Honra & Fúria - Interativa escrita por Thiago


Capítulo 2
Capitulo I


Notas iniciais do capítulo

Capitulo 1 dessa vez, apresentando os Irmãos Durrandon mais velhos. Espero que gostem. Até lá embaixo.



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Baia dos Naufrágios

Ian Durrandon despertou de seu sono aquela manhã, muito antes que os primeiros e preguiçosos raios de luz se intrometessem através das venezianas de seu quarto. Os seus olhos já estavam abertos. Seu coração havia sentido-se apertado, sendo que a última vez que sentiu isso foi quando sua bebê havia morrido em seu berço. 

Um pressentimento ruim semelhante havia se acometido de si, como se já esperasse pela notícia devastadora que viera bater a sua porta na figura do Meistre Carwell. E foi pior do que poderia imaginava, seus joelhos fraquejando e ele tendo que se sentar para não desabar na frente do subordinado de seu pai. 

Onde ele estava que não havia visto os sinais eminentes a respeito de sua irmã e o quão emocionalmente instável ela se encontrava? Reyna havia se atirado da janela de seus aposentos em direção do mar.

O coração partido tinha lhe levado a tomar uma atitude que havia sido impensável para todos. Sua irmã tinha se entregado a morte, sendo que nem ao menos um corpo havia deixado para trás para que pudessem chorar sua morte.

Apenas uma carta havia ficado para trás em seu travesseiro. As últimas palavras haviam sido privadas dos ouvidos dele o conteúdo contido naquele pergaminho. O que era dito ali, estava sendo mantido em sigilo entre seus pais.

Talvez se tivessem lido a carta de sua irmã, a sua percepção de que tudo o que estava acontecendo seria real e mais fácil de lidar. Porque até então, por mais que houvesse reunido os guardas de Ponta Tempestade, afim de cavalgarem pela intermediação das praias que circundavam as intermediações da Baia dos Naufrágios em busca de Reyna. Mas será que conseguiriam encontrá-la?

A dor emocional era uma sensação que Ian sabia como era, porém ainda assim ele sentia-se aos poucos entrar em devaneio e recordar-se de seu passado. De como havia tido perdas em sua vida que pareciam serem incapazes de serem reparadas. 

Sua esposa e sua filha, que haviam sido ceifadas dele em meio a eventos trágicos. Ian sentia como se estivesse esquecendo como eram as feições de Sarenna Swann, apenas lembranças que a cada ano que passava iam se tornando menos nítidas. Ele temia que o mesmo acontecesse com sua irmã.

Ian não queria esquecer Reyna Durrandon, por mais que a dor de sua ausência fosse forte, ainda assim ele precisava se apegar as lembranças felizes ao lado dela. Porque era o que lhe restava agora. Apenas vislumbres de momentos do passado na companhia de alguém querido.

Se os deuses fossem bons, aquele era apenas um pesadelo de que queria despertar em breve. Porém, os sete deuses eram entidades cruéis e ele sabia disso, porque somente seres devassos para tirarem dele sua filha ainda bebê. Um ser inocente que havia sido prematuramente tirado desse mundo. 

Ian Durrandon vinha convivendo com esse vazio em seu peito. Agora, esse lugar parecia ainda maior após a perda de Reyna. Era o que se perguntava enquanto seu cavalo trotava sobre as areias pedregosas da Baia dos Naufrágios.

Seus ouvidos apenas captavam os sons das ondas que se quebravam contra a encosta rochosa e as aves pescadoras que piavam sobre o céu cinzento daquela manhã. Parecendo gargalhar da tragédia que havia atingido os regentes da tempestade. 

O trotar das montarias da guarda de Ponta Tempestade quase desapareciam, conforme os soldados seguiam margeando a praia em busca de um cadáver que viesse do mar. Em busca de uma donzela desolada por seu amado ter quebrado sua promessa.

