Normandia escrita por Valdir Júnior


Capítulo 1
O Prisioneiro




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Cidade de Caen, região da Normandia, França,  23 de maio de 1944, 22:30 hora local.

  O coronel (Oberst) Klaus Hoffmann da SS (1) nazista entrou na cela localizada no subsolo da organização em Caen e olhou para o homem que estava sentado na cadeira no centro do cômodo, amarrado e vigiado por dois guardas. Ele tinha alguns hematomas no rosto, seu lábio inferior estava ferido e sangrava. O ajudante de ordens de Hoffmann, o segundo-tenente (Oberleutnant) August Scholz, também estava lá e encarava o prisioneiro com uma hostilidade indisfarçável.

— Ele já falou alguma coisa? – perguntou o coronel a Scholz, mas olhando diretamente para o homem aprisionado.

— Nada de útil – rosnou o tenente alemão – apenas repete seu nome, patente e o número do registro militar.

— Estou vendo então que ele é mesmo exemplo de um bom soldado. – disse o coronel Hoffmann, agora olhando para o seu oficial subalterno e esboçando um sorriso irônico.

— Deixe-me ficar com ele por mais algum tempo – falou Sholz – e vai dizer tudo o que precisamos saber.

Hoffmann virou-se e olhou para seu oficial por alguns momentos. Conhecia a eficiência dele em arrancar informações dos prisioneiros, mas infelizmente desta vez teria de privá-lo deste prazer.

— Ele será transferido para o quartel-general da Gestapo (2) em Paris – disse o coronel, demonstrando certa irritação -  um grupo de agentes já está a caminho para levá-lo. Devem estar aqui logo pela manhã.

— Mas, coronel... – começou a dizer o tenente Scholz em protesto.

— Não há mais o que discutir – respondeu Hoffmann secamente – estas são as nossas ordens.

O oficial alemão voltou-se novamente para o prisioneiro e suspirou, parecendo decepcionado.

— É uma pena que nós não teremos tempo de nos conhecer melhor. – disse ele -  Teria sido interessante.

Ele olhou então para seus três subordinados ao mesmo tempo e ordenou rigidamente:

— Desamarrem-no e deixe-o preparado para a transferência.

Em seguida ele esticou o braço direito no ar com a palma estendida para baixo, recitando a saudação nazista: “Heil Hitler!”. E saiu da cela sem olhar para trás.

Minutos depois o major americano Steve Trevor (3) estava sozinho, olhando com amargura para a porta de ferro da sua prisão.

“Steve, meu velho”— pensou, falando para si mesmo – “desta vez você realmente se meteu em uma baita encrenca”.

*   *   *

 

Londres, Reino Unido, 23 de maio de 1944, 23:30 hora local.

— Estas notícias são extremamente preocupantes – disse Sir Derick Willians, oficial de ligação da SOE (4) com o gabinete do primeiro-ministro Winston Churchill – o major Trevor estava na Normandia para coordenar o apoio logistico dos grupos da resistência francesa na região para a nossa infantaria durante a “Operação Overlord” (5) e, portanto, tem conhecimentos estratégicos que não podem de maneira nenhuma chegar à Berlim, ou perderemos o fator surpresa e tudo o que planejamos para conseguir retomar a Europa estará arruinado. Pode nos custar a derrota nesta guerra.

Reunidos com ele no Centro de Operações da organização em Westminter estavam a agente Peggy Carter (6), coordenadora das equipes de espionagem, contra-espionagem e sabotagem da agência e o tenente-coronel Douglas Jackson da Força Aérea Americana e representante do OSS (7).

A agente Carter indicou o mapa que estava aberto na grande mesa à frente deles.

— Ele foi capturado nas proximidades de Bayeux, no final da tarde de hoje. Sabemos que eles o levaram para a sede da SS na região, que fica em Caen, a cerca de trinta quilômetros de lá.

— E ele chegou vivo? – perguntou Sir Derick, olhando para o coronel Jackson.

— Se o Sr. está perguntando se ele tinha algum meio de se matar em caso de captura, a resposta é não. – respondeu o oficial americano – Esta não é a política da nossa agência. Além disso, os alemães dificilmente sabem qual seria realmente a verdadeira missão dele. Confiamos inteiramente no treinamento e na lealdade do major para conseguir “segurar as pontas” até conseguirmos resgatá-lo.

— “Se” conseguirmos resgatá-lo – disse o oficial inglês, azedo.

Ignorando o comentário, o coronel Douglas Jackson continuou:

— Fomos informados pelo nosso agente infiltrado que o major Trevor vai ser entregue à Gestapo amanhã logo cedo e levado para a sede deles em Paris. Portanto nós temos poucas horas para realizar o resgate.

 - E o que já está sendo feito de prático neste sentido? – questionou Sir Derick, ainda desconfiado.

— Peggy, por favor – disse o coronel Jackson sorrindo – faça as honras.

Ela foi até o interfone que estava no canto da mesa e o acionou.

— John, peça a ele para entrar – disse a agente Carter.

Quando a porta do gabinete se abriu e o novo participante da reunião entrou,  Derick Willians ficou momentaneamente sem saber o que dizer.

