Honra & Fúria - Interativa escrita por Thiago


Capítulo 3
Capitulo II


Notas iniciais do capítulo

Acho que esse vai ser o único capitulo que irei focar em um personagem somente. Enfim, era para ser mais curto e era para fazer parte do capitulo anterior, para assim fecharmos a apresentação da família real da tempestade em um capitulo só.
Mas acabou que eu resolvi deixar a Myra para o próximo capitulo e eu acabei escrevendo demais sobre ela mais do que deveria por agora hahaha.

Então, até mais o/



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Bosque Cortado

Myra Durrandon não esperava que fosse retornar a Ponta Tempestade por um motivo tão trágico e lúgubre como a morte de sua irmã. A paisagem que ia passando pela janela da carruagem lhe era tão familiar que chegava a ser reconfortante para o seu coração enlutado. Ainda assim, ela sabia que seria difícil retornar para casa e perceber que alguém está faltando.

O pior seria se despedir de sua irmã em seu enterro, não era como se estivessem enterrando novamente seu tio ou avô. Pessoas que por mais que ela soubesse que tinha amado, ainda assim não se sentia tão próxima deles ou com o vinculo especial. Nada parecido com o que possuía com Reyna.

A irmã que ela havia aprendido a admirar e que almejava tanto superar um dia. Myra havia se encaminhado fortemente para seguir o oposto do que Reyna era, para assim conseguir que os outros pudessem ser capazes de lembrarem ao menos de sua existência.

Onde sua irmã era uma leitora fervida e uma garota tímida e romântica, Myra havia desenvolvido para si uma personalidade mais forte e sociável que fazia com que todos rasgassem elogios para si. Ainda era uma dama, porém uma com mais personalidade e que não se deixava intimidar. Alguém que orgulhava sua mãe, bem diferente do que Reyna tinha sido.

Não, ela amava a irmã. Não importa mais se ela tinha sido alguém que Myra tenha subjugado ou sentido alguma pena por conta da sua falta de atitude. Não, ela era uma boa irmã no final de tudo. E sentiria falta dela. 

Aqueles pensamentos que tinha eram apenas fantasmas de uma garotinha desesperada por um pouco de atenção dos pais. Uma necessidade de atenção que havia alimentado dentro de si desde que era muito nova para se lembrar.

O fato de por vezes sentir-se esquecida e abandonada a fazia se compadecer postumamente da irmã. Será que Reyna havia sofrido tanto por seu prometido? Qual teria sido o limite à dor que um coração partido poderia suportar? Ela lutou para conter as lágrimas que emergiam de seus olhos. Não iria chorar, seu noivo estava do outro lado da carruagem e não queria que quando este o despertasse a encontra-se com os olhos inchados.

Por mais que não se importasse com a opinião de Florian e achasse qualquer tentativa dele de confortá-la irritante e desnecessário. O que ele entendia de perder alguém afinal? Ele possuía toda uma família perfeita e viva o esperando em Jardim de Cima. Myra havia perdido tantas pessoas naqueles últimos anos que lhe doía o peito só de lembrar. Ainda assim, sua mente sempre retornaria para o rosto de Reyna.

A última vez que haviam se falado tinha sido na despedida dela de Ponta Tempestade, cerca de dois anos atrás quando seus pais optaram por enviá-la para a Campina, de modo que ficasse mais próximo de seu noivo e de seu futuro reino.

“Você tem sorte, Rey”. Lembrava-se de ter dito a irmã. ”Por mais que seu noivado seja mais longo que o meu ainda assim, papai te mantém aqui em casa enquanto eu tenho que ir para o castelo do meu noivo”.

”Não, você que tem sorte de poder ver o Florian todos os dias”. Responderia Reyna com um sorrisinho bobo do comentário da irmã. “Queria eu estar no Ninho da Águia ao lado do meu querido Deryn”.

“Eu queria ter dito para papai enviá-la para o Ninho da Águia”. Falou Myra sorrindo enquanto cochichava ao ouvido da irmã como se fosse um segredo. ”Quem sabe eu não interceda por vocês dois? Sou bastante convincente em minhas palavras e você sabe disso”.

“Faria isso por mim?”. Responderia Reyna com um sorriso esplendecente no rosto.

“A próxima vez que eu estiver vindo visitá-los” Prometeu Myra enquanto a abraçava. 