"Deryn Arryn, a desonra de seu nome". Pensou Ian com o seu interior fervilhando pela fúria contida. Era como o rugir de uma tempestade que se aproximava silenciosamente. Talvez, a morte do quebrador de promessa lhe trouxesse alguma paz. Ele honraria a memória de Reyna dessa maneira. 

— Você quer conversar sobre isto, garoto? – perguntou Sor Wulfred Grandison, o mestre-de-armas de Ponta Tempestade. Um cavaleiro veterano de três guerras, também sendo uma especie de segundo pai para príncipe herdeiro. O tom confidencial em que conversavam demonstrava uma confidencialidade que deveria ser captada apenas pelos ouvidos de Ian.

— Eu estou bem, Wulf. – respondeu Ian em um sussurro taciturno – Obrigado por perguntar. - Ele encarou a face de seu mestre-de-armas podendo ver o seu semblante compadecido.

O velho cavaleiro possuía os cabelos e barba já grisalhos e feições grosseiras com algumas cicatrizes de combates passados. Um peitoril largo e braços fortes capazes de brandir uma espada de duas mãos sem muito esforço.

Porém, naquele momento não havia nada de amedrontador em sua face e Ian compreendia o porquê, Wulfred sabia o sentimento que o príncipe possuía. Entendia como era perder alguém importante.

O cavaleiro veterano havia perdido uma esposa para um inverno cruel de décadas atrás, assim como dois filhos ainda na primeira infância para a Praga da Primavera. E mais dois filhos adultos na última guerra, ambos tendo perecido em batalha contra os cavaleiros do Vale de Arryn. 

— Garoto, você não está bem – respondeu Wulfred na sabedoria de quem só havia vivido meio século seria capaz. – Ela era uma boa moça e muito amável. Um coração puro que não deveria ser protegido da crueldade dos homens.

— Meu pai escolheu a pessoa errada para quem entregar a mão de minha irmã – respondeu Ian – Ele quebrou o seu coração e junto disso... Eu sinto como se tivesse destruído nossa família. Essa tragédia que se decaiu sobre nós de uma maneira que não esperávamos tão cedo. Logo quando as últimas feridas pareciam estar cicatrizando... A perda de meu avô no último inverno. - Ele fez uma pausa e completou mentalmente, a perda de Sarenna e Elenei

— A vida é cruel e imprevisível, garoto. – disse Wulfred ao príncipe herdeiro com um olhar compadecido – Ela sempre cobrara seu preço ao tirar de você o que mais ama e presa nessa vida. Mas cabe a nós sabermos usar a dor que nos atinge para nos fortalecemos. Seja como o aço, garoto. Resista a sua dor e não permita que ela lhe quebre. 

— Eu não estou quebrado – disse Ian seriamente – A vida tem tirado muito de mim e tem entregado aos braços da morte pessoas com quem me importo. Chega um momento somente que, a dor se torna algo que você tem que conviver. 

— Sim, porque essa dor nunca nos deixa de verdade – falou Wulfred Grandison em sua sabedoria – E você já a conhece tão bem, apesar da tenra idade.

— É como se viver passasse ser uma missão para honrar aqueles que nós amamos. - falou Ian - Eu não vivo apenas por mim agora. Vivo por aqueles que se foram prematuramente e não tiveram a chance de viverem tudo o que a vida tinha a oferecer. 

— Esse é o espirito. - respondeu Sor Wulfred dando um sorriso reconfortante - Pegue isso e faça dela a sua fortaleza, vossa alteza. Seus pais precisarão que você esteja ali para eles.

— Não somente meus pais, sor. – respondeu Ian em sua voz rouca enquanto fitava seu olhar a frente – Não somente eles... – E tornou a mergulhar em seu silêncio enquanto suas montarias continuavam a trotar pela praia.

Ele suspirou fundo e em seguida respirou aquele ar pesado e salino que vinha do mar. Ele tinha que ser forte e endurecido, ao menos era o que demonstrava a todos. Porém, lá no fundo de seu coração por vezes pegava-se pensando se chegaria um dia em que se tornaria indiferente a tudo.

