For Evermore escrita por MelanieStryder


Capítulo 17
Capítulo 17 - Buttlerflies and Hurricanes




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/77612/chapter/17

“Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida!”
Muitos anos de vida? Era para rir da piada?
Não… Estou só brincado. Jamais diria isso a eles. Eles são minha família, meus amores. Como sempre, durante os últimos 18 anos, a cada aniversário era assim que eu era acordada; “pega de surpresa”. De repente todos invadiam meu quarto com chapeuzinhos de festa, apitos barulhentos, confetes e um pequeno bolinho feito por Esme, que aliás, nunca ninguém comia.
_ Viva a Reneesme!
_ Viva!
_ À pirrralha, viva! _ Tinha que ser o Emmet!
_ Gente, gente, não precisava. _ Tentei conter o sorriso. _ Eu disse que dessa vez não queria.
_ Sei que você está adorando pirralha. A Alice já arrumou tudo para a “festa da transformação”, que vai acontecer obviamente depois que você se transformar.
Nós rimos.
_ Por favor, sem festa de transformação.
Peguei meu pequeno bolinho e soprei as 18 pequenas velinhas que estavam cravadas sobre ele.
_ Agora faz um pedido. _ Alice saltitou do meu lado. Acho que na verdade ela queria fazer um pedido.
Apertei meus olhos como se eles pudessem me trazer uma espécie de força interior, algo que ajudasse meu pedido a se materializar.
_ Bom… Lá vai. _ Abri os olhos e soprei as velas. Eu não tinha nada para pedir, nada além de que a transformação funcionasse; que meu coração agüentasse; que eu não morresse para sempre. Definitivamente, eu tinha muito medo de deixar de existir.
A vibração continuou até que eu tasquei o dedo indicador no marshmallow e leveio-o à boca. Todos eles esperavam anciosamente por aquela cena. Era doentio! Eles sempre queriam me ver fazer careta.
Então uma buzina soou na frente de casa.
_ Jacob? _ Minha mãe perguntou. _ Numa hora dessas?
_ Ele disse que tem um presente para mim. Vocês entendem não é mesmo. _ Disse, já saindo do quarto. _ Eu vou tomar um banho rápido, já volto.
Corri para o banheiro e tomei uma ducha rápida. Quando voltei, todos continuavam em meu quarto. Percebi um enorme sorriso no rosto de meu pai.
_ Onde ela vai Edward? _ Minha mãe questionou, já percebendo que meu pai havia lido a mente engenhosa de Jacob.
_ É supresa. _ Ele riu.
_ O que eu visto pai? Pelo menos me dá uma dica. _ Ele continuou rindo, sem dizer nada. _ Deixa pra lá, vou com minha velha bota de montaria mesmo.
_ Não! vai de tênis. _ Ele soltou.
Sorri de volta e peguei o par de Adidas preto embaixo da cama.
_ Tchauzinho pra vocês! _ Peguei o pequeno bolinho que eu havia deixado sobre o criado mudo. _ Dessa vez ele não vai pro lixo.
_ Está levando a injeção Reneesme? _ Carlisle lembrou.
_ Ah sim, minha dose de aniversário vai estar na bolsa. _ Peguei o estojo que continha a injeção e enfiei na pequena bolsa branca de nylon.
Acenei e mandei beijinhos a todos. Da escada, ainda ouvia todos tentando fazer com que meu pai desembuchasse e dissesse onde é que eu iria. Pena que não ouvi a resposta dele.
Entrei no carro e cumprimentei Jacob com um beijo no rosto. Em seguida, entreguei o bolinho a ele.
_ Hey! Você faz aniversário e sou eu quem ganha o bolo? _ Ele riu, antes de afundar o dedo no marshmallow e lambê-lo.
_ Receita da Esme. Todo ano ela faz, mas nunca ninguém provou.
_ Humm… Diga à Esme que ela já pode casar.
Jacob quase acabou com o bolinho em uma única mordida.
_ Que morto de fome!
_ Eu não tomei café da manhã.
_ Por quê? Já ouvi os humanos dizerem que não é bom ficar muito tempo sem comer.
_ Ahhh, tive que sair meio que rápido…
Ele pareceu não querer entrar em detalhes. Pobre Jacob, era tão previsível…
_ O que você disse à Leah?