Porém, ela não falara porque sentia que Reyna estava desperdiçando a oportunidade que seus pais haviam dado para si que era ficar o quanto pudesse em Ponta Tempestade. Fora que ela nunca tinha confiado totalmente em Deryn Arryn, por alguma estranha razão seu pressentimento sobre o pretendente da irmã nunca havia sido algo bom.

Só que ainda assim, pegava-se pensando se talvez pudesse ter feito às coisas serem diferentes. Bastava convencer o pai a enviá-la para junto do noivo. Quem sabe, Reyna Durrandon teria feito com que o rapaz a amasse?

A história poderia ser tão diferente se tivesse feito como havia prometido para sua irmã. Talvez se tivesse dito algo, ela e Florian Gardener não estariam a caminho do Ninho da Águia para prestigiarem seu casamento? O pensamento fazia com que sua garganta se fechasse em amargura.

Ainda assim, o que mais a fazia se considerar uma pessoa ruim era o fato de ter se mantido em silêncio, enquanto sua irmã sofria pelo amor daquele rapaz que não a merecia. Sentia que havia sido uma das causadoras de sua morte.

Reyna precisava dela e ainda assim, ela não fora capaz de lhe oferecer palavras amigas. Estava tão infeliz em Jardim de Cima que menosprezou o sofrimento alheio. Como se sua dor fosse superior a da irmã. 

Por que havia sido tão egoísta ao ponto de não ter se importado com a tristeza que devorava sua irmã aos poucos? Nem uma carta escrita ou quem sabe, uma visita até Ponta Tempestade para se certificar de que ela estaria bem? De que ficaria bem apesar de tudo? Era uma pessoa horrível, pensou. Uma pessoa horrível por ter demonstrado nenhuma espécie de empatia por sua irmã.

O tempo que passou sozinha em Jardim de Cima havia feito o pior brotar dentro de seu peito. A sensação horrível de abandono e o egoísmo que cresceu dentro de si, tornando-a uma pessoa fria e distante. Não apenas com seu noivo, como com as pessoas ao seu redor. Afinal, sua infelicidade era algo que havia se manifestado já nas primeiras semanas na Campina. Eles despertaram o pior que havia nela.

Reyna e Myra algumas vezes tinham se desentendido enquanto cresciam, afinal eram duas garotas de temperamentos e personalidades distintas uma da outra. A mais nova durante sua infância  sempre querendo se sobrepor a irmã mais velha e ser melhor no que faziam. Era uma vitória gloriosa notar que fazia algo melhor que Reyna. Sempre foi.

Quando Reyna se saia melhor em uma aula ou fazia um bordado melhor então Myra se chateava, porém ela se sentia veemente ofendida quando a irmã queria ensinar-lhe a fazer algo que tinha dificuldade. Myra tinha seu orgulho e aceitar ajuda nunca fora uma opção.  Porém, as discussões entre as irmãs não eram muito grandes ou devastadoras, já que Reyna se importa muito com a família dela desde tenra idade. O que a fazia não aceitar a morte de Reyna naquela situação em que tinha acontecido.

 Um solavanco na carruagem fez com que Florian Gardener despertasse de seu sono. Visivelmente assustado e levando a mão a sua maldita espada, em situações normais era provável que Myra soltasse um comentário debochado sobre a atitude do noivo. Ainda assim, ela tentou se esforçar-se para dar o seu melhor comentário para que Florian não percebesse que havia algo de errado consigo.

— Não estamos sofrendo nenhuma emboscada – disse Myra secamente – Embainhe a espada novamente antes que alguém perca um olho. Quem dera estivéssemos, talvez assim essa viagem não estivesse tão entediante.

— Você já acordou? – disse Florian enquanto voltava a devolver à espada a bainha – Menos mal, deveria pedir para que os guardas parem a carruagem e preparem a nossa mesa de café da manhã? – enquanto com a mão livre iria coçar um de seus olhos sonolentos.

— Estamos a um quarto de dia para chegar a Ponta Tempestade – disse Myra – Podemos pedir para que chicoteie os cavalos para que possamos ir mais rápidos e assim eu possa estar ao lado da minha família em nosso salão comunal.

Myra não era uma garota cruel com os animais ou mesmo com as pessoas, porém seu comentário era apenas uma forma de atingir e provocar o seu noivo. Havia usado aquela frase para provocar o noivo que era um ávido admirador dos equinos e de sua criação.