Que não iria mais lamentar ou sentir-se incapaz frente ao que acontecia ao seu redor, porém tudo que conseguia pensar era que ele havia conseguido construir para si a imagem que precisavam que ele fosse. Sua força física refletia-se no seu inabalável semblante, porque nem mesmo os nobres têm direito de demonstrar sua dor ou tristeza.

Havia muitos deveres no que se dispunha em ser um príncipe e um deles é sua postura frente aos seus vassalos. Talvez tivesse construído uma máscara, porque era o que havia sido ensinado a fazer desde muito cedo. Não demonstrar fraqueza frente aos seus súditos e não deixar que pensem que podem desafiá-lo pelo poder que é seu por direito.

Suas expressões denunciam quem realmente você é e isto tem que se tornar uma incógnita. Apenas demonstre o que as pessoas esperam enxergar quando te encaram”, dizia seu pai. "Seja o herdeiro que as Terras da Tempestade merecem que você seja".

Porém mascarar seus sentimentos tinha se tornado mais do que uma questão de transparecer força e passara a ser algo que ele acreditou que havia se tornado, desde que retornara da guerra contra o Vale de Arryn há cinco anos. Só um homem que viu os horrores da guerra sabe que as coisas não são as mesmas quando se retorna para casa.

Seus cavalos agora marcham próximos da superfície lamacenta que era a areia molhada da praia. Ele podia ver o seu reflexo distorcido frente às águas esverdeadas do mar da Baia dos Naufrágios. Não sabia o que pensar de si mesmo naquele momento ao encarar a face neutra e indiferente que transpassava aos seus soldados.  

O que deveria pensar de si mesmo, além da incapacidade que ele teve em manter sua irmã viva? Porque não fora capaz de prever o que estava acontecendo bem debaixo de seu teto e impedir que aquilo acontecesse? Ele tinha falhado como um irmão para Reyna. E sentia-se péssimo por tê-la perdido assim. Porém, ainda assim queria poder fazer algo em sua memória. Ao menos, ficaria melhor consigo mesmo.

Seus olhos vagaram para a encosta, contra a arrebentação das ondas nas rochas que estendiam pela baia. E então transpassando pelos rochedos íngremes que terminavam interligando-se em uma espécie de ponte natural.

Em dias de tempestade, por vezes barcos encalhavam nessas rochas e ficavam presos. Havia vestígios de antigas embarcações por ali que haviam recebido esse triste fim e hoje serviam de lar para gaivotas e pelicanos. Além de estarem cobertas por cracas e outros caramujos que infestavam suas proas e convés. Um cemitério de navios, porém ninguém nunca tinha tido coragem de referir-se aquele lugar dessa forma.

Então foi quando a encontrou, de inicio não fazia ideia se os seus olhos estavam enxergando com clareza. Aqueles cabelos negros quase azulados não era algo que poderia passar despercebido aos seus olhos.

— Vossa alteza... – chamou um dos soldados. Porém, ele não precisou dizer muito mais porque naquele momento seus olhos pousaram sobre a silhueta feminina, que se encontrava presa sobre a barreira de rochedos. – O senhor está... – E apontara para o que havia sido carregado na direção das pedras no ultimo arrebentar das ondas.

Ian não respondeu o seu companheiro de caçada, no lugar disso simplesmente saltou da cela de seu cavalo e ingressou no mar. Sentiu suas botas ficarem escorregadias ao serem invadidas pelas águas. Com águas nos joelhos foi que se desfez de sua capa e de sua casaca. Assim, de braços e peitoral despidos seria mais fácil nadar contra as ondas. 

Rapidamente tornou a dar seus passos cada vez mais para o fundo e por fim, quando as águas já se encontravam na altura de seu peitoral que ele mergulhou e colocou-se a nadar na direção dos rochedos.

Não se recordaria muito sobre como havia chegado até a irmã, sabia que tinha sido difícil e que cada braçada havia sido forte e precisa. Ian também iria ignorar o desespero dos guardas de Ponta Tempestade que diziam para que ele retornasse. Até que fossem calados pelo mestre-de-armas do castelo que lhes repreendeu e retalhou para que confiassem no príncipe.

