Honra & Fúria - Interativa escrita por Thiago


Capítulo 10
Capitulo IX




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Capitulo IX

Obsessão 

Ponta Tempestade

Lyonel Swann sentia-se um tolo por recorrer ao vinho a fim de afogar sua tristeza naquela noite. Ele tinha enterrado a única mulher que amou e isto lhe fazia pensar se não deveria atirar-se das ameias do castelo e assim perseguir o fantasma de Reyna Durrandon, para as mesmas águas da Baia dos Naufrágios, que havia sido seu frio algoz.

Não, refletiu ao imaginar a dor e o desespero se abatendo sobre si nos minutos finais. Ele amava a Reyna, mas ainda assim o amor que tinha por si mesmo era maior. Então, aquilo não era uma opção e não deveria ser cogitada.

Até porque, ele não era um homem devoto a religiões ou qualquer dos deuses que fossem. Por mais que tivesse feito vigília aos pés da estátua do Guerreiro, tudo havia sido somente para agradar ao avô e assim concluir o seu fardo de ser feito cavaleiro.

Ele desdenhava dos pensamentos de vida após a morte, acreditava que recompensas e reconhecimento apenas se conseguia enquanto o coração ainda pulsasse sangue. Sem mencionar que quando pensava na morte, apenas encontrava a visão de uma eterna escuridão. Mas se estivesse errado? Bem, nesse caso decidira que não queria saber tão cedo. 

Mas ele não poderia recusar o chamado para a guerra. Era o seu dever para honrar seus titulos, seu castelo e suas terras. Bem como uma busca de tentar provar-se merecedor do que lhe era por direito até ali. Sim, ele era um cavaleiro e como tal as pessoas esperavam apenas as mais honradas atitudes vindas dele. Não que ele fosse um homem de honra, mas ninguém fora si mesmo admitiria isso como sendo verdade. Afinal, homens de honra não costumam viver por muito tempo. 

Tinha passado quase dez anos desde que se consagrou e foi colocado sobre juramento, percebeu que havia suas recompensas em portar-se como era o esperado de si. Até porque a glória conquistada em torneios era um dos pequenos prazeres em sua vida além de alimentá-lo com a atenção que sabe que merece.

No final das contas, ser um cavaleiro era apenas colocar-se acima dos homens comuns e ter uma vida regada de privilégios. Entre os nobres era como uma confirmação de que você era um homem de todo o direito, preparado para defender o que era seu. Porém, ainda assim ele sentia-se frustrado por vezes ao confirmar que não havia conquistado tudo o quisera e algumas coisas nunca aconteceriam para si. 

Queria que Reyna Durrandon o tivesse visto justar ao menos uma vez, pensou Lyonel enquanto se encarava a fitar o lugar vazio da princesa no patamar real. Talvez assim tivesse conquistado o seu coração que tanto cobicei, porém você nunca me achou merecedor do seu amor. 

Parte de si queria ter raiva de Reyna Durrandon por tê-lo rejeitado. Por ter fugido de seus beijos e caricias e por ter renegado-lhe qualquer afeição ou carinho. Mas ele só não poderia odiá-la. Não, aquela princesa era perfeita tanto em aparência quanto em coração.

E Lyonel por vezes sentia-se indigno de ter cobiçado alguém tão imaculada com tanto fervor. Mas ele não poderia evitar. Quando queria uma coisa, ele simplesmente tentava conseguir. E Reyna havia sido a única mulher em sua vida que havia o negado. A única que fora as suas irmãs, havia tido alguma especie de amor. 

Ele pensou o quanto se sentia vazio por dentro. Nem mesmo conseguia pegar-se a promessas vazias de que a garota havia por fim encontrado um lugar melhor, em que não irá mais sofrer.

Não existe nada na morte, além do vazio e do termino da vida. Um lugar melhor? isso só eram mais mentiras que as pessoas contavam para crianças sentirem-se mais confortáveis com a perda. Concluiu enquanto bebia mais um pouco e assim sentindo o adocicado gosto das vinhas em seus lábios.

A vida terminava no momento em que o último bater de coração ocorria, por conta disso que talvez ele não tivesse feito uma loucura quando soube da perda de sua amada. Porque sabia que não a encontraria do outro lado. 

— Mais vinho? – ofereceu uma serviçal, interrompendo o seu mórbido pensamento. Ele ergueu sua taça, assim notando-a com mais atenção. Ele enchia uma vez mais sua taça de vinho e talvez por descuido ou não, a moça havia se encurvado o suficiente para que Lyonel pudesse vislumbrar o seu farto busto. – A bebida está do seu grado, sor?

