Sentenciados escrita por André Tornado, AnnieWalflarck


Capítulo 11
Nova identidade


Notas iniciais do capítulo

Olá leitoras e leitores!
Vamos a mais um capítulo desta história que eu e a AnnieWalflarck escrevemos para vocês com muita dedicação e carinho.
A vossa receção tem sido estupenda. Muito obrigado!!

E hoje teremos novamente Terris e Amanda...

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/776069/chapter/11

A televisão mostrava sem parar, no noticiário principal das seis, o misterioso caso do cientista morto por uma secretária num edifício da Rua 21.ª, com reportagem em direto desde o exterior, com o referido edifício em pano de fundo. Amanda sentiu as bochechas ficarem vermelhas quando a chamaram de "complexada do amor". De onde havia saído aquela afirmação? Como podia uma pessoa como ela, que nunca havia visto o homem, ser alguém que matou por amor?

— Eu estou dizendo, ela parecia muito certinha, mas é como dizem. Pessoas muito quietas têm mentes muito barulhentas – falou a mulher gordinha e baixa que usava óculos.

Amanda reconheceu na hora Megan, uma das garotas faladoras do Call Center. Essa, em particular, adorava bisbilhotar e sabia de tudo e todos. Quando nasciam boatos na empresa, eram criados pela dita fofoqueira.

— Vaca! – protestou de um modo audível e notou que não estava sozinha pela primeira vez depois de ter se distraido com os disparates propagados na TV.

Olhou para Terris. Ainda era algo estranho. Teve um lampejo de lembrança e se deixou levar pelo beijo dele. Fora saboroso, inesperado, despertou qualquer coisa quente na sua alma. Ainda assim, na sua cabeça não se via como uma apaixonada. Era apenas a secretária que tinha sido acusada de tê-lo matado e que fizera uma viagem no tempo. Que morrera e que regressara do Além e que tinha a vida de pantanas.

— Você deveria parar de ver essas coisas – aconselhou o ruivo bebendo um pouco de água. – Não fará bem à sua saúde mental.

— Ainda acho que vou acordar daqui a pouco com o barulho do despertador. Ainda acredito que estou a sonhar… Talvez seja um sinal de sanidade, classificar isto tudo como uma fantasia. Então, digamos que estou bem.

Ele observou-a demoradamente. Ela debatia-se com o dilema de estar cheia de problemas e ele sabia ser paciente quando necessitava, e que a ajudaria no que fosse necessário. Afinal, a situação fora criada por ele. Adotou uma expressão compreensiva então retomou:

— Amanda, eu sei que isso é confuso e bastante desconfortável... Mas uma vez que se altera o tempo, existem infinitas possibilidades em que isso possa dar errado. Somos a prova disso... Repare bem…

Quando estava prestes a iniciar sua explicação eloquente, Terris percebeu uma alteração ocorrendo no canal que transmitia a notícia. Alguma barafunda, ansiedade, iria existir um direto em breve, uma transmissão ao vivo, um momento muito importante pelo que estava a ser relatado. Apareceu o enquadramento próprio de uma conferência de imprensa, muitos braços esticados munidos de microfones, os jornalistas acotovelando-se, a imagem a ser focada para ficar completamente nítida. Apareceu o inspetor-chefe do FBI assumindo uma postura rígida mediante os vários microfones.

— Por favor, Poleris, aqui! Aqui! Olhe para aqui!

Todos os repórteres gritavam ao mesmo tempo e flashes disparavam em direção a ele, fazendo sons de máquinas fotográficas no sistema de áudio das emissoras. O inspetor-chefe começou a falar:

— O caso ainda está sendo investigado, mas a morte recente da principal testemunha e suspeita do crime do homicídio do cientista Terris O’Brian nos leva a crer que tudo, de fato, estará ligado a uma organização criminosa. Também… – Mais flashes e uma pausa ligeiramente dramática. – Também foi encontrado em um terreno abandonado um corpo queimado que mais tarde foi identificado como sendo de um homem chamado Charles Henry Pett, que era mais conhecido como Charles Big. Segundo a nossa principal testemunha, antes de esta ter falecido repentinamente de um ataque cardíaco, Charles Big foi o autor do disparo contra o cientista. As investigações estão avançando de modo conclusivo e acreditamos estar mais perto de solucionar o caso, uma vez que surgiu uma testemunha inesperada, quando estávamos no "apagar" das luzes.