Sor Wulfred Grandison bradaria para que alguém fosse buscar algum barco no cais próximo. Logo mais, Ian sentiu seus dedos tocando a rocha escorregadia e coberta por cracas e conchas vazias de moluscos. Seus cabelos molhados e seus olhos ardendo por conta do sal do mar, porém suas mãos agarraram-se fortemente nas pedras enquanto empurrava-se para cima e para fora das águas.

Ian Durrandon encontrou-se frente a um cadáver feminino de cabelos negros. Uma jovem moça de camisola branca que havia se tornado bruxuleantemente rósea por conta do sangue. Ele rastejou pela rocha até o seu lado e a virou para si, para que pudesse encará-la. Removendo suas madeixas escuras que lhe cobriram o rosto.

A garota estava como o corpo frio e sua pele encontrava-se pálida e havia enrugando-se devido ao tempo que havia passado mergulhado nas profundezas marinhas. Ainda assim, não havia se tornado uma estranha aos olhos de Ian.

Ela encontrava-se estranha como se seu corpo estivesse quebrado por inteiro. Lembrando-lhe de uma marionete cujas cordas tivessem sido cortadas. Ainda assim, ela continuava sendo Reyna. Sempre iria reconhecer aqueles olhos, por ser o mesmo tom de azul que os dele.

Não restava nenhuma dúvida, Ian reconheceu aquele cadáver aquela como sendo sua irmã perdida. E ele sentiu aquele vazio nos olhos antes tão cheios de vida de Reyna refletirem-se nos seus. Então finalmente aceitando a verdade, não era um pesadelo e sim a mais dura e cruel realidade. 

E por estar sozinho foi que se permitiu a chorar enquanto a abraçava por uma última vez. Era como ter Sarenna morta em seus braços novamente, uma lembrança angustiante de se sentir impotente frente a algo. Sua irmã havia partido e ele não havia feito nada para impedir aquilo de acontecer. 

...

Baia dos Caranguejos

Robben Durrandon levou mais uma vez seu caneco de vinho a boca. Porém, nem o mais doce dos vinhedos da campina poderia fazê-lo sentir-se melhor frente a noticia que havia recebido do pai. O corvo de Ponta Tempestade havia chegado ao Castelo Novo, local em que havia encontrado hospedagem cedida pelo Lorde Manderly.

Ele havia lido as palavras escritas no pergaminho em particular e não as havia compartilhado com sua tripulação até muito depois que haviam abandonado as águas nortenhas. Robben apenas lhes dissera que os planos haviam mudado, retornariam para as Terras da Tempestade de onde haviam partido a cerca de quatro luas atrás.

A viagem que iriam fazer para o Mar de Jade teria de ser adiada por um tempo indeterminado. Teria que deixar para outra oportunidade a sua missão em desvendar os mistérios que havia ouvido de marinheiros sobre o extremo oriente.

Ele tinha um espirito aventureiro e desbravador que não deveria ser aprisionado em Ponta Tempestade. Navegar para além dos confins do mundo conhecido, saber se os mistérios e os contos que tinha escutado eram reais. Ainda assim, seus desejos e ambições eram apenas parte do seu eu egoísta. Naquele momento, ele havia vestido o seu luto pela perda de Reyna e sofria calado pela tragédia que havia se abatido em sua família.

Na verdade, Robben tentava afogar em si com o vinho a vontade imensurável que tinha de dar meia volta seu navio e refazer o seu caminho. Já fazia um tempo que tinham deixado o litoral que era pertencente ao Vale de Arryn, sendo que os deuses haviam sido bons em tê-lo feito beber até desmaiar, porque do contrário talvez a sua fúria não pudesse ser aplacada.

