For Evermore escrita por MelanieStryder


Capítulo 16
Capítulo 16 - The Little Prince




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Parece que eu tinha voltado a ser como antes.

Feito um zumbi, meus olhos perambulavam pelas ranhuras do velho forro de madeira do meu quarto. Eu tentei, juro que tentei por várias vezes fechar os olhos e lembrar que estava tudo bem agora, mas... E se acontecesse novamente? O que era aquilo que ela teve? Como assim morrer? Morrer... Eu jamais tinha imaginado minha vida sem ela, ainda que eu estivesse longe daqui, longe dela, eu sabia que ela estava lá, viva, em algum lugar e isso bastava.

_ Jacob?

Senti os braços febris de Leah me acariciando suavemente por debaixo do edredom. Permaneci imóvel.

_ Esse jantar demorou demais... Como foi?

_ Não consegui fechar negócio. _ Já tinha a desculpa na ponta da língua. _ Ainda.

_ Que pena amor...

Senti o corpo dela encaixar-se sobre o meu e o peso dela sobre meu corpo. Suas mãos seguravam meu rosto e ela começou a me beijar, cada vez mais intensamente.

_ Leah, não... Por favor, hoje não.

Ela se levantou um pouco e eu podia ver o brilho de seus olhos negros enquanto ela me fitava.

Tive pena por ter que enganá-la desta forma, mas eu não via outro jeito. Eu conhecia muito bem o gênio de Leah e ela não ía aceitar qualquer relacionamento que eu tivesse com Renesmee, ainda que fosse apenas uma amizade; o que realmente não era nada além do que nós dois éramos agora.

Puxei-a de volta para cima de mim e a aconheguei em meus braços. Ela não disse nada, nem eu. Eu estava muito ocupado me culpando por desejar estar abraçando Renesmee nesse momento e não Leah. Mas sem confundir as coisas... Eu só queria ter certeza de que ela estava bem de verdade.

_ Tem certeza que você foi a um jantar de negócios? _ Senti uma certa mágoa na voz dela.

_ Eu estava lá, com certeza. _ Menti mais um vez, friamente. Beijei sua testa.

Eu tinha pena dela, mas eu não me sentia tão mal quanto eu ficava enquanto mentia para Renesmee. Eu me sentia um covarde quando fazia isso. Já com Leah, mentir era uma necessidade. Era fácil, muito fácil.

...

Jacob me deixou na estrada. Eu não queria que ele se aproximasse demais de casa para que meu pai pudesse ler seus pensamentos.

Eu estava exausta e acho que ele quis me poupar na viagem de volta para Forks, então não falou nada além de perguntar de vez em quando se eu estava bem. Apesar disso, eu sabia que mais cedo ou mais tarde teria que me explicar; ele não ía se contentar com meias verdades. Bem, que fosse mais tarde então... Eu não queria mesmo chegar em casa com os olhos vermelhos.

Abri a porta da frente ligeiramente e encontrei-me com o olhar piedoso de Esme.

Meu pai jogou o jornal sobre a mesa e Carlisle desviou o olhar, com uma certa compaixão que eu não entendi no primeiro momento. Minha mãe mantinha-se de costas para mim, devia estar “chorando”, eu a conhecia muito bem para saber.

Devagar, aproximei-me da mesa de jantar e folheei o noticiário. Logo na segunda página, deparei-me com o que eu jamais poderia esperar. Havia uma gravura perfeita de meu rosto, desenhada com uma espécie de lápis de ponta grosseira. Era mais do que um simples esboço; um retrato falado. Era eu, não havia dúvidas! Embaixo da foto, letras pequenas descreviam a jovem como suposta homicida, cujo nome sabiam apenas ser Vanessa.

Corri para a varanda, de onde, completamente enojada pelas lembranças cruéis do mostro que eu era, despejei sobre a relva todo o ralo conteúdo de meu estômago.

Sentei-me no chão, já quase sem forças.