— Uma nova testemunha? – indagou uma jornalista falando muito depressa e alto. – Alguém que também presenciou o assassinato do cientista?

— Uma testemunha que possui novos dados sobre o caso e que está a colaborar com a investigação. A colaborar totalmente com a investigação.

Terris então deixou o copo escorregar de sua mão quando viu Hugo Black atrás de Poleris. A água derramou-se e salpicou-lhe os pés. Por sorte o vidro não se partiu, o copo rebolou pelo soalho, simplesmente. Ele era um homem da ciência e inteligente o suficiente para perceber o que estava a acontecer, a razão da mistura das linhas temporais, das várias alternativas criadas no continium espaço-tempo. Fora tudo uma jogada do regulador. Ele estava manipulando o inspetor e contava a sua verdade, ao mesmo tempo que conseguira, isso Terris não sabia como o fizera, salvar o cientista e a secretária. Ou seja, havia um crime com corpos e sem corpos. Neste ponto, sabia que as coisas estavam complicadas.

O amontoado de repórteres continuava a se espremer buscando explicações, porém Poleris se retirou logo em seguida da coletiva improvisada que foi feita à frente do prédio onde trabalhava, a agência do FBI. Black, que também se encontrava no local, já não se via e teria ido atrás de Poleris.

— O Black está atrás da gente, já deve ter dado por sua falta – falou o ruivo para Amanda que quase não piscava mediante as declarações que haviam acabado de sair da boca do inspetor. – Está usando essa coisa toda para chegar a nós dois.

— Usando a mídia? Dando a cara para bater? – Amanda achou a teoria uma tremenda estupidez.

— Se você quer pegar uma presa jamais diga que vá atacar. Aja de modo lento para não fazê-la perceber o perigo. Fácil... Para Hugo, colocar isso na mídia foi perfeito. Ele quer que pensemos que estamos seguros. Ele sabe que estamos vivos, Poleris de alguma maneira não o sabe.

— O que mais me choca é saber que o Big...

— Era um peso morto – se adiantou o homem a falar friamente. – Não precisa se preocupar com ele. Ademais, foi ele que te colocou nesta encrenca. – Levantou-se colocando um boné na cabeça para cobrir os fios ruivos e bem alinhados. – Precisamos sair da cidade o quanto antes, por ora.

— Para onde vamos?

Amanda não sabia se isso era o correto quando tudo estava de cabeça para baixo, mas pensou que era ridículo também permanecer no esconderijo do cientista. Ficar parada não era uma opção. Ainda tinha muita vida para viver… Teria?

— Isso importa mediante a situação? O lugar para onde vamos? Se preciso fosse, seria até mesmo para os confins do inferno. Só precisamos sair da cidade antes que alguém comece a investigar o que não deve. Sou muito cuidadoso, admiro isso em mim mesmo, mas ate agora só não fui pego justamente por estar sempre me movendo. E temos de despistar o Poleris e o Black.

— Isso não é o que eu quero para mim – declarou ela, desprezando a ideia, tentando ocultar o seu medo. – Não quero andar sempre “me movendo”, de um lado para o outro. Eu quero apenas minha vida de volta, O'Brian. Quero voltar para a minha casa e retomar o meu emprego… Quero dizer, acho que depois destas notícias já fui despedida… O meu chefe era intransigente. Obrigava-me a trabalhar como uma louca…

O relato foi acompanhado de passos em direção ao homem e quando deu por si estava chorando, dando tapas de protesto no seu peito magricela por julgá-lo o culpado de todo seu infortúnio.

— Só quero ser eu mesma. Apenas a estúpida Amanda Scott, não uma garota que te salva! Não uma pessoa acusada de tê-lo matado! Não alguém que precisa fugir para sempre! – Pronunciou cada frase entre as lágrimas e a agressão, até que ele a segurou pelos braços com força.

Sacudiu-a como quem obriga alguém a pisar na realidade.