Provavelmente ele teria feito um ato impulsivo e derramado sangue. Se tivesse colocado seus olhos sobre a Vila Gaivota, talvez tivesse feito uma parada e extravasado sua ira. Depois veria o quão insignificante seria derramar sangue do povo comum, afinal de nada importava matar aqueles que nada tem haver com a sua dor.

Ainda mais, que ele estaria sendo estúpido e agindo precipitadamente, afinal a guerra iria ser eminente. Era para isso que estava retornando para casa para que pudesse lutar mais uma vez.  Até porque fora na guerra que havia se sentido vivo pela primeira vez na vida.

Robben era um guerreiro apesar de tudo, sido moldado para servir ao seu pai na guerra. Que outra razão ele seria instruído desde cedo nas artes militares? Bem, todo aquele trabalho duro havia valido apena no final.

Colocado seus talentos com as espadas a prova e mostrado seu valor ao seu pai ao entregar-lhe a cabeça do herdeiro do Vale de Arryn. Herrold Arryn havia sido um adversário digno, porém será que seu irmão faria jus ao seu legado? Duvidava um pouco. Deryn Arryn iria pagar e quem quer ficasse em seu caminho até o seu objetivo que era vingar sua irmã.

Dera mais um gole em seu vinho apenas para sentir uma mão sendo depositada sobre o seu ombro. Ainda assim, aproveitou para dar uma última golada em seu vinho e sentiu-o descendo por sua garganta rapidamente. Nem ao menos sentindo o gosto adocicado típico do vinho da Arvore.

— Então, algum problema que eu tenha que resolver? – disse Robben enquanto limpava os lábios com o polegar e voltava-se para encarar a face do seu companheiro – Outra briga entre os marujos? Eu devo ser o pior capitão do Mar Estreito. Porque só assim para eu selecionar uns bastardos que continuam se digladiando por razões triviais. Devia jogá-los ao mar... – Resmungou em seguida tacando sua caneca no convés do navio. – O que foi agora, hein? Responda logo, Khan.

— Sei que está irritado, porém não tornará sua dor menor ao maltratar quem nada tem haver com isso.  Nenhum desses homens empurrou sua irmã daquela torre, meu príncipe. – disse Shaeris Khan, com seu toque de sotaque volantiano. – Todos são compadecidos com a sua perda...

— E eu agradeço por isso – disse Robben – Eu sei, está bem? Só não queria que as coisas fossem assim. Não queria ver a minha irmã tendo seu coração partido e sendo humilhada por um merdinha que se acha melhor que todos nós. Eu sabia que aquele Deryn Arryn não prestava, mas meu pai me escutou por acaso? Não, ele preferiu prometer a mão da minha irmã para os nossos inimigos.

— Rob, olha para mim. – pediu Shaeris Khan, enquanto pegava nos ombros do mais novo e mais baixo. O príncipe encarou seu mestre em esgrima, o homem que conhecia a uma década e que havia feito dele a pessoa que era hoje.

Ele encarou em silêncio o musculoso e alto volantiano, com a sua pele morena e seus cabelos acastanhados cacheados, crespos e densos. O bigode e o cavanhaque juntando-se e emoldurando sua boca de lábios grossos. O sol reluzia em seu brinco de argola de ouro no momento que se voltou para encará-lo.

— Guarde sua fúria – disse Shaeris Khan – Use-a como sua arma quando chegar o momento certo. Lembre-se, você tem que ser como o fogo. Rápido, feroz e destruidor. Porém, seja paciente e você será recompensado.

 Robben assentiu.  Afinal ele sabia que seu mestre era experiente na arte da guerra. Um antigo mercenário das Cidades Livres que havia sido trazido por Dorian Durrandon para instruir o filho no manejo das espadas gêmeas.

— Eu cobrarei o preço das lágrimas que minha irmã derrubou – disse Robben em um sussurro raivoso – E só aceitarei o sangue daquele príncipe como pagamento. – Então se desfez das mãos do mercenário e fez o seu caminho adiante para longe da borda do navio.

