For Evermore escrita por MelanieStryder


Capítulo 1
Capítulo 1 - My Sweet Memories


Notas iniciais do capítulo

Prefácio

Não precisei abrir os olhos para saber que ela estava lá. Inspirei profundamente aquele doce e entorpecente aroma característico da minha família, mas aquele; especificamente aquele; era especial. Sim, era ela, minha mãe.
Tomei fôlego e finalmente a fitei. Ela estava sentada ao meu lado, segurando forte a minha mão. Linda, estonteante, como diria meu pai.
Eu desenhei carinhosamente os traços perfeitos do seu rosto com meus olhos e por fim, terminei o contorno em seus cabelos castanhos avermelhados que emolduravam graciosamente sua pele alva e sedosa.
Apesar de sua beleza sobre-humana, seus olhos cor de whisky estavam humanos demais hoje. Se minha mãe pudesse chorar, ela estaria se debulhando em lágrimas agora, eu tenho certeza. Ela tinha tanta dor naqueles olhos...
Eu sorri e acariciei o rosto dela.
— Mãe, é a minha escolha...



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Não conseguia me controlar no assento. Forks. Estava voltando pra Forks, a cidade onde eu nasci. “La Push...” murmurei, depois sorri debilmente. Claro, não era para ser diferente: eu tinha me delatado de novo. Eu havia murmurado tão baixo de forma que seria impossível que alguém tivesse escutado, exceto se toda minha família não estivesse naquele vôo.

Olhei imediatamente para trás querendo ver a reação de cada um deles. Eu não costumava deixar que meus sentimentos transparecessem assim tão fácil, mas eu estava muito ansiosa e isso me tirava do sério. Além disso, eu também sabia que todos estavam na expectativa do que poderia acontecer quando eu e Jacob nos encontrássemos novamente. Se eu pudesse definir o clima que pairava sobre minha família naqueles últimos dias, a palavra seria expectativa. Claro que para mim era pior, pois era eu quem mais ansiava por vê-lo. Eu só tinha dez anos quando ele foi embora e naquela época era uma paixonite boba de criança. Também não podia ser diferente, porque eu cresci com ele vivendo ao meu lado. Ah, e como dizia a Rosalie, eu dormia toda noite com o cachorro... Eu também sabia, vagamente mais sabia sobre aquela coisa toda de impressão, mas eu não tinha mesmo noção de como era. Eu era apenas uma criança naquela época... Foi culpa do Seth, foi ele quem me contou sobre tudo, absolutamente tudo sobre a tribo Quileute, as lendas, o que era verdade, o que era mito, o que eles nem mesmo sabiam se era ou não era real. Enfim, o Seth sempre falou mais que a boca, já dizia o meu pai e aí um dia ele começou a me contar sobre Sam Uley e sua esposa Emily. Depois disso eu implorei pra que ele me levasse na reserva para conhecê-los. Eu estava fascinada com aquela história de amor. Ela era humana e ele um lobisomem. Eu era meio-vampira e Jacob era um lobisomem. Se deu certo com Sam, por que não poderia dar certo com a gente?

Eu havia aprendido com a minha mãe a como convencer meu pai. Então um dia eu implorei apra ele: “por favor, por favor, por favor!” e ele me olhou com aqueles olhos cor de caramelo e vi um pequeno sorriso escondido no canto de seus lábios. Eu não acho realmente que ele entendeu porque eu queria tanto ir até a reserva conhecer de perto toda a matilha, mas de alguma forma, ele confiava que eu estaria segura lá.

Mesmo ausente Jacob ainda era o Alpha e todos os lobos deveriam seguir suas ordens. A última que ele deu foi para que enquanto ele estivesse fora, a patrulha continuasse até os limites territoriais da minha família; dos Cullen; e que eles nos protegessem de tudo e de todos que pudessem nos fazer mal. Em troca disso, o tratado continuava de pé: nenhum vampiro poderia transformar ninguém ou ceifar nenhuma vida humana e, além disso, respeitar os limites territoriais é claro.