_ Fui eu... _ Confessei sem olhá-los nos olhos, enquanto meu rosto queimava, não pela vergonha do que eu tinha feito ao pobre rapaz, mas pelo que eu tinha feito à minha família. Tudo aquilo que Carlisle havia construído e agora, eu estava destruindo todo o seu legado.

Eu tentanva engolir o choro, esperando pelo que viria  aseguir. Duvido que eles fossem capazes de me machucar, mas talvez eles jurassem jamais falar comigo, talvez eles tivessem em mente me enclausurar em Denali, já que eu era um perigo em potencial para toda cidade, para Seattle, Port Angeles, para onde quer que eu fosse.

Abri os olhos enquanto tomava consciência do que estava acontecendo.

Ali, bem na minha frente, o Dr. Carlisle Cullen estendeu sua mão em minha direção. Eu podia dizer que ele sorria debilmente, se não fosse tão odioso o que eu tinha feito.

_ Errar é humano. _ Ele referiu-se a mim, do topo de sua sabedoria, prudência e sobretudo compaixão.

_ Eu não sou humana. _ Balbuciei tentando conter o choro.

Carlisle puxou meu corpo apenas com a força de suas mãos.

_ Você nasceu de dois seres humanos. Meu filho Edward já foi tão humano quanto você. _ Ele me corrigiu.

Então minha mãe me abraçou apertado.

_ Você não tem que ser perfeita filha, não tem...

O corpo dela tremia e a voz dela era quase um gemido triste e angustiado.

_ O que quer que seja, por favor, não esconda mais de nós... _ Meu pai disse com as mãos em meus ombros.

_ Era isso o que eu estava escondendo, nada mais. _ Disse sem exará-los.

_ Nessie... _ Novamente, meu pai me reeprendeu. O tom de sua voz confundia-me... Eu podia sentir nela um misto de tristeza e amargura. Logo compreendi que não estávamos mais falando apenas da atrocidade que eu havia cometido.

Foi então que me dei conta das mãos dele sobre minha pele. Tarde demais para esconder... Tentei desvenciliar-me, mas desta vez; ainda que gentilmente; ele não deixou que eu escapasse.

_ Eu preciso saber... Há quanto tempo isso vem acontecendo? Por que não nos contou? Carlisle, você... _ Ele continuava a invadir meus pensamentos, segundo a segundo.

E meu coração batendo cada vez mais acelerado, meu corpo tremia... Eu não podia com aquele assunto.

_ Não o culpe. Fui eu, eu implorei para que ele não contasse. _ Defendi-o.

_ Do que vocês estão falando? _ Minha mãe me olhou preocupada.

_ Alcalmem-se, acalmmem-se por favor!

_ Edward! _ Ela quase gritou. Eu podia sentir a revolta crescer dentro dela, por ser a última a saber.

_ Sentem-se. Eu vou explicar. _ Carlisle pediu e os dois o fizeram. Finalmente meu pai soltou meus ombros.

Eu permaneci encostada na pilastra da varanda, um pouco distante dos três.

_ Renesmee tem sentido os sintomas... _ Meu avô começou.

_ Sintomas? Que sintomas?

_ Bom, creio que seja algo no coração dela. Algo como um ataque cardíaco iminente. Ela tem algumas crises que estão cada vez mais freqüentes.

_ Nahuel disse que sua irmã transformou-se assim que atingiu a maturidade. Mas ele não disse como. _ Meu pai lembrou.

_ Exatamente. _ Carlisle concluiu. _ Pelos sintomas, creio que resta pouco tempo.

_ Pouco tempo? Quanto? _ Questionei.

_ Meses... Talvez um ano, não creio que mais que isso.

Senti as lágrimas rolarem. Eu não suportava mais segurá-las dentro de mim. Meses... Então era isso o que eu tinha.

_ Por que você nunca nos contou Renesmee? _ Minha mãe aflita perguntou.

Eu olhei para meu pai. Seu olhar estava triste. Ele já devia saber dos meus medos, das minhas angústias. Não adiantava mais mentir.