— Os cavalos estão indo o máximo que podem. Seja paciente que chegaremos em breve à casa de seus pais. – disse Florian mudando o tom de voz – Eles são bons cavalos marchadores, não necessitam ser cruelmente açoitados para que avancem. – Ele olhou novamente pela janela pequena da carruagem abrindo uma pequena fresta dentre as cortinas.

— Bem, ainda assim estamos atrasados – disse Myra – Será que serei capaz de ao menos estar presente no cortejo de minha irmã até o nosso cemitério? Ou terei de me contentar em deixar flores sobre sua sepultura?

— Não é nossa culpa que estamos atrasados – disse Florian referindo-se a sua comitiva de duzentos cavaleiros que haviam deixado Jardim de Cima ao lado deles - É esse maldito terreno acidentado e lamacento que está nos atrasando. – Ele murmurou o próximo trecho irritadiço - Pegamos três tempestades desde que entramos no seu reino. Tem ideia de quão cruel é isso para todos nós?  

As Terras da Tempestade certamente não era um lugar considerado bonito pela maioria das pessoas, porém mesmo sendo territórios com um ar pesado e cinzento (como os céus se encontravam naquele momento), ainda assim era o lugar que Myra havia aprendido a chamar de lar.

E havia sentido falta de seu tempo ruim, porque era sempre tão quente e ensolarado na Campina que chegava a se tornar monótono. Ela passaria de certa forma a odiar os dias de sol por ser algo sempre frequente em Jardim de Cima. Diferente das raras ocasiões em que ele iluminava os céus de Ponta Tempestade.

— Bem, o lugar faz jus ao nome e sinto que se os bravos cavaleiros da Campina não conseguem vencer as forças da natureza... – disse Myra pretensiosa - Talvez não valham tanto assim a fama que receberam. 

— Não deve estar tão ruim assim essa viagem para você. – disse Florian desviando o olhar e encarando a paisagem pela janela – Ainda assim, está sendo uma pessoa perversa como de costume. – Ele parecia até mesmo emburrado com aquela afirmativa.

— Eu não sou uma pessoa perversa – respondeu Myra – Apenas não vou te carregar como zelo e cuidado como se fosse feito de vidro. Eu não sou sua mãe, Florian. Não estou aqui para agradá-lo com palavras que queira ouvir.

— Bem, talvez se você estivesse em meu lugar visse o quanto às vezes é inconveniente comigo – disse Florian e em resposta Myra desviou o olhar para toda aquela conversa entediante. - É uma pena que Reyna já estivesse prometida em casamento quando nos conhecemos, quem sabe se ela se fosse a minha noiva... – E então parou com o comentário.

— Continue, vamos. – disse Myra com um ar de desafio – Fale sobre minha irmã que acabou de morrer e o quão melhor ela era do que eu sou.

 – Desculpe-me. – lamentou Florian - Eu não queria falar dela dessa maneira... – Ele fez uma pausa parecendo envergonhado do que havia dito. – Eu sinto muito por ela, você sabe. Eu não esperava que o Deryn fizesse isso.

— Ninguém esperava – disse Myra – A honra dos Arryn de nada valeu para esse príncipe. Ele trouxe desonra para sua família e para a minha, no momento em que achou que poderia tomar outra mulher em sua cama que não fosse a minha irmã.

— Eu conheço Deryn há tanto tempo. – respondeu Florian – Lamento que ele tenha deixado corromper-se por outra moça. Aquela garota Jeyne Royce, eu me lembro dela de quando estive no Ninho da Águia.

— Você então a viu? – questionou Myra curiosa com a revelação – Como ela é?

— A vi uma ou duas vezes quando estive no Ninho da Águia com o meu pai. Como sabe, antes de você foi cogitado que eu pudesse me casar com uma das filhas do Rei Jonos Arryn. – falou Florian – Porém, por razões que não cabe serem mencionadas acabou que o contrato não foi aceito.

— Está desviando do assunto mais uma vez, Florian. – falou Myra – Fale-me de Jeyne Royce.

— Reyna era mais bonita que aquela garota. – disse Florian – Ela não tem os cabelos negros como a noite ou os olhos azuis índigo que os Durrandon possuem. Ela também era quase uma criança quando eu a vi. Ela é mais nova que você, sabia? Tem dezesseis anos assim como eu.