— Certamente que está, minha senhora. – disse Lyonel enquanto tomava um gole curto de seu cálice. O sabor doce e frutado do vinho estival encheu-lhe a boca e trouxe-lhe um sorriso aos lábios. – Agradeço sua cortesia.

— Seu sotaque, me diz que não é da Campina. – observou a serviçal – E seu sigilo demonstra que tratasse de um Swann de Pedrelmo. O que é de verás curioso que esteja sentado nesse lugar em uma ocasião como esta.

— Eu passei muito tempo longe das Terras da Tempestade – falou Lyonel – Queria que estivesse retornando ao meu lar por motivos mais felizes. Não creio que recorde-se de mim, mas eu cresci na corte...

— Sim, eu recordo-me de vossa senhoria – disse a serviçal – É o filho do Mestre de Leis. Pode lhe surpreender, sor... – Ela lhe lançara um sorriso e assim destacando as suas sardas e covinhas - Mas as histórias a respeito de vossa senhoria é bastante ouvida na criadagem...

— Eu posso lhe contar elas por conta própria – disse Lyonel enquanto deslizava a mão por debaixo das saias da criada – Posso fazê-la ver que sou muito mais do que meras histórias, porém você pode me fazer companhia em troca? Caso seja de seu interesse... – Ela lhe sorriu enquanto tornava-se afastar enquanto o rapaz tornava a tomar um novo curto gole, vendo então a serviçal deu-lhe um último olhar por sobre o ombro. E ele então a lançou uma piscadela.

O grande salão de Ponta Tempestade estava movimentado e quente devido as lareiras que tinham sido acesas. O ar fumacento e pesado com os cheiros de carne assada de caça e refogados de legumes.

As grandes paredes de pedra do salão estavam adornadas com estandartes das casas nobres. O veado negro da família Durrandon era o destaque central logo acima do patamar real. À direita vinham os estandartes das casas das Terras da Tempestade enquanto a esquerda encontravam-se os da Campina.

A encantadora Naia de Norvos tocava harpa e recitava uma balada, mas nesta ponta do salão quase não se conseguia ouvir sua voz acima do rugir do fogo da lareira localizada logo atrás das mesas dos cavaleiros da Campina. Afinal, muitos ainda achavam a mudança climática algo a incomodá-los, de maneira que o fogo tinha de ser atiçado e alimentado com lenha mais do que as outras.

O tilintar dos talheres com os pratos e taças de latão, e do burburinho grave de uma centena de conversas ébrias. Estavam na quarta hora do banquete oferecido pelo rei aos seus convidados, o que fazia com que Lyonel cogitasse que talvez não fosse tão insultante caso se desse por satisfeito e fosse para seus aposentos. Afinal, já havia garantido sua companhia para lhe aquecer os lençóis.

— Então, esse é o homem que usa as minhas cores e o meu brasão só que ainda assim não se sente em minha mesa? – falou uma voz atrás de Lyonel e este reconheceu aquela voz assim que ela lhe tocou os ouvidos. – Acha-se bom demais para sentar-se com a sua família? – Lyonel sorriu, frente ao tom leve e divertido do avô. – Como vai meu neto? Olhe para você, um nem se assemelha ao garoto que deixou-nos há quatro anos.

— Talvez porque eu não seja mais aquele garoto. – respondeu Lyonel Swann ergueu seus olhos, com um semblante feliz. Foi quando Selwyn Swann lhe pôs a mão em seu ombro em seguida dando-lhe alguns tapinhas camaradas. – E lamento não me reunir a ti, meu avô. Mas creio que não seria bem quisto e cá entre nós, eu gosto de refeições mais tranquilas e alegres. Foi um dos mimos que me permiti acostumar-me enquanto na Fortaleza de Águas Claras.

— Compreendo – respondeu Selwyn Swann – Chegue para lá, rapaz. Dê um espaço para este velho cansado possa sentar-se... – E assim, um dos cavaleiros interrompeu a história obscena que estava contando para abrir lugar na mesa para o Lorde de Pedrelmo. – Vejo que tem se fartado de vinho, mais do que de comida... – observou-o.

— Une-se a mim, avô? – ofereceu Lyonel erguendo seu cálice. Selwyn sentou-se no banco com suas pernas curtas e arqueadas, assim colocando-se ao lado de seu neto. Foi então que tirou o cálice de vinho das mãos do mais jovem.

— Vinho de Verão - disse Selwyn só ao sentir o aroma que exalava da bebida de cor purpura - Não há nada tão doce. Certamente, uma escolha sensata para uma ocasião tão amarga. Porém, eu queria tê-lo ao meu lado. Você não precisava se preocupar, seu pai também está em luto. Duvido que seu pai fosse ter forças para uma discussão.