O que eu estava pedindo para o meu pai era apenas desrespeitar os limites de nossas terras. É claro que eu sabia dos riscos, conhecia as conseqüências e não queria de forma alguma expor minha família, muito menos meu pai, a quem eu amava mais que minha própria vida, mas... todo mundo complicava tanto! Eu e minha mãe sempre partilhamos da mesma opinião: por que é que eu não posso ser só a Nessie, Edward só Edward, Bella só Bella e Jacob só Jacob? Mas a verdade doía... Meus pais eram os vampiros, os Quileutes era os lobos e eu era o monstro que ninguém sabia definir direito o que era.

O mais absurdo é que os lobos tinham acesso irrestrito às nossas terras, e nós nunca podíamos ir até La Push. Em toda minha vida, eu nunca tinha visto o mar. Praia não era uma coisa assim fácil de ir. Sol, gente para tudo quanto é lado não combinavam com os Cullen e isso também se aplicava a mim. Embora minha pele contra a o sol não pudesse cegar uma pessoa, eu sabia que havia uma luminescência nada natural, digamos que até um pouco assustadora. Eu me achava feia no sol.

Então naquela noite corremos da casa branca, eu e meus pais, até montanha acima, para ver se encontrávamos alguém patrulhando. Paramos em uma pequena clareira, iluminada apenas pela luz da lua, o que para nós não fazia diferença alguma, pois tudo era sempre muito claro, muito vivo. Eu olhei para os lados e nada, inspirei profundamente, mas não parecia ter nenhum rastro de lobo por perto, até que ouvimos um uivo não muito longe dali.

_ Seth? _ Eu chamei. _ Sou eu, Nessie.

Quando menos esperávamos, Sam saiu do meio da floresta em sua forma humana. Ele nos olhou no fundo de nossos olhos e depois estendeu à mão para meu pai, que prontamente a apertou. Seth apareceu atrás dele. Era um lobo enorme.

_ Seth andou conversando com Renesmee, contando algumas coisas para ela sobre a reserva, sobre os moradores de lá, sobre vocês... enfim, ela me disse hoje que gostaria muito de conhecer tudo isso.

Eu reparei que depois que meu pai falou, Sam olhou pra baixo, fazendo o possível pra não encará-lo. Eu não entendia o que era aquilo, mas anos mais tarde eu pude compreender. A resposta que Sam tinha estava na ponta da língua: não!

Então houve um silêncio por alguns instantes e eu supus que meu pai estava lendo sua mente. Alguns anos depois, minha mãe me contou que Sam não estava encontrando as palavras certas pra dizer não na frente de uma criança e que aquela aventura da qual eu estava disposta a participar poderia ser perigosa, já que outros moradores poderiam me ver, tendo em vista que já haviam lendas sobre demônios meio-humanos que se faziam passar por eles para ganhar a confiança e depois matá-los. Confesso que quando minha mãe me contou essa história eu chorei feito um bebê. Eu não era um demônio e não queria que as pessoas pensassem assim de mim. E aí o medo foi apertando cada vez mais... será que Jacob tinha ido embora pois pensava assim de mim? O que o tinha feito fugir? Será que aquela coisa de impressão não era então pra uma vida inteira? E se ele tivesse se apaixonado por outra pessoa? Eu abracei forte a cintura da minha mãe e deitei minha cabeça no colo dela, como eu costumava fazer quando era criança. Chorei até secarem as lágrimas e minha mãe ficou ali comigo, cantando aquela canção de ninar que um dia meu pai tinha feito para ela.

Sam finalmente voltou a olhar para meu pai.

_ Tudo bem Sam, eu compreendo. _ Meu pai respondeu e depois continuou falando, como se ninguém mais estivesse lá. _ Você está certo.

_ Não, não está certo. Jacob não ia querer que fosse assim...

Seth grunhiu do lado dele e abanou o rabo, como se tivesse concordando com aquela afirmação.