_ Eu não queria que vocês sofressem... Não queria que se sentissem envergonhados pelo meu medo, medo do que está por vir. _ Disse, sem olhar nos olhos.

_ Ela tem medo de não dar certo. _ Meu pai disse.

_ Não é isso pai.

_ É isso sim! _ Ele afirmou duramente.

_ Como assim não dar certo Edward? Como assim Carlisle? _ Ela se levantou, mais aflita do que nunca. _ Vamos deixar tudo preparado, as agulhas, o veneno, tudo! Se for preciso eu mesma lhe injeto.

Chorei, sem coragem para responder.

_ Bella, Bella, alcalme-se, sente-se por favor. _ Ele a puxou pelo braço. _ Ela tem medo do coração não agüentar.

Ela andou até minha e apertou as minhas mãos.

_ O que?? Não... Não é possível, até eu agüentei! Você agüenta, você agüenta.

_ E se eu não agüentar mãe?

_ Agüenta. _ Ela foi firme. _ Carlisle...

_ Sinto muito Bella, mas... Pode acontecer. _ Ele também envitou meus olhos.

_ Então... _ Ela voltou a se levantar. Deu a volta pela varanda, atordoada. Enfim, chegou até mim novamente. Segurou minhas mãos, acariciou-as e olhous no fundo dos meus olhos. _ Então vamos antecipar.

_ Não! _ Impetuosamente, a palavra saiu de minha boca em um grito, antes que eu pudesse raciocinar com clareza.

_ Como não? Ness!? Ness, pelo amor de Deus! _ Eu podia ver o desespero em seus olhos. Minha cabeça rodava em torno daquela proposta, com o desespero vindo da expressão de minha mãe, com minhas próprias vontades, com meus olhos, com Rian, Jacob, Forks, Denali, exílio, tristeza, melancolia, eternidade...  _ Vamos, responda! _ Ela gritou.

_ Eu... Eu não sei... _ Disse em meio ao choro. _ Eu não sei mãe, não sei... Desculpe...

Meu pai se levantou da cadeira e tirou as mãos dela de mim.

_ Bella, Bella...

...

Não houve muito o que conversar na última noite. Carlisle já sabia, meu pai descobriu, apenas minha mãe parecia bastante abalada com o fato de eu ter escondido meus episódeos de dores do peito. Aliás, surpeendeu-me a reação que ela teve, pois meu futuro já estava determinado desde que eu nasci.

Só tinha uma coisa que eu sabia e tinha certeza neste momento: um novo dia começava e eu não queria pensar no que ela tinha me dito... Antecipar, tornar-me definitivamente uma vampira. Não, não hoje, nem amanhã, nem depois, nem na próxima semana. Eu só não queria pensar; ter que decidir agora.

À tarde, quando saí de casa para me encontrar com Jacob, os três ainda estavam na varanda, com as mesmas roupas que vestiam na noite passada, podia dizer que quase plantados no mesmo lugar. Certamente Carlisle deve ter esclarecido a situação a meus pais. Agora, no rosto de minha mãe, uma expressão menos dolorosa prevalescia, mas sempre, ao lado da tristeza.

Passei devagar no meio deles e antes que começasse a descer os degraus, ouvi a voz sedosa de meu pai.

Voltei alguns passos e ele me abraçou.

Esperei que ele me dissesse o que estava entalado em sua garganta, mas fomos interrompidos pela buzina da caminhonete de Jacob.

Ele sorriu enquanto segurava minhas mãos desnudas, prontas para serem lidas por sua mente prodigiosa.

_ Faça... _

Eu retribuí seu sorriso maroto.

_ Só não faça nada do que se arrependa depois. _ Ele concluiu.

_ Pode deixar pai.

Então ele voltou a apertar minha mão.

_ Isso vale para todas as outras coisas também.

_ Jacob, não é mesmo?

Ele balançou a cabeça positivamente.

_ Não há nada para acontecer, nada para se fazer a respeito disso, não se preocupe.