_ Esquece a Leah. _ Agora ele comia sem me olhar. Era muito Jacob mesmo! Não sabia nem disfarçar.
Limpei a garganta.
_ Está bem, está bem! Eu disse a ela que passaria o dia negociando por aí.
_ Jacob!? E você vai voltar pra casa com o que?
_ Relaxa! Mulher não sabe de nada dessas coisas de negócio. Ela vai acreditar no que eu disser.
_ Puxa…
Ele jogou o papel num canto e começou a dirigir.
_ O que foi agora? Não vai estragar nosso dia pensando na Leah, vai?
_ Não, mas é que…
_ Pronto, vai começar! _ Percebi que ele tinha ficado ligeiramente irritado com aquele papo sobre a Leah.
_ Eu não estou começando nada Jacob. Só estou sendo sincera. Eu não me sinto bem mentindo desse jeito, poxa!
_ E você acha que eu gosto de mentir para a mulher que eu amo?
Por Deus… Por que ele tinha que dizer aquilo? Está bem, eu sei que ele a amava, mas eu não precisava ouvir aquilo. Droga… De repente meu dia que havia começado tão bonito, agora parece que estava se esvaindo por um ralo.
Fingi que não ouvi aquilo e continuei conversando normalmente, tentando não demostrar minha chateação. Não sei se Jacob tinha percebido… Claro que não. Ele continuava falando, falando, falando, todo empolgado.
Enfim, chegamos em Port Angeles. Junto com a gente, a primeira claridade da manhã. Jacob atravessou a cidade, como nunca tínhamos feito antes e continuou dirigindo beira-mar. Era uma paisagem linda, indescritível. As pedras acinzentadas, o mar azul escuro, o nevoeiro do amanhecer… Logo, eu já nem me lembrava mais como tinha doído ouvir Jacob falando “dela”. Agora era só eu e ele, ele e eu.
_ Onde vamos? Você está me deixando anciosa.
Foi só eu acabar de falar que Jacob tomou uma outra estrada à esquerda.
Ele me olhou com o sorriso mais bonito de todo o mundo. Meu coração apertou-se dentro do meu peito. Eu o amava demais, ele não fazia idéia. Por alguns poucos segundos, senti um leve desespero querendo tomar conta de mim. Eu nunca seria capaz de deixar de amá-lo, isso era um fato. Então recobrei o controle de mim mesma e voltei a acreditar piamente que um dia eu deixaria de sentir aquele turbilhão de emoções quando olhasse para ele.
_ Estamos quase chegando. Só mais uma horinha.
Eu retribuí o sorriso, quando na verdade queria abraçá-lo. Contive-me mais uma vez.
_ Não íamos para Port Angeles? _ Eu estava meio confusa com as placas que indicavam Port Angeles para trás de nós.
Ele riu alto.
_ Eu menti.
_ Jacob!
_ Estou te seqüestrando, você não percebeu ainda?
Eu não sabia se acredita ou não. Não! É claro que ele não estava me seqüestrando, mas pra onde ele estava me levando?
_ Por acaso faz parte do meu presente?
_ Sim, é todo o seu presente. Até o lance do seqüestro. Você nunca foi seqüestrada, certo? Devia por na sua lista.
_ Jacob! Boboca…
Nós dois rimos enquanto ele continuava a dirigir. Aos poucos o tempo ía se abrindo e eu estava cada vez mais apreensiva. Alguns minutos depois, o primeiro raio de sol nos atingiu.
_ Droga.
Estava nervosa, com medo. Nunca tinha ficado desta forma, exposta para quem quisesse ver a aberração que eu era.
_ Calma Ness…
_ Desse jeito nós vamos ter que voltar. _ Minha voz saiu meio que embargada. Tudo o que eu não queria agora era voltar para casa e passar o meu aniversário sem ele.
_ Aqui costuma fazer sol… _ Ele comentou na maior naturalidade. Que raiva! Poxa vida, ele sabia que eu não tinha condições de ficar num lugar assim, que tinha sol o dia inteiro. _ Não, não vamos voltar. Fica calma que você já vai ver onde estamos indo. Ninguém vai te ver Ness, eu garanto.