— Seria uma mudança forte em seu ser – retorquiu Lyonel enquanto coçava uma das sobrancelhas – Ele sempre parece com humor para um bom duelo de palavras, sendo que eu sou uma escolha sensata já que sou um dos poucos que não se encolhe frente ao poderoso Mestre de Leis... – Ele então tomara o cálice das mãos do avô.

— Você estaria sobre a minha proteção – disse Selwyn, sensatamente.

Por mais que tivesse direito em sentar-se ao lado dos homens de sua família (avô, pai e irmão mais novo), sempre se sentiu deslocado e certamente não queria ver-se sendo confrontado pelo seu progenitor que outrora o havia feito naquela manhã.

— Eu estaria? Poder ser que sim. – disse Lyonel enquanto agitava o resto de vinho que mantinha em seu cálice - Mas ainda não é do meu agrado sentar-me ao lado dele. Não depois de tudo. - Afinal, por mais que não fosse admitido em voz alta por ninguém ousado ou tolo o bastante, Septimus Swann tinha quase exonerado o seu primogênito de sua condição de herdeiro.

Porém, devido Lorde Selwyn Swann ter tomado partido em favor do neto à ameaça não foi cumprida. Em seu lugar, Lyonel Swann foi enviado para passar os últimos anos de sua mocidade na Campina ao lado da família materna. Fora ali que se consagrou cavaleiro e se fez homem, ainda assim o seu coração ainda carregava mágoas de infância mal resolvidas.

— Você poderia ter voltado antes – falou Selwyn – Ele não poderia enxotá-lo de meu teto. Seu pai esquece que enquanto ainda for lorde, não é ele que dá a última palavra. Essa é a minha decisão.

— Ainda assim, eu fui enviado para longe daqui. – disse Lyonel – Enviar-me de volta para Pedrelmo não foi o suficiente. Ele quis que eu me sentisse abandonado e sozinho, apenas mais um estranho em um lugar que não era seu. Bem, para infelicidade dele... – Ele sorriu então dando uma gargalhada modesta em seguida – Eu sou um rapaz muito mais sociável do que ele foi um dia em minha idade.

— Então, você retornou para assumir seu posto de direito em Pedrelmo. – respondeu Selwyn parecendo satisfeito e querendo mudar de assunto rapidamente – Como eu lhe solicitei em minha carta.

— Sim, eu recebi sua carta. – disse Lyonel, porém ela viera tardiamente já que o rapaz já havia descoberto sobre a perda de Reyna Durrandon através de Myra. – Eu já pretendia retornar para meu lar. Estava sentindo a falta de Cassandra e de minha mãe... – Ele dera um gole de sua bebida.

— Ela certamente tem boas notícias para te dar quando se encontrarem. – respondeu Selwyn enquanto servia-se de vinho – Seu pai esta a negociar um bom casamento para ela. Mais precisamente, com o herdeiro Estermont. – Ele deu um olhar significativo para o neto então lhe dando uma piscadela – Mas você não ouviu isso de mim.

— Pensaria que conseguir um lugar no pequeno conselho o tornaria mais esperto – respondeu Lyonel – O que os Estermont têm a oferecer para nós? São uma família muito menor e sem tantos bens quando comparados a nós? Sua ilhota é quase um terço do que possuímos com os nossos domínios. Minhas irmãs são preciosas. Cassandra merecia estar casada com alguém que aumentassem o nosso poderio. – Ele girou a taça em mãos e assim agitou o vinho que havia em seu interior - Que desperdício de uma boa mulher ficar presa a uma ilha minúscula tendo que parir e dar continuidade a uma família tão medíocre.

— Não fale essas bobagens em voz alta – disse Selwyn – Tenha cuidado garoto, os domínios dos Estermont não são tão extensos territorialmente só que ainda assim são bem influentes nas Terras da Tempestade. E certamente ele não foi a primeira opção de seu pai, não mesmo. Ele queria que Cassandra se casasse com Bryce Tarth.

— Minha irmã estaria muito velha quando eles tivessem idade para consagrar o casamento – disse Lyonel – Mas ainda assim seria uma decisão bastante justa. Teríamos dois terços do poderio naval das Terras da Tempestade ao nosso lado. E não apenas um terço como foi o caso de seu verdadeiro prometido. Estermont... – Ele deu um gole de seu vinho - Francamente.

— Seu pai optou por deixa-la que decidisse entre os seus candidatos – falou Selwyn – E ela optou por Alden Estermont. Então, acho que você está sendo um tanto injusto com essa decisão, meu neto. Seu pai não é tão inepto quanto pensa.