_ Mãe... _ Abracei-a, enquanto o corpo dela permaneceu imóvel. Apesar não haver mais aquele desespero, ela ainda parecia estar um tanto quanto atordoada.

_ Ness, você tem que deixá-lo. Esse Rian, você precisa deixá-lo.

_ Eu bebi naquela noite. Foi por isso que aquilo tudo aconteceu... Se eu não tivesse bebido...

_ Você podia tê-lo matado!

_ Bella, ela está muito bem controlada. _ Meu avô comentou. _ Se bebeu, certamente deve ter se distraído.

_ Carlisle, ela tem razão. A qualquer momento a transformação pode começar ou falhar. _ Minha mãe fitou-me. _ Você tem que estar por perto Ness, tem que estar com quem te conhece de verdade, senão, pode ser que não seja possível... _ Ela não completou a frase, mas eu sabia o que ela queria dizer. Eu entendia a preocupação dela e de certa forma, minha mãe tinha razão. Rian não sabia quase nada sobre mim; não sabia o mais importante. A qualquer momento eu poderia passar mal e acabar morrendo nas mãos dele. E se eu passesse mal novamente e ele acabasse me levando ao médico? Na certa íam descobrir que eu não sou normal.

_ Eu... Eu entendo mãe... De certa forma eu entendo sua preocupação, mas, às vezes penso que se eu for viver assim... Ora, isso não é vida! Não dá para viver 100% do tempo pensando no seu último dia, tentando evitar o inevitável. Quando tiver que acontecer, vai acontecer. O que quer que seja vai acontecer. Eu já aceitei mãe e você devia aceitar também.

_ Ness... _ Ela balançava a cabeça negativamente.

_ Mãe, de qualquer forma, Rian está indo embora na próxima semana.

_ Que bom. _ Ela sorriu debilmente.

_ Pena que eu não possa dizer o mesmo... _ Murmurei.

Jacob buzinou.

_ Eu já vou.

Acenei para os três corri em direção à caminhonete preta.

_ Nossa, vocês falam, hein?

Jacob sorriu sem me olhar nos olhos, em seguida buzinou e acenou para minha família que ainda permanecia imóvel na varanda.

De repente comecei a me sentir aflita. Eu estava ali, junto com Jacob, escondendo aquele segredo terrível dele. Agora eu já tinha conseguido a pior parte, que era me abrir com minha família. Eu não queria mais mentir para Jacob.

_ Jake, eu tenho que te contar uma coisa. _ Apertei o braço dele, enquanto ele engatava outra marcha e nós pegávamos a rodovia em direção à Port Angeles.

_ Você está preocupada... O que foi?

Senti meu coração acelerar e por um segundo eu não tinha as palavras certas para começar a contar-lhe; elas fugiam de minha mente.

_ Tem uma coisa... Uma coisa que eu não te contei.

_ O que é? Mais um segredo? _ Ele sorriu, mas eu não consegui retribuir.

_ Não brinca Jake.

_ Nossa. _ Ele parou devagar no acostamento da estrada. _ Você está pálida. Vai, me conta.

Inspirei fundo para começar.

_ Eu fiz uma coisa horrível. _ Eu disse com os lábios trêmulos. Havia uma grande chance dele surtar quando eu dissesse.

_ Mas que tipo de coisa? Vai... Pode falar.

_ Você vai me odiar... _ Bufei sentindo a adrenalina percorrer todo o meu corpo.

_ Ahh, uma coisa horrível? _ Ele sorriu e deu a partida novamente. _ Eu já sei o que é.

_ Você nem imagina...

Ele engatou a primeira marcha e voltou para a estrada.

_ Quer ver que eu advinho? Seattle, whisky, Vanessa Wolf, mordida, sangue. Acertei?

Eu não sabia o que dizer. Eu só conseguia pensar; tentar imaginar; como é que ele sabia daquilo. E seu comportamento... Ele estava até rindo.

_ Jacob... Como...