Eu estava chateada demais para continua qualquer conversa com Jacob. O sol que costumava me deixar alegre quando raramente aparecia em Forks, agora estava pondo meu dia especial em risco.
Seguimos em silêncio, até que comecei a avistar alguns barcos em uma pequena marina.
_ Jacob, olha! _ Foi inevitável. Eu sei que eu parecia uma criancinha que nunca tinha visto nada daquilo, mas é que eu realmente nunca tinha visto.
Senti a mão dele sobre a minha e quando voltei-me para ele, novamente aquele belo sorriso emoldurando seu rosto naturalmente bronzeado.
_ É para lá que vamos…
_ Mas… _ Aproximei-me ainda mais da janela, observando tudo: os barcos, os veleiros, as casinhas de madeira próximas dali, as pessoas; que aliás; eram somente duas ou três ali, naquela hora da manhã.
Então Jacob estacionou próximo ao píer.
_ Que lugar é esse?
_ Se chama Neah Bay. Aqui onde estamos é uma pequena marina. Em Port Angeles não ía dar para você conhecer, pois tem muita gente lá. Aqui é mais reservado.
Jacob saiu do carro e me deixou lá dentro. E agora? Eu ía passar o dia todo lá dentro? Como eu ía fazer com aquele solzinho morno queimando minha pele e me fazendo parecer uma lâmpada fluorescente?
Então ele abriu a minha porta, pegou qualquer coisa no banco de trás da caminhonete e me entregou.
_ Toma, põe isso.
Eu estava nervosa demais para identificar o que era a grande peça de tecido que ele tinha me entregado, bem como lembrar de como vestí-la.
_ Ness, põe logo!
_ Calma! Eu… Eu estou com medo Jacob… _ Olhei pata todos os lados. Não muito longe dali, um homem com cerca de seus trinta e poucos anos me observava. _ Aquele homem… Ele está me olhando. _ Falei baixo.
Jacob pegou de volta o grande e grosso tecido azul marinho, abriu um zíper e passou-o pelas minhas costas e braços
_ Não está. Relaxa, você só está muito nervosa.
Senti meu cabelo cair ao redor de meu rosto quando Jacob tirou a presilha que o prendia.
_ Isso, puxa seu cabelo para frente. _ Ele dizia, enquanto colocava o capuz do moletom sobre minha cabeça. _ Vai ser só por alguns minutos Nessie, desculpe.
Ajeitei o acessório estranho que teimava em escorregar sobre meu cabelo. Ao menos ele me protegia do sol. Acho que era essa a idéia.
Saí do carro e acompanhei Jacob até o porta-malas.
_ Eu não estou enxergando nada. _ Ri.
Jacob colocou uma grande mochila nas costas, segurou minha mão, tirou uma garrafa de champagne de dentro de uma caixa térmica e fechou o porta-malas.
_ Champagne? Pra que isso?
_ Para comemorar, oras!
_ Você devia ter trazido um urso então. Aí dava pra gente comemorar em conjunto. Você sabe, eu não bebo…
Jacob apenas riu. Ele acionou o alarme do carro e então nos pusemos a andar pela marina. Eu só podia enxergar o chão de madeira bruta na minha frente devido ao capuz do moletom de Jacob estar cobrindo quase todo meu rosto. Eu quase que podia sentir o peso dos olhos daquele homem sobre mim.
Senti a mão quente de Jacob soltar-se da minha.
_ Christian.
_ Jacob. Que bom que veio.
_ Você disse para eu vir e eu vim mesmo.
_ É claro…
_ Essa é a Reneesme.
E agora? O que eu devia fazer?
Estendi minha mão, quase que completamente comberta pelo moleton ao tal de Christian. Com a outra, afastei um pouco do capuz e levantei um pouquinho à cabeça para que eu pudesse enxergá-lo.
Ele observava minha mão, que estava praticamente “acessa”, como era de se esperar.
_ Ela tem alguns problemas de pele… _ Jacob disse naturalmente.
Christian apertou minha mão e soltou-a em seguida.
_ Albina? _ Ele fitou-me por debaixo do capuz.
_ Mais ou menos… _ Eu respondi, quase que sem voz, evitando encontrar os olhos daquele humano.