_ Seth pode levá-la amanhã, mas só até a minha casa. Vamos evitar a praia e o lado mais populoso da reserva. _ Ele decidiu. Olhou pra mim e esparramou o cabelo da minha cabeça, afagando-o. Instintivamente, meu pai pressionou meu peito com suas mãos pesadas feito concreto, como se estivesse me protegendo de algo.

_ Desculpe. _ Ele disse à Sam.

_ Não se preocupe. Ela estará segura conosco. _ Ele garantiu.

A voz do comandante foi como um clique para que minha mente voltasse a se prender ao meu corpo. Meu coração pulsava descompassadamente à medida que nos aproximávamos de Forks. Minha cabeça estava tão cheia de pensamentos e recordações que eu estava ficando cansada. Fixei então os olhos à minha frente e os primeiros que eu vi foram meus tios Emmett e Rosalie. Eles tinham um sorrisinho malicioso em seus rostos, deviam estar escutando as batidas frenéticas do meu coração. Rolei os olhos. Agora Emmett ia me torrar pro resto da vida... Na fileira de trás, meus avós Carlisle e Esme pareciam mais discretos e fingiam estar olhando pela janela. Passei os olhos para o outro lado do corredor e vi somente agonia nos olhos de Jasper. Não devia ser fácil para ele estar dentro de um avião cheio de sangue humano. Confesso que para mim também não era tão fácil, pois eu também sentia minha garganta queimar quando a sede chegava, mas não que eu fosse pular em cima de alguém e cravar meus afiados dentes em seu pescoço, embora muitas vezes eu tivesse vontade. Ainda sim, eu não conseguia compreendê-lo. Alice olhava fixamente pra mim. Parecia que ela estava olhando para dentro de mim, cavando, vasculhando alguma coisa, mas eu sabia que ela não estava vendo nada. Não havia nada significante pra ver, a partir do momento que eu havia feito a minha escolha. Ela apertou os olhos, balançou a cabeça e finalmente me viu fitando-a. Sorriu, ainda que um pouco desapontada.

Voltei a sentar corretamente na poltrona e inclinei meu corpo um pouco para frente para vê-los. Depois do corredor, na mesma fileira que eu estavam meus pais. Dei graças a Deus que meu pai não pudesse ler meus pensamentos, assim como acontecia com minha mãe. A única diferença é que se ele me tocasse, ele saberia, diferente da minha mãe, que tinha aquele escudo que a protegia. Claro, eu era somente meia-vampira e já era extraordinário que eu tivesse algum talento.

Meu pai sorriu pra mim e eu sorri de volta. Meu pai... se eu dissesse à alguém que ele era meu pai com certeza iam rir da minha cara. Ele era lindo, jovem, não era possível dizer que ele tinha mais que vinte anos. Era a mesma coisa com a minha mãe. Eles estavam congelados desde que haviam sido transformados. Eu vi minha mãe apertar a mão dele. Certamente ela estava conversando com ele sem precisar dizer uma palavra. Eu faria uma aposta de que ela estava perguntando para ele se ele conseguia ouvir alguma coisa sobre mim ou se Alice tinha visto alguma coisa. Meu pai balançou a cabeça negativamente bem devagar. Claro que eu percebi! Eu sabia todos os truques daquela família, ainda mais sobre meus pais. Às vezes parece que eles esqueciam que eu era o fruto do amor deles; que biologicamente eu era uma criação deles; que eles não poderiam esconder nada de mim. Eu gargalhei.

_ Pai!

A mulher que estava sentada do meu lado olhou para ele e depois olhou pra mim. Com certeza ela devia estar imaginando como aquele garoto poderia ser meu pai. Não demorou para as questões aparecerem.

_ Aquele garoto fabuloso é seu pai mocinha? _ Ela apontou pra ele, evitando olhá-lo nos olhos.