_ Ness... Nós somos lobos, somos parte do mesmo clã; da mesma matilha. Eu sei tudo sobre eles e eles sabem tudo sobre mim. É inevitável!

_ Seth?

Ele apenas afirmou com a cabeça.

_ Puxa...

_ Relaxa, acontece nas melhores famílias. Além do mais, você não tem que ser perfeita.

_ Já ouvi essa frase antes... _ Murmurei, meio chateada.

Jacob continuou a dirigir com aquele sorriso nos olhos.

_ Hey! Não fica assim! _ Ele me puxou pelos ombros e eu escorreguei pelo banco de couro para mais perto dele. _ Estamos indo fazer tua tatoo e você fica assim, com essa cara? Devia estar pensando em qual desenho você vai fazer.

De repente eu já estava bem. É quase impossível descrever o quanto eu estava aliviada, até mesmo por ele já saber. Melhor que isso era saber que ele não se importava; que ele havia perdoado.

Foi inevitável não sorrir.

_ Eu já escolhi faz tempo...

_ Sério? O que é?

_ Na verdade, estou na dúvida entre duas... Mas de qualquer forma, não conto, você vai rir.

Jacob ficou me atormentando durante o resto da pequena viagem até Port Angeles, mas é claro que eu não falei nada. De certa forma eu me setia orgulhosa por saber e ter a certeza do que eu queria tatuar. Por outro lado, eu tinha um certo receio do que ele iria pensar.

Enfim chegamos no tal tatuador que ele disse que conhecia.

_ Você tem certeza que esse cara é bom?

_ Na verdade é o Jared que conhece ele. Você já viu as tatuagens dele?

_ Já... São ótimas.

_ Então...

Esperamos um pouco na ante-sala e enquanto isso eu fiquei olhando algumas pastas cheias de figuras, até que chegou a minha vez.

_ Eu vou entrar com você.

_ De jeito nenhum! Você espera aqui.

Percebi uma rusga de preocupação em sua testa.

_ Eu vou ficar bem. _ Sorri, depois falei baixinho no ouvido dele. _ Eu não vou morder eu mesma assim que sentir o cheiro do meu sangue.

_ Ness...

Finalmente tinha conseguido convencê-lo a ficar na sala de espera. Pensei que seria mais rápido, mas pelo jeito minhas tatuagem fizeram o tatuador quebrar a cabeça. Sim, eu tinha feito duas tatuagens. Estava muito difícil escolher entre os dois modelos que eu levei rascunhados em um papel e como gostei do resultado da primeira, resolvi já embalar na segunda. Mas para Jacob, eu só mostraria uma. Eu... Eu não queria que ele se sentisse responsável por aquilo... Efim, era só algo em que eu acreditava, algo verdadeiramente importante pra mim e ele não precisa compreeder, nem saber da existência daquilo.

...

Renesmee saiu daquela maldita sala quase três horas depois. Eu já estava com o coração na mão. Cheguei até a pensar que ela tinha atacado o tatuador ou coisa parecida.

Ela pagou e nós saímos.

_ E então? _ Perguntei.

Aquele silêncio... Pior, o sorriso enorme que ela trazia no rosto me deixava cada vez mais ancioso.

_ Eu gostei. Adorei!

Enfim, ela disse alguma coisa.

_ Não vai me mostrar? Eu também estou curioso para saber qual delas vocês escolheu.

_ Quando chegarmos em Forks.

_ Ness... Você me mata desse jeito!

Chegamos em Forks à noitinha. Eu estacionei a caminhonete na estrada, em frente à casa dela, onde as luzes na varanda não nos alcançavam.

_ Quer entrar? _ Ela disse enquanto fechava a porta.

_ Não, preciso ir para casa.

_ Então eu já vou. _ Ela sorriu em meio à fina névoa úmida que nos envolvia.

_ Hey... Não está esquecendo de nada? _ Sorri.

_ Bobo. _ Ela riu. _ Está escuro aqui, você não vai conseguir ver.