— A verdade é que ele assim como a minha mãe nunca ligou muito para Cassy – disse Lyonel – Se não fosse por mim, provavelmente ninguém nunca teria demonstrado algum pouco de afeto por ela. – Ele finalizara sua bebida - E a Thess, como ficará com tudo isto? Devo esperar que ela seja desposada ainda nessa vida? Certamente, não lhe agradara a decisão de meu pai em conseguir um casamento para a nossa irmã mais nova e não para ela primeiro.

— Não apareceram tantos candidatos a sua irmã – disse Selwyn parecendo chateado – Aparentemente, por mais que uma década tenha se passado desde que quase a perdemos, a imagem de ela ter uma saúde frágil ainda assombra seu nome. A meu ver, a maioria dos lordes teme que eles possam estar jogando seu filho para um casamento infértil ou mesmo que Theresa possa perecer no parto.

E em seguida, Selwyn Swann seu semblante fechou-se e ele tomou uma postura mais séria. Provavelmente, havia se recordado de sua filha já falecida nas mesmas condições. Sarenna Swann, a esposa do Príncipe Ian Durrandon e certamente a última pessoa naquela família a ter um bom pretendente naquela família.

Lyonel sentia que o pai estava desperdiçando a chance de casar novamente as duas maiores casas do reino. Afinal, os Swann eram a segunda maior família das Terras da Tempestade em questões de extensão territorial.

Até porque se era esperado que este conseguisse uma boa esposa para seu primogênito, uma princesa certamente seria a melhor decisão que ele poderia tomar. Septimus ainda assim manteve-se em silêncio, não interferindo na decisão do acordo matrimonial entre as Terras da Tempestade e a Campina.

Lyonel teria se contentado com Myra, não seria sua primeira opção só que ainda assim era um bom prêmio de consideração. Ele poderia se acostumar em tê-la ao seu lado, sem falar que seus filhos teriam uma pré-candidatura ao trono da tempestade. Ainda assim, seu pai se calou. Ele culpava tanto o pai quanto o próprio rei por suas ambições, preferindo alianças com reinos vizinhos a com seus próprios aliados.

Que Dorian Durrandon orasse para que seu pai e avô vivessem por mais alguns anos, porque se Lyonel assumisse o senhorio enquanto este rei ainda usasse sua coroa, as coisas seriam diferentes entre Pedrelmo e Ponta Tempestade.

— Você não vem nos ver desde que foi visitar seus avós maternos – disse Selwyn. E Lyonel lançou ao avô um olhar que denunciava que visitar não era exatamente o termo que poderia ser escolhido para o que aconteceu consigo. Estava mais para banimento. – Quero dizer, temos noticias ao seu respeito. Sobre suas ações nos torneios, ainda assim sempre achei essa decisão de você ficar na Campina precipitada. Queria eu que você tivesse mantido-se junto de sua família.

— Então, deveria ter sido mais insistente e confrontado as palavras de meu pai – disse Lyonel acido em sua voz – Meu pai age como se fosse o lorde, mas esquece-se que o senhor ainda está vivo e comanda a nossa casa. – Ele franziu a testa - A decisão cabia ao senhor. Sua palavra final deveria ser lei.

— Eu não poderia – disse Selwyn – Você é filho dele antes de ser meu neto. E isto não era uma decisão que cabe a um avô tomar nem mesmo um lorde. É um assunto familiar e deve ser tratado pelos envolvidos. Ainda assim, eu só quero que você esqueça o passado e recomece em Pedrelmo. É tempo de retomar seu lugar em seu castelo.

— Não esperava retornar por conta de uma tragédia dessa maneira. – falou Lyonel sem encarar o avô - Sem mencionar que a guerra realmente vai estourar dessa maneira? Admira-me a falta de honra e respeito do Rei do Vale de Arryn, não tivemos nenhum representante deles nos ritos funerários.

— Eles devem estar a caminho – disse Selwyn – Não é fácil navegar através das tempestades marítimas de nosso reino. Às vezes, embarcações se perdem ou atrasam nesses mares... – Ele agitou o vinho no interior de seu cálice - Caso não tenham marinheiros experientes nas tripulações, mas isto sou eu usando explicações que ouvi de meu pai quando garoto. Um velho homem relembrando velhas palavras... – Ele tomou um gole curto - Pedrelmo nunca teve capitães ou almirantes de fato, afinal somos uma casa do continente.

— Somos cavaleiros – disse Lyonel decisivo em sua entoação – Eu sei de nossas obrigações frente aos ataques ao flanco. Enfim, espero que caso algum navio tenha sido enviado até Ponta Tempestade que o Mar Estreito faça seu trabalho. Um trágico naufrágio seria bem quisto pela família real, creio.