Eu daria tudo pra saber o que ela deveria estar pensando agora. Com certeza ela estava deslumbrada com a perfeição das feições do meu pai e eu também não duvidava de que ela estivesse tendo pensamentos impróprios com ele.

_ Não, claro que não! _ Tentei esconder o rubor na minha face, mas sentia o sangue passeando pelo meu rosto.

Ela olhou novamente para meu pai e depois pra mim. Era óbvio que éramos parecidos, ora, eu era filha dele!

Ri um pouco alto demais. Eu odiava o fato de que sempre que eu ficava nervosa eu me descontrolava um pouco. Minhas reações eram sempre exageradas. Pelo menos eu não tinha o mesmo problema com as lágrimas que minha mãe tinha.

_ Ele é meu irmão. _ Eu olhei para o meu pai de novo. _ Edward, pára de palhaçada! Quando a gente chegar em casa vou te socar! _ Será que era assim que uma adolescente que tinha um irmão pentelho deveria se comportar? Bom, eu não tinha um irmão, mas eu tinha Emmett, então me espelhei no relacionamento que eu tinha com meu tio para a encenação.

A mulher sorriu convencida.

_ Vocês são realmente parecidos... _ Ela olhou para o meu pai e depois mais uma vez pra mim. _ Vocês não são de Port Angeles, são? _ Ela olhava fixamente para o meu rosto e eu estava sem resposta. _ Vocês parecem... Estrangeiros. _ Parecia que ela estava um pouco constrangida ao dizer aquilo. Logo compreendi que devia ser a cor da nossa pele. Então me veio à memória a velha e boa mentira.

_ Somos do Alaska. _ Eu contei enquanto preparava os fones de ouvidos. Não era bom ficar contando histórias pra estranhos. _ Nascemos e crescemos lá. _ Eu sorri. _ Você deve estar se perguntando sobre nossa aparência, certo? _ A mulher ruborizou imediatamente. _ Sabe, lá no Alaska não faz muito sol... Isso é o que acontece quando você não toma muito banho de sol. _ Eu sorri pra ela. Agora a expressão dela era de desconcerto total. Era como se ela estivesse se desculpando por ter sido tão xereta, ou por ter imaginado uma pergunta tão boba.

Eu coloquei os fones de ouvido, ainda com um sorriso amistoso no rosto. A mulher se recolheu em sua poltrona, ainda com aquele sorriso amarelo. Logo ela fechou os olhos e eu pude respirar tranqüila.

Eu sabia que esse tipo de questionamento... não essa coisa sobre nossa pele, mas sobre quem nós éramos, ou melhor, quem eu era, poderia surgir em Forks e era por isso que para todos os efeitos eu era a última filha que Carlisle havia adotado. Logo, até meus pais eram meus irmãos. É claro que nós íamos evitar a cidade, mas a mentira deveria estar ali, engatilhada e na ponta da língua para quem quisesse saber. Outra parte da mentira era que a família de Carlisle estava de volta na cidade para uma temporada de caça aos ursos. E é claro que Rosalie e Alice traziam uma bagagem enorme de maquiagem para ver se eles conseguiam fingir algumas marcas de expressão, se fosse necessário se expor na cidade.

Descemos do avião e nos encontramos no saguão do pequeno aeroporto de Port Angeles.

_ Sua pestinha! _ Emmett bagunçou meu cabelo enquanto eu me abraçava à Rosalie e caminhávamos todos em direção ao estacionamento. Meu pai e Carlisle já haviam cuidado do nosso transporte até Forks. Eu já estava esperando aquela ostentação de sempre.

_ Aposto que você mandou trazer um Volvo...

Meu pai torceu os lábios como costumava fazer e sorriu.

_ O que nós estamos apostando? _ Ele estava querendo alguma coisa. Eu conhecia aquele tom.

_ Hum... deixa eu pensar...

_ Que tal seis meses sem cachorro em casa? _ Ele disse não contendo a risada embora eu soubesse que havia sim um fundinho de verdade naquilo. Não que meu pai não gostasse do Jacob, isso era coisa do passado, mas também não era verdade que ele concordava com determinado tipo de relacionamento que eu tivesse com ele.