_ Não seja por isso! _ Entrei na caminhonete e peguei um pequeno farolete no porta luvas. Acendi-o na cara dela.

_ Ai, isso cega! _ Ela riu.

_ Chega “dona enrolona”. Me mostra logo essa tatuagem. Eu aposto que é um tribal.

Ela riu, balançando a cabeça negativamente. Segundos mais tarde, eu descobriria quão tolo eu tinha sido a respeito de Nessie. Tolo, completamente tolo, durante toda a minha vida.

 _ Está bem.

Ela disse, tirando uma manga da grossa blusa de lã que ela vestia. Nossa, onde será que ela tinha feito a tatuagem?

_ É pra olhar só a tatuagem, hein Jacob!

Ela virou de costas para mim e ergueu a blusa. No ombro esquerdo dela, “O Pequeno Príncipe” de Saint-Exupéry alçava vôo pelo espaço, segurando algumas cordar finas, presas nas patas dos pássaros selvagens.  Ao redor dele, seu pequeno planeta, a lua e pequeninas estrelas dançavam delicadamente na pele alva de Renesmee.

_ Ness... _ Eu quis tocar, mas devia estar doendo.

Ela abaixou a blusa e sorriu debilmente, com um certo rubor em seu rosto.

_ Você achou ridícula, fala sério.

_ Não... Achei linda. Não era nada do que eu esperava, mas... _ Eu estava um pouco atordoado com o que tinha visto.

_ Mas?

_ Mas... É tão... Tão você.

Então ela sorriu. Parecia estar aliviada.

_ Sério?

_ Ficou delicada, bonita. Mas não só a figura, estou falando da história por trás dela.

_ Às vezes eu me sinto como ele.

_ Como assim?

_ Sozinho em seu próprio mundo.

_ Ness... _ Eu não pude deixar de abraçá-la. Eu não sei por que mas eu estava sentindo uma vontade inexplicável de chorar. Era um misto de pena, compaixão, remorso, culpa... Um turbilhão de sentimentos passava pela minha cabeça.

_ Hey, você ficou estranho... _ Ela comentou, ainda em meus braços.

_ Você não está sozinha. _ Eu olhei-a nos olhos. _ Você não está sozinha, Ness.

Ela fitou-me, da mesma forma que eu estava fazendo. Então, de repente, ela sorriu.

_ Tem razão. Talvez você seja minha rosa, única, aquela que me cativou.

_ Nessie... _ Eu disse com reprovação. Na verdade, com mais remorso do que reprovação.

_ É sério! Eu nunca tatuaria nada que não tivesse significado algum para mim.

_ É estranho me ver tatuado em você...

_ Não é nada sobre você Jake, não se preocupe. É sobre mim, sobre o que eu sinto, o que eu sou.

Sorri, tentando comprendê-la. Eu sempre achei fácil lê-la, mas agora, era difícil olhar em seus olhos e compreender o que se passava dentro dela. Eu não sei como consegui viver tanto tempo sem me dar conta de que Renesmee era assim tão sensível. Agora eu podia ver claramente os sentimentos dela, tudo o que eu nunca exerguei, estavam à flor da pele, estava gritando.

Eu ri.

_ O que?

Lembrei de uma frase. Acho que você vai gostar.

_ Então diga. _ Ela riu.

Eu apertei as mãos dela e disse exatamente o que eu estava pensando agora sobre ela.

_ O essencial é invisível aos olhos.

Ela terminou a frase comigo sorrindo ainda mais.

_ Não sabia que era fã do “Pequeno Príncipe”.

_ Não sou. Eu li uma vez quando estava na Inglaterra, mas faz tempo. Mas agora, olhando para você, me veio essa frase na cabeça.

Ela continuou sorrindo.

_ Eu acho que eu não te conhecia de verdade até hoje...

_ Poxa, veja o que uma tatuagem não faz com a gente.

Ela brincou e nós rimos.

_ Pois é...

