Quando Tudo Mudou escrita por Ronaldo Araujo


Capítulo 5
Capítulo 5




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Pela tarde papai e eu fomos à casa do Allan porque sei que ele gostaria muito de visitar Mathew, afinal de contas, ele é nosso melhor amigo e estava agindo estranho, ou melhor, nem tínhamos notícia de como estava agindo. Mathew não nos mandou mensagem a manhã inteira e isso nos deixou preocupados.

Ao sair do trabalho no final da manhã, papai só voltaria pela noite, a não ser que surgisse uma emergência que o obrigasse a voltar ao hospital no qual trabalha, ou qualquer outro imprevisto. Quase sempre surge uma emergência e meu pai sai correndo para resolver. Me canso de ver papai almoçando e saindo às pressas sem acabar a refeição. Às vezes é para atender acidentes que envolvem muita gente ou um grande trauma, como descarrilamentos de trens ou atentados em festas. Gente que se jogou de uma ponte ou de um carro em movimento, gente que não tem amor pela vida, mas que de todas as formas, papai faz o possível para salvá-los. Eu admiro o seu trabalho, admiro o seu empenho em todos os aspectos. Sei que papai é focado e pode deixar de fazer qualquer coisa para salvar uma vida. Eu estava rezando para que não surgisse um imprevisto que nos impedisse de ir ao encontro de Mathew. Papai vestiu uma roupa extremamente formal para um simples encontro com meu amigo, mas imaginei que seria adequado para ele, estar assim caso surgisse uma missão no hospital. Ele estava com sapatos sociais pretos, uma calça social cinza e uma camisa de mangas longas também social da cor branca e bem passada. É incrível a capacidade que papai tem de não deixar marcas ou dobras em suas roupas, anda sempre bem elegante e com roupas bem passadas. Eu estava normal, vestia uma camisa cinza sem estampas e uma bermuda preta. Estava na sala deitado no sofá, olhando para o teto, pensando na vida e no fato de ela ser cruel com a gente muitas vezes. Com a barba bem feita e um longo sorriso no rosto, papai surge de seu quarto que é logo ao lado da sala, olhou para mim e disse as palavras: “_ Vamos lá, filhão”. Eu me levantei de repente sem dizer uma palavra, calcei os chinelos e o acompanhei até a porta da frente. Ele estava com sua mala de ferramentas. Pegou as suas coisas e colocou no porta-malas do carro. Entrei no carro e ativei o cinto de segurança, ele entrou depois de fechar o porta-malas e fez o mesmo que eu. Papai ligou o carro e saímos. Falei um pouco sobre as aulas e sobre o quanto estava preocupado com Mathew. Papai falou para que eu não me preocupasse porque tudo iria ficar bem e que talvez ele estivesse apenas ocupado, viajando ou simplesmente sem sinal. Eu sei que papai estava tentando ser positivo comigo, me apoiando, me ajudando como sempre faz, mas eu não conseguia pensar em coisas boas o tempo todo. Quando se trata de mim, eu sou uma pessoa muito negativa e quase sempre o meu negativismo é apenas uma realidade que estou aceitando antecipadamente. No entanto, eu sei que devo pensar coisas boas, devo ser positivo e acreditar que tudo vai estar bem, mas eu tenho medo de acabar me iludindo com meus pensamentos e prefiro ficar preocupado e criar minhas teorias em silêncio. Papai me conhece e sabe acerca do meu negativismo exagerado, mas mesmo assim faz de tudo para me ajudar e me ver bem. Demonstrou positivismo durante toda a viagem e acho que mesmo assim não me ajudou muito, embora eu seja grato por ele ser assim comigo. Quando chegamos na casa do Allan, ele estava estudando em uma mesa de frente para o seu jardim. Talvez estivesse revisando as aulas que tivemos, como sempre o faz. Talvez buscando possíveis perguntas para ser o primeiro em responder quando os professores questionarem. Ele vestia amarelo e estava com os cotovelos apoiados à mesa e ambas as mãos sustentando o seu rosto enquanto lia um livro. Ao chegarmos ao portão, ele baixou o braço esquerdo e lançou o olhar confuso e surpreso em nossa direção, desfazendo-se do outro braço e se levantando para nos receber. Fiquei triste naquele momento porque lembrei das vezes que tia Marta nos atendia com aquele lindo sorriso que infelizmente não voltarei mais a ver. Allan caminha até nós e sem querer deixa seus óculos caírem de seu rosto, o que me faz rir de sua cara desorientada. Ele os pega de volta, confere se quebrou, dando um leve sopro nas lentes grossas para tirar a poeira e os coloca novamente em seu rosto. Ele abre o portão de grades meio enferrujado, ergue as sobrancelhas, inclinando-se para trás como se estivesse supreso.