_ Bom Jacob, aqui estão as chaves. Eu volto à noite.
_ Obrigado Chris.
O homem passou por mim e fitou-me de relance, eu percebi.
_ Jacob, eu acho que ele desconfiou de algo… _ Murmurei.
_ Você está uma pilha de nervos hoje, hein? _ Ele riu maroto.
Então Jacob entrou naquele barco que estava ancorado bem na nossa frente, junto com mais uns 15 ou 20 naquela pequena marina.
_ Sai daí! Você está louco! Se te pegam…
Ele me ignorou.
_ Pronto, me dá essa champagne.
Eu entreguei a garrafa, depois ajeitei o capuz em minha cabeça, olhando de um lado para o outro, tentando me certificar de que ninguém estava me vendo.
Eu com medo e Jacob só ria! O que aquele garoto tinha na cabeça?
_ Está pronta!
_ Para que?
_ Para batizar o iate horas!
_ Eu nunca vi isso…
_ Funciona assim. Antes da embarcação ser lançada ao mar pela primeira vez, existe a tradição do batismo.
_ Ah, entendi. Mas pra que o champagne?
Ele sorriu e em seguida quebrou a garrafa no casco do novíssimo iate. Sorte que ele fez isso sobre um tecido azul, que cobria metade daquele lado do casco, mas mesmo assim, aquilo fez meu coração saltar.
Eu sorri nervosamente para ele.
_ É para dar sorte. Quebrar a garrafa é a tradição.
Então Jacob puxou o tecido azul para dentro do barco e… Eu fiquei sem palavras quando vi meu nome escrito ali no casco, tão grande que seu eu tivesse a uns bons metros de distância ainda sim conseguiria enxergar.
_ Jacob, eu…
Antes que eu pudesse concluir, acreditar realmente no que eu estava vendo, senti os braços quentes e apertados de Jacob ao meu redor.
_ Feliz aniversário Ness.
_ Mas você…Você pintou meu nome ali só por causa do meu aniversário? _ Apontei. _ Vai custar caro para tirar isso depois.
Ele riu alto antes de começar a explicar
_ Não vai sair dali bobinha. Agora o iate se chama Reneesme, nós o batizamos assim e isso é para sempre.
_ Jacob, é lindo… _ Senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, embora eu não conseguisse parar de sorrir. Apertei-o entre meus braços e fiquei na ponta dos pés até alcançar seu rosto e cravar-lhe um beijo em sua bochecha rosada.
_ Obrigada… _ Funguei.
_ Chorona!
_ Pára! Esse foi o presente… Foi o presente mais lindo que eu já ganhei em toda minha vida!
_ Calma, tem mais.
Então ele tomou meu corpo em seus braços e me colocou dentro do barco.
_ Onde nós vamos?
_ Navagear.
Eu só consegui sorrir. Por Deus, seria possível felicidade maior que aquela que eu sentia agora? Meu coração parecia querer explodir de tanta alegria, embora às vezes, meus olhos ameaçavam querer derramar algumas lágrimas. Eu estava tão feliz, mas ainda sim não tinha o que eu julgava ser a coisa mais preciosa do mundo: eu não tinha o amor de Jacob.
Minutos depois, saíamos daquela baía em direção ao alto mar. Quanto mais nos distanciávamos da costa, mais o tempo se abria e o sol ficava mais forte. Tirei o moletom de Jacob e também meu suéter de lã, ficando apenas com uma regata preta.
As vezes ele olhava para mim e sorria…
O vento morno acariaciava minha pele e brincava com meu cabelo solto. Eu nunca havia me sentido tão livre em toda minha vida. Não havia nada nem ninguém ao nosso redor; era só eu e ele, ele e eu, ali, no meio daquela imensidão azul.
_ Onde você aprendeu a pilotar isso?
_ Eu tirei a habilitação da Inglaterra. O dono de um dos resutaurantes no qual eu trabalhei tinha um iate e ele me deixava pilotar.
_ Que legal! E esse barco, como você o conseguiu?
_ É de um amigo, ele me emprestou…
_ Assim do nada? Fácil assim?
_ Fácil assim. _ Ele sorriu. _ Estou brincando, ele me devia um favor.
_ Sei… E meu nome no barco?