— Então, o que te chamou mais atenção nela? – questionou Myra – Algo que pudesse dizer que Deryn se sentiria atraído ao olhá-la. Já que afirma que minha irmã era mais bonita do que a garota pela qual foi trocada.

— Os olhos. Ela tem olhos de corça, sabe? Negros e gentis. E a maneira como olhava e sorria para Deryn. – disse Florian - Era de uma garota apaixonada, porém ainda assim é errado pensar que o príncipe olharia para alguém de uma beleza tão modesta. É lamentável que ele tenha sido deixado seduzir por ela. Uma pena...

— Não lamente algo que você não sabe se é verdade. – respondeu Myra - Seu amigo provavelmente nunca amou a minha irmã e isso o fez com que se sentisse livre para interessar-se por outra donzela.

— No lugar de cumprir com o dever – respondeu Florian amargamente com os olhos semicerrados – Uma atitude egoísta.

— Ele provavelmente ama essa garota – disse Myra com raiva reprimida em cada uma de suas palavras - É uma atitude estupidamente egoísta sim e completamente irracional, mas ainda assim... Ele viveu anos ao lado dela, ao invés de minha irmã que deveria estar ao seu lado.

— Ele teria amado sua irmã de verdade se a conhecesse melhor. – disse Florian – Mas ainda assim, pensar no que poderia acontecer e nas possibilidades não muda os erros cometidos. Lamentar por um passado que não existiu, isto não fará com que ele se torne real. O erro de seu pai foi não enviar Reyna para o Ninho da Águia, quem sabe assim sua irmã não tivesse saído vitoriosa e arrematasse o coração de seu noivo?

Myra teve que disfarçar frente aquela afirmação de Florian, afinal não era todo o dia em que ambos concordavam com algo. A Durrandon teve de admitir a si mesma que era uma sensação estranha, porém disfarçou o seu espanto com cuidado.

— Deryn preferiu outra garota que não a sua noiva. – respondeu Myra – Uma que estivesse mais próxima. Mas será que a presença de Reyna iria fazer dela a escolhida? Pois bem, Florian eu estive ao seu lado todo esse tempo e nós sabemos que nada mudou entre nós desde que eu cheguei a Jardim de Cima. 

— Isso não é verdade, Myra. – falou Florian encarando-a pelo canto dos olhos – Eu estou tendo grande apreço por você. Sei que um dia poderei sentir algo que... – Ele fez uma pausa enquanto ajeitava os cabelos com a mão, aparentemente buscando as palavras corretas para concluir seu pensamento. - Irá compensar esse inicio turbulento em nosso relacionamento. 

— Eu sei que você não me ama, Florian. – disse Myra sem rodeios e o rapaz foi pego de sobressalto - E é reciproco, porém eu espero que o que Deryn fez com a minha irmã não sirva de exemplo. 

— Você acha mesmo que eu poderia te trair? – disse Florian rindo sem jeito – Eu sou diferente de Deryn Arryn, minha amada. Eu fui educado a respeitá-la mesmo antes de conhecer sua existência. Meus pais me disseram que era meu dever ser um bom marido para minha futura rainha, sendo que a escolhida deles foi você.

— Porém, você não me escolheu – respondeu Myra – Escute, com atenção. Eu e você não vamos demonstrar que não nos damos bem enquanto estivermos sobre o teto de meu pai. Porque não quero que pensem que cometeram um erro em escolher você para mim, provavelmente não suportariam saber que erram por duas vezes com suas filhas.

— Você está sendo dramática sem necessidade – disse Florian ajeitando-se em seu lugar e curvando-se de frente para a noiva – Eu não sou uma pessoa tão horrível assim. Também tenho as minhas qualidades e valores, sabia? Se você ficasse menos tempo me ignorando e sendo azeda comigo, quem sabe não poderíamos nos dar bem?

— Eu posso te dar uma chance de provar que eu estou errada – disse Myra – Mas para isso, eu quero que você prometa uma coisa para mim. E eu irei cobrar assim que retornarmos para Jardim de Cima.

— E o que seria? – perguntou Florian interessado – O que quer que seja... Saiba que eu vou estar disposto a cumprir. – Ele curvou-se e pegou nas mãos dela as unindo com as suas - Basta que me diga e em então eu farei.

— Anya Hightower – falou Myra e viu o desconforto que tomou conta da expressão corporal de seu prometido, bem como as mãos que pareceram escorregar para fora das suas. – Eu quero que você diga ao seu pai para mandá-la de volta para Vilavelha.