Ele era alto, como mais de 1,80m, e seus músculos se insinuavam sob o uniforme azul com listras em branco e vermelho, que faziam uma clara referência à bandeira americana.  Uma estrela prateada destacava-se no centro do seu peito e sua cabeça estava coberta por um elmo metálico também azul, que cobria o seu rosto como uma máscara e que tinha uma letra “A” branca em destaque na testa. E alojado no seu braço direito estava um escudo circular pintado nas mesmas cores do uniforme e com uma estrela branca sobre fundo azul no centro.

— Sir Derick – disse Peggy Carter para o abismado oficial inglês – com certeza já ouviu falar em Steve Rogers, o Capitão América.

Derick Willians estendeu a mão para ele, ainda impressionado.

— É um prazer finalmente conhecê-lo, Capitão – disse ele cumprimentando-o.

— Igualmente senhor – respondeu ele, retribuindo o cumprimento.

Sem perda de tempo o Capitão América se aproximou da grande mesa e examinou o mapa com atenção.

— O que sabemos até o momento sobre a maneira que o major Trevor será transportado? – perguntou Steve Rogers, olhando para o coronel Jackson.

— Ele será levado por terra, de automóvel – respondeu o oficial americano – provavelmente escoltado por blindados.

— Então o comboio terá de percorrer quase duzentos e cinqüenta quilômetros até Paris – disse Capitão, depois de consultar o mapa novamente – e levarão pouco mais de quatro horas para chegar, se as estradas estiverem desobstruídas.  Portanto este é o tempo que teremos para agir.

— Quem você vai levar junto na missão? – perguntou Douglas Jackson.

— Um grupo pequeno – disse Steve Rogers sério – “Bucky” Barnes, Dum Dum Dugan, Union Jack e Jacques Dernier.

Peggy sorriu ao ouvir estes nomes.

— É bom ver o Comando Selvagem (8) reunido novamente – disse ela.

— O avião que os levará está de prontidão em Grahame Park – disse o coronel – Vocês deverão saltar de para-quedas perto de Caen no final da madrugada. Depois que fizerem o resgate uma rota de fuga para o mar já estará preparada através do Canal de Caen à la Mer, à partir do porto de Benouville. Vocês receberam as instruções quando estiveram a caminho. Boa sorte, Steve.

— Obrigado senhor – disse ele, sorrindo também – acho que vamos precisar.

E fazendo uma continência ligeira a guisa de cumprimento, o Capitão América saiu rapidamente da sala.    

 

 

Referências do Capítulo:

(1) SS é uma abreviação de Schutzstaffel (em português "Tropa de Proteção"). Foi uma organização paramilitar ligada ao partido nazista e a Adolf Hitler. Seu lema era "Meine Ehre heißt Treue" ("Minha honra chama-se lealdade").

(2) A Gestapo é o acrônimo em alemão de Geheime Staatspolizei, significando "polícia secreta do Estado", atuando sob a administração geral da SS e a supervisão da Reichssicherheitshauptamt— RSHA (em português: Escritório Central de Segurança do Reich)

(3) Steve Trevor (Steven Rockwell Trevor) é um personagem fictício da DC Comics. Ele era um oficial da inteligência e major da Força aérea dos EUA. Em 1942, durante a 2ª Guerra Mundial, seu avião caiu perto da Ilha Paraíso (Themyscira), oculta magicamente próxima à costa da Grécia e habitada pelas Amazonas. Ele foi resgatado e tratado pela princesa da ilha, Diana, que o levou de volta a seu país.

(4) A SOE Special Operations Executive (Executiva de Operações Especiais)  foi uma agência britânica que atuou durante a Segunda Guerra Mundial, cuja missão era encorajar e facilitar a espionagem e a sabotagem atrás das linhas inimigas dentro da Europa ocupada pelos Nazistas  e servir apoio aos movimentos de resistência.

(5) Esta operação ficou conhecida nos livros de história como O Dia D”. A infantaria Aliada e as divisões blindadas começaram o desembarque na costa da França às 06h30min do dia 6 de junho de 1944. O local de destino eram 80 km de praia na costa da Normandia que tinham sido divididos em cinco setores: Utah, Omaha, Gold, Juno e Sword.

(6) Margaret "Peggy" Carter é uma personagem fictícia da Marvel Comics.  Ela era uma jovem inglesa que durante a Segunda Guerra Mundial resolveu combater a opressão nazista, juntou-se primeiramente à Resistência Francesa e depois se tornando agente da SOE. Provou ser valente e altamente capaz, servindo em várias operações ao lado de Steve Rogers, o Capitão América. Carter e Rogers se apaixonaram, mas foram separados quando ele desapareceu durante sua última missão.

(7) O OSS - Office of Strategic Services (Escritório de Serviços Estratégicos) foi o serviço de inteligência, espionagem e contra-espionagem dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. É considerada a precursora da Central Americana de Inteligência, ou CIA.

(8) O Comando Selvagem (Howling Commandos no original) foi uma unidade especial de elite americana fictícia que atuou na Europa durante a 2ª Guerra Mundial. Nos quadrinhos era comandado pelo sargento Nick Fury e  apareceu pela primeira vez em “Sgt. Fury and his Howling Commandos” n° 1 (maio de 1963). Era composto por soldados de elite de diversas etnias e vindos de várias partes de mundo. No filme “Capitão América: O Primeiro Vingador”, de 2011, o Comando aparece, porém liderado por Steve Rogers (O Capitão América) e por “Bucky” Barnes, em vez de Nick Fury.

 


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