Não era raiva do meu pai, mas eu realmente não gostava da maneira como eles se tratavam. Cachorro de um lado, sanguessuga de outro. Eu odiava de todas as formas esse tipo de comentário. O que eu era então?

_ Que tal seis meses de férias para mim em La Push? _ Disse sem pensar, sabendo que deixaria meu pai louco com aquele comentário. Não foi intenção provocar, mas saiu sem pensar.

Ele rosnou baixo, eu percebi.

_ Nessie. _ Minha mãe me abraçou. _ Não provoque seu pai desse jeito. Ele... ele tem seus motivos.

_ Mãe, eu... eu gosto do Jacob. _ Eu disse chateada. Definitivamente eu não estava querendo briga com meu pai.

_ Eu sei. Todos nós gostamos. _ Ela disse paciente.

_ Eu sei que você gosta Nessie. _ Senti uma mão gelada segurar minha mão e me puxar em direção ao Volvo XC60 que tinha acabado de estacionar em nossa frente. _ Você ganhou a aposta. _ Ele riu. _ Agora nós vamos negociar o seu prêmio.

Eu abracei meu pai o mais apertado que pude. Será que ele podia sentir? Era tão gelado e duro feito pedra. Beijei a pele macia do rosto dele e ele me levantou no ar.

_ Te amo pai. Te amo muito.

_ Eu também. _ Ele beijou cuidadosamente meu rosto. _ Meu pai era mestre em auto-controle e cuidado, senão eu nem tinha nascido. Apesar de possuir uma força fora do comum, eu tinha um coração, eu tinha pele, carne e sangue humano correndo pelas minhas veias e desta forma, nos braços de um vampiro, eu era tão vulnerável quanto qualquer outro humano, ou meio-vampiro, meio-humano. Sei lá o que eu era.

_ Pestinha, você vem com a gente? _ Emmett chamou. Ele já estava dentro do seu Audi RS Avant junto com Rosalie, Alice e Jasper.

_ De maneira nenhuma! _ Tinha que ser meu pai super-protetor de novo. _ Eu sei muito bem que você não vai respeitar o limite de velocidade.

_ Ahhh, então quer dizer que só você podia dirigir feito um maníaco com a Bella no carro? _ Emmett lembrou.

_ Eu... eu.... eu podia Emmett. _ Meu pai tentou protestar.

_ Vai namorar, vai Edward! _ Emmett continuou rindo e provocando. _ De repente você e a Bella podem querer desviar do caminho sabe... _ Todos riram.

_ Bom, meu carro já chegou. _ Carlisle abriu a porta para Esme. Era um simples Ford Fusion preto. _ Você tem mais uma opção se quiser Nessie.

Eu corri em direção ao Audi. Sentei ao lado de Alice no banco de trás e acenei contente para meus pais. Eu tinha que admitir: adorava dirigir feito uma louca, como eles faziam embora eu soubesse que se eu batesse o carro, eu morreria instantaneamente como qualquer outro mortal. Pelo menos por enquanto...

Já passava das duas da madrugada quando chegamos em casa. Tinha uma touceira de mato em volta do sobrado branco, o que nos ia render um bom trabalho no dia seguinte. Eu quis chorar quando entrei na sala e vi o grande piano de cauda no canto, mas travei o maxilar tentando evitar e engolindo de volta aquele bolo seco que estava em minha garganta. Tantas coisas haviam acontecido aqui em Forks; coisas boas e outras muito ruins, mas aqui era meu lar, de onde, apesar de tudo, eu tinha as mais belas lembranças. Andei devagar até o piano e assoprei sobre a tampa do teclado. A luz da lua refletida pelas paredes de vidro tornava possível ver a poeira voando no ar. Eu levantei a tampa e dedilhei algumas notas. Aquele som aquecia meu coração.