— Como assim? - questionou Florian fazendo-se de desentendido. 

— Ou talvez, você possa incentivá-lo a prometê-la em casamento para algum de seus amigos cavaleiros de torneio. - respondeu Myra casualmente - Reynard Redwyne ou Paxter Tyrell, ambos seriam umas escolhas ótimas.

— Por que você está me pedindo isso? – perguntou Florian Gardener sem jeito – Ela é uma das damas de companhia de minha irmã. As duas são melhores amigas, fora que ela é a minha prima. Esquece-se que minha avô pertencia a Casa Hightower quando donzela?

— Não, eu não me esqueço. Porém, se bem me recordo a sua avó era uma tia-avó para o Lorde Hightower atual. Que por sua vez é o irmão de Lady Anya se bem me lembro... - falou Myra recordando-se da arvore familiar do seu prometido - Existe três gerações que separam você de Lady Anya Hightower. Ou seja, o parentesco de vocês é quase nenhum. Seu sangue e o dela nem devem ser mais os mesmos. Na verdade, não consigo nem mesmo identificar o grau de parentesco de vocês. 

— Meu pai e o dela são primos - disse Florian corrigindo-a - Isso nos torna parentes sim. Tanto é que o carinho que possuo por Lady Anya é um sentimento puro. - a garota o encarou com uma face de desconfiança - Muito próximo do que tenho pelas minhas irmãs. 

— Ainda assim, não é como se os deuses te punissem caso esteja sentindo desejo por sua prima. – respondeu Myra justificando cada uma de suas palavras – Não é verdade?

— Você não sabe o que diz - respondeu Florian desviando o olhar. 

— Oh, não sei? - falou Myra sorrindo provocativa - Não se tratam de dois primos diretos. Disto, eu tenho certeza. O que talvez seja o suficiente para que meu querido príncipe não se sinta intimidado pelos laços de sangue que possuem. 

— Como você pode achar que ela é uma ameaça para nós dois? – respondeu Florian – Você insulta a minha honra ao insinuar que eu poderia ter qualquer sentimento impuro com alguém da minha própria família. 

Florian Gardener deu de ombros e cruzou os braços e Myra revirou os olhos para todo aquele drama. Ele era tão diferente dos rapazes nascidos nas Terras da Tempestade, não estava acostumado para aquelas atitudes do herdeiro de Jardim de Cima. 

— Mesmo? - questionou Myra - Nenhuma? 

— Exato. - respondeu Florian - Não tenho olhos para qualquer mulher em geral, não vê? Eu sou fiel a ti, Myra. Se eu fosse um déspota e depravado não me esforçaria tanto para te agradar. Porque eu tenho esperança que um dia possamos ser felizes um com o outro. 

— Eu vejo a maneira como ela olha para você – respondeu Myra Durrandon – E eu quero me livrar da minha própria Lady Jeyne Royce antes que eu acabe sendo humilhada frente a toda a Campina. Você não percebe, Florian? Eu e você, vamos ter que aprender a conviver um com o outro. Devemos respeitar um ao outro.

— Eu respeito você – disse Florian – Porém, algumas vezes você esquece que isso deveria ser reciproco. Quer que nosso casamento seja infeliz? Porque se quiser, então me avise de uma vez. Porque me sentirei livre para não honrar meu compromisso com você. 

— Não ouse – disse Myra seriamente para o seu prometido que retornou a encostar-se na carruagem. – E diminua esse tom de voz, quer que o cocheiro acabe escutando suas manhas? - Ele tornou a encara-la com o olhar torto - Não me venha com ameaças, ouviu bem? E não me olhe assim, você está longe de casa, Florian. Eu não preciso ficar cheia de dedos com o digo para ti. 

Ele pareceu não recuar frente a tom de voz elevado da princesa de Ponta Tempestade. Provavelmente, pela primeira vez na vida ou pelo menos desde que o conhecia que ele não se encolhia frente a ela. Ele parecia estar mais sério do que normalmente era, não era o mesmo rapaz de temperamento leve que geralmente via em Jardim de Cima.

— Então por que me ofende? – questionou Florian decisivo, aparentemente ainda incomodado com as palavras de sua noiva. - Eu não fiz nada de errado. Nada, porém você não confia nas minhas palavras. 