— Rick, que surpresa! – Allan falou enquanto estendia a sua mão para me cumprimentar. Fez o mesmo com papai e pediu que entrássemos e nos sentássemos, mas eu interrompi.

— Allan, papai e eu vamos à casa do Mathew, vem com a gente.

— Cara, eu quero muito ir com vocês, mas... – ele olha para seu livro sobre a mesa como se quisesse dizer que precisava concluir o que estava fazendo antes de chegarmos e olha para mim com uma cara desanimada.

— Sem mais, vem logo! – O corto sem dar chances.

— Claro, eu vou com vocês, dessa vez você ganhou... aliás, o Rick sempre ganha. – Allan começou a sorrir, erguendo os braços em sentido de rendição e bateu no meu ombro com suas mãos gordas. Papai já estava no carro e nos esperava. Tivemos de esperar mais uns cinco minutos porque Allan foi vestir outra roupa.

— Como estou? - Allan perguntou enquanto fechava a porta da sua casa.

— Está elegante! – papai afirmou.

— Eu sei, o Allan Martínez sempre está elegante. – Ele riu e pôs uns óculos de lentes escuras no seu rosto, o que nos fez rir ainda mais. Eu sei que íamos apenas ver nosso amigo Mathew, mas Allan diz estar apaixonado por sua irmã Stella e tenta vestir um terno preto para visitar a um amigo.

Portanto, fomos à casa do Mathew e no caminho Allan conversou conosco e disse que iria morar com seus tios numa outra cidade. Juro a vocês que eu fiquei muito triste com aquela notícia, pensei inclusive em convencer meu pai a deixar Allan morar com a gente, mas não disse nada. Allan parecia muito feliz. Acho que ele sente muita falta de sua mãe, mas não quer nos preocupar, talvez ele esteja demonstrando uma falsa alegria para que não sintamos pena dele ou algo do tipo, mas talvez eu esteja enganado. Ele é assim, sempre foi assim. Além disso, Allan me deixou super constrangido na frente do papai.

— Quem é aquela garota que sentou no seu lugar? Eu vi a forma com qual você a olhava... – Allan deu um tapinha no meu ombro enquanto papai sorria disfarçadamente.

— O nome dela é Angel!

— Não acredito que Rick Vincent falou com uma garota. Isso é um milagre. – Allan sorria ainda mais e fez com que sorríssemos também.