Então ficou aquele silêncio estranho que algumas vezes aparecia e nos deixava meio que sem reação. Eu nem sei porque aquilo acontecia às vezes. Era... Parecia até que era nosso primeiro encontro. Muito estranha a sensação que ele me trazia.

_ Semana que vem é seu aniversário. _ Lembrei.

_ Dezoito anos. Que velha eu já estou.

Nós rimos.

_ Vou dar um par de muletas para minha velhinha preferida.

_ Jake!

Ela empurrou meu peito e fiquei querendo que a mão dura e fria dela me tocasse novamente. Doentio. Eu estava tendo cada desejo estranho ultimamente...

Abracei-a. Foi ridículo, mas eu tinha que fazer. A vontade era forte demais para ser contida.

...

_ Que história é essa de morrer? Quem história é essa de me deixar, hein Ness? _ Ele sussurrou em meu ouvido, fazendo os pelos do meu braço arrepiar.

_ Eu sou o que ninguém nunca viu Jacob. Todos sabem que a transformação é inevitável para mim. O que ninguém sabe, é se eu agüento.

Então ele me soltou e fitou-me. Depois eu percebi um sorriso tímido nascer em seu rosto.

_ Você vai ser um vampirinha linda. _ Ele fez cócegas em meu nariz, embora eu pudesse sentir o tom diferente de sua voz, acompanhado pelo brilho exagerado de seus olhos, quase que marejados.

_ Sinceramente, eu não sei o que é pior... Morrer para a eternidade ou apostar no desconhecido. _ Senti a testa de Jacob encostar-se à minha.

_ Shh... Não fala bobagens. Eu só sei de uma coisa... _ Jacob segurou minhas mãos e beijou-as, ainda com sua testa escostada na minha. _ Você vai ser sempre a minha Ness, sempre.

Forcei as lágrimas para dentro dos meus olhos novamente. Como ele podia? Como ele ousava? Será mesmo que ele não tinha idéia de como era terrível para mim ouvir aquilo?

Como se não bastasse, ele começou a mexer no meu cabelo; tentando domar os fios revoltos.

...

_ Vem para Port Angeles comigo no próximo sábado.

Foi irresintível, eu tive que convidá-la.

_ Fazer o que? _ Os olhos cor de caramelo e curiosos de Renesmee brilharam em minha direção.

_ Vou te dar seu presente e é claro, a oportunidade de realizar mais um desejo de sua lista.

Antes que eu pudesse terminar de falar, ela já pulava feito uma criancinha.

_ Me conta, me conta!

_ Na-na-não! Só mesmo no sábado.

_ Não é uma festa, é? _ Ela disse meio que com o pé atrás. _ Eu não estou muito afim de festa.

_ Vamos sair de dia, então não dá pra ir a uma festa de dia com você. _ Eu ri. _ Relaxa, não é uma festa. Vamos fazer algo juntos, só nós dois.

Ela sorriu e eu me senti pleno vendo-a feliz como eu julgava que ela estava.

_ Está bem, eu vou.

_ Eu venho te pegar logo cedo, às 6 da manhã. Esteja pronta, hein?

_ Eu estarei.

Então ela saltou gentilmente em meu pescoço e eu a segurei nos braços, embriagando-me de seu cheiro doce e entorpecente.

_ Obrigada por me levar para fazer a tatuagem Jacob, eu adorei.

_ Eu também gostei de ter passado a tarde com você. _ Beijei seu rosto frio feito o de um cadáver e ainda sim desejei que aquele momento nunca se extinguisse. Mais uma das minhas mais rescentes insanidades.

...

Saímos naquela noite para ir ao cinema. Como de costume, Rian me buscou em casa; no portão de casa.

Deixamos a sala do cinema de mãos dadas, aos beijos, os três casais. Sim, Mike estava com Jéssica. Então cada casal entrou em seu carro e seguimos para a o topo de uma montanha, de onde, segundo Mike, dava para ver a cidade e também ao longe, La Push. Era um local onde muitos casais íam para namorar, já que em Forks, não havia nada para se fazer.