_ Ele adorou seu nome!
_ Então você falou de mim para ele? _ Eu não devia ter perguntado isso, eu sei… Mas é que quando ouvi Jacob dizer que o tal Christian tinha gostado do meu nome… Eu sei lá… Me deu um negócio por dentro.
_ Algumas vezes. Por que?
_ Por nada. _ Sentia meu coração desacelerar. O que eu estava esperando? Reneesme… Você precisa esquecê-lo.
Depois de muito tempo navegando, Jacob desligou o motor e saiu pra fora da cabine com um rádio portátil. Colocou no convés e tirou da mochila uma caixa de CDs.
_ Fiz um especial para hoje.
Ele colocou para tocar. Era uma música calma, mas alegre, tocada ao violão. Pena que eu não entendia a letra, pois era em outro idioma.
_ Legal.
_ Vem, vem conhecer o iate.
Ele me pegou pela mão e me levou para todo canto daquele barco enorme. Da popa até a proa devia ter seus vinte metros de comprimento e uns sete de largura. Dentro da cabine, ao lado da sala de controle uma cozinha completa. Depois uma sala, e um quarto. Não chegamos a ver o quarto, estava mais legal ficar lá fora.
Subimos novamente para o convés e nos deitamos sobre a proa que tinha a forma de “u”.
_ É tão lindo aqui… É perfeito… _ Disse enquanto observava as gaivotas sobrevoarem nosso barco.
_ Eu queria poder te dar mais. _ Jacob disse, sem olhar para mim. Eu queria compreender o que ele quis dizer com aquilo, mas suspeitava que ele quisesse dizer que gostaria de me amar como eu o amava.
_ Tudo bem, eu me contento com pouco. _ Brinquei e nós dois rimos.
Então percebi que ele fitava-me.
_ O que foi?
_ Você brilha…
_ Ah Jacob, vira pra lá! _ Friccionei as palmas das minhas mãos sobre meus braços desnudos, tentando escondê-los.
_ Não se esconda, é bonito de se ver. Não é como seus pais, é diferente… É sutil. E seu cabelo… _ Ele mexeu em umas mexas que teimavam em continuar soltar em meio ao vento morno. _ No sol você fica quase ruiva.
Então ele voltou a deitar-se. Ainda bem… Eu não o agüentaria me encarando por tanto tempo.
_ Você não está com frio?
_ Não. _ Sorri. _ O vento está frio, mas o sol o aquece um pouquinho. E aquece a mim também. Eu nunca tinha ficado assim, tomando sol. É muito bom. Sem medo, sem preocupação, sem ninguém me olhando, me julgando.
_ E então, quando você vai realizar o próximo desejo de sua lista?
_ Como assim?
_ Ora, eu te trouxe aqui, no meio do nada e você não vai nem nadar nua?
Como é que eu não tinha pensado nisso antes?
Sentei-me rapidamente, ainda mais contente com aquela idéia.
_ Olha só! _ Jacob me acompanhou e logo estava sentado ao meu lado. _ Dá até pra ver uma lampadazinha acesa na sua cabeça.
_ Seu pervertido! Eu nunca nadaria nua com você por perto.
_ Nem se fosse sua última chance? _ Ele desafiou.
_ Jacob! _ Comecei a socá-lo e a fazer-lhe cócegas na barriga, ate que ele conseguiu segurar meus pulsos e então nós rolamos um por cima do outro até a beirada, cuja proteção para o mar era apenas umas barras de metal.
_ Sua louca! Quase caímos no mar. _ Ele riu, ainda segurando meus pulsos.
_ Ahh, coitado! Impossível você passar por esse buraquinho. Agora me solta, já parei.
Jacob obedeceu, se levantou e estedeu a mão para mim.
_ Vamos.
_ O que você vai fazer?
_ Acho que vou pescar um pouco.
Então ele desceu da parte alta do convés e eu fui atrás dele. Enquanto ele arrumava as tralhas de pesca, eu fui até o fundo no iate, onde tinha uma parte mais baixa, que ficava bem perto da água. A idéia de Jacob até que não era assim tão ruim…
Coloquei minha mão na água só para ter certeza de que ela estava mesmo gelada como eu imaginava. Realmente eu não teria outra chance. Era agora ou nunca.