_ Eu vou dormir gente. Boa noite... _ Sorri pequeno, já consumida pelo sono, pelo cansaço e por aquela melancolia repentina.

_ Eu vou com você. _ Meu pai me tomou em seus braços e voou comigo escada acima. Claro que ele tinha que ver com seus próprios olhos se o andar de cima estava seguro, se meu quarto ainda estava como deixamos na última vez. Quando chegamos lá em cima, minha mãe já estava terminando de trocar os lençóis empoeirados da minha cama.

_ Obrigada mãe. _ Eu disse enquanto me despia e ficava só com a larga camiseta que eu já vestia. Definitivamente não dava pra tomar um banho, pois eu estava muito, mas muito cansada. Ela trouxe o edredom até bem perto do meu rosto depois que eu deitei.

_ Você está tão nervosa Renesmee... _ Ela sorriu iluminando todo o quarto enquanto acariciava meu rosto com suas mãos geladas. Meu pai se abaixou até nós. Ele bagunçou meu cabelo com as mãos, seu peito inchou como se ele pudesse mesmo respirar de verdade e sorriu pra mim.

_ Ele virá Nessie, não se preocupe tanto. _ O que será que ele tinha pegado de mim quando me tocou?

_ Sei, e se ele não vier, você vai caçá-lo e arrastá-lo até aqui? _ Brinquei.

_ Basicamente isso. _ Ele riu abafado entre os dentes com os lábios meio tortos, como ele costumava fazer, daquele jeito charmoso que só ele tinha.

Nós todos rimos depois disso. Essa era a família que eu tinha e eu amava mais do que tudo esses momentos, apesar de chiar, de reclamar muitas vezes, todos nós éramos cúmplices do que se passava um com o outro, não dava pra esconder. A minha vida toda, todos os meus sentimentos foram sempre compartilhados com os meus pais. Eles sabiam de tudo, absolutamente tudo. Mas agora... eu já não era uma criança, mas também não era uma mulher. Eu tinha tantas coisas novas na minha mente, tantos momentos humanos ainda pra viver... meu coração estava cheio, cheio de vida e eu queria viver todos intensamente, até que a hora chegasse. E o que me dava mais medo, é que eu sabia que estava cada vez mais perto. Eu nunca morri e ressuscitei então eu tinha o direito de entrar em pânico de vez em quanto, mas nunca na frente deles, eu nunca deixaria que eles soubessem, pois eles sofreriam comigo. Eu me envergonhava de ter medo de me tornar o que eles eram. Vampiros, imortais. E eu nem queria isso... não queria tanto. Mas também não fazia muita diferença se eu não fosse uma mortal pra sempre. Droga! Eu não sabia de mais nada! Durante toda minha vida, eu nunca tive tanta certeza de uma coisa: eu queria o Jacob de volta e queria agora.

De novo o bolo na minha garganta me impedia de engolir e meus olhos estavam molhados demais. Eu fingi um grande bocejo e algumas lágrimas caíram no canto dos meus olhos e logo penetraram o fino tecido do travesseiro. Meu pai me olhou de um jeito estranho, meio desconfiado, então eu sorri de novo e ele beijou meu rosto.

_ Boa noite Nessie.

Dei graças à Deus quando os dois saíram do quarto. Eu me sentei e as lágrimas vieram com uma força brutal. Eu tapei minha boca com o edredom pra evitar os soluços, encostei minha cabeça na parede de vidro e fiquei olhando a escuridão da floresta. Fiquei buscando pelo impossível, buscando por olhos reluzentes na escuridão, olhos humanos ou olhos de um lobo. Às vezes minha mente pregava alguma peça em mim, me dizendo que tinha visto sim alguma coisa, mas em meu íntimo, eu sabia que era só porque eu queria muito...

Eu voltei a me deitar. Precisa dormir, precisa tirar Jacob da minha cabeça.


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram?
Ok, o primeiro capítulo não diz muito do que está por vir, mas... Se gostarem posto mais.
Bjos