O mais legal é que papai não me interrogou e não comentou nada, ele apenas riu, embora eu tivesse a certeza de que ele tocaria no assunto quando estivéssemos a sós. Todos rimos dentro daquele carro, mas foi tenso o momento em que chegamos na casa do Mathew. Haviam duas viaturas da polícia e pude ver seus pais chorar na porta de sua casa. Naquele momento eu comecei a pensar o que não deveria e senti como se minhas forças estivessem indo embora. Papai desceu imediatamente do carro e foi até os pais do Mathew. Tio Mark estava abraçado com tia Esther e a soltou quando meu pai se aproximou. Pude vê-los conversar enquanto os policiais tentavam consolar tia Esther. Ela estava desesperada, pude ouvir suas vozes angustiantes através da janela do carro do papai. Naquele momento eu comecei a chorar e involuntariamente as lágrimas surgiram e corriam pelo meu rosto, tive ânsia de vômito e minha barriga começou a doer. Estava tudo tão confuso e eu não sabia o que fazer. Olhei para Allan e ele também estava chorando, sei que ele é forte, mas certamente estava pensando em Mathew e Stella. Pude vê-lo cabisbaixo no banco detrás do carro do papai e suas lágrimas brotarem como um buraco na encanação. Eu queria muito saber o que estava realmente acontecendo, gostaria muito de descer daquele carro e desvendar, por fim, aquele mistério que estava me matando por dentro, mas me encontrava sem forças e imaginava que se eu entrasse naquela casa, eu veria meu amigo deitado e sem vida no chão do seu quarto e uma provável carta suicida de adeus em sua cama.  

...

Finalmente papai se despediu do tio Mark e deu um forte abraço na tia Esther. Naquele momento eu me acalmei, pensei que não seria algo grave e que todos estariam bem, eu me senti aliviado. Todavia, quando papai entro no carro e sentou em seu assento, começou a refletir e não nos disse uma palavra. Com as mãos no volante, a porta ainda aberta, papai olhava fixamente para suas mãos brancas em sua frente e começava a dar leves toques no volante com ambas as mãos, com movimentos para cima e para baixo. Papai estava suando muito. Eu me senti mal com isso, o alívio que eu tinha sentido segundos atrás, havia ido embora. Fecho os olhos e tento ser positivo. Ouço a porta se fechar e logo em seguida o barulho de papai ligando o carro. Abro os olhos e o vejo ativando o sinto de segurança e saindo devagar sem dizer uma palavra conosco. Há uns poucos metros de silêncio, papai nos fala que Mathew está desaparecido há três dias.

— Não pode ser! – comecei a chorar muito e não conseguia mais falar nada.

— Filho, vai ficar tudo bem. Ele vai aparecer.

— E se ele não aparecer, irei procura-lo. – Allan disse.

— Mark disse que estavam viajando e que quando chegaram, Mathew saiu pela rua e não voltou mais.

— E por que não nos avisaram antes? – Allan questiona.

— E por que você não avisou a Mathew que sua mãe morreu? – Contestei.

— Ok, Rick. Você venceu... vou ficar calado.

Depois dessa tensão, deixamos Allan em casa e seguimos a viagem para a nossa casa. Notei que papai estava triste e isso me deixou mais triste ainda. Eu sei que Mathew vai voltar e que tudo voltará ao normal, mas enquanto isso não acontece, chorarei todas as noites em meu quarto e tentarei ser forte na escola. Aquela tarde foi a mais longa de toda a minha vida. Eu ainda estava triste com a morte da mãe de um dos melhores amigos e agora meu outro melhor amigo está desaparecido.  Eu senti como se o mundo tivesse desabado em cima de mim, eu queria logo chegar em casa e me trancar em meu quarto, em minha órbita, em meu mundo. Papai começou a chorar, eu nunca o tinha visto assim. Acho que ele sabe o quanto estou sofrendo neste momento e não parava de chorar. Naquele instante, um carro veio em nossa direção, papai tentou nos salvar, desviando, mas não foi possível. Colidimos brutalmente. Senti um impacto muito forte como uma explosão forte, barulho d vidros se quebrando e caindo no solo. Meus ouvidos começaram a zumbir enquanto nosso carro virava sem parar. Eu desejei morrer naquele momento. Era tudo o que mais queria para me livrar de vez dessa dor. Mas ao mesmo tempo, pensava em minha família e em Allan. Me lembro de uma escuridão me sufocando, meus olhos se fechando involuntariamente, pessoas gritando e aos poucos o som ia desaparecendo e eu me apaguei.

(ainda vou terminar este capítulo e pôr mais detalhes. rsrs)


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