— Não deseje tragédias a terceiros... – rebateu Selwyn então retomando a conversa da qual haviam desviado – Mas é bom ver que não renegou o meu pedido de qualquer maneira. Bem, vejo que ainda não esqueceu suas origens de fato por mais que seu pai tenha dito o contrário. Ainda assim, será bom saber que Pedrelmo estará assegurado enquanto estamos em guerra.

— Quem diz que eu permanecerei como seu castelão enquanto você e meu pai estão em batalha? – disse Lyonel dando um riso debochado – Eu não guerreei na última de sete anos atrás. Era jovem demais, não? Mesmo aos dezesseis anos, naquela época ainda era tratado como criança. – Ele ajeitou os cabelos – Fique, e tente manter o castelo inteiro enquanto estivermos fora. – O loiro empossara a voz em uma imitação boa a seu ver de Septimus Swann.As palavras de meu pai ainda ecoam em meus ouvidos.

— Seu pai sempre teve dificuldades em demonstrar o apreço por você ainda assim, ele lhe confiou a segurança de Pedrelmo. – respondeu Selwyn - Você foi um senhor por dois anos de nosso castelo em nossa ausência. É bastante honrado a meu ver essa função de ficar para trás e defender o seu povo.

— Confiança de meu pai? – disse Lyonel – Sim, ele tinha confiança de que eu não duraria o suficiente na batalha para manchar minha espada de vermelho. Então, me manteve para trás junto das mulheres e de meus irmãos mais novos. Mas eu tive meu momento de gloria, não? Ainda assim, eu protegi nosso castelo de um ataque de soldados do Vale de Arryn.

— Sim, eu me lembro disto e certamente seu pai se lembra também da noticia de como você salvou Pedrelmo da investida do exercito de Lorde Moore. – respondeu Selwyn – Um feito e tanto, devemos concordar.

— Impedi que fosse conquistado. Mesmo com a guarnição tendo baixas e eu tendo que sacrificar alguns garotos camponeses. – continuou Lyonel - Ainda assim, eu mantive nossos portões intactos e o domínio de nossas terras. Eu mostrei que sou capaz. E eu matei Lorde Moore e assim provei ao meu pai que não era uma criança qualquer. Que eu já era um homem feito.

— E é por isso que o queremos em Pedrelmo de novo. – afirmou Selwyn – Você é um bom defensor, Lyon. Se a nossa casa precisar de você é bom que esteja lá para ela de novo. Para que possa protegê-la.

— Da última vez, meu pai tomou essa decisão por mim, porém agora... – disse Lyonel então fazendo uma pausa - Eu não vou permitir que isso se mantenha. Meu pai não vai que continuar sendo a pessoa a decidir o que devo fazer da minha vida.

— Seu pai estava apenas tentando mantê-lo em segurança – disse Selwyn – Ele é como a mãe, incapaz de lidar com os seus sentimentos de maneira adequada. Mas enfim, foi bom a meu ver que você não participasse da guerra. Bons garotos se perdem facilmente em batalha.

— Eu não sou mais um garoto, meu avô. – respondeu Lyonel então vendo o pai e o irmão saindo do interior do grande salão e se dirigindo para a parte externa.

Talvez fosse sua coragem momentânea, dada por conta da bebida. Por mais que sentisse que não estava tão alcoolizado quanto seu avô pensava. Ainda assim, ele virou o restante do vinho do verão goela abaixo e bateu fortemente o cálice sobre a mesa.

Aquele poderia não ser o melhor momento em confrontá-lo, ainda assim não via melhor ocasião em muito tempo. Sem falar que precisava daquele momento para si mesmo depois de anos guardando para si suas palavras.

A maneira como Lyonel havia sido privado de ter o que queria. Em poder lutar pelo amor de Reyna e provar que era uma escolha digna para a princesa. Afinal, ele não planejava realmente matar Deryn Arryn ao termino do duelo. Provavelmente o aleijaria, mas ainda assim não seria uma grande perda a seu ver. Um herdeiro aleijado ainda assim é apto para sentar-se no trono.

Ele sabia que caso chegasse a desafiá-lo, teria de poupar-lhe a vida. Mas seu pai nunca compreendera isto. Ele o viu como uma ameaça aos planos de paz e o interceptara antes que pudesse mesmo chegar próximo do Portão da Lua.

Ainda era capaz de sentir os golpes de seu pai contra si, a surra que havia recebido por ter quebrado as regras. Mas sinceramente, ele não se arrependia nem um pouco de sua decisão e teria feito de novo. Reyna merecia, ela era tudo o que ele queria em uma mulher e possuía era o seu maior desejo.

 – Se o senhor me permite... – disse Lyonel depositou a mão no ombro do idoso antes de levantar - Eu preciso caminhar um pouco. Estou sentindo-me sufocado aqui dentro.