Olhei para trás e Jacob continuava lá, agachado, com o molinete entre as mãos. Ele parecia bem entretido com aquilo.
Tirei minhas roupas rapidamente, mas fiquei de calcinha e soutien. Eu não ía nadar nua com ele ali por perto. Peguei uma bóia redonda e vermelha que tinha por lá e amarrei a corda que estava presa à ela em uma barra de ferro.
Deu-me certo medo entrar no mar, já que eu nunca tinha nadado em toda minha vida. O máximo de água que eu tinha conseguido provar era mesmo dentro da banheira de Alice.
Esvaziei minha cabeça dos medos bobos que eu tinha, agarrei-me à bóia de salvamente e pulei no mar. Parecia que um trilhão de facas pontiagudas estavam espetando meu corpo, de tão gelada que estava. Quando minha cabeça saiu da água, gritei de frio e de contentamento e a primeira coisa que eu vi, foi Jacob de pé, com as mãos na cintura, me observando.
_ Eu não acredito no que eu estou vendo! _ Ele ria.
_ Entra!
_ Você está tremendo e com a boca roxa, vem, sai daí!
_ Jacob! Deixa de querer bancar o “papai”.
_ Você está me desafiando?
_ Estou! Duvido que você entra! _ Eu ria, sentindo meu queixo tremer involuntariamente.
Então ele começou a tirar a calça, depois a camiseta e aí eu comecei a desejar não tê-lo chamado para entrar. Eu não podia mais olhar pra ele, não com ele assim, praticamente nu. Ele tinha o corpo perfeito e de alguma forma; não sei explicar como; vê-lo daquele jeito mexia comigo.
Virei em direção ao sol, esperando que ele entrasse de uma vez por todas. Escutei um barulho de algo batendo na água e em seguida, as mãos quentes dele puxando meu pé para o fundo.
_ Jake!
Ele emergiu sorridente.
_ Nossa, essa água está fria.
_ Se você que não sente frio e acha que a água está fria, imagina eu.
Ela estava feliz, eu podia ver em seus olhos escuros. Escuros?
_ Você está com fome?
_ Um pouco, por quê?
_ Seus olhos estão quase negros.
_ Droga… _ Ela pareceu chateada.
_ Quando voltarmos, eu pego um urso para você. Não é isso que você queria que eu tirasse do porta-malas do carro? _ Joguei água no rosto de Reneesme para que ela voltasse a sorrir.
Parece que funcionou.
_ Você está tão bonitinha tremendo. Parece uma criancinha.
Ela riu e jogou água no meu rosto.
_ Vem, chega, vamos sair.
_ Mas já?
_ Você mal consegue falar de tanto frio. Faz mal, sabia?
_ Não…
_ Segura nas minhas costas, eu te levo.
Ela me obedeceu e foi para cima de mim. Era fria feito uma pedra de gelo, mais do que já costumava ser.
Fui o primeiro a subir no barco e estendi a mão para ela.
_ Ah não, deixa que eu saio sozinha.
_ Por quê?
_ Vai pra lá Jacob!
_ Eu já vi muitas mulheres de calcinha e soutien, relaxa. _ Eu provoquei porque sabia que ela ficaria ainda com mais vergonha de mim.
Percebi um leve rubor nas bochechas dela, enquanto ela me estendia a mão, meio que a contra gosto. Bastou um puxão e ela já estava dentro do barco. Ela era leve demais.
Eu fui sincero quando disse que já havia visto várias mulheres assim, mas era evidente que Reneesme não fazia parte do pacote onde eu jogava minhas lembranças de todas as outras mulheres nuas ou semi-nuas que eu já tinha visto. Eu não sei por que, mas quando a tirei de dentro do mar, fiquei atônito com a visão que eu tive. O corpo dela era perfeito, ainda que ela tivesse um pouco encolhida e tentando se esconder de mim. E de repente, como nunca havia acontecido antes em minha vida, eu estava sem graça de estar ali, obersevando-a. Eu quase cheguei a desejá-la, foi por pouco.
_ E agora? _ Ela perguntou entre os dentes.
_ Você trouxe toalha?
_ Não. Não me diga que aqui não tem.
