humana. Eu não entendo por que ele não fez isso antes... _ Seth explicou.

Jacob tinha os lábios roxos, quase negros e a pele estava muito branca, tão branca que não parecia ser Jacob. Seu peito inflava com dificuldade, como se ele quisesse encher os pulmões, mas não fosse possível.

Carlisle começou a fazer uma espécie da massagem cardíaca e a soprar ar para dentro da boca dele.

_ Me ajude aqui Seth. Aperte o peito dele enquanto eu sopro. No quatro você aperta. _ Carlisle instruiu.

Eu me mantive ali, sem poder fazer nada, ouvindo Carlisle contar, Seth fazer o que era possível, e Jacob ali, sem forças, agoniando bem na minha frente. E não havia nada que eu pudesse fazer para ajudá-lo.

Senti minha cabeça rodar, meu coração disparar e a única coisa que eu entendia e sentia era o pânico tomando conta de mim, enquanto lágrimas quentes escorriam pelo meu rosto. Quando acordei daquele transe, percebi que eu estava rezando.

Foi aí que aconteceu a primeira reação de Jacob. Foi horrível ver aquela água toda saindo pelo boca dele, mas ainda bem que saiu. Rapidamente Carlisle e Seth o deitaram de lado para que o líquido saísse com mais facilidade. Ele chegou até a tossir e depois gemeu. Quando Jacob foi colocado novamente sobre o gelo, ele abriu os olhos por alguns segundos e depois voltou a fechá-los.

_ Vamos pra casa. _ Carlisle se levantou. _ Emmett, coloque-o no jipe. _ Carlisle disse enquanto colocava uma bolsa de soro para correr nas veias de Jacob.

_ Como ele está? _ Me levantei, à medida que Emmett o enguia em seus braços.

Carlisle me olhou e começou a andar, ainda com a bolsa de soro nas mãos.

_ Melhor. Ele vai melhorar Ness, mas precisa ser aquecido agora. Vamos para casa.

Foi um alívio escutar as palavras de Carlisle.

Eu comecei a andar atrás deles, em direção ao jipe. Minha visão parecia pior agora e minha cabeça girava como nunca, me fazendo sentir tonturas e náusea. Olhei para trás e vi um rastro de gotas vermelhas. Olhei para Jacob nos braços de Emmett e, definitivamente, não vi nenhum sangue pingando. Apertei as pálpebras contra meus olhos e os abri, na esperança de ter minha visão renovanda.

_ Ness! _ Alice apareceu do meu lado e me segurou pelo braço. Bem na minha frente, Jasper corria até mim, mas ele parou de repente, a poucos metros dos nós duas.

_ Tem cheiro de sangue humano... _ Ele disse entre os dentes.

Jasper começou a andar para trás e eu senti quando Alice soltou meu braço bruscamente. Eu não entendi, mas ela correu com Jasper para dentro da floresta. Então eu fui sentindo meu corpo começar a fluturar e pender para trás. Eu podia quase sentir o chão gelado nas minhas costas, quando um braço quente me segurou, impedindo o impacto.

_ Carlisle! _ Seth gritou e imediatamente Carlisle já estava ao meu lado.

Eles tiraram meu casaco, me deixando apenas com o suéter.

_ Ness... _ Meu avô bradou.

O que? O que tinha? Eu não estava entendendo.

_ Jasper e Alice correram para dentro da floresta. Receio que não seja reguro para sua família...

_ Tem razão Seth. Por favor, vá na frente e peça que todos saíam. Eu levo Renesmee.

_ Mas... _ Senti uma agulha espetando meu braço e o soro começar a correr dentro de minhas veias. Carlisle me tomou nos braços e me levou para o Jipe.

Sentei-me no banco de trás e puxei Jacob para cima de mim. Ele estava gelado feito um de nós; feito alguém da minha família. Eu não sei o que Carlisle tinha colocado naquele soro mas eu já me sentia bem melhor. Também não sei por que eu precisava de soro... Enfim, o importante agora era Jacob.

_ Cadê todo mundo? _ Perguntei, enquanto Carlisle dirigia.

_ Vamos prestar atenção da estrada. _ Foi a única resposta que eu obtive. Ele disse de uma maneira tão série e contida que me assustou um pouco. Eu acariciei o cabelo de Jacob e de repente, encontrei sangue alí.

 _ Carlisle! _ Senti um aperto no peito. Eu não sabia que ele tinha se machucado dessa forma. Certamente devia ser por isso que todos tinham sumido. Lembrei-me então de Jasper correndo com Alice floresta adentro.

Meu avô olhou para trás e viu minhas mãos vermelhas.

_ Não se mecha muito Renesmee, já estamos chegando. _ Ele parecia agoniado.

Enfim chegamos em casa e a primeira coisa que Carlisle fez foi lavar aquele sangue todo de Jacob lá no banheiro da Alice. Eu fiquei do lado de fora, sentada e encostada no batente da porta esperando. Meu queixo tremia involuntariamente de frio, meu corpo ardia, principalmente meus ombros e braços. Era quase a mesma sessação de quando pulei no mar gelado; algo como mil agulhas espetando meu corpo.

_ Renesmee! _ Meu pai apareceu no pé da escada. Tapou seu nariz com uma das mãos, evitando inalar aquele cheiro peculiar.

_ Foi horrível pai! _ Minha voz saiu trêmula e embargada. _ Carlisle está lá dentro com Jacob, dando um jeito naquele sangue todo.

Me levantei, com a intenção de abraçá-lo, mas meu pai levantou uma das mãos, como se quisesse me manter longe dele. Eu parei no meio do caminho, sem entender.

_ Carlisle! _ Ele gritou e Carlisle apareceu.

_ Edward! Tire Jacob daqui e o leve para outro quarto. Aqueça-o.

Meu pai apontou para mim e continuou olhando para Carlisle. Parecia até que um sabia o que se passava na mente do outro, todos os pensamentos, todas as conclusões. Só eu que não estava entendendo.

_ Tenha calma Edward, foi um acidente. Ele não teve a intenção de...

Olhei para o chão e vi uma pequena poça de sangue. Parei de apertar o suéter com as mãos e percebi que o sangue pingava dos meus dedos. Lembrei-me das fisgadas que havia sentido, do arranhão que acidentalmente o lobo tinha feito no meu braço. Tomei coragem e abri o suéter que já estava rasgado e percebi que um risco vermelho enorme terminava no meu pulso, embora eu não conseguisse ver onde aquilo começava. Naquele momento, o rosto de Emily me veio à mente, bem como a história de como ela tinha conseguido aquela cicatriz em seu rosto.

Sem pensar duas vezes, corri para dentro do banheiro onde Jacob estava ainda desfalecido no chão de mármore e enrolado pelas toalhas brancas. Arranquei o suéter na frente do espelho, já me preparando para o pior.