— Pare Amanda! – ordenou duramente a fitando para que mantivesse sua sanidade. – Não é assim que vai resolver as coisas. Acha que vai voltar à sua vida de antes? Desculpe, mas não é possível... Você pode odiar ser acusada de me matar, pode querer ser somente uma secretária em uma vida amarga e pode não querer sentir nada por mim... – A última parte escorregou de modo tristemente involuntário. – Mas você não pode desistir... A menos que, pela primeira vez, opte por algo diferente.

Amanda tremeu ao olhar nos olhos dele com aquela declaração.

— O que quer dizer? Algo diferente? Qual é a outra escolha?

— Se você me deixar morrer quando o momento certo chegar – resumiu como se soubesse de algo que não podia dizer ainda.

Ela olhou para o cientista que a havia colocado em toda aquela confusão. Talvez devesse sentir algo, talvez um afeto qualquer por ele... "Eu posso fazer isso Amanda, mas não posso fazer sem você". Quando fora que aquilo aconteceu? Que realidade era essa em que ele disse aquilo?

Por mais vontade que tivesse de resolver a sua posição, ela não queria ver ninguém morrer. A morte não era uma escolha, nem ela queria tê-la como possibilidade egoísta para se resgatar daquele turbilhão que a engolia sem remédio. O tempo podia ser modificado, os acontecimentos podiam ser invertidos ou truncados, mas ela não queria ficar com o peso na consciência de ter sangue nas suas mãos. Compreendeu que precisava se acalmar e avaliar claramente aquela situação, todas as opções que ainda tinha.

— Preciso de um banho.

Foi tudo que conseguiu pronunciar para mudar o foco tenso de todos os arrolamentos.

Terris apertou os olhos, um tanto inconformado com o que ela acabava de dizer. Sabia que Amanda estava fugindo da conversa, porém sabia que pressioná-la seria um caminho errado. “Dê um tempo para ela respirar” foi o que ele pensou e indicou o fundo do corredor.

— Segunda porta à direita – pronunciou por fim.

(...)

Os pingos de água quente amornaram sua pele enquanto se lavava, tirando as mais diversas camadas de sujeira do corpo. Ela estava se sentindo pela primeira vez uma humana, não uma boneca arrastada e manipulada. Apesar de ser solitária, com uma vida sem graça, parecia que apenas o fato de pode tomar um bom banho a fazia sentir-se ela mesma, alguém independente.

Suspirou forte esfregando os cabelos, buscando entre o ato um meio de sair daquela confusão de modo a não se prejudicar. Nem prejudicar outros desnecessariamente.

E quais eram suas opções? Hugo estava à sua procura, Terris a queria para ele... Poleris queria provar que ela era culpada... Não havia em quem confiar naquela situação. Entre todas as opções, a melhor seguia sendo o cientista. Apesar de toda a situação desconfortável, ele pelo menos havia mudado seus pensamentos e atitudes, parecia que estava verdadeiramente com ela. E não era um cara egoísta... Pensar nisso colocou-a com outro dilema.

Matar Terris tornaria tudo mais fácil. Mas matá-lo deixava-a com sangue nas mãos, o que definitivamente não queria. Seria também afirmar o que Poleris queria provar. Não, matá-lo a faria uma vítima de Hugo... Definitivamente, não tinha como ser como antes. Perdeu a Amanda que era… A perdeu e já não podia recuperá-la.

Se de qualquer forma os problemas se iriam incrementar, era melhor aceitar que a união entre dois fugitivos seria o mais plausível, conforme os instintos de preservação e sobrevivência. Soando dessa forma, a proposta do ruivo parecia fazer mais sentido.

Terminou o banho, secou o cabelo, conseguiu obter roupas limpas que Terris lhe forneceu. Eram mais largas que seu corpo, ainda que ele fosse franzino como ela, mas pelo menos eram melhores que suas roupas gastas e sujas. Ou seja, estava a vestir as roupas dele. O compromisso firmava-se…

Escovou o cabelo e retornou à sala, onde Terris permanecia, a esperar por ela. Mordia a unha do polegar, demonstrando um imenso nervosismo.