_ Que vista... _ Disse olhando a cidade de Forks da beira do penhasco.

_ Bonita, né? Eu também nunca tinha vindo até aqui. _ Rian segurou meu rosto em suas mãos. _ Você é sempre tão fria...

Eu sorri.

_ Está frio.

_ Nem tanto, já esteve pior. E mesmo assim você...

Beijei a boca de Rian para que ele não continuasse a pensar naquilo, mas ele logo parou e segurou minhas mãos geladas, beijando-as.

_ Você... Você nunca mais teve nenhum daqueles ataques?

_ Não.

_ Tem certeza? Não está mentindo?

Foi minha vez de segurar o rosto dele entre minhas mãos e beijá-lo.

_ Claro que não. _ Menti. Ele não precisava saber, não ía adiantar nada mesmo...

_ Que bom. _ Ele sorriu tímido.

_ O que foi? Você quer me dizer alguma coisa?

_ Você já começou a me conhecer... _ Ele riu nervosamente, apertando-me ainda mais contra ele. _ Eu nunca te enganei Renesmee, então...

_ Pode falar. _ Enconstei minha testa na dele. _ Você pode me falar tudo o que quiser Rian, sempre.

_ Ness, você é especial e... E eu realmente queria poder passar com você o resto dos seus dias, te levar pra fora daqui, pra conhecer todas as coisas que você me disse que nunca viu, mas...

Eu fiquei olhando para ele, já imaginando o que ele iria me dizer.

_ Mas... Acho que falta alguma coisa entre a gente...

_ Falta amor, não é mesmo? _ Falei olhando nos olhos dele, mas ele desviou.

_ Renesmee, não fala assim. _ Tirou minhas mãos do seu rosto.

Eu ri.

_ Por que não falar se é a verdade?

Rian afastou-se de mim, mas depois voltou.

_ Eu não queria ser duro desse jeito com você. Você não merece. _ Ele me abraçou.

_ Mas é a verdade. E é uma verdade que eu conheço e também participo dela porque Rian, infelizmente eu também não amo você. _ Fiquei olhando-o, esperando a reação dele perante aquilo que eu tinha dito, mas ele continuou parado, sem movimento algum. _ Eu não sou de vidro Rian, eu posso agüentar e acho que você também pode.

Rian afagou meus braços e sorriu. Depois voltou a me olhar e a segurar meu rosto.

_ Às vezes eu acho que eu te conheço. Outras vezes eu sinto como se não soubesse nada sobre você. Às vezes você é tão frágil, tão inocente, mas outras... Você é tão madura.

_ Você está se referindo à minha doença?

_ Sim. _ Ele abaixou a cabeça.

Senti pena dele e uma vontade tremenda de contar-lhe a verdade, de que eu iria morrer sim, mas renascer de uma forma diferente (se tudo desse certo). Mas era loucura contar-lhe aquilo.

_ Oh, não fique assim...

_ Eu tenho que voltar para Los Angeles Nessie. _ Ele disse sem olhar para mim. Eu já esperava que mais cedo ou mais tarde ele teria que voltar para sua casa. _ Eu me sinto um canalha por estar de deixando assim.

Puxei o rosto dele de volta para mim.

_ Não era pra ser mesmo Rian. Deixa ser como tem que ser. Eu não vou ficar com raiva nem nada. _ Sorri. _ Eu vivi tantos bons momentos com você. Eu nunca vou esquecer de você!

Então ele me abraçou e me levantou do chão.

_ Você merece muito mais que isso Renesmee. _ Ele falou abafado no meu pescoço.

_ Obrigada Rian, por tudo, obrigada mesmo por ter sido tão bom comigo.

_ Confesso que no começo eu só queria te dar uns beijos, mas depois...

Nós dois rimos alto.

_ Depois que eu te conheci, Nessie... _ Ele me olhou nos olhos sorrindo. _ Obrigado por ter feito parte da minha vida, ainda que por pouco tempo.


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