— Eu vou com você – disse Selwyn – Podemos continuar nossa conversa.

— Talvez, amanhã. – respondeu Lyonel. – Boa noite, meu senhor. - Tinha finalmente enfrentar aquele que a tempos estava evitando, então não seria recomendado ter o seu avô na presença de uma provável discussão dentre filho e neto.

Assim que cruzara os portões do grande salão, sentiu o seu braço ser tocado por mãos femininas. Ao voltar seu olhar para trás, pode encontrar os olhos verdes escuros de sua irmã a encará-lo.

Eles tinham se tornado um tanto próximos naqueles dois anos afastados das Terras da Tempestade, ainda assim seu relacionamento com Theresa era diferente de Cassandra. Porque contrariando as opiniões de muitos, Lyonel sabia que Thess não precisava da proteção de ninguém.

Ainda assim, ele parou no momento em que sentiu o seu toque. Lady Theresa Swann, muito parecida consigo em aparência sendo que muitos poderiam confundi-los facilmente como sendo gêmeos.  Ela lhe sorriu assim que depositou seus olhos nele.

— Você não deveria estar pajeando a princesa? – falou Lyonel em um sussurro para a irmã.

— Vamos caminhar um pouco, meu irmão. – disse Theresa em um tom de voz alto e animado – Tenho certeza de que nós dois devemos tomar um ar fresco. – Ela então sussurrou a segunda parte - Sem mencionar que você não foi muito discreto em sair de seu lugar logo depois de nosso pai e Doran. Então, me agradeça depois caso demore a você compreender que estou aqui para livrar-lhe de olhares comprometedores.

— O que você quer? – questionou Lyonel.

— Muita coisa, porém no momento só quero manter a imagem de nossa família e que as suspeitas sobre você não sejam as piores. – respondeu Theresa em um sussurro – Por mais que papai tenha se esforçado em esconder, os boatos das razões que o levaram a Campina foram cochichados por algumas pessoas. Então, vamos evitar que eles ressurjam das cinzas, sim? – Ela então entrelaçou o braço com o do irmão – Venha, faz tempo que nós dois não andamos por Ponta Tempestade. – Ela pronunciara suas palavras em um tom mais elevado dessa vez, provavelmente para certificar-se de que estariam sendo ouvidos.

— Aonde você quer ir, minha irmã? – questionou Lyonel no mesmo tom, assim entrando no jogo dela. Afinal, estavam parados do lado de fora do grande salão já por algum tempo e provavelmente os guardas estavam a fita-los com certo interesse.

— Não me importo, desde que eu esteja em sua companhia. Mas eu gostaria que fossemos até o pátio principal. Sinto falta do céu noturno de nosso belo reino. – respondeu Theresa enquanto ambos prosseguiam pelo caminho oposto ao que Doran e Septimus haviam ido.

...

Theresa seguia cautelosa com o irmão em direção a saída principal do castelo que dava para o pátio circular. Ali, ela pode avistar não havia muitas pessoas presentes com exceção dos guardas que margeavam o alto das ameias. Provavelmente, um lugar bastante quieto e reservado para que pudessem conversar sem serem ouvidos.

Ela sabia que seu irmão encontrava-se transtornado desde a notícia da morte de Reyna Durrandon quando ambos ainda encontravam-se na Campina. Theresa vira o momento em que seu irmão simplesmente tinha quebrado em lágrimas como uma criança assim que se afastou de Myra Durrandon quando ela entonara a noticia.

Ainda assim, o desequilíbrio de Lyonel poderia por tudo a perder em seus planos. E ela não poderia deixa-lo estragar tudo, não depois que passara tanto tempo andando tão cuidadosamente em cada passo que dava em busca de realizar seu sonho. Ambos eram muito parecidos em suas ambições, mas enquanto Lyonel deixava seu emocional falar mais alto, Theresa era racional e bastante pragmática em suas decisões. Ela era as correntes que por vezes delimitava Lyonel de fazer algum equivoco, ao menos era o que se tornara nas vezes em que conviveram durante o período longe de casa.

— Você recorda-se daquele Torneio em Jardim de Cima, no final do ano passado? – questionou Theresa – Aquela vez, se bem me lembro de que era uma comemoração. Acho que foi uma das poucas vezes em que o vi justar pessoalmente. Eu sempre achei os jogos muito violentos para o meu estomago frágil.

— Décimo Sexto Dia do Nome de Florian Gardener – respondeu Lyonel – Eu venci, nas justas e derrubei o príncipe herdeiro de seu cavalo nas finais. Foi uma boa vitória e a meu ver é uma das minhas mais memoráveis.