— Muito bem... – pronunciou ela, determinada. – Estive pensando com calma e bom... Aceito a tua proposta. Vamos sair da cidade. No entanto, vou deixar uma coisa muito clara, senhor O’Brian. Não estou fazendo isso mediante qualquer interesse pessoal em relação à sua pessoa. Somos parceiros nesta… nesta aventura e nada mais. A nossa parceria, digamos assim, termina quando conseguir resolver a minha situação. E deixar-te a salvo… também.

Terris riu como se já tivesse escutado algo muito similar vindo da sua boca. Ele parecia conhecê-la melhor do que ela mesma e isso deixava a coisa não apenas anormal, mas intrigante.

— Por que está rindo? Isso parece uma brincadeira? – Ela encarou ele a curta distância.

— Eu não acho absolutamente nada, senhorita Scott – colocou o ruivo, passando a mão no cabelo, a apertar os lábios.

Se esse era seu jeito de afirmar que não ligava, então era melhor assim.

— Pois bem, então estamos de acordo sobre nos ajudar em uma colaboração muito respeitosa e sem fins amorosos? – Amanda arqueou as sobrancelhas para ele.

Terris apertou o dorso da mão dela com franqueza e um sorriso límpido.

— De acordo com aquilo que preferir. Não te quero obrigar a nada, quando… já fizeste tanto por mim.

A resposta foi vaga de propósito. Ela lia nas entrelinhas do rosto dele que bastava que ela tivesse mudado de ideia. Por seu turno, ela estava determinada a mostrar que estava comprometida nos seus pensamentos.

— Quando vamos? – perguntou, olhando-o. Tinha sempre a sensação de que ele sabia bastante mais do que ela. Num relance procurou pelo relógio que possibilitava as viagens no tempo, mas ele não o estava a usar.

Concluiu que no mínimo não havia conseguido refazer o projeto em tão pouco tempo depois que Hugo o destruiu.

— Agora mesmo. Já estava com tudo preparado de qualquer forma. Será uma viagem um tanto longa... Iremos para o Nebrasca. – Amanda emudeceu com a proposta. Seria uma viagem de milhares de milhas. – Também andei pensando em alguns aspetos que dêem veracidade à nossa história, tu e eu... Por mais que não goste, pensei que seria mais fácil nos passarmos por casados... O casal Cooper. Encare isso como uma encenação.

— Tudo bem, O’Brian... Digo... Senhor Cooper. Cooper! – corrigiu. E queixou-se: – Céus como isso será difícil.

— Não poderá me chamar de Cooper, esse é o nome que partilhamos. Terá de me chamar de Dimitri ou Dim… Não podemos usar nossos nomes de verdade, esqueceu-se?

Amanda lembrou-se daquele detalhe do seu trabalho, quando o chefe a tratava por Abigail, que ela odiava. Pestanejou para apagar da mente os pormenores da sua vida passada. Era passado. Tudo perdido…

— Algum nome em mente para você, senhora Cooper? – falou ele tentando soar engraçado.

— Detesto esse tipo de situação. Desde que não seja Abigail, pode ser qualquer nome – irritou-se.

— Olha, querida… “qualquer coisa” é vago demais. – Olhou para ela pensativo. Colocou de modo natural: – Sugiro Zoe.

— Zoe?

— É um nome composto por três letras, logo não é muito complicado de memorizar. Além disso, eu gosto porque era o nome de uma senhora que me ajudou bastante quando estava na faculdade. Trazia bons lanches. Você sabe cozinhar?

Ela sentiu a face esquentar.

— Nem um grão de arroz... Mas que seja Zoe, então... Estou sem ideias e não me posso fazer de esquisita, certo? Estás… a ajudar-me e tudo isso.

— Muito bem. Senhora Zoe Cooper, pronta para sua nova vida?

— E se eu dissesse que não, adiantaria alguma coisa? – murmurou, seguindo o cientista para a saída do esconderijo após colocar um boné da liga de baseball de Nova Iorque. Era igual ao que ele usava e sentiu-se ridícula.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Agora é uma fuga para garantir a sobrevivência. Hugo Black, enquanto regulador, está a manobrar tudo e todos para conseguir chegar ao Terris e a Amanda. Terão eles hipótese de escapar?
E por que motivo o Poleris se aliou ao Black?
Iremos saber sobre mais sobre essa aliança na semana que vem.

Próximo capítulo:
Jogadores.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sentenciados" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.