Ela tinha notado os olhares que ambos trocavam ou a maneira como trocavam elogios um com o outro. No último torneio que havia acontecido em Jardim de Cima, por alguns instantes o Príncipe Florian Gardener, pareceu tentado a colocar a coroa de rosas douradas sobre o colo de Anya Hightower.

Florian poderia estar olhando para a Princesa Talla Gardener, sua irmã mais velha (que estava do lado da dama de companhia), mas uma parte de si duvidava um pouco disto. Myra suspeitava que Florian iria ousar confrontá-la ao presentear outra moça com a coroa de rosas, fazendo assim esta a sua rainha do amor e da beleza.

Porém, o rapaz havia seguido o protocolo e bons modos esperados de alguém da nobreza. Havia sido Myra a receber aquela coroa de rosas por mais que soubesse que não era assim que Florian desejava que fosse. Ela podia notar pelo olhar do príncipe.

— Não fiz na intensão de ofendê-lo – respondeu Myra tentando transparecer neutralidade frente ao sobressalto de seu noivo. Tornando a tomar sua compostura de dama. – Não espera que fosse reagir assim frente a um pedido tão singelo e fácil de ser cumprido.

 - Que seja – falou Florian decidindo não prolongar aquele confronto e recuando finalmente, aparentando ter se dado por vencido naquela discussão. – Por que pede que eu exija o afastamento de Lady Anya?

— Eu estou lhe fazendo um favor ao afastá-lo dessa tentação, Florian – respondeu Myra - Afinal, não quero ver a aliança entre nossos reinos destruídos apenas porque você não soube controlar os seus desejos carnais. Aprenda com Deryn Arryn, que ele lhe sirva de um mau exemplo para você. E eu aprenderei a não seguir os mesmos erros de minha irmã.

— Eu só quero que você não se esqueça, Myra. – respondeu Florian após alguns instantes em silêncio – Que eu estou indo a uma guerra por você. Eu irei lutar por sua família, bem como todos os nossos cavaleiros que foram convocados por meu pai. Ou seja, eu estou fazendo meu papel e horando minha promessa a você...

— Sim, eu sou muito grata – falou Myra singelamente tentando transparecer sua gratidão – Eu reconheço o seu valor, Florian. E sou muito grata ao seu pai pelo apoio que está prestando as Terras da Tempestade. 

— Meias verdades de novo. Não, não reconhece meu valor. E disso eu sei. – respondeu Florian rindo amargo – Mas se quiser me recompensar e a minha família, pelo que estamos fazendo ao lutar essa guerra que não é nossa... Então, espero que você se esforce também por nosso casamento. Permita que nós não sejamos só mais dois estranhos que vão passar o resto de suas vidas juntos.

— Eu não sei se vou ser capaz de te amar – disse Myra com sinceridade em um tom de voz semelhante a um sussurro – Talvez, nem depois de nossos filhos. Eu não sei se serei capaz de sentir algo por você.

— Eu não estou pedindo o seu amor – disse Florian Gardener – Eu não vou implorar para que você me ame, Myra. Apenas quero que não me condene a viver em um casamento infeliz, porque eu não mereço passar por isto. Nenhum de nós dois merece. – Então soou um retumbar bruto e logo eles puderam escutar o som da chuva caindo sobre o teto da carruagem. – Maldita chuva, o que os sete deuses querem? Afogar-nos com essas tempestades? Sorte que não viemos pelo mar, da última vez quase que a nau real naufraga por conta desse tempo terrível.

Ela decidiu ignorar o restante das reclamações de seu noivo, parece que haviam retornado ao habitual costuma. Onde Florian iria tagarelar ou falar incansavelmente sobre um assunto que poderia ser algo que amasse ou então odiasse. O príncipe seria capaz de fazer isso por horas a fio. 

Enquanto Myra Durrandon simplesmente iria escutar ou apenar fingir, enquanto sua mente vagava para longe de seu noivo. Para longe de todas as suas palavras tediosas. Porém, desta vez tinham os sons da tempestade para fazerem companhia para si.

Afinal, ela havia nascido em um dia de violenta tormenta. Então, os deuses da tempestade a muito esquecidos pareciam gostar dela. Assim, seus ouvidos passaram a apenas focar-se nos sons da chuva que caia. 


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Notas finais do capítulo

Próximo capitulo ou teremos os vassalos dos Durrandon ou quem sabe a Casa Arryn, não é? Dar um vislumbre lá no Ninho da Águia e ver como as coisas estão.

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