— Você deixou o príncipe inconsciente por meio dia – disse Theresa – Sabe os problemas que poderia ter causado caso o Florian Gardener tivesse algum dano ou sequela devido à queda? Mas espera apenas por um instante, nós já tivemos essa conversa antes. – o tom de voz esbanjava sarcasmo - Não é mesmo?

— Sim, você já mencionou isto anteriormente – respondeu Lyonel – Assim como também me lembro de seu sermão quando meu viu depositando a coroa de flores no colo da Princesa Myra Durrandon. Tivemos de usar de nosso charme combinado para provar de que aquela minha atitude não significava uma desavença com o príncipe e desfizemos o mal entendido juntos.

— Você poderia ter depositado a coroa de flores em meu colo ou da nossa prima, Viola Florent. – respondeu Theresa - Nós duas estávamos bem ali e você passou direto por nós e depositou aquela coroa de flores no colo da Myra. Então, nós dois tivemos de dar uma explicação para este seu ato antes que um boato de seu possível interesse na princesa pudesse se espalhar pela Campina.

— Problemas passados, hoje em dia eu e Florian nos damos muito bem um com o outro. – disse Lyonel – Sem mencionar que Myra jogou na minha cara a coroa de rosas em forma de pétalas, depois do termino dos festejos. Ela deixou um aviso de que era para eu não fazer mais isto. Que eu deveria me manter afastado. Certamente, ela não é a irmã.

— E você entendeu o recado dela – disse Theresa ignorando a ultima sentença de seu irmão – Muito bem, agora eu vou te dar um conselho muito parecido com o dela. Por favor, se afaste de nosso pai ou se você sabe o que é bom para você... – Ela segurou os lados de seu rosto - Fique calado. Para o seu próprio bem, porque suas ações refletem em nossa família. Mas se não fizer isso por nós, então faça por você.

— Eu não ia fazer nada demais – disse Lyonel – Não é como se meus planos envolvessem a morte dele. Porém, não é como se eu fosse me derramar em lágrimas por vê-lo morto na guerra. – concluiu sua frase enquanto se afastava da irmã - O único sangue que quero está escondido naquele maldito Ninho da Águia.

— Então você finalmente encontrou alguém que odeie mais do que nosso pai – respondeu Theresa compassiva – Meus parabéns, aparentemente você está amadurecendo e se tornando um homem finalmente. – Ela debochou, claro não poderia perder uma oportunidade daquelas bem a sua frente.

Seu irmão havia jurado vingança a Deryn Arryn, nos ouvidos da já falecida Reyna Durrandon. Enquanto despediam-se dela durante o velório. Theresa Swann escutara suas palavras secretas, bem como os lamentos de não poder dar-lhe o amor que ela merecia.

Theresa conhecia bem o irmão para saber que os sentimentos dele não eram tão puros ou verdadeiros como teimava em acreditar. Afinal, Lyonel havia crescido tendo um amor próprio muito grande e sendo bajulado pela mãe deles para que acreditasse que o mundo fosse seu e que ele poderia ter o que quisesse.

Infelizmente, a realidade provou-se ao contrário e naquela tarde tinham enterrado a única coisa que Lyonel Swann nunca conseguira conquistar. A única mulher que havia visto como digna de si. Theresa temia que o desequilíbrio do irmão levasse ao seu fim, afinal agora tudo o que poderia existir de bom em Lyonel definhava em seu interior.

O que sobrava apenas para mantê-lo são talvez fosse Cassandra. Sim, porque seu irmão amava mais a outra do que Theresa. O que ele via naquela garota insegura e falha, que não enxergava nela? Lyonel era o único que parecia não vê-la da mesma maneira que os outros, porém talvez fosse isso que fizesse com que ela gostasse dele.

O irmão não a tratava com pena ou compaixão, porém isso era algo bom. Ela o amava por vê-la mais do que uma garota de saúde frágil. Só queria um pouco mais do amor dele e que ele lhe doasse mais atenção do que costumava dar a Cassandra.

Theresa havia ouvido falar que seus pais pretendiam casar a irmã dela com Alden Estermont. Se fosse esse o caso, parecia uma ironia do destino. Já que Cassandra vivia praticamente no interior de seu casco encolhida como uma tartaruga. Ela voltou a si de seus devaneios quando viu o irmão retornando a falar.

— Porque enquanto Deryn Arryn trepava com a sua vadia, nós perdíamos a mais doce garota que essas terras já viram. – falou Lyonel após segundos de silêncio - Eu teria sido um marido melhor para Reyna.

Não, não seria. Pensou Theresa, ela imaginava que o irmão fosse perder o interesse após o matrimônio e após conseguir o que queria. Muito do que Lyonel sentia era certamente o desejo de posse. A cobiça por algo que não poderia ter.