_ Não…
Ela fez uma cara estranha, enquanto torcia a água do cabelo.
_ Espera, tive uma idéia. _ Peguei meu moleton azul que estava jogado num canto e dei a ela. _ Veste isso até você secar. Depois você coloca de volta a sua roupa.
_ Mas… Mas e você?
_ Eu não estou com frio. Vamos sentar no sol e daqui a pouco eu já estarei seco.
Ela colocou o moleton e fechou quase que todo o zíper enquanto eu caminhava em direção à proa.
_ Não olha agora, hein Jake.
Claro que eu olhei e a peguei de surpresa tirando a cacinha por debaixo do moleton.
_ Jacob! _ Ela gritou e eu não pude deixar de rir. _ O que é que tem? Eu quero que seque logo. _ Ela disse enquanto tirava o soutien pela manga do moleton.
Içamos minhas roupas íntimas no mastro, como se fosse uma bandeira. Jacob não parava de rir. Era um bobo mesmo…
Sentei-me em uma espreguiçadeira e ele na outra, bem de frente para sol, já que o objetivo era nos aquecer.
_ Você tem certeza que está bem? Você não para de tremer.
_ Eu estou Jake, já vai passar.
_ Tem certeza que não precisa de algo mais felpudo e quente pra te fazer aquecer logo? _ Ele me perguntou, meio que rindo.
_ Nada de lobos ao mar. Relaxa Jacob.
_ Está bem, então eu vou comer alguma coisa.
Ele se levantou e saiu, enquanto eu permaneci ali, me aquecendo e me secando aos poucos.

Devagar eu abri os olhos. Ao meu lado, Jacob estava sentado em sua espreguiçadeira, com o molinete nas mãos.
_ Hey! Eu dormi! _ Acordei com uma das músicas extrangeira de Jacob tocando no pequeno rádio.
_ Eu percebi. _ Ele disse, sem tirar os olhos do mar. _ Já se aqueceu?
_ Já, olha! _ Sentei-me e enconstei minha mão no pescoço dele. Jacob sobresaltou.
_ É isso que você chama de esquentar?
_ Acho que é o máximo que eu posso esquentar. Eu realmente chego a quase estar com calor debaixo desse moleton. _ Olhei para o mastro e vi minhas roupas íntimas. _ Será que minhas roupas secaram?
Jacob olhou para mim e em seguida para o mastro.
_ Vamos ver.
Então ele se levantou e quando ía colocar o molinete no suporte, algo puxou a linha; mas puxou com extrema forma; pois Jacob deu um solavanco para frente, ficando bem próximo à grade de metal.
_ Hey! Você viu isso? _ Ele gritou empolgado e começou a recolher a linha. _ Caramba! Está pesado!
Então aquilo que havia mordido a isca saltou para fora da água, mostrando-nos sua beleza magistral.
_ Jake, olha! _ Eu apontei para o peixe, que tinha um bico muito comprido, saltando para fora d’água. _ Que lindo! O que é?
_ Um marlin azul, mas parece ser filhote ainda. Não deve ter mais que um metro.
Outro solavanco e Jacob foi para frente de novo.
_ Você quer tentar? _ Ele me mostrou o molinete, no qual segurava com força.
_ Eu até gostaria, mas não agüento.
_ Claro que agüenta! Vamos, eu te ajudo.
Jacob passou o molinete para minhas mãos e eu puder sentir a força que o peixe fazia para escapar do anzol. Então ele se posicionou atrás de mim, de onde poderia segurar também o molinete, pois eu sozinha não resistiria sozinha a um puxão do marlin.
_ Agora tudo o que você tem que fazer é levantar a vara e ir enrolando a linha na carretilha.
_ Assim? _ Tentei fazer o que ele me dizia, mas era quase impossível.
_ Isso! _ Jacob vibrava.
_ Não é melhor soltarmos o peixe? Você disse que é um filhote ainda…
_ Não, vou levar pro meu pai assar. Ele vai adorar! Vai, continua firme. Força Nessie!
_ Pára de falar e me ajuda! _ Eu ri
Então o marlin resolveu mostrar sua verdadeira força. Puxou a linha com uma força descomunal, lançando a mim e Jacob muito próximo à grade de metal que nos impedia de cair no mar.