Então encarou e viu sua tripulação parecia ter parado seus afazeres para encará-lo em seu desabafo para com Khan. Então, o garoto vestiu a sua carranca novamente e dirigiu-se a frente do convés, colocando-se sobre um dos barris ali depositados.

— Perderam algo? O que estão esperando essas velas não vão se inçar sozinhas.  – disse Robben agressivamente - Temos que chegar a Ponta da Tempestade para o sepultamento de minha irmã ao menos. Rápido com isto, homens. Estamos perdendo velocidade. 

— Estamos atravessando a Baia dos Caranguejos, vossa alteza. – disse um dos marinheiros – Estamos deixando os limites das Terras dos Rios. Logo poderemos avistar a Baia da Água Negra.  E então... – ele seria interrompido pelo príncipe impaciente.

— Sem paradas até lá, ouviram bem? Quero que aproveitemos o vento que está ao nosso favor. Eu quero ir direto para Ponta Tempestade. – disse Robben enquanto atravessava o convés a caminho de sua cabine como capitão - Estarei em meus aposentos, só me chamem se for de extrema necessidade. Não quero ser incomodado pelo resto da viagem.

Ao ingressar em seus aposentos modestos trancou a porta atrás de si. Robben então se dirigiu a sua cama encostada no extremo oposto da cabine, ele encaminhou-se para sua cama e ali de sentou. Encarando seu isolamento dessa vez físico não apenas mental, então puxando do bolso do casaco o pergaminho que havia recebido em Porto Branco. Lendo mais uma vez as palavras que anunciavam a morte de sua irmã.

Ali naquele pergaminho não dizia a causa ou o meio que Reyna havia colocado um fim a própria vida. Porém, Robben queria imaginar que ela partiu sem sentir dor e que apenas foi dormir para nunca mais acordar. Veneno, talvez? Faria sentido a seu ver sempre que pensava em uma morte indolor. Algo maior do que isto seria trágico e desastroso demais para sua compreensão.

Sua irmã deveria ter tido chance de encontrar um homem que a amasse e cuidasse dela, alguém com quem fosse capaz de envelhecer ao seu lado e lhe dá filhos saudáveis e fortes. Reyna deveria ter o mesmo direito que muitas damas tiveram em vida, porém ela acabou criando ilusões com alguém que não a merecia. E isso a levou tentar contra sua própria vida. Uma atitude covarde e egoísta, que Robben nunca perdoaria.

Ele mesmo dificilmente pensava em como morreria. Ele achava um pensamento agourento demais para alguém que estava em seu auge como era o caso dele.

Robben tinha tantos planos em sua vida, então não se entregaria facilmente sem lutar por sua vida. Não sem antes realizar seus sonhos. Um nome para si mesmo e quem sabe um pedaço de terra para chamar de seu. Uma ilha ou mesmo quem sabe mais do que isto.

“Bem mais”, pensou sentiu aquela cutucada de sua ambição, lhe corroendo as entranhas. “Talvez um belo castelo nas montanhas”. Ele removeu suas botas e deitou-se em sua cama com os braços cruzados em sua nuca. 

E assim novos sonhos brotaram em seu ser. Enquanto encarava a chama que dançava tentadoramente sobre a vela no candelabro sobre o criado-mudo. 

"Vale de Durrandon". Ele sorriu para si mesmo ao pensar naquelas palavras. "Soava muito bem aos ouvidos, não é mesmo?" Por fim, entregou-se ao sono e ao cansaço enquanto sentia o retumbar de seu navio sobre as ondas do Mar Estreito. Seus olhos fecharam-se enquanto esboçava um sorriso frente aos seus novos planos de conquista. 


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Notas finais do capítulo

O capitulo obviamente refere-se as palavras que os mentores de nossos príncipes disseram aos dois. Porque eu sou uma pessoa muito criativa para titulos não é mesmo? Hahaha.

Deixem comentários e nós nos vemos no próximo capitulo.
Ah, obrigado may w pelo banner do prologo. Eu adorei e espero que vocês possam ir lá dar uma olhada nele.

Até mais o/