— Você nunca saberá e nós nunca saberemos – respondeu Theresa – Você não pode viver com memórias falsas de uma vida que não viveu. Então, por favor apenas siga adiante e tente manter-se vivo. E desfrute dos anos que tem o fazendo para que sua amada permaneça viva em seu coração. – Ela tocou o peito do irmão – Você, não pode deixar-se quebrar e enterrar-se vivo junto dela. Apenas, tente seguir em frente.

— Eu farei – disse Lyonel – Mas antes, tenho de vinga-la do contrário a sua morte continuará sendo vazia. Eu preciso fazer com que meu coração se acalme e a única maneira de fazer isto será derramando sangue. Deryn Arryn ou Jeyne Royce, qualquer um deles e eu podemos pressentir que a Reyna poderá seguir em frente. – Ele tocou a mão da irmã que estava sobre seu peito - Assim deixando os meus pensamentos.

Theresa aproximou-se e envolveu o irmão em um abraço. Depositando sua cabeça junto ao peito dele e sentindo a cabeça dele afundar-se em seus cabelos. A mão livre do irmão começou a deslizar por seu cabelo ondulado e ela sentiu-se bem ali, porém tentava transmitir ao irmão que ele não estava sozinho. Tentava confortá-lo com seu abraço.

— Você não deve falar contra o nosso pai – falou Theresa em um tom de voz baixo – Odiaria vê-lo sendo deserdado. Então, meu irmão apenas aquiete suas emoções e pense antes de fazer algo que se volte contra você. Porque nem mamãe o protegerá caso faça algo terrível.

— Eu vou tomar cuidado – respondeu Lyonel enquanto se desenvincilhava do abraço da irmã – Tudo bem, eu precisava disso. Dessa nossa conversa, aquietou-me o coração um pouco e ter uma conversa só nós dois como a tempos não tínhamos... – Ele sorriu – Obrigado.

— Agora, acho que você tem uma companhia para essa noite não? – questionou Theresa então indicando uma pessoa que havia surgido lado oposto do pátio. Por detrás de algumas pilastras. – Eu devo lhe dizer, que ela não é assim tão bonita. - Lyonel voltou seu olhar para a direção em que a irmã olhava. Theresa pode ver o momento em que seus olhares cruzaram.

Lyonel Swann a encarou com o seu par de gemas azuis extremamente brilhantes que chamava de olhos. A criada também o devolveu com um convite sugestivo com o olhar. Os orbes dela eram intensos e tremendamente sedutores como os de uma felina.

Olhos estes que vinham acompanhados de uma visão realmente desejável. Seu irmão pareceu sedento por caminhar em sua direção, ela os tinha visto no grande salão e no momento em que o herdeiro de Pedrelmo havia cortejado a bela serviçal de uma maneira não tão discreta.

Ela lançou a Lyonel Swann um sorriso sedutor enquanto erguia sua saia, mostrando-lhe as pernas e um pouco mais em um movimento ousado. Theresa revirou os olhos e virou-se na direção oposta, encabulada com a falta de respeito da criada e ainda mais envergonhada pela maneira como o irmão sorrira quase rindo ébrio pelo ocorrido.

— Você tem razão, minha irmã. – Respondeu Lyonel para Theresa – Acho que é melhor terminar esta noite de uma maneira satisfatória melhor do que um duelo de palavras com o nosso pai. – Ele depositou um beijo na testa da irmã – Você pode encobrir-me? Caso alguém pergunte de mim, apenas diga que eu estava indisposto e dirigi-me aos meus aposentos.

— Claro, meu irmão. Até porque você precisa dormir, já que amanhã irá partir para Pedrelmo ao lado de nosso pai e avô. O vinho fez o seu serviço afinal, não é mesmo? – disse Theresa - Sem falar que, você deve ter bebido o suficiente para poder fantasiar que aquela simples copeira poderia ser a sua princesa.

Ele iria deitar-se mais uma vez com uma moça em quanto tinha em mente a imagem de Reyna Durrandon. Theresa o conhecia bem o suficiente para saber de sua prática, afinal anos de convivência lhe permitiram a deduzir o que era óbvio.

Lyonel, no entanto nunca negara ou admitira isso. Sendo que o rapaz sempre vinha buscando por garotas que se assemelhavam a sua princesa para que assim sua mente tivesse mais facilidade em imaginar. Aquela, no caso era apenas vagamente parecida.

Ninguém poderia privá-lo de ter o meu maior desejo realizado nem mesmo que isto tivesse de acontecer nas suas fantasias.  Ainda mais agora, que sua amada se foi. E assim, foi que Theresa se afastou retornando para o grande salão sem companhia, após ver o irmão arrastar a jovem em direção aos seus aposentos.


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