_ Agora força, puxa para trás! Segura, segura! Vamos perdê-lo! _ Jacob gritou e nós começamos a puxá-lo, com todas as nossas forças, até que a linha se partiu, lançando-nos ao chão.
Caímos os dois, um rindo mais que o outro, no chão frio do convés. Minha barriga doía de tanto rir.
_ Ai, ai ai, tinha que ser a Reneesme mesmo! _ Jacob se apoiou em um dos braços do meu lado, enquanto tentava alcançar o molinete que estava na minha outra mão. Sem perceber o que ele queria, eu soltei o molinete e ele foi rolando até o fundo do barco. _ Hey, você soltou! _ Ele sorriu.
_ Pra que você queria? Agora que não tem mais peixe…
Jacob permaneceu ali, em cima do meu corpo, sorrindo genuinamente, de um jeito que só ele sabia fazer. Eu sabia que aquele sorriso não ía durar para sempre e que logo aquele momento único de extrema proximidade entre nós dois se extinguiria. E doía ainda mais saber que mais tarde, para ele aquilo não significaria nada, mas que eu me lembraria disso para o resto de minha vida e lamentaria que nada demais tivesse acontecido.
Em meio ao seu sorriso, senti que ele tocou uma de minhas mãos, a que eu tinha soltado o molinete. Então ouvi sua outra mão deslizar pelo convés, até alcançar a minha. Senti os dedos dele se entrelaçarem nos meus e também o peso de seus braços prendendo cada vez mais meus pulsos junto à madeira do convés. No meio de tudo isso, eu podia ouvir o ruído acelerado de minha própria respiração, bem como o sangue de Jacob fervendo dentro de suas veias.
Eu sentia cada vez mais o calor do corpo dele à medida que ele se inclinava vagarosamente sobre mim. Seus olhos fitavam-me de um jeito que eu nunca tinha visto; pareciam querer me hipnotizar; pois eu sentia como se jamais fosse capaz de deixar de olhar para qualquer outra coisa que não fosse os olhos expressivos de Jacob. Agora estava fácil decifrá-los, não havia dúvida. Era como se sempre tivessem ali, claro como aquele céu azul que estava sobre nós.
Senti quando seu rosto quente encostou-se ao meu; sua pele macia escorregando sobre a minha, seus lábios cálidos tocando suavemente meu pescoço… Fechei os olhos e apertei-os, desejando não acordar jamais daquele devaneio. Não sei como consegui, mas de repente meus pulsos estavam livres e embora eu não soubesse o que fazer; o que estávamos fazendo; meus braços instintivamente uniram-se atrás da nuca dele, tocando levemente sua pele. Então minhas mãos descobriram seu cabelo curto e brando, o qual eu puxei vigorosamente, mesmo não sabendo porque eu estava fazendo aquilo.
Rolamos para o meio do convés e Jacob me segurou sobre ele. Meu cabelo levemente úmido caiu sobre seu rosto e novamente eu não sabia o que fazer a não ser continuar com meus olhos colados nos dele. Senti que suas mãos moviam-se brandamente sobre minhas costas enquanto como que num delírio, eu achei que tinha sentido seus lábios quentes sobre os meus.
Ele deslocou o peso de seu corpo e em questão de segundos eu estava novamente no chão no convés. Abri os olhos depressa… Eu nem tinha percebido que os havia fechado. Toquei seu rosto com uma de minhas mãos e antes que eu pudesse acariciar sua pele, Jacob segurou-a. Ele apertou meus dedos contra a palma da minha mão e depois beijou-a.
Eu podia sentir que estava perto do fim e foi como uma explosão de sentimentos dentro de mim. Senti meus olhos queimarem, já pressentindo o pior. O que tínhamos feito, o que estávamos fazendo?
Então assim como aquilo tinha começado agora estava acabado. Jacob sentou-se ao meu lado, vislumbrando o pôr-do-sol, enquanto eu permaneci no chão do convés.
_ Desculpe.
De todas as coisas abomináveis que ele poderia dizer, se desculpar era a pior delas. Se desculpar, sem sequer olhar para mim, era mil vezes pior. Ele não sabia como aquilo fazia-me sentir pequena, uma poeira, um nada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "For Evermore" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.